Como já referi, os Hyubris não são uma qualquer banda, eles foram sim, uns convidados de luxo que tornaram esta noite ainda mais especial. Quem os conhece sabe sobre o que me refiro: músicos de excelência, fortes composições onde brilha a bonita voz de Filipa Mota que surgiu descalça em palco, como de costume. Com uma sonoridade que encaixa naquilo que podemos designar por folk metal, os seus temas exploram muito o misticismo e as raízes do nosso país. “Celtiberos” foi um exemplo disso mesmo e ficámos a saber de o desejo dos Hyubris lançarem um álbum ainda este ano, onde estará incluída “Florbela”, uma das músicas desta noite. “Canção de Embalar”, original de Zeca Afonso, foi também interpretada numa versão ao jeito dos Hyubris que agradou muito a quem assistiu, aliás, todos os temas foram muito aplaudidos e toda a sala participou sempre que a isso foi convidada. O último tema foi “Condão”, que contou com a presença de Paulo Gerónimo na gaita de foles.
Antes de nos referirmos à grande produção que envolveu este concerto de apresentação, temos de falar de algo mais essencial, do álbum em si. Cerberus é um grande trabalho de heavy metal, já o tínhamos referido na review feita aquando do seu lançamento. Os Enchantya também sabem disso e talvez por essa razão, interpretaram-no na integra, respeitando a ordem dos temas do início ao fim.
Quando as luzes se apagaram e começámos a ouvir a intro “Karma”, os músicos que compõem os Enchantya foram fazendo a sua entrada em palco. A vocalista Rute Fevereiro surgiu vendada e segurando uma balança, qual deusa Thémis. Em cada espaço lateral do palco surgiram elementos que iriam fazer os coros, um com três componentes masculinos e do lado oposto, um com três femininos onde figuravam algumas caras conhecidas do nosso chamado underground. Aqui se percebe a escolha da Criarte para este evento, dificilmente se encontraria outro palco que conferisse espaço para a presença de quinze elementos em simultâneo. Sim, chegou a acontecer. Teria sido tão fácil socorrerem-se de backing tracks, mas a banda quis ser o mais fiel possível e reproduzir tudo ao vivo. Muito planeamento, muita atenção aos pormenores, quer seja nas vestes usadas, maquilhagem, adereços, coreografias, tudo, porque os olhos também comem.
“Existence” trouxe uma das grandes surpresas da noite. A presença de Sienna Sally e o regresso de Filipa Mota para ajudarem Rute a cantar este tema. Outro dos convidados, Miguel Berkemeir fez a introdução à música “Collective Souls” com o seu violino e no seguinte, “Sons of Chaos”, Rute aproveitou para o dedicar aos filhos. O culminar da apresentação de Cerberus deu-se com a canção “Inward” e contou com a presença de um bailarino. Estava então na altura de visitar os anteriores trabalhos. Há clássicos que são obrigatórios nas atuações ao vivo e os Enchantya já têm alguns. Desde logo “Last Moon of March”, que nesta noite foi cantado a duas vozes com a fantástica Isabel Cavaco. Seguiram-se “The Beggining” e “From the Ashes”, nesta visita ao álbum On Light and Wrath de 2019. Mas era preciso ir mais lá atrás. Era preciso ir a 2012, para visitar Dark Rising com o tema homónimo e fazer a merecida dedicatória ao João Paulo Monteiro.
O que tornou este concerto único é sabermos das dificuldades de o voltar a repetir. Dificilmente se voltaram a reunir as condições necessárias para que tal aconteça. Houve muito esforço e dedicação para que aquelas duas horas e meia fossem perfeitas. Todos os músicos de Enchantya estiveram muito bem, algo a que já nos habituaram. Resta apenas dizer que quem assistiu a este concerto – e eram muitos os presentes – testemunhou um excelente espetáculo.
Texto por António Rodrigues
Fotografia por Tânia Fidalgo
Agradecimentos: Enchantya