Com o seu mais recente álbum “Övergivenheten” lançado em agosto do ano passado, os Soilwork encontravam-se agora pela primeira vez na capital portuguesa e juntaram-se aos Kataklysm, que pelo contrário, já cá voltavam de novo após a edição do Vagos do ano passado para matar saudades. Como não há uma sem duas, fazendo as honras de abertura, estiveram ainda os norte americanos Wilderun, também estes a estrear o palco das terras lusas.
Será fácil de imaginar que um concerto a meio da semana pudesse não atrair muita gente, e certamente mais difícil terá sido para muitos chegar às 19 para o seu início. Foi perante esta premissa que os Wilderun deram início a uma noite cheia dos mais variados subgéneros do death metal. O grupo norte americano formou-se em 2008 e lançou o seu último álbum “Epigone” no início ano passado, assinados pela Century Media Records. Com 4 álbuns às costas, a banda de metal progressivo/sinfónico/folk tem melhorado imenso a cada obra, distinguindo-se cada vez mais pela sua sonoridade única, muito reminiscente de Opeth e Devin Townsend, mas também com uma identidade muito única e distinta das suas influências.
Foi um set com cerca de 45 minutos, preenchido por apenas 4 longas músicas, onde cada membro conseguia transmitir uma serenidade e plenitude imensa, enquanto rasgavam por complexos acordes e compassos. A primeira faixa “The Tyranny of Imagination”, muito bem escolhida, conseguiu logo de início chamar a atenção dos poucos elementos que já se encontravam na sala e que punham os olhos no palco. Não diria que algum dos elementos se tivesse destacado como particularmente muito mexido, mas o que faltava em movimento no espaço, era compensado por movimento no fretboard e na bateria. Com um timing muito bem praticado, o vocalista termina a introdução da banda mesmo a tempo de rasgar pela “Identifier”, incluindo um bom tapping no baixo.
Apesar de esta ser a sua primeira tour pela europa, os Wilderun têm vindo a agarrar muitos fãs, e segundo fontes seguras, Lisboa parece ter sido um dos concertos com maior adesão do público ao longo do set. Certamente, uma banda que irá dar muito que falar nos próximos tempos, talvez até um dos próximos grandes nomes no prog.
Enquanto os Wilderun nos ofereceram um lado mais melancólico e inspirador do death metal, os veteranos Kataklysm que agora entravam em palco e muito bem recebidos por uma plateia muito mais composta, apenas pretendiam uma coisa, abanar a cena e desafiar o público com um death metal esmagador.
A setlist é estreada por “Push the Venom” e surpreendentemente, não foi até tocarem mais um par de músicas que finalmente se começaram a formar moshpits e circlepits mais à medida do que as faixam pediam, tal como em “Underneath the Scars” e “Outsider”. Os galopes furiosos e a energia infindável de um frontman que sabe muito bem como mexer uma plateia, foram os catalisadores que estavam a ser precisos. Clássicos como “To Reign Again” e “As I Slither” não podiam ficar fora da setlist, e foi aliás, esta última que deu origem a um crowdsurf interminável - falando por mim, talvez o concerto com o maior rácio de crowdsurf para número de pessoas na plateia… Na verdade, os Kataklysm já são uma banda com muitos anos de experiência, não seria de esperar outra coisa. Isto ficou bem evidente na presença muito dinâmica de todos os membros em palco e em particular de Maurizio Iacono, que desafiou um elemento do público a juntar-se a ele em palco para mostrar como se faz um verdadeiro headbang. Ainda de realçar que uma vez que a tour da última obra ficou adiada e apenas agora se encontram em digressão, já se passaram 2 anos e estaria na altura de um novo álbum… Pois bem, já não deverá faltar muito até ele estar cá fora, anunciou a banda, e mal podemos esperar!
Seguiam-se agora os lendários Soilwork, que estavam a apresentar o seu mais recente álbum. Foi exatamente com a faixa título que o grupo entra em cena, prontos para acordar a malta. Esta é uma banda que dispensa apresentações, e bem que podiam deixar o sucesso da obra anterior falar por eles, tendo as faixas “Is It in Your Darkness” e “Electric Again” sido muito bem recebidas.
A banda tem passado por momentos difíceis recentemente, mas em palco, a sua performance foi de uma energia inabalável. Algo que se foi tornando muito palpável quando o tom diminuiu em “Valleys of Gloom” e a banda passou para a faixa “Nurturing Glance”, uma homenagem a David Andersson, que a banda partilhou com o público naquela noite. Uma noite, que na verdade ainda tinha muito para dar, pois foi também uma oportunidade para conhecer os dois novos membros da banda. Estes são o guitarrista Simon Johansson, no lugar antes preenchido por David Andersson e o baixista Rasmus Ehrborn. De facto, notava-se já uma grande cumplicidade em palco entre todos os músicos, o que apenas acrescentava à dinâmica da banda, em particular de Rasmus, que durante uma grande parte do set aproveitava os mais diversos momentos para se ir meter com a rapaziada. Ainda antes de entrar no encore, “Death Diviner” levantou mais uma vez a energia da sala, não se contentando Björn “Speed” Strid por menos. Animação e energia essa que se mantiveram durante o resto do set. O fantástico som dos sintetizadores introduzia a groovy “Stålfågel”, que fechava assim a atuação dos Soilwork, uma atuação que terminou numa nota muito boa e agradável.
No geral, foi um espetáculo incrível e uma excelente demonstração de talentos por parte de todas as três bandas, mas que deixou um sabor agridoce… Não que tenha sido de curta duração ou até que ainda existisse muita energia para dar, mas um bom concerto deixa-nos sempre com vontade de o voltar a ver.
Texto por Miguel Matinho
Fotografia por Luís Jacinto
Agradecimentos: LAV - Lisboa Ao Vivo