Nada melhor do que um espetáculo com dois nomes fortes do heavy/power metal europeu para aquecer os apreciadores do género numa noite fria de inverno.
Os Firewind já são um nome há muito estabelecido nestes meandros do metal mais tradicional, com Gus G. destacadamente como figura principal, ele que, como é sabido, pertenceu à banda da lenda Ozzy Osbourne. Esta banda, uma das maiores exportações do metal grego, chegou à sala de espetáculos Lisboa ao Vivo não como uma mera banda de abertura, mas como convidada especial, e até poderia ter ido como co-headliner ou cabeça de cartaz, dada a sua história e qualidade dos seus álbuns.
Gus G. demostrou a sua mestria na execução do seu instrumento, desde o início do espetáculo, com o heavy metal poderoso de "Welcome to the Empire". O refrão contagiante da velha faixa "I Am the Anger" ecoou na sala de espetáculos, com Gus G. sendo um verdadeiro e discreto guitar hero. A mais melódica "Head Up High" deu margem para o recente mas experiente vocalista Herbie Langhans brilhar, quase a fazer esquecer o saudoso Apollo Papathanasio. O quarteto tocou em seguida "Destination Forever" que teve direito ao público a cantarolar. O enorme refrão de "World on Fire" continuou a contagiar o público, que mostrou o seu agrado por mais este tema emblemático. Um dos grandes momentos da noite foi a estrondosa performance da inevitável instrumental "The Fire and the Fury", que deu espaço para o líder do grupo brilhar e que até deixou a sua guitarra a deitar fumo. No tema mais recente, "Ode to Leonidas", já se podia dar uma nota positiva ao novo vocalista, que se mostrou interventivo na interação com o público e certeiro a nível vocal, bem como à secção rítmica que já é bem mais veterana a acompanhar o mago Gus G. Em seguida, quase para finalizar o concerto, a banda escolheu tocar dois temas do seu último álbum, "Break Away" e "Rising Fire", que de maneira geral até arrefeceram um pouco a plateia, pese embora a tentativa de Herbie Langhans acordar o público no início da segunda, cantando ele a parte "Rising" e incentivando o público a vociferar a palavra "Fire". No final desse tema o vocalista disse que tinha notícias tristes pois vinha aí a última música, que era uma faixa de dança e que depois era a vez dos Beast in Black. A música escolhida foi a "Maniac", cover da conhecida música de Michael Sembello lançada nos 80s. Os espectadores receberam bem o tema, movimentando-se e cantando o refrão, naquela que foi uma boa preparação para o que aí vinha, tendo em conta que os Beast in Black também têm alguns temas um pouco dançáveis.
Passado pouco tempo de os Firewind terem abrilhantado a noite, entraram em palco as (teoricamente) atrações principais, os multinacionais Beast in Black, que são muito mais recentes do que os Firewind (2015) e lançaram somente 3 álbuns, mas causaram impacto mais do que suficiente para por exemplo terem andado em tour com os Nightwish em novembro passado, e para agora fazerem esta tour em nome próprio. Esta digressão começou precisamente em Portugal, tendo esta sido a estreia absoluta do grupo em solo português, por isso a expectativa dos fãs era grande para este espetáculo. O facto de se encontrarem numa fase mais embrionária da carreira permitiu à banda apresentar quase metade das músicas de cada um dos seus três discos: seis de "Berserker", cinco de "From Hell with Love" e seis do último "Dark Connection". Tal deu a oportunidade aos fãs de poderem ouvir praticamente todos os temas que desejariam ouvir, o que não acontece no caso de bandas com uma discografia recheada. Foi com esse alinhamento heterogénio e bem representativo de tudo o que os Beast in Black fazem que estes presentearam o público que terá seguramente ficado de barriga cheia. Ao contrário dos Firewind em que o destaque vai sobretudo para o guitarrista Gus G., no caso dos Battle Beast o maior fator diferencial é a enorme amplitude vocal do vocalista Yannis Papadopoulos, conforme ficou confirmado neste espetáculo recheado de temas que entretiveram de sobremaneira todos aqueles que se deslocaram nesta noite ao Lisboa ao Vivo. O vocalista demonstrou também ser um autêntico showman e esteve bem acompanhado por uma banda que demonstrou estar coordenada nos seus movimentos e que se diverte verdadeiramente em palco. A banda entrou forte desde o início com "Blade Runner", sendo que se destacaram várias músicas como "Die by the Blade", no qual o público começou a gritar pelo nome da banda no final, "Sweet True Lies", uma das mais cantadas da noite, a homónima "Beast in Black" que foi uma das mais ovacionadas no final, a cativante "Born Again" e a inevitável "Blind and Frozen" que talvez tenha sido o momento alto da atuação. Talvez porque, além das músicas citadas atrás, "Blind and Frozen" teve a concorrência de "One Night in Tokyo" e "End of the World" que já durante o encore foram igualmente recebidas efusivamente por parte dos fãs. Durante o espetáculo, Yannis Papadopoulos referiu que já estavam à espera da estreia em Portugal há muito tempo. O músico referiu também que é fã dos Firewind há muito tempo, mostrando desse modo o seu apreço por andar em tour na companhia da banda grega, tendo prometido também que os Beast in Black irão voltar.
2023 promete ser o regresso em força aos grandes concertos em Portugal, e este terá sido um dos primeiros de muitos momentos de celebração da música pesada deste ano.
Texto por Mário Rodrigues
Fotografias por Paulo Jorge Pereira
Agradecimentos: Prime Artists