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Reportagem: Devin Townsend, Klone e Fixation @ Capitólio, Lisboa - 18.03.2023


Onze meses após ter protagonizado uma ótima abertura para o concerto dos Dream Theater, no Campo Pequeno, Devin Townsend regressou a Portugal, desta vez em nome próprio, com um conjunto de temas completamente diferente e, felizmente, mais tempo para tocar.

Pelas 20h30, iniciou o espetáculo de uma das bandas de abertura, os Fixation, já com o Capitólio muito bem composto pelos fãs de Devin, que acorreram massivamente ao recinto. Este grupo norueguês apresentou uma sonoridade desfasada da genialidade musical do cabeça de cartaz: um rock/metal moderno algo genérico. O vocalista Jonas W. Hansen referiu que a sua banda se encontrava presente para fazer um bom aquecimento para os Klone e Devin Townsend, mas tal não se verificou, dada a mediania do que ali foi apresentado. É preciso reconhecer que o repertório do grupo ainda é curto e que, futuramente, talvez os Fixation possam melhorar e destacar-se mais para outro tipo de público. O último tema, "What We Have Done", aparentemente foi o melhorzinho, e algum do público até aplaudiu algumas faixas da atuação, provavelmente por pura simpatia.

Os Klone têm outro traquejo, não fossem eles uma banda já com vinte e quatro anos de percurso e sete álbuns editados. Esta banda francesa já havia protagonizado uma boa abertura para o concerto dos Leprous em Lisboa, no início de março de 2020, mesmo antes de terem começado as restrições aos espetáculos ao vivo, por causa da pandemia. Desta vez, voltaram a dar um espetáculo agradável que já lhes pode dar um estatuto de banda de abertura acima da média, talvez até justificando um concerto em nome próprio numa sala mais pequena. Ver este grupo tocar ao vivo não é tempo de vida perdido, é ouvir boa música e vê-la ser bem interpretada e com feeling. O rock/metal pesado progressivo e atmosférico com bons grooves serviu para entreter o público, sendo a imersão da parte final com "Immersion", a forte cover de "Army of Me" de Björk, e "Yonder" os temas que se destacaram mais, entre algumas faixas novas do disco "Meanwhile", lançado este ano.

Quem esteve presente no Capitólio nesta noite teve a oportunidade de ver um Devin Townsend feliz, pois conforme ele próprio fez questão de mencionar, tinha consigo uma banda capaz de interpretar os seus temas da forma como deviam ser tocados. 

Após um fantástico começo com a recente "Lightworker", Devin referiu que o próximo era um tema de metal. Ele estava a falar do clássico "Kingdom", que levou os fãs ao rubro. Como a noite não era só de músicas antigas, mas também das "novidades" do álbum de 2022 "Lightwork", em seguida foi tocada a industrial e progressiva "Dimensions", um dos melhores temas desse disco. Adivinhava-se um conjunto de músicas completamente distinto do que Devin apresentou no Campo Pequeno no ano passado e, em seguida, apresentou-nos a peculiar "Why", na qual mostrou os seus dotes operáticos e que resultou muito bem ao vivo. 

"The Fluke" foi o clássico menos provável a ser bem apresentado, sendo que em seguida, a envolvente e emblemática "Deadhead" satisfez por inteiro os fãs, assim como a balada "Deep Peace" com o seu incrível solo de guitarra. Só por esta primeira metade do concerto já valia a pena os espectadores terem vindo, mas ainda havia grandes temas a serem tocados, não fosse a carreira discográfica de Devin Townsend extremamente extensa e produtiva. 

O último álbum foi novamente representado com "Heartbreaker" e depois Devin e o seu grupo tocaram a extremamente orelhuda "Spirits Will Collide". No final desse tema, o público gritou por Devin, demonstrando o apreço pelo músico e pela qualidade desta atuação. Já a aproximar-se da reta final do concerto, houve dose dupla do "Infinity", álbum do final do século passado: "Truth" e "Bad Devil". A interpretação da segunda foi a loucura total e meteu o público a dançar. 

Uma serena "Call of the Void" e uma poderosíssima "Love" dos Strapping Young Lad terminaram um memorável concerto com o contraste musical que sempre caracterizou a carreira deste genial músico, vocalista e compositor canadiano. O tema da banda que ele partilhou com o lendário baterista Gene Hoglan foi um extra que deliciou os fãs mais old school.

Finalizou da melhor maneira o espetáculo de um dos nomes mais produtivos e criativos da música nas últimas décadas, com praticamente três dezenas de álbuns. Esperamos que Devin Townsend continue a presentear os fãs com muita música e com mais concertos como este.


Texto por Mário Rodrigues
Fotografias por Paulo Jorge Pereira
Agradecimentos: Prime Artists