Segundo dia do festival com bastante público a comparecer cedo, para assistir às primeiras bandas. Depois de o thrash metal ter dominado na véspera, hoje era esperada mais “eletrónica” nas atuações que iam ocorrer ao longo desta tarde e noite.
Não foi o caso dos primeiros senhores a subir ao palco. Diretamente da Nova Zelândia, os Alien Weaponry são uma banda metal que canta em inglês, mas também em Māori, a sua língua nativa. Após uma intro em que pudemos assistir ao baterista a dançar haka, este trio arrancou a sua atuação com “Raupatu”. O público não parecia acusar o desgaste da véspera e rapidamente teve início a movimentação em frente ao palco. Oportunidade para ouvir “Tangaroa”, tema título do próximo álbum a sair em setembro. Meia hora com muita energia em cima do palco, com o publico a responder à altura.
Os Gaerea foram a última adição ao cartaz deste ano (substituíram os Sylosis). Foram a segunda – e também última - banda nacional a pisar o palco do VOA, mas eram, em todo o festival, aquela com a sonoridade mais negra. Atravessando um merecido reconhecimento a nível internacional, faz todo o sentido a inclusão desta banda do Porto nesta edição do VOA. 30 curtos minutos de black metal de qualidade, que tiveram o condão de atrair ainda mais publico para perto do palco, e que foram suficientes para uma amostra do novo álbum, Mirage, a sair em setembro.
Os Crossfaith foram a surpresa do dia, senão de todo o festival. Metalcore, com muita eletrónica à mistura, que parece resultar na perfeição. Tudo começou ainda no soundcheck, com esta banda de Osaka a entregar-se como se estivesse já a atuar. Na verdade, conseguiram entusiasmar mais o público durante esse ensaio, do que muitas bandas o conseguem durante o concerto em si. Quando começaram a tocar “Catastrophe”, os Crossfaith tinham uma multidão ansiosa a aguardá-los. Durante 45 minutos ninguém conseguiu ficar quieto e foi curioso ver metalheads, chamados “da velha guarda”, rendidos ao som destes nipónicos. Palco muito preenchido pelos 6 músicos, todos eles muito ativos, com destaque para o baterista Amano, um espetáculo dentro do espetáculo. O novo single, “Gimme Danger”, ajustou-se na perfeição no alinhamento escolhido para este concerto, que terminaria pouco depois, após: “Xeno” e “Leviathan”. Possivelmente, quando nos tornarem a visitar, deveram ocupar uma posição de maior destaque no cartaz. Fizeram por merecê-lo.
Com Phil Campbell and the Bastard Sons assistimos a uma viagem no tempo. Muito saudosismo provocado pelos temas escolhidos para este concerto. A ideia era homenagear o grande Lemmy através da sua música e conseguiram-no. Não deve haver música melhor do que a dos Motorhead para reunir adeptos das mais diferentes sonoridades, quer seja thrash, punk, black metal… todos gostam e têm profunda admiração pelo Sr. Rock n´Roll Lemmy Kilmister. Acompanhado pelos seus 3 filhos e ainda Joel Peters, nas vocais, a banda de Phil Campbell apresentou uma setlist que pretendia percorrer de uma ponta a outra a carreira dos Motorhead. Que melhor maneira de começar senão com “Iron Fist”? Se fechássemos os olhos poderíamos pensar estar a ouvir o original e a viver um sonho. Não vale a pena enumerar os clássicos tocados neste concerto, eles foram mais que muitos, mas devemos destacar: “Born to Raise Hell”, com todo o público a cantar; “R.A.M.O.N.E.S.”, que também não foi esquecida; “Ace of Spades”, claro, dedicada a todos os músicos que passaram pelos Motorhead; “Silver Machine”, esta sim, tema dos Hawkwind, uma surpresa que talvez poucos esperassem. Não sei se estivemos perante uma banda de tributo. O que posso afirmar é que se alguém tiver de tocar temas de Motorhead, então que sejam Phil Campbell and the Bastard Sons a fazê-lo.
Os Mastodon são daquelas bandas que enriquecem sempre qualquer cartaz. Com uma grande legião de fãs no nosso país, as suas visitas são regulares e os seus concertos memoráveis. Com 22 anos de carreira e uma discografia imensa, não deve ser difícil escolher os temas a incluir na setlist. Contudo, Hushed and Grim, o novo álbum, ainda se encontra fresquinho e a banda não perdeu a oportunidade de o apresentar devidamente ao vivo, interpretando 8 temas desse trabalho. Foi precisamente por aí que começaram: “Pain With an Anchor” deu então início a uma atuação de 85 minutos com muitos clássicos à mistura. A sonoridade destes norte americanos é qualquer coisa de maravilhosa e eles agora até contam com a presença de um teclista em palco. As imagens que corriam ao fundo ajudavam a completar as músicas que escutávamos e o público que acorreu em grande número a este segundo dia de festival parecia conhecer as letras, ajudando a cantar todos os temas: tanto os novos, como os mais antigos. O som estava particularmente bom, algo indispensável para que o metal progressivo destes norte americanos possa ser apreciado devidamente. “Blood and Thunder” encerrou uma atuação que foi para muitos a melhor da noite.
Chegou então a altura da banda que causou alguma controvérsia e dividiu opiniões pela sua inclusão neste festival. Os Bring Me the Horizon têm imensa qualidade, já a sua sonoridade parece não ir ao encontro de alguns dos fãs de heavy metal presentes no festival. A banda de Oliver Sykes pouco se importa com isso e tem vindo a alterar o seu estilo musical, adicionando-lhe cada vez mais melodias e ritmos de música eletrónica. Esta combinação tem afastado a sua sonoridade do deathcore/metalcore com que iniciaram a sua carreira em 2004. O primeiro tema da noite, “Can You Feel My Heart” exemplifica isso mesmo, mas foi recebido com muita euforia por grande parte dos presentes. Se alguém esperava uma debandada após a atuação dos Mastodon, ela não se verificou, sinal de que os BMTH têm muitos fãs em terras lusas. A atuação da banda britânica foi marcante. Principalmente por Oliver Sykes fazer uso do seu limitado português/brasileiro para comunicar com o público. O resultado foi um tanto hilariante, mas há que dar valor ao esforço. Tudo estava a correr pelo melhor até chegarmos a “Parasite Eve”, tema em que o sistema de vídeo e iluminação foi abaixo. A banda ainda interpretou “Follow You” em formato acústico, mas teve mesmo que interromper a atuação durante 5 minutos para que tudo ficasse resolvido. Daí em diante tudo decorreu conforme planeado, com “Obey” e a obrigatória “Throne” a encerrarem o espetáculo dos BMTH e simultaneamente, o segundo dia do evento.
O número de pessoas presentes neste segundo dia não pareceu diferir muito do primeiro. Se o cartaz podia afastar alguns fãs oldschool, é igualmente verdade que os BMTH têm o seu publico e que muitos dos presentes estavam ali precisamente pela banda britânica.
Texto por António Rodrigues
Fotografia por Diana Fernandes
Agradecimentos: Prime Artists & Livecom