Foram necessários cerca de 25 anos para que os Bullet For My Valentine (BFMV) tocassem finalmente no nosso país. Apelidados de porta estandartes do chamado heavy metal de cariz moderno, eles vieram finalmente mostrar-nos porque detêm esse titulo. A acompanhá-los estiveram os estreantes Atreyu e os Jinjer, estes últimos não precisam de apresentações.
Os conhecedores da musica dos Atreyu talvez desconhecessem a simpatia que a banda americana coloca em palco. É difícil não simpatizar com estes norte americanos que anunciaram desde logo a todos os presentes que esta iria ser a melhor noite das suas vidas. Exagero? Talvez apenas confiança. Dando início à sua atuação através de uma intro “techno”, havia quem pensasse estar no concerto errado. Meia casa estava presente para dar as boas-vindas aos Atreyu, que começaram logo a descarregar o seu metal, super influenciado pelos mais diversos estilos. “Becoming the Bull” foi o primeiro de uma série de temas que em comum, apenas tiveram o facto de terem sido interpretados com boa disposição. Quando pedido a participar o público colaborou, como no caso de “Save Us” e ainda pudemos todos ouvir o guitarrista Travis a falar um português muito competente. “Battle Drums” foi um momento muito esquisito com dois vocalistas, mas não tão esquisito quanto o início da cover “I Wanna Dance With Somebody (Who Love Me)”, que felizmente morreu à nascença. A atuação dos Atreyu terminou com uma das suas músicas mais conhecidas, falamos de “Blow”.
Jinjer é Tatiana, ou será a banda mais que isso? Por vezes é difícil perceber, tal o culto criado em volta da frontwoman ucraniana. O certo é que a banda é muito acarinhada no nosso país, avaliando pelas anteriores passagens. Esta não foi diferente, havendo mesmo quem estivesse presente por sua causa. Tatiana é bonita, atlética, tem um visual fantástico e uma poderosa voz, tanto para cantar fazendo uso de um registo limpa, como também para gritar. Tudo isto parece agradar ao público, independentemente do género. Talvez por isto a restante banda não seja tão exuberante, preferindo permanecer tranquila no seu lugar, deixando o palco para Tatiana. A atuação desta noite foi, uma vez mais, muito certinha, instrumentalmente perfeita, com o recente “Wallflowers” a fornecer a maioria dos temas. Pelo meio, “Home Back”, com a vocalista a recordar a situação que se vive no seu país. Sala cheia para assistir a 45 minutos de metalcore sem interrupções, tudo muito direto, como se quer num concerto destes. “Perennial” foi um dos pontos altos, assim como os dois últimos temas “Wallflower” e “Call Me a Symbol”.
O concerto de estreia de uma banda com 25 anos de carreira merece ser assinalável. Os ingredientes para que tal acontecesse estavam reunidos. Público empolgado e uma banda disposta a dar tudo. Os BFMV fizeram mesmo questão de deixar claro que pretendiam tocar hora e meia, não menos que isso. O início foi de arromba com “Knives” e logo se percebeu que este seria daqueles espetáculos que uma vez vivido, jamais seria esquecido. Moshpit sempre em movimento, crowdsurfing sempre a acontecer e um público que sabia todas as letras. Não é de admirar que os artistas que nos visitam nos considerem “crazy”, nós fazemos por isso. Com uma setlist que visava fazer uma retrospetiva, foi no entanto do primeiro álbum, The Poison e também do mais recente, homónimo, que os galeses mais temas interpretaram. Esta mescla resultou na perfeição e pudemos assim ouvir “Shatter”, logo seguida de “All This Things I Hate (Revolve Around Me)”, sendo que os quase 20 que as separavam eram somente isso, tempo. O vocalista Matt Tuck anunciou que “Hearts Burst Into Fire” tem sido um dos temas mais requisitados à banda, mas uma vez que se tratava de uma estreia, todos os temas estavam a ser bem recebidos. A meio da atuação a música parecia estar ainda em crescendo, no que ao ritmo diz respeito. “Scream Aim Fire” foi apenas mais um exemplo disso mesmo. Por ser tão bom, passou depressa e quando o público se apercebeu já os BFMV deixavam o palco. Umas rápidas contas deixaram-nos perceber que ainda não tinham decorrido os anunciados 90 minutos, ou seja, iria haver lugar ao tradicional encore. O som inicial da bateria em “Your Betrayal” assustou os mais distraídos e foi já a meio do encore que tivemos o único momento de acalmia de toda a atuação da banda. Este aconteceu com a primeira parte de “Tears Don´t Fall”, tocada apenas por Matt e a sua guitarra. O final de um concerto destes não poderia ser menos que apoteótico e fez-se com a velhinha “Waking the Demon”.
Texto por António Rodrigues
Fotografia por Paulo Jorge Pereira
Agradecimentos: Prime Artists