A receita para a noite perfeita estava criada com um simples cartaz: Soul Blind, Landmvrks, Knocked Loose e Stick To Your Guns eram as bandas anunciadas.
O quarteto, que pisou pela primeira vez palcos lusos, deixava-nos quase nostálgicos com o seu som e imagem tão característico do alt-rock dos anos 90.
Recebidos perante uma casa ainda bastante despida e um público calmo, os Soul Blind brilharam com malhas como "Tribe", "Crawling Into You" e "Ain't Hard to Tell" numa combinação de distorção de guitarras com vocals dignos de serem ecoados por todo o espaço e uma bateria perfeitamente ritmada.
"Third Chain" encerrou a atuação da banda nova-iorquina.
Num piscar de olhos, o LAV enchia para receber os franceses Landmvrks e bastou a primeira nota de "Lost in a Wave" para definir a atmosfera do resto da noite.
Foi suficiente que o vocalista, Florent Salfati, proferisse as palavras "I can't breathe, I'm suffocating", frase de abertura da música, para que o público, apenas aos 37 segundos de performance, ecoasse a letra da mesma em perfeito uníssono. "Rainfall" seguiu-se, fortemente caracterizado pelo potente "snare" da bateria de Kevin D'Agostino causando ainda uma maior explosão de adrenalina na sala. Os circle pits iniciavam e mantiveram-se durante quase toda a atuação da banda de Marselha.
Foi com a malha "Visage", cantada parcialmente em francês, que os Landmvrks mostraram a sua diversidade, passando agora para um som mais melódico e parando totalmente o público. Lanternas de telemóvel podiam ser vistas por todo o recinto e os fãs estavam totalmente rendidos num dos momentos mais bonitos da noite. "Self Made Black Hole" encerrou a performance do quinteto, com a certeza que o primeiro concerto de Landmvrks em Portugal foi um sucesso e que deixou o público com vontade de os ver novamente muito em breve.
Seguiam-se os Norte Americanos Knocked Loose, que pisavam o palco do LAV pela segunda vez este ano, abrindo com "Where Light Divides the Holler". A voz inconfundível de Bryan Garris e os muitos violentos breakdowns caracterizaram a atuação da banda enquanto alguns fãs tentavam a sua sorte e saltavam para o palco. Os bem sucedidos, puderam partilhar o microfone com Garris que perante toda aquela energia, os ajudou a subir para o palco. "God Knows", "Deadringer" e "Mistakes Like Fractures" foram algumas das músicas ouvidas e recebidas com muitos stage dives, crowd surfing e um wall of death. Mas foi em "Counting Worms" que a energia ficou ao rubro. A malha de apenas 1:12 min tinha um efeito explosivo como nenhuma outra. Encerrando com "Permanent", os Knocked Loose conseguiram o improvável e superaram a sua anterior atuação em terras lusas.
"Nobody" abriu a performance dos californianos que não só foram capazes manter a boa energia que se sentia na sala, mas também conseguiram deixar muitos fãs emocionados. "Such Pain", "Hush", "Nothing You Can Do To Me" foram apenas algumas das músicas que se seguiram, pela banda de Orange County, que já não é estranha aos palcos portugueses. Os circle pits e stage dives mantinham-se e foram recebidos com alguns "obrigado" por parte do vocalista Jesse Barnett que confessou que sentia que a sua voz não estava no seu melhor pois encontrava-se adoentado.
Toda esta honestidade e humanidade mostrada por Barnett culminou num discurso que parou totalmente o LAV. O vocalista falou da normalidade de nos sentirmos muitas vezes impotentes, parecendo que tudo é demasiado, falando também sobre "a única certeza que temos na vida: a morte" e mencionando o clima atual do mundo, mas, terminando com palavras de esperança: "e eu desejo paz para todos vós, se estiverem dispostos a lutar por ela". Era impossível ficar indiferente a este momento e os olhos do público encheram-se de lágrimas.
Mas a festa continuou com sons como "The Suspend" e "Amber" e a plateia rapidamente se encheu de entusiasmo novamente. A banda concluiu o concerto com "Against Them All".
A noite terminou assim, num espetáculo que os fãs de hardcore/metalcore dificilmente alguma vez esquecerão, com um cartaz único e que superou em muito as expectativas.
Texto por Rita Almeida
Fotografia por Igor Ferreira
Agradecimentos: Amazing Events