Ao último dia de Vagos as melgas começavam a ganhar a luta, mas todos resistiam, à espera do dia com a maior enchente.
Já os seguintes, Apotopraico, talvez resultado do efeito protector a que o nome alude, conseguiriam até um slot bem generoso, para um dos menos interessantes grupos a passar pelo palco. Vindos de Ibiza, não justificaram a pegada ecológica do combustível gasto.
Os italianos Arsea revelaram-se menos interessantes ao vivo que em disco, pelo menos focando a memória em «A New Dawn», de 2015. Matteo Peluffo é a banda, em termos de presença, mesmo que instrumentalmente, aqui e ali os outros elementos mostrem realizar (bom) trabalho.
Logo em seguida, os nacionais Sotz que se divertiram, tocando para os (muitos) amigos, mostrando ao vivo o seu «Popol Vuh».
Todos os festivais possuem revelações e certamente que Wind Rose, e em particular o seu vocalista Francesco Cavalieri, surpreenderam muitos. Verdade seja dita que a estreia dos “anões” já revelou muitos fãs por território nacional e havia quem estivesse para os ver, apesar de Emperor, mesmo assim foi muito bom. Francesco é capaz de arrebatar o público e não foi só pelas pesadíssimas roupas que faziam desmaiar de calor, só de olhar, que viu o público render-se. É um excelente frontman e mostrou que não basta pegar num micro e dizer piadas para ser bom vocalista. O efeito levou mesmo ao mergulho de um segurança, que fez crowdsurfing no público.
As brasileiras Crypta estiveram muito bem. Tendo em atenção a recente passagem de Nervosa por cá, e o facto de os discos terem saído com meses de intervalo, é razão para dizer que, para já, Fernanda Lira resulta clara vencedora. A dupla de guitarristas que escolheu, resulta muito bem. Uma prestação acima do esperado, diga-se.
Desire vieram substituir My Dying Bride. Algo irónico, face à comparação que muitas vezes afectou os doomsters portugueses. Percebeu-se desde logo existir uma nova formação em palco, apenas fica a dúvida se momentânea ou se será esta a preparar o próximo disco, numa altura em que se celebram três décadas da formação ainda como Cadaver Corpse e Incarnated. Foram a banda que acompanhou o Pôr-do-Sol, mas Corvus revelou-se bem-humorado, falador e talvez menos cerimonial que antes. Influências festivaleiras, certamente.
No Palco Amazing, Kataklysm. Um nome de peso no death canadense, que passa pouco por cá, e o vocalista não se esqueceu de o referir. Quase na escuridão, como que percorrendo ao contrário a sua história, começando com os temas mais groovy, e menos apelativos para os velhos fãs, e terminando claramente mais death. Prestação para fãs, brutal, mas tardia, eventualmente, no ponto actual de carreira.
Emperor podia entregar um bom concerto, ou algo mau. Os primeiros temas vieram embrulhados, mas Insahn e Samoth, não ajudaram a criar uma vaga, se não fossem músicos competentes. E mostraram-no, não só na escolha de um set list brutal, como na capacidade de lidar com o público e gerir emoções. Aliás, de certa forma, Insahn, bem mais comunicativo que na anterior passagem por Vagos, mostrou semelhanças com Mikael Åkerfeldt, só lhe faltando mesmo, contar piadas. «In the Nightside Eclipse» foi, obviamente, o álbum mais destacado, mas não faltaram mergulhos num passado ainda mais longínquo como «The Acclamation of Bonds». Melhor tema, talvez «With Strength I Burn», mas cada um dos presentes terá tido o seu favorito. A conclusão deste momento memorável foi «Ye Entrancemperium».
D.R.I. tentaram, no palco Amazing, rever o seu passado, mas não havia espírito, ou pelo menos, não tinham os fãs certos. Já Serrabulho fizeram a festa final como sempre. Não interessa o cartaz em que estejam, estão sempre lá.
Texto por Freebird
Fotografias por Tânia Fidalgo
Agradecimentos: Vagos Metal Fest / Amazing Events
