Nova visita dos gigantes Iron Maiden ao nosso país. Esta Legacy of the Beast World Tour, que devia ter ocorrido em 2020, chegou finalmente a Portugal e transformou-se no espetáculo derradeiro da tournée europeia. Como é habitual, tivemos grandes bandas a acompanhá-los. Desta vez foram os Airborne, que se estreavam em terras lusas e os Within Temptation, que nos visitam com alguma regularidade.
O cartaz parecia variado. A contrastar com o heavy metal clássico dos Iron Maiden, tínhamos os australianos Airborne que são sinónimo de rock n´roll, indo beber muito à sonoridade dos seus conterrâneos AC/DC, mas não só. O que é certo é que o público gostou. Eram 18h30 quando os manos O´Keeffe e companhia começaram a tocar “Ready to Rock”. Estava dado o mote para uma atuação de 40 minutos de pura energia, com oportunidade de um “cheirinho” dos Stones em “Girls in Black” e uma sirene indicadora de ataque aéreo, colocada a funcionar manualmente por Joel, que funcionou como introdução para “Live it Up”. “Runnin´Wild foi o tema que encerrou o concerto dos Airborne. Ficou na retina a entrega de todos os músicos, autênticos animais em palco, que vivem na integra o espírito rock n´roll, atitude essa que pareceu conquistar o público.
Seguiram-se os Within Temptation com o seu metal sinfónico, provando que hoje havia música para gostos muito diversos. A voz de Sharon continua forte e belíssima e a dificuldade destes holandeses deve ter residido na escolha das músicas para esta noite. A sua extensa discografia revela-se assim um “bom” problema. No entanto, é sabido que alguns temas não podem ser deixados de parte, como é o caso de “Our Solemn Hour” com que iniciaram o seu espetáculo, ou “Faster” e “In the Middle of the Night”, estas duas colocaram aos saltos o público que enchia o estádio. O recente EP, Don´t Pray For Me também não foi esquecido. Dele foi retirado o tema “Entertain You”, mas não estou certo de esse objetivo ter sido alcançado. O público respondia melhor aos clássicos e esses vieram na ponta final com “Ice Queen” e “Mother Earth”. Deve-se realçar que a situação da Ucrânia não foi esquecida e Sharon empunhou mesmo uma bandeira desse país durante a interpretação do tema “Raise Your Banner”. Foi bonito de ver e abrilhantou ainda mais os 60 minutos de atuação a que tiveram direito.
Pode parecer um “chavão”, mas não deixa de ser verdade. Quem vai a um concerto de Maiden, vai para ver Maiden. A grandeza destes britânicos torna tudo o resto acessório. Parece difícil de explicar a ligação ao nosso país, mas o que é certo é que desde o princípio da década de 80 que nos visitam regularmente. O adiamento deste concerto trouxe novidades. Nestes dois anos de pandemia a banda gravou Senjutsu e isso não podia ser ignorado. Pelas 21h00, pontualmente, o público que enchia o estádio começou a ouvir o clássico dos U.F.O., “Doctor, Doctor” que de há alguns anos para cá é usada para indicar que o concerto vai começar. Recebidos por fortes aplausos, os Iron Maiden começaram por tocar “Senjutsu” e logo nesse primeiro tema foram visitados pela mascote Eddie, trajado a rigor e fiel à capa do álbum. “Stratego” e “Writing on the Wall” foram as seguintes e arrumaram a questão Senjutsu. Daí para a frente foram só clássicos e o primeiro deles foi “Revelations”, com um cenário que deixara a temática samurai, para nos levar ao interior de uma catedral. Primeira pausa e primeira conversa de Bruce com a audiência, lembrando que este era o último concerto da tournée europeia e também todo o esforço da equipa encarregue da montagem do palco, sistema de som e imagem, a conhecida “road crew”. Equipado com lança-chamas nos pulsos, Bruce cantou “Flight of Icarus”, enquanto aproveitava para queimar as asas da figura mitológica que pairava sobre si, o que culminaria com a sua queda no final do tema. O público estava rendido a toda esta teatralidade e respondia a todos os pedidos do frontman para fazer barulho, ou cantar. Verdade seja dita, Bruce não teve que se esforçar muito para que isso acontecesse. Temas como “Hallowed Be Thy Name” ou “The Number of the Beast” já não são clássicos, estão para além disso e deslumbram qualquer fã. Estes dois últimos temas, assim como “Fear of the Dark” foram arrepiantes, com milhares de gargantas a acompanhar a banda do princípio ao fim.
O primeiro encore foi igualmente majestoso e deu continuidade a todo o alinhamento anterior. “The Trooper”, que trouxe Eddie de volta ao palco para uma luta de espadas com Dickinson, “The Clansman”, com a palavra “freedom” gritada por todo o estádio a uma só voz e ainda “Run to the Hills”. Agora sim, o concerto parecia estar concluído, mas saber esperar é uma virtude e o público estava otimista. O famoso discurso de Churchill começou a ser ouvido e isso só podia significar uma coisa: “Aces High”, para segundo encore (com direito a um caça em palco) e delírio dos milhares presentes no Estádio Nacional.
Finalmente um concerto dos Iron Maiden num estádio de futebol que estava perto da sua lotação máxima. A banda deu um concerto que fez jus ao seu nome, ou seja, um espetáculo de duas horas, daqueles que nos faz perguntar se falta muito para o próximo. Todos os elementos da banda demonstraram ter ainda muita energia para despender, apesar da idade, o que nos leva a pensar que isto não vai ficar por aqui. Vamos então esperar pelo próximo concerto dos Iron Maiden e que ele ocorra neste ou noutro estádio.
(ver mais fotografias do evento, aqui)
Texto por António Rodrigues
Fotografias por Paulo Jorge Pereira
Agradecimentos: Prime Artists e LiveCom