O universo do metal progressivo tem destas coisas. Proporciona-nos a oportunidade de assistirmos a atuações que fogem ao que consideramos convencional em qualquer banda de rock ou heavy metal comum. Assim de repente, uma banda que se apresenta em palco com dois baixistas, outra sem nenhum e por fim, uma que usa o violino como um dos seus principais instrumentos.
A primeira a entrar em palco foram os The Omnific e houve quem tivesse sido apanhado de surpresa. O trio australiano toca apenas temas instrumentais fazendo uso dos referidos dois baixos, fortemente apoiados por um magnifico e muito comunicador baterista. “A música deve tornar-se enfadonha” poderão vocês pensar, mas enganam-se. Os dois baixistas exploram os seus instrumentos de uma forma que revela muita imaginação. As back tracks que usam também dão uma ajuda fazendo com que os trinta minutos de atuação a que tiveram direito soubessem a pouco.
Seguiram-se os Persefone e, verdade seja dita, o ritmo aumentou consideravelmente. Apresentando-se sem baixista, a banda de Andorra tinha, no entanto, um teclista que para além do seu instrumento contribuía ainda com as vocais mais limpas, para a sonoridade da banda. Ao segundo tema já o circle pit estava aberto na sala do R.C.A. Curiosamente, o seu mais recente álbum, Metanoia, não foi o que mais contribuiu para o alinhamento planeado para esta noite. A aposta recaiu sobre Spiritual Migration. Outra curiosidade sobre os Persefone reside no facto de eles terem um português nas suas fileiras, falamos de Filipe Baldaia, um dos guitarristas que se dirigiu ao público na língua de Camões, para além de ter descido do palco para interpretar a ponta final de um tema entre o público. A atuação dos Persefone comprovou que têm muitos fãs em Portugal e que o regresso fica assim para breve. Eles prometeram-no.
Esta Exul tour que está a percorrer a europa já tinha passado na noite anterior pelo Porto. Hoje era a vez do R.C.A. que se encontrava completamente cheio para receber a banda australiana. Como já havíamos anunciado, esta seria também a oportunidade de assistirmos à atuação do Ne Obliviscaris com algumas caras novas. São eles, Kevin Paradis, baterista dos Benighted e do vocalista James Dorton, que substituiu o habitual Xenoyr, impedido de participar nesta tour por motivos pessoais.
O recente Exul foi mesmo o forte motivo para este espetáculo, embora as visitas aos outros trabalhos fossem obrigatórias. Assim, “Equus” e as duas partes de “Misericorde” foram tocadas de enfiada e percebeu-se que não eram estranhas para grande parte do público que as cantava também, mostrando saber as letras. Tim Charles lamentou não ter visitado Portugal nos últimos sete, oito anos, mas a banda esteve mesmo inativa durante metade desse período. Partilhou também que um dos temas mais requisitados para os seus concertos continua a ser aquele que foi a primeira composição da banda, “Forget Not”. Porém, e ainda antes da interpretação desse tema, houve tempo para um pequeno ensaio com o público para a música “Liberate”. Sem cinismos, Tim anunciou que a banda tocaria mais um tema, após o que teoricamente seria o último. O encore estava garantido, mas eles iriam seguir o protocolo e deixar o palco para serem chamados. O encore foi feito - após o tema “Graal”, do último álbum – com “And Plague Flowers the Kaleidoscope”.
O regresso ao nosso país num futuro próximo foi prometido e deixou muita gente contente. Apesar de ser um dia de semana, ninguém arredou pé da sala durante a atuação dos Ne Obliviscaris e esta estendeu-se até perto das 00h30.
Texto por António Rodrigues
Fotografia por Paulo Jorge Pereira
Agradecimentos: Free Music Events