Primeira edição do Evil Live Festival que, como é do conhecimento geral, visa substituir o extinto VOA. O conceito é o mesmo, a aposta na música pesada de qualidade. O que nos salta à vista neste cartaz, para além dos nomes sonantes que nele constam, é a quase ausência de bandas nacionais. O que muitos podem entender como algo a criticar.
Foram precisamente os Mammoth WVH a darem o pontapé de saída nesta primeira edição. Foi a estreia da banda do filho do virtuoso guitarrista, Edward Van Halen, que nos mostrou que também ele domina o instrumento. Com um álbum rock de estreia que foi muito bem recebido pela critica, os Mammoth aproveitaram para mostrar alguns temas novos que estarão incluídos no próximo trabalho a sair dia 4 de agosto. Houve mesmo oportunidade para uma estreia. “Take a Bow” foi tocada ao vivo pela primeira vez nesta tarde.
Os Vended foram quem se seguiu. Conhecidos por serem a banda onde pontificam dois filhos de membros dos Slipknot, eles afirmaram recentemente que não receberam qualquer tipo de ajuda por parte dos pais. Podemos fazer um esforço para acreditar nisso, porém, a influência é inegável. Não apenas nos temas, mas também na forma de estarem em palco e comunicarem com o público. A energia, essa, é também muito semelhante. A banda tocou na integra o seu E.P. de estreia, What Is It/Kill It e deixou muito boa impressão. Ao segundo tema, já o mosh pit estava aberto.
Seguiram-se os Elegant Weapons, projeto de Richie Faulkner, guitarrista de Judas Priest e de Ronnie Romero, vocalista que associado a inúmeras bandas. A ideia dos Elegant Weapons passa por fazer heavy metal clássico e o seu álbum de estreia, Horns For A Halo oferece-nos isso mesmo. O mais recente single, curiosamente o tema que dá nome ao álbum, foi das que mais agradou ao público presente na sala do Altice, juntamente com “Bitter Pill”.
Até aqui tínhamos tido atuações que rondavam os 30 minutos. Com a entrada dos Soulfly em palco às 19h45 começavam a ser servidos os “pratos principais”. Desde cedo se percebeu que a atuação desta noite não iria ficar dependente apenas dos temas originais da banda. Soulfly é Max Cavalera, mas ele próprio é mais que isso. “Back to the Primitive” fez-nos imediatamente recuar no tempo com aquela sonoridade tribal que tão bem foi usada por Max, em determinada altura da sua carreira. Com uma banda repleta de bons elementos, o baterista Zyon (que por acaso é seu filho), chamava a tenção pela qualidade demonstrada. A comunicação com o público fazia-se agora em português. O mais recente álbum, Totem, não ficou esquecido, mas foram temas como: “Prophecy”, “Bleed” e “Refuse/Resist” que encantaram a audiência. Curiosidade foi o trecho de “Get Up, Stand Up”, dos Wailers, que serviu de intro para “Refuse/Resist”. O final desta impressionante atuação foi feito com “Jumpdafuckup”.
Havia quem questionasse a inclusão dos Alter Bridge entre as atuações dos Soulfly e dos Pantera. A sua sonoridade é bastante distinta da destes últimos dois, mas não é nenhum problema que não possa ser resolvido com uma setlist escolhida de forma mais criteriosa. Os Alter Bridge agarraram-se assim a temas mais musculados para preencherem estes 75 minutos de atuação. Desde logo com “Silver Tongue”, que mostrou porque Myles Kennedy é um dos vocalistas com a cotação mais alta nestes dias, com inúmeros músicos a quererem trabalhar com ele. Mark Tremonti parece continuar a ser a sua alma gémea dentro da banda, juntos, formam uma dupla de guitarras de respeito. Na primeira vez que se dirigiu ao público fez referência à inclusão da sua banda neste cartaz, onde se encontravam outras tão enérgicas. Humildemente, pediu a ajuda de todos e conseguiu-a. O concerto dos Alter Bridge esteve à altura de tudo o que de bom estava a acontecer nesta tarde/noite. “Blackbird” foi um dos momentos altos da sua atuação. Mas houve mais. “Pawns and Kings” e “Rise Today” foram também elas muito bem recebidas. Desta vez não tivemos Tremonti a cantar, mas tivemos Myles a fazê-lo sem estar agarrado à sua guitarra. Foi assim que durante “Metalingus”, apenas de microfone na mão, aproveitou para interagir de forma mais concisa com o público. “Open Your Eyes” encerrou de forma magistral o concerto dos Alter Bridge.
Faltava apenas a atuação dos Pantera para que esta primeira noite de evento se concluísse. O pavilhão, que foi enchendo com o avançar da noite, estava perto da sua capacidade máxima e os horários de atuação das bandas, avançado pela promotora, estava a ser cumprido meticulosamente, o que é de salientar.
Foi por essa razão que pelas 23h15 tivemos oportunidade de ver nos ecrãs gigantes um vídeo com imagens da célebre formação dos Pantera, onde se destacavam os malogrados irmãos Vinnie Paul e Dimebag Darrel. Era o tributo exigido a esses dois membros fundadores da banda. A música começou a ser servida logo com “A New Level”, que deixou o pavilhão eufórico. Polémicas à parte, muitos fãs aguardavam ansiosamente por este regresso. Não há música nova, é verdade, mas são mesmo os clássicos incontornáveis da década de 90 que levaram aqueles milhares de pessoas a deslocarem-se ali. Esses clássicos sucederam-se muito rapidamente, todos eles com riffs de guitarra que se tornaram inesquecíveis para muitos. “Mouth of War”, por exemplo, seguido de “Strengh Beyond Strengh”, altura em que Phil Anselmo se dirigiu ao público dizendo que este regresso se deve à memória dos irmãos Abbot, acredite quem o quiser fazer. Seria difícil salientar aqui um ou outro tema, a setlist foi muito bem elaborada com o melhor do melhor. Curiosamente, “Cemetary Gates” apenas passou em vídeo, durante mais uma homenagem aos irmãos. Outro tributo prestado durante a atuação dos Pantera foi aos Black Sabbath, banda que muito os influenciou, assim como a Zack Wylde e a Charlie Benante. O tema foi, como não podia deixar de ser, “Planet Caravan” e antecedeu o momento porque todos esperavam, “Walk”, que trouxe de volta ao palco Wolfgang Van Halen, Max Cavalera e Mike DeLeon para ajudarem no refrão, naquele que foi um momento de pura loucura em toda a sala. O ponto mais alto da noite já tinha sido atingido, mas houve tempo ainda para “Domination/Hollow” e “Cowboys From Hell”.
Texto por António Rodrigues
Fotografia por Paulo Jorge Pereira
Agradecimentos: Prime Artists