Talvez seja pouco dizer que este foi o concerto do ano. Esta última passagem da banda alemã pelo nosso país vai ser tema de conversa durante muito tempo e a pergunta: “Foste ver Rammstein ao Estádio da Luz em 2023?” será muitas vezes feita. Podemos sempre questionar que percentagem da música em si, tem importância num evento destas dimensões. Uma superprodução em termos visuais. Arrisco-me a dizer que é com a música que os Rammstein conquistam os fãs, mas essa pode ser ouvida em qualquer altura. São os seus concertos que mantêm o público fiel, nomeadamente pelo facto de este desejar ser surpreendido nos espetáculos da banda alemã. A estrutura montada no Estádio da Luz era impressionante. Três torres gigantes erguidas no relvado, dois palcos, sendo que o principal era de grande dimensão e o segundo, chamemos-lhe Palco B, era mais reduzido e encontrava-se junto a uma das bancadas laterais.
Foi então no Palco B que a banda de abertura atuou. Este pode ter sido o ponto menos interessante em toda esta noite. As Abélard são formadas por duas pianistas francesas consagradas e foram elas que tiveram a responsabilidade de entreter o público durante 40 minutos, antes que os gigantes alemães iniciassem a sua atuação. O duo tocou apenas temas dos Rammstein que fazem parte do seu álbum, "Rammstein On Piano", mas quem vai a um concerto da banda de Till Lindemann está desejoso que chegue a atração principal. O público nas bancadas entretinha-se fazendo a Hola mexicana. Havia muita energia acumulada a necessitar de ser libertada.
Pouco passava das 21h30 quando se começou a ouvir Handel nos altifalantes do estádio. “Music for the Royal Fireworks” era um verdadeiro prenuncio para o que aí vinha! O símbolo da banda começou a ser erguido na estrutura que se encontrava no palco principal, como se de um estandarte se tratasse. Ao primeiro tema, “Rammlied”, parecia que a casa vinha abaixo, não só pela explosão de alegria vivido entre o público, mas porque as bancadas vibravam literalmente com potência sonora das colunas. A pirotecnia que caracteriza os espetáculos dos Rammstein esteve sempre presente, mas desta vez a banda juntou-lhe um fantástico jogo de luzes e confettis, numa combinação que deixava todos sem saberem para onde dirigir o olhar.
As músicas escolhidas para esta noite percorreram a já longa carreira da banda e foram meticulosamente agrupadas de forma a não gastar os trunfos todos de uma só vez. Alguns hits parecem ter sido deixados de fora de forma cirúrgica, depois das acusações lançadas recentemente sobre Till, nomeadamente “Pussy” e “Ti Quiero Puta”. “Deutschland” foi tocada de duas formas diferentes -remisturada e na versão original- e “Engel” trouxe novamente ação ao Palco B, onde as Abélard regressaram, desta vez acompanhadas pelos próprios Rammstein. Depois da introdução feita ao piano, a banda viajou de bote, desse palco para o principal, enquanto as francesas continuavam a tocar. A música que mais surpreendeu todos os presentes foi com certeza “Du Hast”. A pirotecnia usada durante a interpretação desse tema foi tanta e em locais tão distintos do recinto, que era difícil não ficar surpreso.
Alguns dos “brinquedos” usados em palco não eram novos, assim como alguns dos truques pirotécnicos, mas que se acusem aqueles que não gostarem de ver Christian Lorenz a ser cozinhado uma vez mais ao som de “Mein Teil”! Duas horas de atuação que deram direito a cerca de 21 temas e a dois encores, o último dos quais composto por “Rammstein”, “Ich Will” e “Adieu”. Já todos sabiam que este concerto seria superior a todos os outros dados pela banda alemã em Portugal e por essa razão o estádio encontrava-se praticamente cheio. Um evento desta magnitude traça uma clara linha divisória entre os apreciadores de sonoridades mais pesadas, separando os que o experienciaram, daqueles que não o fizeram.
Este não foi mais um concerto, este foi O concerto.
Texto por António Rodrigues
Fotografia por Paulo Jorge Pereira
Agradecimentos: Prime Artists