Cerca de três anos e meio depois, eis que os Agnostic Front regressam ao R.C.A. para fazerem aquilo que tão bem sabem. A aguardá-los estava uma sala cheia, pois tal como na anterior visita, os bilhetes esgotaram, sinal claro da popularidade da banda nova-iorquina no nosso país. Fazendo parte do cartaz estavam também os Trinta e Um e os Neighborz.
Os Neighborz foram a primeira banda a entrar em palco, pontualmente às 21h00. Com um forte E.P. (Lost Feathers) lançado recentemente, os lisboetas estão a viver o momento e esta oportunidade de partilhar o palco com os Agnostic Front é a prova disso mesmo. Meia casa aguardava-os para aquele que foi um concerto à Neighborz, ou seja, com hardcore pujante interpretado de forma enérgica. A importância de serem a primeira banda da noite foi referida e houve oportunidade de pedir aos presentes que iluminassem a sala com a luz dos seus telemóveis para o tema “Last Smile”. “Táticas da Fé” foi o culminar de uma atuação de 30 minutos que foi bem além de apenas um aquecimento para o que ainda estava por vir.
Se associamos de imediato os Agnostic Front à cidade de Nova York, também podemos fazer o mesmo exercício entre os Trinta & Um e a vila de Linda-a-Velha. Este concerto revelou algumas surpresas, desde logo a existência de um álbum novo com lançamento previsto para o mês de outubro. Mas vamos ao concerto. Ele começou com a introdução do célebre tema do fadista Rodrigo, “Fado do 31”, apropriado, para logo ouvirmos os primeiros acordes de “Não Há Regresso”. O sucesso da banda portuguesa pode ser medido pela quantidade de público que cantava as suas músicas. É inegável que foram marcantes para uma geração e mais importante, o regresso aos lançamentos discográficos quase 20 anos depois de Terceiro Assalto. Não podia faltar neste concerto “O Cavalo Mata” e “Até ao Fim”, por exemplo. A despedida foi feita com um “até outubro”, altura em que a banda de Sarrufo, Rações e Zé Goblin irá apresentar o novo álbum, Granada no Charco. Foram 35 minutos de atuação, excelente concerto de hardcore cantado em bom português.
Assim que a banda de Nova Iorque entrasse em palco sabíamos que seria a loucura total e foi isso mesmo que aconteceu. A sala estava a “rebentar pelas costuras”, mas logo se arranjou espaço para um circle pit, aliás, Roger Miret, pediu-o várias vezes ao longo do concerto, onde vimos também um Vinnie Stigma com a sua simpatia habitual e contagiante. Podíamos pensar que o espetáculo desta noite fosse andar um pouco em volta do E.P. United Blood, devido ao seu quadragésimo aniversário, mas desse trabalho a banda apenas tocou “Friend of Foe”. Pontos altos da atuação dos norte americanos foram mesmo as obrigatórias “For My Family”, “Your Mistake” e “Crucified”, cover dos Iron Cross. Stage diving constante durante toda a atuação dos Agnostic Front, a única altura em que o público subiu ao palco para outros motivos foi para cantar “Gotta Go” com a banda.
A satisfação da banda era visível e os agradecimentos ao público português foram constantes. Não houve encore, os temas foram tocados apenas com ligeiras interrupções para não parar a festa. Numa dessas curtas interrupções, Roger Miret agradeceu a quem o apoiou na sua luta contra o cancro, a quem apoia o hardcore e o mantém vivo e deu também os parabéns às bandas de abertura, dizendo que Portugal está bem servido nesse campo. Ponta final do concerto foi feita com “Police State”, “Addiction” e a cover de Ramones, “Blitzkrieg Bop”, pois eles foram uma forte influência para a sonoridade dos Agnostic Front.
Texto por António Rodrigues
Fotografia por Rita Almeida
Agradecimentos: Hell Xis