Foi com enorme satisfação que o público lisboeta recebeu os Moonspell nesta noite de feriado. Se na véspera, o concerto do Porto havia sido assinalável, este, dado na Capital, não lhe ficou atrás. A legião de fãs destes lobos não para de aumentar e entre ela podemos encontrar pais e filhos. As gerações misturam-se.
É sabido que os Moonspell gostam de dar concertos em Portugal por épocas de Halloween e é já uma certeza que eles se fazem acompanhar sempre por bandas de enorme qualidade. Desta vez os escolhidos foram os Samael, banda suíça que conta com muitos apreciadores da sua música no nosso país.
Pelas 20h30, aquando do início da atuação da banda dos irmãos Xy e Vorph, já o Coliseu se encontrava bastante cheio. O mote para estes dois concertos assentava nos icónicos álbuns dos anos 90, Ceremony of Opposites e Passage. O primeiro havia sido tocado na integra na passada noite, na Invicta. Para esta noite estava assim reservado Passage, que foi interpretado de forma soberba, tendo mesmo sido respeitada a disposição em que os temas se encontram no álbum. Metal industrial de qualidade, com uma sonoridade bastante negra, que se enquadrou na perfeição com o ambiente que se vivia na sala. Os mais defensores do “antigo testamento” do heavy metal, como eu, poderão lamentar a falta de uma verdadeira bateria em palco, mas o objetivo foi cumprido e todos pareciam satisfeitos. Tanto os músicos, pela calorosa receção, como a audiência, que soube disfrutar da música dos Samael. Terminada a interpretação de Passage, a banda tocou em jeito de encore os temas “Baphomet´s Trone” e ainda “Black Supremacy”.
Apenas 15 minutos após a banda suíça ter tocado a sua última nota, já o gigantesco ecrã montado no palco passava pequenos vídeos de músicos que fizeram questão de congratular os Moonspell pelos seus 30 anos de atividade. Para além dos nacionais Rui Sidónio e Gaerea, a lista estendeu-se por nomes como: Mile Petrozza, Anneke Van Giersbergen, Liv Kristine, Dani Filth e tantos outros, terminando com os Behemoth a cantarem o refrão do tema dos Abba, “Fernando”, o que provocou gargalhadas entre a assistência. Se duvidas houvesse quanto à popularidade dos Moonspell fora de Portugal, essas ficaram desfeitas.
Um aniversário destes merece uma festa à altura e ela foi devidamente planeada e executada. Os temas a serem tocados nesta noite haviam sido escolhidos pelos fãs, o que permitiu a presença na setlist de algumas músicas que há muito não eram interpretadas, ou de outras que normalmente ficam de fora dos seus espetáculos. Foi o caso da primeira desta noite, “Serpent Angel”, com a banda a tocar, numa primeira fase, oculta por um pano que cobria toda a frente do palco e que quando foi removido revelou a grande produção que envolvia este concerto. Para além de um coro composto por duas excelentes vocalistas, Eduarda Soeiro e Raquel Subtil, tínhamos em cima do palco duas bailarinas. Não foi preciso esperar muito para que os primeiros convidados surgissem. Falamos dos Cornalusa, que ajudaram a interpretar “Trebaruna” e “Ataegina”. Um dos objetivos deste concerto era também o de percorrer a longa carreira dos Moonspell e os 3 temas seguintes registaram isso mesmo, lembrando alguns dos seus momentos mais altos. “Vampiria”, o hino “Alma Mater” e “Opium” foram tocadas assim de repente, aquecendo a noite. “Mute” teve o condão de trazer a palco os convidados seguintes. Trata-se do duo de violoncelistas que dá pelo nome de Opus Diabolicum e que foram parte importante nos espetáculos “Sombra”, de que muitos se lembrarão. Logo após “Butterfly FX” e “Nocturna”, tivemos a poesia de Fernando ribeiro declamada em pleno Coliseu. O orador dá pelo nome de José Luiz Peixoto que apesar de não poder estar presente, fez questão de gravar um vídeo e juntar dessa forma o seu nome ao evento. Os temas cantados em português voltaram e com eles chegou Rui Sidónio. “Em Nome do Medo” foi cantado a duas vozes com o vocalista dos Bizarra Locomotiva e o aclamado álbum 1755 foi visitado ainda 2 vezes mais. Primeiro com “In Tremor Dei” e logo de seguida com “Todos os Santos”, que não podia falhar num primeiro de novembro. “All or Nothing”, extraída do último trabalho de originais, parecia ser a última música da noite, mas, apesar de estarem a tocar há mais de 2 horas, a banda da Brandoa voltou uma vez mais a palco para interpretar a obrigatória “Full Moon Madness”, com promessas de rápido regresso a terras lusas para mais concertos.
30 anos de atividade é uma data assinalável para qualquer artista. Se tivermos em conta que estamos a falar de uma banda de heavy metal nacional, isso devia encher-nos a todos de orgulho. Os Moonspell ombreiam lá fora com os melhores, levando o nome de Portugal a todos os cantos do mundo onde a sua música é acarinhada. O concerto desta noite revelou-se uma grande produção também em termos visuais. Foram tocados cerca de 24 temas de grande qualidade, por músicos de enorme prestígio. Vamos esperar que a Prime Artists volte a proporcionar mais festas de aniversário dos Moonspell. A alcateia voltará a reunir, certamente.
Texto por António Rodrigues
Fotografias por Igor Ferreira
Agradecimentos: Prime Artists