As altas temperaturas, que se faziam sentir neste último dia de festival, não foram suficientes para afastar o público. Falo daqueles verdadeiros fãs de música, os que se apresentam pontualmente, para assim poderem assistir a todas as bandas do cartaz e usufruírem em pleno de todo o evento. Esses estiveram lá, religiosamente às 16h00, independentemente de terem assistido, ou não, aos dias anteriores e do cansaço acumulado.
Foi assim, com uma audiência muito significativa, que os Deadly Apples deram início à sua atuação. Este quarteto de Montreal tem uma sonoridade que se aproxima muito de Marilyn Manson e foi muito bem recebida. Alex Martel é daqueles vocalistas que consegue encher o palco, ora percorrendo-o em corrida, ora brincando com o cabo do microfone, ou com o suporte, nunca está parado no mesmo sítio. Logo no princípio do concerto foram largadas 2 granadas de fumo roxo na frente do palco e estava assim criado o ambiente para que os Deadly Apples começassem. Dos 7 temas que tocaram, salientar “Further”, gravado com James Munky Shaffer, dos Korn. O concerto terminou tal como havia começado, com mais 2 granadas de fumo roxo lançadas para o palco pelos roadies da banda.
Na opinião de muitos, os The Raven Age são “a banda do filho do Steve Harris”. Eles não pensam dessa forma e vieram novamente a Portugal provar isso mesmo. Com uma sonoridade agressiva, a banda não deixa, no entanto, de incluir bastante melodia nos seus temas, como em “Angel in Disgrace”, por exemplo. O público continuou a fazer a festa durante o segundo concerto do dia, realizando algumas coreografias que surpreenderam até Matt James, conforme o próprio confessou. “Fleur de Lis” encerrou uma atuação de 45 minutos, muito bem conseguida, por parte desta jovem banda britânica.
Confesso que tinha mesmo muita curiosidade sobre os senhores que se seguiam. Me and That Man, projeto paralelo de Nergal, dos Behemoth, é tudo menos heavy metal e parecia desadequado neste festival. A sonoridade da banda, que se assemelha bastante com a música de Nick Cave, foi, no entanto, do agrado do público. De salientar que os temas escolhidos para este concerto, foram dos mais ritmados que se encontram nos 3 trabalhos editados até hoje pela banda. Nas versões de estúdio, as vocais são asseguradas pelos mais diversos convidados. Ao vivo, cabe ao baixista Mathew acompanhar Nergal nessa função.” Under the Spell” logo de início, “My Church is Black” pouco depois e “Burning churches” mais perto do final, foram os temas mais aplaudidos naquele que acabou por se revelar o concerto mais surpreendente da tarde/noite. Nergal também provou ser um verdadeiro frontman, independentemente do registo musical.
O sol começava a despedir-se quando os Epica subiram ao palco do VOA. O heavy metal sinfónico esteve muito bem representado neste festival pela banda holandesa. Eles, que até nos visitam regularmente, são sempre a garantia de um bom concerto, quer seja num festival open air, quer seja num qualquer pavilhão. A voz angelical de Simone, em contraste com a dos guitarristas da banda é, seguramente, uma das receitas de sucesso para os seus temas. No concerto desta noite isso foi uma vez mais provado e o público estava rendido. 75 minutos de atuação serviram para tocar alguns dos temas do ainda recente Omega, havendo ainda espaço para os clássicos: “Unchain Utopia”, “Cry For the Moon” e, para finalizar, “Beyond the Matrix” e “Consign to Oblivion”.
Como que para provar que o VOA é um festival bastante eclético, os Rise Against apresentaram-se como penúltima banda da noite. O punk rock destes americanos foi também uma agradável surpresa que apanhou algumas pessoas desprevenidas. Com ritmos fortes e refrões “orelhudos”, não foi preciso esperar muito para que a multidão que enchia o relvado do estádio nacional começasse aos pulos, marcando o ritmo das músicas cantadas por Tim McIlrath. Muitos dos presentes a cantarem também, demonstrando que a banda conta com bastantes seguidores no nosso país. Outros faziam body surfing, a sonoridade dos Rise Against convidava a isso mesmo. A acústica “Hero of War” acalmou um pouco os ânimos, mas logo retornou o alvoroço, assim que se começaram a ouvir os primeiros acordes de “Nowhere Generation”, tema título do último álbum de originais, curiosamente o único desse trabalho tocado nesta noite. Após confessar que a tournée europeia já devia estar concluída, Tim confessou que ninguém da banda foi capaz de dizer que não ao convite para tocar em Portugal 12 anos depois do último concerto. Um encore preenchido com “Survive” e “Savior” puseram fim a um concerto maravilhoso, dado pelos Rise Against.
Os 2 camiões que se encontravam no exterior do estádio, com o logotipo dos Sabaton impresso nas lonas, dificilmente passariam despercebidos e deixavam adivinhar que, em termos cénicos, iriamos assistir a um tremendo concerto. Esta parece ser a imagem de marca da banda sueca. Habituados a encerrar grandes festivais um pouco por todo o mundo, coube aos Sabaton o privilégio de o fazer também na edição do VOA deste ano. O palco estava digno de se ver, com a bateria montada em cima de um tanque de guerra e todo um cenário bélico em volta dos músicos. Não é segredo para ninguém que os temas desta banda de power metal se inspiram em guerras e por isso o ambiente tem de condizer. Para início do concerto uma explosão a simular um tiro de tanque, que assustou os mais desprevenidos, deu início a “Ghost Division”. A banda foi muito aplaudida neste regresso a Portugal, o público estava com saudades dos Sabaton. “The Red Baron” levou a guerra para os céus, para logo de seguida nos fazer embarcar no “Bismarck”. A pirotecnia na frente do palco foi uma constante e aqui o único senão. Talvez a banda tenha usado e abusado desse efeito que, na verdade, ao fim do terceiro tema já não beneficiava do fator surpresa. Os tiros de tanque, não. Mais espaçados, esses continuavam a surpreender. “Resiste and Bite” trouxe-nos um pouco de “Master of Puppets”, clássico dos Metallica e o concerto parecia estar a encaminhar-se rapidamente para o final. Depois de “Christmas Truce” a banda deixou o palco, mas milhares de vozes chamaram-nos de volta para um encore de respeito. 3 temas, tocados pela seguinte ordem: “Primo Victoria”; “Swedish Pagans” e por fim “To Hell and Back”, a finalizar 90 minutos de uma grande atuação, a vários níveis.
O primeiro grande festival de sonoridades ditas “mais pesadas” tinha chegado ao fim. O balanço, da perspetiva de quem assistiu, foi bastante positivo. Um cartaz que apresentou uma mescla de géneros, bandas conceituadas, outras mais recentes (mas que surpreenderam) e até algumas estreias no nosso país. A música ficou a ganhar, sem dúvida.
Texto por António Rodrigues
Fotografias por Diana Fernandes
Agradecimentos: Prime Artists & Livecom