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Entrevista aos The Chapter


Estivemos à conversa com os The Chapter, a banda de Lisboa que lançou este ano um novo álbum, intitulado “Delusion of Consciousness", masterizado por Daniel Cardoso. O primeiro trabalho da banda com o novo vocalista e o arranque para uma nova fase do percurso deste coletivo que divide as suas origens entre a Margem Sul e a Margem Norte do Tejo. 

M.I. - Obrigada por aceitarem o nosso convite para esta entrevista e apesar de vos conhecer pessoalmente a quase todos, gostaria que apresentassem a banda aos nossos leitores, resumindo o vosso percurso e esta longa existência dos The Chapter. Quem são os The Chapter e de onde vêm?

Olá Micaela. Antes de mais queremos agradecer esta oportunidade. Começamos em 2004 com alguns ensaios e depois de termos algumas faixas prontas e alguns concertos, fizemos o EP “Into the Abyss”. Em 2008 fizemos uma pausa, que durou tempo demais. Só em 2016 voltamos a reunir já com novo vocalista e novo baixista. Entramos em estúdio e fizemos várias faixas e editamos o nosso LP “Angels & Demons”. Tivemos excelentes concertos, mas em 2018 tivemos um ponto de viragem com a entrada de novo vocalista. Fizemos vários concertos e depois entramos num processo criativo e fizemos o nosso 2º álbum “Delusion of Consciousness”. Agora estamos a promover o álbum e também já estamos a pensar no futuro.


M.I. - Sabendo que estiveram durante alguns anos à procura do som que mais vos fizesse sentido produzir, como se sentem com este novo lançamento “Delusion of Consciousness”?

Este álbum refletiu claramente o nosso ponto de viragem com a mudança de vocalista. Fizemos um álbum mais pesado, mas continuando com o nosso som melódico e doom. Podemos dizer que o som que mais nos caracteriza ainda está mais vincado neste álbum. 


M.I. - Daniel Cardoso, baterista de Anathema, produtor reconhecido a nível nacional e internacional, foi a vossa escolha para este novo álbum. Apesar das limitações da pandemia, que não vos deixou gravar como é mais natural, como foi para o Tiago, dividir o estúdio com este produtor e como foi para os restantes músicos não poder ir a estúdio?

Para o Tiago Oliveira, a gravação no Ohme Studio foi muito positiva. Conseguiu ganhar muita experiência ao nível de Estúdio e no processo criativo. As adaptações, as segundas linhas de vozes foram muito boas para o álbum. Relativamente aos outros elementos da banda, foi um processo demorado, visto que as gravações eram feitas em casa e depois enviadas para o Estúdio. Este processo repetia-se n vezes até estar como pretendido. Claro que a participação do Daniel neste processo de gravação não existiu, mas também teve aspetos positivos, visto que não estivemos sob pressão relativamente ao tempo de gravação. 


M.I. - A nível estrutural das oito músicas do novo trabalho, houve alterações por parte do produtor, Daniel Cardoso, aquando das gravações ou ainda antes disso, na vossa pré-produção?

As alterações começaram logo na pré-produção. Em algumas faixas, tivemos de acrescentar alguns riffs, algumas passagens e alguns versos adicionais. Isto aconteceu principalmente na “Vultures” e na “Delusion”. A gravação não teve grandes sobressaltos, foi muito direta, apenas com uma pequena alteração na “Sentidos a morrer”, mas nada de especial. O Daniel teve muita importância nestas decisões e sugestões.


M.I. - A alteração de tom nos temas novos, foi uma escolha estética apenas, ou foi uma adaptação á voz do Tiago?

A mudança para um tom mais grave foi uma combinação entre a nossa vontade de ter um som mais forte e pesado e um tom mais dentro dos padrões do Oliveira para que a sua vocalização ficasse mais enquadrada nessa sonoridade.


M.I. - Tiago, consideras mais complicado alinhar a métrica da língua portuguesa nos temas do que o inglês? Cantar em português faz diferença no sentir da mensagem que se está a transmitir para ti?

Obviamente que a métrica da língua portuguesa é mais complicada, mas é claramente possível. Nem todas as faixas se consegue ter uma dinâmica adequada para cantar em português. Na “Sentidos a morrer” fizemos a experiência e correu melhor do que estávamos à espera. Ao cantar em português conseguimos utilizar as palavras mais adequadas para a mensagem que queremos dar. Existe conjugações que podemos utilizar que ficam muito bem como por exemplo: “E no pináculo da alegria, sente que não foi em vão…”


M.I. - O artwork do álbum, apesar de bastante simples, é marcante e forte. Sendo que foi o João Gomes (guitarrista da banda) o autor, a transmissão de ideias entre os membros da banda e o Designer que também é o guitarrista, foi naturalmente mais fácil. Qual o significado da capa e da parte lírica das músicas?

A temática deste álbum foca principalmente a morte, o existencialismo e a consciência. Queríamos que esta artwork, também tivesse alguma marca do álbum antigo. Assim, a personagem principal da capa é o mesmo elemento do álbum antigo, mas rodeado de morte, num ambiente sinistro e medonho, mas com a áurea que simboliza a sua existência e consciência.


M.I. - Mesmo sendo uma questão que se vem discutindo há muito tempo, consideram que as bandas nacionais de metal em Portugal devem apostar nos lançamentos digitais e deixar o registo físico só para fãs? Ou seja, fazer apenas o registo físico em número limitado, e apostar no digital até no sentido da falta de interesse das Editoras neste contexto pandémico e pós-pandémico?

Esta questão é bem interessante. De algum modo concordamos, mas continuamos a achar que as pessoas que gostam de Metal em geral, gostam de ouvir e desfrutar dos elementos visuais do álbum, como o CD físico ou o booklet com as letras das músicas. O underground nacional não é um mercado que as Editoras gostam de atacar. A pandemia veio acentuar a posição deste mercado. 


M.I. - Os The Chapter aumentaram notoriamente as atuações ao vivo nos últimos anos, mesmo antes deste “Delusion of Consciousness”. Consideram que a mudança de vocalista fez essa diferença?

As nossas atuações ao vivo aumentaram porque tivemos uma evolução ao nível da qualidade em geral, não só na voz, mas como em todos os outros elementos. Também tivemos mais esforço ao nível da promoção e na divulgação de conteúdo nas redes sociais. Todos esses fatores combinados elevaram a banda a um patamar claramente mais alto.


M.I. - A Metal Imperium gosta de divulgar as bandas nacionais. Querem deixar alguma mensagem aos nossos leitores e aos vossos seguidores?

Queremos agradecer a todos os leitores da Metal Imperium por terem lido esta entrevista e darem oportunidade às bandas nacionais de poder crescer. Um grande abraço aos nossos seguidores que nos seguem nas redes sociais e nos concertos e que nos ajudam e motivam. Muito obrigado a todos e em especial à Micaela.

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Entrevista realizada por Micaela Cardoso