Recente projeto nacional que se apresenta sem medo de provocar ou ferir suscetibilidades. Diríamos mais, o objetivo parece ser mesmo esse. Atente-se no nome da banda e fica-se com uma ideia, veja-se a capa deste primeiro trabalho e qualquer dúvida que persista, depressa se dissipa. Testemunhas de Jeová, a banda, são um projeto idealizado no ano de 2018 e que começou a ganhar forma durante 2019. A sonoridade que este grupo procurava era algo que se assemelhasse aos Ratos de Porão, na sua fase de finais da década de 80, princípios de 90. Ou seja, onde os temas eram curtos, diretos e mexiam com o ouvinte. Dito de forma clara, os Testemunhas de Jeová são uma banda de crossover, thrash…muito thrash. A banda chegou a equacionar fazer-se passar por uma banda brasileira, feita por elementos que seriam personagens, mantendo o anonimato dos verdadeiros músicos. Felizmente a ideia morreu (graças a Deus) e Reino de Satã, este trabalho de estreia, é cantado em bom português.
A banda é oriunda de Lisboa e nasceu de uma ideia do guitarrista Rui Vieira e do baterista José Graça. Paulo Vieira, o outro guitarrista deste projeto, acabou por dar forma às ideias que já existiam nas mentes dos dois membros fundadores e os temas foram sendo concluídos, pelo menos a nível instrumental. Por fim, o vocalista Hugo Rebelo -que, entretanto, deixou os Testemunhas de Jeová-, forneceu as letras – provocadoras q.b.- e as vocais que ouvimos em Reino de Satã (salientar que são perfeitamente percetíveis).
Os temas foram bem conseguidos e o objetivo a que se propuseram parece ter sido alcançado. Estamos a falar de uma banda que nasce como um projeto paralelo, portanto, tudo o que dele advier será seguramente bem-vindo. Os 11 temas originais que encontramos no álbum surgiram, numa primeira forma, de um único ensaio. Se quiserem um sinónimo de música direta e sem filtros, escusam de procurar mais, Reino de Satã proporciona isso mesmo. Os temas são curtos, muito curtos mesmo. É preciso chegarmos ao 12º para encontrarmos um com mais de 2 minutos de duração que, curiosamente, nem é deles. Trata-se de “Haverá Futuro”, um original dos Olho Seco. Os temas que a banda tem dado destaque em jeito de singles de apresentação são já dois: “Galileu Galilei” foi o primeiro, mais recentemente foi “Viralata Aristocrata” a receber igual tratamento. O álbum saiu no passado dia 10 de março e um concerto de apresentação seria bem-vindo, ainda que a banda tivesse que incluir algumas covers no alinhamento, pois 17 minutos de música é manifestamente pouco para um álbum, ainda que sejam 17 bons minutos. O tema homónimo é também ele uma grande malha, assim como “2000 Anos de Bazófia”, ou mesmo “Filhos da Corrupção”, com que inicia o disco. Palavra final para o trabalho que ilustra a capa do álbum, pois está igualmente muito bom.
Ouvir Testemunhas de Jeová, no Bandcamp
Review por António Rodrigues