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Entrevista aos Dimmu Borgir


Há 21 anos, os Dimmu Borgir lançaram “Puritanical Euphoric Misanthropia”, um álbum que incluía faixas incríveis que já se tornaram clássicos. Em outubro, a banda está programada para lançar “Puritanical Euphoric Misanthropia (Remixed & Remastered)”, disponível em 3 LP Box, CD Digipak e digital. Um dos mentores desta banda de quase 30 anos, Silenoz, teve uma extensa e interessante conversa com a Metal Imperium para partilhar todos os detalhes sobre esta versão remisturada e remasterizada do álbum e sobre o novo material que a banda está a preparar atualmente. Leiam aqui...


M.I. - Vocês recentemente tocaram aqui em Portugal no Vagos Open Air Festival. Como foi? Não pude comparecer, infelizmente!

Foi muito bom! Já não íamos a Portugal há algum tempo desde, e foi fixe finalmente poder tocar um set completo. Foi ótimo estar de volta para conhecer os fãs e tocar algumas músicas que não tocamos há muito tempo. Tivemos alguns problemas técnicos antes do concerto com alguns membros da equipa e outras coisas, mas felizmente tivemos ajuda extra e conseguimos resolver.


M.I. - Estava muito calor, não estava?

Sim, lembro-me que estava calor e vento, e não tínhamos certeza de como isso afetaria o som, porque quando se toca ao ar livre, o vento pode perturbar o som. Mas eu acho que foi muito bom, pelo menos decente.


M.I. - Primeiro, deixa-me dizer que sou uma grande fã desde sempre, desde que ouvi “Stormblast” pela primeira vez há muito tempo, e adorei completamente o “Puritanical Euphoric Misanthropia”. Por que decidiram remisturá-lo e remasterizá-lo 21 anos após o lançamento do álbum original?

A editora queria reeditar outro álbum. Já tivemos algumas reedições, alguns vinis e outras coisas no passado e eles queriam fazer outra reedição para o aniversário dos 20 anos e nós dissemos: “Bem, por que não remisturar e remasterizar o álbum e transformá-lo numa caixa enorme com faixas bónus e uma nova capa e todas essas coisas?”. Eles disseram que era uma ótima ideia, e foi assim que surgiu. Quando se comemora os 20 anos de um álbum que já tem algumas reedições, pensamos “Vamos fazer uma reedição apropriada, remisturar e atualizar o som!”. Porque lembro-me que, quando gravamos o álbum, estivemos quase dois meses em estúdio, mas quando chegamos à fase de mistura, tínhamos apenas quatro ou cinco dias e tivemos que apressar muitas faixas e isso não é muito bom. Por isso, sempre tivemos a sensação de que poderíamos ter feito muito mais! Não tenho a certeza se já ouviste a versão mais recente, mas há muitas coisas nos teclados que soam um pouco melhor agora e está mais equilibrado com a bateria. Sentimos que tem um som atualizado e obviamente nada é regravado, é apenas remisturado e remasterizado.


M.I. – Ok, o original foi misturado e projetado por Frederick Nordstrom. Quem fez a remistura e remasterização agora?

Fizemo-lo com o Frederick novamente, porque ele obviamente conhece as músicas. Foi gravado com ele na primeira vez e esse foi o primeiro disco que fizemos com ele, portanto não pensamos em fazê-lo com mais ninguém. Nós obviamente deveríamos ir ter com ele, mas por causa da pandemia, tivemos que fazer a remistura pela internet e enviar arquivos e coisas assim. O processo demorou um pouco mais, mas a razão pela qual não saiu antes é porque houve alguns atrasos nos planos de impressão para vinil e CDs. É por isso que deveríamos tê-lo lançado no ano passado, obviamente, mas ainda assim... uma celebração dura um ano ou dois ou três, isso não importa realmente.


M.I. - Foi um dos vossos álbuns mais vendidos!

Vendeu sempre muito bem, desde o início. Foi um sucesso na América do Norte e na Europa. Olhando para as vendas, “Puritanical” e “Deathcult”, esses dois álbuns saíram-se muito bem na América do Norte.


M.I. - Esta reedição é uma forma de manter os fãs interessados e a falar sobre a banda enquanto vocês preparam novo material? Espero que estejam a preparar coisas novas!

Sim, sim, temos estado a trabalhar em material novo nos últimos anos e estamos a criar material para um novo álbum. O nosso desafio sempre foi retirar o que não é necessário, sabes? É claro que é bom ter este lançamento como algo intermediário. Tenho certeza que há muitos fãs que pensam “Por quê remisturar o álbum? Não há nada de errado com a primeira edição!” e isso é totalmente compreensível. Ninguém é obrigado a comprar ou ouvir, e as pessoas que querem ficar com o original, tudo bem, mas acho que é cada vez mais normal agora, especialmente depois de 20 anos ou 30 anos, fazer um lançamento de aniversário e tê-lo, pelo menos, remasterizado e remisturado.


M.I. - Este álbum também está programado para atingir um público mais novo, certo? Porque os fãs mais antigos já conhecem o material e a reedição provavelmente alcançará novos fãs!

Sim, é um bom ponto também. Há uma nova geração a chegar e nós estamos a envelhecer e é sempre bom ter algo a oferecer aos fãs. Isso não significa que eles têm que comprá-lo, é livre arbítrio e eu acho que é uma coisa fixe ter algo atualizado. Eu acho que vale a pena comprar, porque tem um vinil triplo com as músicas de pré-produção e músicas de ensaio. Talvez seja mais para os fãs acérrimos verem como as músicas foram escritas num estágio inicial e como se transformaram na música que foi apresentada no álbum.


M.I. - A caixa dourada já está esgotada!

Eu não tenho informações sobre isso, mas parece-me incrível!


M.I. - Isso significa que colecionadores e fãs obviamente estão a comprar, porque não me parece que os novos fãs vão investir dinheiro num item como este sem conhecer o som!

Para ser sincero, não faço ideia de como é o comprador hoje em dia. Só sei como eu faço! Se encontro algo no YouTube ou no Spotify de que gosto muito e ouço com frequência, compro em vinil. Já não compro CDs, mas compro coisas em vinil, essa é a minha coisa física favorita!


M.I. - São três LPs e o terceiro, Lado E e Lado F, inclui o álbum original porque não diz remisturado e remasterizado?!

É um álbum longo, temos o álbum remisturado em dois LPs e temos as faixas de pré-produção e as faixas de ensaio no terceiro. No álbum original fizemos “Burn in hell” que é uma cover dos Twisted Sister e fizemos uma gravação de “Devil's Path” em 96 que também está incluída no álbum de remixes. “Dust of cold memory” é um dos LPs que cobre a fase de pré-produção e as faixas de ensaio que colocamos lá.


M.I. – Foi ideia vossa ou da editora lançar esse material bónus?

Foi ideia nossa, porque obviamente temos algumas coisas arquivadas há muitos anos. Obviamente, sabemos que a editora quer faixas bónus, mas procuramos no nosso catálogo e encontramos muitas coisas inéditas que só tínhamos para nossa referência. Pensamos em masterizá-las, porque todas as faixas de ensaio foram gravadas com um boombox e as pré-faixas de produção foram feitas num pequeno estúdio em 2000. O som não é tão bom, mas não precisa de ser porque é apenas para referência para nós, mas acho que é algo que os fãs apreciarão especificamente.


M.I. - A capa também é diferente da original, que era muito colorida e esta lembra-me um pouco a capa de “Aeonian” com o tema preto e dourado. Quem é o responsável? Por que decidiram mudá-la?

Em primeiro lugar, já não se pode ter peitos nas capas dos álbuns. Desde o início, estávamos a pensar que tínhamos que fazer algo com a capa para poder vendê-la fisicamente em lojas e até, isso era um dado adquirido. Tínhamos um cara estrangeiro que fazia covers para bandas mais underground, gostamos do estilo dele e basicamente perguntamos-lhe se queria tentar e desenvolvemos as ideias juntos... é mais ou menos isso!


M.I. – O mundo e a sociedade evoluíram...

Queres dizer, regrediu!


M.I. - Sim, provavelmente! Deveríamos ter a mente mais aberta e as capas estão a ser mais censuradas agora do que há 20 anos, o que é um pouco insano. A liberdade de expressão também não é uma coisa boa agora porque não podes dizer o que pensas, há tantos tabus sobre tudo... é tão estúpido agora! Acho que não gosto desta sociedade!

Eu concordo totalmente contigo e, nos últimos anos, acho que muitas pessoas estão alheias ao que está a acontecer e talvez finalmente abram os olhos. Os últimos dois anos tiveram que acontecer para eles abrirem os olhos e começarem a pensar e ver que há outras coisas que nos controlam e eles podem não querer o que é melhor para nós! Muito ironicamente, isso é algo que liricamente também é muito proeminente em “Puritanical euphoric misanthropia” e também em “Deathcult Armageddon”. A ideia de livre arbítrio e pensar por ti mesmo e falar o que pensas, ter a tua opinião e ser aceite por isso, é estranho quando isso já quase não é permitido. As pessoas ficam ofendidas por tudo e por nada e há poucos que estão a tentar fazer regras para muitos... situações destas nunca acabaram bem na história! Todos sabemos disso, e acho que todas as bandas, todos os artistas que têm a oportunidade de dizer algo agora, realmente precisa dizê-lo, sabes? Eu nunca fui muito de política e não gosto de falar sobre política, mas isto não é sobre política, é sobre lutar contra algo opressivo de cima para baixo e acho que todos têm o direito de dizer o que quiserem sem ir para a prisão ou serem silenciados ou censurados online ou qualquer outra coisa. É simplesmente louco, absolutamente louco!


M.I. - Estás numa banda pesada e provavelmente não esperavas durar tanto e tornar-te uma lenda. Achas que as bandas extremas são mais reconhecidas agora?

Obviamente, a era da internet ajudou artistas extremos a obter uma plataforma maior porque, quando começamos, fazia-se a troca de K7’s para divulgar a música antes de se assinar com uma editora. Agora, se não assinares com uma editora, podes simplesmente lançá-lo tu mesmo e gravar as coisas decentemente com um som decente e não precisas de gastar muito dinheiro. Portanto, se fores inteligente, podes fazer muitas coisas sozinho, talvez fazer tudo sozinho, e acho que isso ajudou as coisas a se tornarem mais difundidas.


M.I. - Ter uma editora a apoiar-vos é sempre bom, não é?

Sempre tivemos um relacionamento muito bom com a editora e eles sempre nos deram o tempo que precisávamos para terminar um álbum, talvez porque tenhamos tido um pouco de sucesso quando se trata de vendas de álbuns, eles deixaram-nos mais “livres” do que fariam com uma banda menor que também tem um contrato para seguir. Isso tem sido a nossa vantagem com certeza e não sentimos que temos que lançar um álbum a cada ano ou a cada dois anos, a cada três anos, sabes? Obviamente, eu gostaria que lançássemos um álbum mais cedo do que a cada oito anos.


M.I. - Eu ia perguntar-te sobre isso, porque entre o último e o anterior demoraram oito anos. Iremos esperar 10 anos agora?

Espero que não! Como disse, estamos a trabalhar intermitentemente com material novo e provavelmente temos ideias e temas para dois álbuns, se tivéssemos tempo para fazer dois álbuns ou um álbum duplo, mas acho que vamos manter fazendo um álbum regular com oito, nove a dez músicas, dependendo de quanto tempo cada música tem, claro. Eu diria que temos muito mais do que meio álbum escrito, mas leva tempo, sabes?! Não é feito da noite para o dia e obviamente eu gostaria que as coisas fossem um pouco mais rápidas, mas os últimos dois anos acabaram com muitas coisas. Estamos a tentar voltar ao processo de escrita.


M.I. - Basicamente és tu, o Shagrath e o Galder que se têm mantido firmes neste projeto...

Sim, temos que tomar as decisões e criar a maior parte do material, mas obviamente também temos a ajuda do Gerlioz nos teclados, que está connosco desde 2009. O mesmo com Daray, o nosso baterista da Polónia, ele também contribui com algumas ideias de bateria sempre que necessário. No final das contas, um álbum dos Dimmu não soaria como soa se não fosse por todos.


M.I. - Vocês alcançaram um estatuto de culto... sentem a pressão de lançar um álbum ainda mais incrível que o anterior? Porque fazem álbuns cada vez melhores! Têm medo de dececionar?

Nós temos a ideia de que enquanto pudermos concordar na banda, não deixaremos a pressão externa afetar-nos. Provavelmente fizemos isso no começo, nos primeiros álbuns, quando tivemos um sucesso inesperado e sentimos que precisávamos de superar o álbum anterior. Acho que é desnecessário dizer que, qualquer banda que começa a trabalhar num novo álbum, quer superar o anterior e esse é o objetivo! Se não sentes que podes superar o anterior, então não faças um novo álbum porque vais falhar. Sempre que lançamos um novo álbum, sentimos que é uma coleção de ótimas músicas que podemos apoiar 110% e estamos felizes com isso e é tudo o que realmente importa. Se as pessoas gostarem, é um grande bónus, mas se as pessoas não gostarem, tudo bem também... não vamos perder o sono por isso!


M.I. – Vocês estão orgulhosos de todos os vossos álbuns, todas as músicas que criaram ou há alguma música ou álbum que apagariam do vosso catálogo se pudessem?

Eu tenho que dizer não, porque cada música e cada álbum é uma prova de onde estávamos naquele momento específico das nossas vidas e se te vais começar a arrepender de coisas ou a querer mudar ou tirar alguma parte da tua história artística, então estás a censurar-te e nós somos contra a censura, e seria hipocrisia total dizer que deveríamos tirar uma música. Existem certas músicas e partes em músicas que são extremamente assustadoras hoje em dia, muitos anos depois, mas essa é uma história totalmente diferente. Eu acho que é importante olhar para o que fizeste com orgulho e ver que em alguns deles, talvez nos primeiros álbuns e músicas, havia alguma banalidade, mas é o que é! Nós fomos jovens assim como todo o mundo, e às vezes é assim.


M.I. – Vocês alcançaram fama, provavelmente, não esperavam ser um banda de black metal tão famosa quanto são. A fama alguma vez afetou a vossa mente e personalidade? Achas que permaneceste fiel a ti mesmo durante todos estes anos?

Eu sinto que isso nos tornou pessoas melhores! Obviamente, eu só posso falar por mim, mas tenho uma distância muito boa da fama... quando vou em tournée ou toco em festivais, vou para o meio da multidão assistir às outras bandas e converso com os fãs sempre que eles vêm para tirar uma foto ou pedir um autógrafo, tanto faz, isso não é problema para mim porque também sou fã de música e também pedi a alguns dos meus colegas que tirassem fotos comigo e, às vezes, ainda o faço! Eu entendo totalmente que a simbiose de ser respeitoso com os fãs que realmente me ajudam a “por pão na mesa” é muito importante, mas vem naturalmente. Eu não tenho nenhum problema com isso, eu gosto de ouvir o que os fãs pensam e se eles vêm até mim e dizem “eu adoro este álbum, mas não gosto deste álbum”, isso é incrível, eu gosto de ouvir as opiniões deles sobre as coisas e gosto que sejam honestos.


M.I. - Costumam pedir-te conselhos? Que conselho darias a alguém que quer formar uma banda e criar música?

Nós começamos a tocar músicas juntos, primeiro fizemos covers e depois tentamos fazer as nossas próprias músicas e funcionou a partir daí. Nunca houve o objetivo de nos tornarmos famosos ou ricos, para isso precisaríamos de estar num negócio totalmente diferente! Tudo o que aconteceu connosco, eu considero um bónus, pois consegui transformar o meu hobby na minha vida e praticamente no meu trabalho. Não vejo isto como um trabalho porque, para mim, a palavra trabalho é algo carregado negativamente, é algo que tens para pagar as contas, mas isto é algo que eu faria mesmo se não fosse pago por isso, sabes? É simples começar, não tenho nenhum conselho em particular além de: tentem encontrar o vosso lugar na banda que estão a começar, certifiquem-se de que todos estão “na mesma página” e que vos puxem no caminho certo. Obviamente, isso é algo que se desenvolve ao longo do tempo, porque não é algo em que se possa concordar na primeira semana, mas tentem encontrar o vosso próprio estilo e não prestem muita atenção às pessoas que fazem vídeos no YouTube. Nós não tínhamos o YouTube naquela época, e fomos com o que tínhamos... e tentem encontrar o vosso próprio estilo basicamente!


M.I. - A banda está prestes a completar 30 anos! É um relacionamento de longo prazo. Já sentiste vontade de te divorciar deste relacionamento?

Bem, nós divorciamo-nos de alguns dos membros anteriores, sim! (risos)
Nós passamos por isso muitas vezes e é claro que é algo que tentaríamos evitar, mas se não o fizéssemos quando fizemos com os membros anteriores, a banda provavelmente não existiria. Eu falo sempre dos Kiss como referência. É como se tivesses o Gene e o Paul, que estão a puxar a banda desde o início dos anos 70, e se olhares para o que o Peter Criss e o Ace Frehley fizeram pela banda, especialmente no começo, pensas que eles existiriam hoje só com o Peter Chris e o Ace Frehley?! Essa é a minha ideia! Obviamente, eu não quero comparar-nos com os Kiss nem qualquer outra banda, mas tenho sempre essa referência porque é preciso ter pessoas motivadas, pessoas de mente forte na frente e é por isso que esta banda ainda existe! Nós tivemos muitas decisões fáceis de tomar, mas também tivemos algumas decisões difíceis, e numa banda não podes ter uma sem a outra e se não queres tomar as decisões difíceis ou negativas para a banda sobreviver, então não és material de banda.


M.I. - Mas há algum músico que saiu dos Dimmu Borgir que achas que deveria ter ficado?

Houve alguns que foram embora porque quiseram. O Nagash foi o primeiro nesse sentido. Em 98 e antes da gravação de “Spiritual”, ele disse que teria que deixar a banda porque queria focar-se nos Covenant e nós dissemos “Bom, já te decidiste! Não adianta tentarmos convencer-te a ficar, isso não vai tornar a vida boa para nenhum de nós”, ele saiu e concentrou-se no Covenant. Há momentos em que os membros da banda saem e é algo que temos que aceitar e respeitar.


M.I. - O mesmo vale para o vosso relacionamento com a Nuclear Blast! Aposto que receberam ótimas ofertas para assinar com outras editoras, certo?

Sim, houve ofertas, mas, ao mesmo tempo, como disse anteriormente, se o dinheiro fosse algo que valorizámos mais do que qualquer outra coisa, talvez tivéssemos uma editora diferente, mas temos um relacionamento tão bom com a Nuclear Blast e temos toda a infraestrutura e eles sempre nos apoiaram desde o início, portanto não vejo a razão pela qual deveríamos mudar. O dinheiro não é tudo!


M.I. - Achas que uma editora pode destruir uma banda com boa música se lhe não oferecerem a promoção adequada?

Não, bem, sim! Acho que depende do tipo de contrato que a banda e a editora têm entre eles! Mas se cada um fizer a sua parte da forma que concordaram, então depende basicamente dos músicos e dos artistas, porque são eles que têm que entregar um produto. Uma editora pode promover um produto o quanto quiser, mas se o material em si não for bom o suficiente, não vai funcionar! Por isso, no final, tudo depende dos próprios artistas para criar um produto que seja ótimo.


M.I. - Em todos estes 30 anos, dirias que as vossas habilidades melhoraram? O que mudou em vocês como músicos?

Acho que definitivamente sentimos que nos tornamos melhores compositores, provavelmente também nos tornamos um pouco melhores a tocar os nossos instrumentos. Acho que a parte de composição em cada um de nós teve tempo para florescer e se desenvolver ao longo dos anos e isso pode ser uma faca de dois gumes, porque a desvantagem disso é que quando envelheces, podes ficar mais analítico ou muito crítico do teu próprio material e esse também tem sido o nosso desafio, talvez seja essa também a razão pela qual demoramos muito tempo entre os álbuns, porque somos tão críticos de cada pequeno detalhe que, possivelmente, perdemos alguma da espontaneidade que tínhamos nos nossos primeiros anos, quando nos encontrávamos no armazém, ligávamos as guitarras, a bateria e os teclados e simplesmente tocávamos... isso é algo que queremos tentar de novo e voltar a ter um pouco mais. Fizemo-lo com o álbum anterior, porque as últimas peças do puzzle, os detalhes e outras coisas podem ser colocadas num cenário onde a banda toca as novas músicas ao vivo antes de entrar no estúdio para gravar.


M.I. – Por falar em tocar ao vivo, acho que vocês nunca mais poderão tocar em locais pequenos! Agora estão acostumados a tocar em grandes festivais, em grandes salas. Sentem falta de tocar em locais mais pequeno para menos público?

Bem, para nós, não importa onde estamos! Quando fazemos concertos em certos países, como quando fomos aos Estados Unidos pela primeira vez ou nas primeiras tournées, tocamos mais concertos em clubes e tudo depende do mercado em que se está a tocar. Nós gostamos de grandes festivais, arenas e clubes pequenos. Temos que fazer as mesmas coisas em palco, seja para 70.000 pessoas ou 70 pessoas!


M.I. – Vocês são tão grandes que a maioria dos lugares em que tocam tem de ser enorme!

Isso é um facto! O problema com a nossa situação e tocar ao vivo é que não somos uma banda que faz muitas tournées! Provavelmente, tornamo-nos um pouco mais exclusivos ao longo dos anos e isso dá-nos espaço para negociar um acordo diferente. Porque, quando fazemos um concerto, damos 110%, como sempre, mas se os concertos não acontecerem com a frequência que costumavam acontecer, definitivamente queremos fazer o melhor possível com o dinheiro que conseguirmos, portanto não é assim que ficamos ricos porque as nossas despesas são astronómicas, mas nós fazemos esse sacrifício pela nossa arte, por ser o mais importante de tudo.


M.I. - Mas vocês agora são ricos, por isso o dinheiro não é um problema!

Podes pensar que somos ricos, mas na verdade não somos! Se não lançarmos álbuns e formos em tournée com alguma frequência, então temos muito que lhe dar!!


M.I. - Vocês estão a caminho dos 50 anos de idade e deviam lançar um álbum antes disso!

Espero que sim!


M.I. - Acho que ainda tens quatro ou cinco anos até lá! E espero que voltem a tocar em Portugal! Muitas bandas não vêm tocar a Portugal agora, por causa da logística.

Sim, sim, estou a contar com isso! Pode ser logística, sim. Quando fizemos estes festivais no verão passado que foram adiados de 2020, decidimos que gastaríamos muito dinheiro para ter o nosso camião com todo o equipamento, toda a nossa produção e tudo no nosso próprio camião, assim sabíamos que tudo chegaria a horas. Ouvi muitas bandas a dizer que a corrida para os festivais foi horrível porque perderam os equipamentos, tiveram que alugar equipamentos de outras pessoas/bandas e não é uma boa sensação ter de subir ao palco com a guitarra de outra pessoa. Algumas mal chegaram a tempo do seu set e houve imensos cancelamentos porque os voos foram cancelados. A parte económica e a parte logística foi um pesadelo para a maioria das pessoas no verão passado! Então, nós decidimos que iríamos continuar a gastar dinheiro com o envio do nosso próprio camião com o equipamento, caso contrário, provavelmente estaríamos na mesma situação. Na pior das hipóteses, se não recebermos determinada parte do nosso equipamento, não podemos tocar ao vivo, não importa se todas as bandas do festival nos podem emprestar isto e aquilo, porque há certas partes que não podemos tocar sem as nossas próprias coisas. E foi assim que fizemos desta vez.


M.I. - Muitas bandas vêm tocar a Espanha, em Madrid, que fica a uns 600 quilómetros do Porto, e não vêm tocar aqui, é uma pena!

É estranho, especialmente se estão em tournée e têm seu próprio autocarro e todas essas coisas porque, vamos ser sinceros, não é uma longa viagem!


M.I. – Ou talvez não gostem dos fãs portugueses!

Eu não entendo porque eles não gostariam, porque nós sentimos falta de tocar em Portugal depois de todos estes anos. Foi ótimo estar de volta! Foi incrível tocar um set completo ao vivo e tocar algumas músicas antigas que não tocávamos há muito tempo!


M.I. - Ok, então vou-te agradecer pelo teu tempo e espero que lancem um novo álbum em breve!

Sim, temos músicas novas, algumas não estão prontas, mas temos várias músicas que estão em processo de arranjo ou rearranjo, e acho que estamos a preparar algo muito fixe!


M.I. - Aposto que sim, mas espero que saia antes de 2030. (risos)

Também espero, espero mesmo! (risos)


M.I. - Espero que falemos sobre o novo álbum em breve e desejo-vos tudo de bom para esta versão remisturada e remasterizada de “Puritanical euphoric misanthropia”! Obrigada!

Obrigado! Espero que gostem e tque curtam o terceiro LP com todas as faixas bónus estranhas para que possam ver como as músicas foram desenvolvidas ao longo dos anos!

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Entrevista por Sónia Fonseca