O solo de guitarra de Yukito Okazaki em “Beltway Sniper (John Allen Muhammad)” é sinal de que, apesar das constantes mudanças de formação, os Church of Misery conseguem sempre manter-se fiéis ao seu som: doom de inspiração no blues distorcido e pesado. Quanto ao tema das letras, esse é o de assassinos em série, e a voz de Kazuhiro Asaeda, demente e arrastada na altura certa transmite a aura necessária.
O som de assinatura dos Church of Misery é o doom, e aí conseguem sempre manter-se sempre com a agressividade no máximo, como podemos atestar em “Come and get me Sucker (David Koresh)”. A coesão entre os instrumentistas é incrível e nota-se nas longas passagens instrumentais de solos.
O uso de sinos sincronizados com a bateria em “Most Evil (Fritz Haarman)” é bastante interessante, especialmente porque antecede uma longa passagem instrumental em que a guitarra toma as rédeas da música. A bateria de Toshiaki Umemura é sólida ao longo do disco, se bem que a tempos soa parcialmente digital na tarola.
A utilização de samples na introdução de alguns temas como “Beltway Sniper (John Allen Muhammad)” ou “Freeway Madness Boogie (Randy Kraft)” cria uma sensação de surpresa quando o tema começa, especialmente neste último, que é o mais rápido dos dois. Neste último, o baixo de Tatsu Mikami brilha mais na introdução ao acompanhar a guitarra.
Mais uma vez o baixo dá o andamento em “Murder Castle Blues (H. H. Holmes)” que começa sem distorção. Segue-se o peso e a voz limpa e com delay de Kazuhiro Asaeda que entoa a letra, e aqui mais uma vez é a força das composições que faz com que este álbum dos Church of Misery se destaque dos demais álbuns stoner e doom. O tema que encerra o disco [“Butcher Baker (Robert Hansen)”] é um dos seus melhores, com mais um extraordinário solo do guitarrista Yukito Okazaki.
Os blues estão sempre presentes na música dos Church of Misery, tanto na dinâmica dos temas como nos solos de guitarra, que são dos pontos alto do álbum. A ausência de variação de dinâmicas entre temas é um dos aspectos mais fracos do disco, faltando momentos para respirar entre o peso. Existem pormenores interessantes como o órgão em “Spoiler”, uma versão do original dos Haystacks Balboa, mas faltam mais momentos de surpresa como a utilização de samples em momentos pontuais.
Para concluir, este álbum parece ficar atrás do que a banda nos havia oferecido em And then there Were None… No entanto, fica o destaque para: o regresso do vocalista Kazuhiro Asaeda, cujas variações no registo vocal consoante o tema são dos melhores aspectos do álbum, os solos de guitarra de Yukito Okazaki, e o baixo de Tatsu Mikami que consegue sempre manter uma atmosfera pesada e opressiva sobre os demais instrumentos.
Nota: 7/10
Review por Raúl Avelar