A Chariots of Fire Tour passou pelo nosso país com estrondo, o que não deve admirar nenhum apreciador de black metal. Encabeçada por dois “monstros” dentro deste género musical, trazia ainda outros dois convidados de excelência, motivo suficiente para que às 18h40 o ambiente dentro do LAV fosse de euforia.
A dupla helvética que dá pelo nome de Bolzer iniciou a sua atuação exatamente há hora marcada. E de que forma o fez, com a velhinha “Roman Acupuncture” a romper no sistema sonoro, primeiro com aquele intro característico de metal a bater em metal e depois com a descarga de black/death metal que se seguiu ao longo de 40 minutos. As velas colocadas pelo palco davam o ambiente para temas como “The Archer”, “Phosphor” e ainda “C.M.E.”, que encerraria a sua atuação. Se era pedido aos Bolzer que aquecessem a audiência, eles foram muito além disso.
Confesso que quando vi o nome dos Tribulation associado a este cartaz me lembrei da história daquelas raparigas que se fartam de ir a casamentos, mas sempre como convidadas, ou como damas de companhia, mas nunca como noivas. Presença regular nos nossos palcos, nunca encabeçaram nenhum concerto e já o mereciam. Até porque a sua atuação chamou muita gente ao LAV, isso foi notório. A banda sueca de death metal gótico tem muitos fãs no nosso país e, apesar de já não contar com o “deslizante” guitarrista Jonathan Hultén, os seus concertos são daqueles que valem sempre a pena assistir. Se os Bolzer tiveram velas, os Tribulation tiveram incenso. Foi com esse aroma no ar que tocaram temas como, “In Reremembrance”, “Nightbound”, a sempre muito aplaudida “Melancholia” e ainda a o novo single “Hamartia”, numa atuação que se focou muito nos seus lançamentos posteriores a 2015. Foi um bom concerto, vamos aguardar que o próximo seja em nome próprio.
Mas esta noite destinava-se em particular aos apreciadores de black metal e estava na altura do Senhor black metal subir ao palco, o ex-Immortal, Abbath. Sempre fiel ao estilo que o caracteriza há mais de três décadas, conseguiu, juntamente com os três músicos que o acompanham, entreter sobremaneira o público que quase enchia a sala LAV. Fê-lo ao longo de mais de uma hora, aproveitando todos os intervalos entre músicas para falar com a audiência. O arranque da atuação foi com “Winterbane”, do seu álbum homónimo, a única extraída desse trabalho. Havia um álbum novo a promover, Dread Reaver, lançado já no decorrer deste ano e assim, o setlist assentou muito em músicas recentes, como: “Acid Haze”, “Dream Cull” e o próprio tema que dá nome ao álbum. Black metal de qualidade, tocado por músicos, também eles de inegável qualidade. A cereja no topo do bolo foram as visitas aos temas de Immortal que, logicamente, não poderiam faltar. “In My Kingdom Cold”, “Tyrants” e “Withstand the Fall of Time” encerraram o concerto desta noite, com direito a moshpit e até alguns “ensaios” de stage diving entre a audiência.
A preparação do palco para a atuação dos Watain foi como que um espetáculo dentro do espetáculo. Todo o cenário que foi montado, para além da enorme bateria que surgiu em cena eram indicadores que vinha aí algo em grande. A entrada em palco foi a prova disso mesmo, com toda a banda sueca, encabeçada pelo vocalista Danielssen, que segurava uma tocha, a parecer que ia dar início a um qualquer culto religioso, e não a um concerto. O efeito pretendido foi conseguido. Ninguém conseguiu tirar os olhos do vocalista que estava ajoelhado diante de uma espécie de altar, nem mesmo quando a banda começou a tocar “Ecstasies in Night Infinite”. A tocha havia sido passada a alguém entre o publico. Era apenas mais uma chama, entre as dezenas que se encontravam espalhadas pelo cenário. O que os Abbath conseguiram nos seus últimos temas, foi conseguido pelos Watain a partir do primeiro momento. Moshpit durante todo o concerto, assim como stage diving. Black metal nórdico pujante, ritmos rapidíssimos e temas que se sucediam em catadupa, convidavam a isso mesmo, sem tempo para o público recuperar. A exceção foi a introdução ao tema “Serimosa”, que levou o vocalista a pronunciar a palavra “saudade”, num português quase perfeito. Como seria de esperar, a atuação dos Watain percorreu a sua longa carreira musical, que conta já com mais de duas décadas, mas focou-se no mais recente trabalho, The Agony & Ecstasy of Watain. “Nuclear Alchemy” parecia vir a ser o tema que encerraria o concerto, mas esse privilégio coube a “Malfeitor”. O espetáculo terminou, tal como havia começado, em jeito de cerimónia, com Danielsson novamente ajoelhado em frente ao seu altar, apagando calmamente todas as velas que o compunham. O público, esse, continuava atento a todos os movimentos.
Parabéns à Amazing Events por mais um evento bem-sucedido, bem organizado (com intervalos curtos entre as atuações) e a começar e terminar dentro dos horários previamente anunciados.
Fotografia por Igor Ferreira
Agradecimentos: Amazing Events