Se no Inferno de Dante há uma placa à entrada do Inferno que diz algo como “Vós que aqui chegais, abandonai toda a esperança”; o Inferno do novo álbum dos Irae deveria de ter um autocolante que dissesse: “Vós que aqui chegais, abandonai qualquer esperança de ouvir uma boa produção.” Pois é, se este for o primeiro contacto com os Irae, as harmonias acústicas que abrem o primeiro minuto do álbum são enganadoras, pois rapidamente os Irae revelam a verdadeira face do seu Black Metal selvático e primitivo (ou “primitiv,” como a banda escreve). Uma sonoridade que vai beber muito àquilo que se fez na Noruega no início dos anos 90, mas que não se limita de todo a ficar-se por mais uma obra de trve kvlt que segue dogmaticamente os cânones do género e repudia qualquer inovação. Muito longe disso: os Irae incorporam elementos melódicos e psicadélicos no seu esqueleto de Black Metal tradicional, que se traduzem numa saudável diversidade de riffs, passagens atmosféricas e/ou ruidosas e uma certa variedade de gritos, urros e uivos que completam a paisagem infernal que a banda pretende compor, se bem que, em certos momentos, como em “Zangrandv v Rebanhv... Uma Melodia de Loboz”, podem-se tornar um pouco excessivos e talvez fugir um pouco àquilo que se pretendia.
À parte deste muito pequeno apontamento, “Assim na Terra como no Inferno” é uma rodela bastante consistente de música, onde temas como “Majestade de Sangue”, “Relíqvia de Espinhvs” e “Enforcamento” revelam o calibre e o porquê destes senhores serem considerados uns veteranos (ou “veteranvs”) dentro da cena Metal nacional.
Nota: 8.2/10
Review por Tiago Neves