Finalmente, o tão aguardado primeiro grande festival a ocorrer em solo nacional após o levantamento das restrições tornou-se realidade. Depois de adiamentos, alterações de cartaz e cancelamentos de última hora, o VOA arrancou com força, depois de tudo ter feito para, de alguma forma, compensar aqueles que aguardavam há dois anos com o bilhete na gaveta. Encontrar uma banda que possa substituir outra que estava prevista no cartaz inicial será sempre uma tarefa inglória e nunca irá reunir consenso. A organização esforçou-se para minimizar a insatisfação gerada pelos cancelamentos ocorridos, inclusive, adicionando mais um dia ao festival, com bandas de qualidade.
Coube aos Bizarra Locomotiva darem início a esta edição do VOA. Não sendo a única banda nacional a atuar, foram, no entanto, a única a cantar em língua portuguesa. 5 minutos antes das 17h00 - e do que estava programado – Sidónio e restantes membros começaram uma atuação recheada exclusivamente de clássicos, como forma de aproveitar ao máximo o pouco tempo que tinham disponível. “Gatos do Asfalto”, “O Anjo Exilado” e “O Escaravelho” foram apenas alguns deles, com o vocalista a saltar constantemente para o meio do público e aí cantar. Quem já foi a um concerto dos Bizarra Locomotiva sabe que é assim, quem não conhecia talvez tenha ficado admirado.
Da Noruega chegaram os Kvelertak. Para muitos eram uns simples desconhecidos, mas aos primeiros acordes de “Rogaland” logo se percebeu que o metal destes senhores era muito interessante. Com 3 guitarristas na sua formação, um vocalista que é um verdadeiro frontman e mudanças de ritmo constantes nas suas músicas, o público ficou conquistado e deu início ao circle pit. Uma das curiosidades acerca dos Kvelertak, que em português significa “estrangulamento”, reside no facto de um dos seus guitarristas não fazer uso de palheta para tocar, algo raro, nos dias de hoje. Durante a interpretação do último tema, a homónima “Kvelertak”, o vocalista Ivan fez stage diving, pondo ponto final num concerto cheio de garra.
Muita curiosidade para assistir ao regresso dos thrashers alemães Kreator ao nosso país. Com "Hate Über Alles" acabadinho de sair, era expetável podermos assistir à interpretação de alguns temas novos. Não foi preciso aguardar muito, pois logo após “Violent Revolution” a banda tocou o tema que dá nome a esse recente trabalho e o resultado foi muito bom. Com o espetáculo a desenrolar-se em plena luz do dia, os Kreator fizeram uso de um cenário ao seu estilo, com bonecos simulando corpos pendurados pelo pescoço à estrutura do palco. Ficaram alguns clássicos por tocar, inevitavelmente, mas foi uma setlist recheada, onde não faltaram “Phobia”, “Phantom Antichrist” e “Flag of Hate”. Perto do final, altura para mais um tema novo, “Strongest of the Strong”, imediatamente antes de “Pleasure to Kill” que pôs fim a 70 minutos de concerto, com, não uma, mas duas wall of death em simultâneo, pedidas por Mille Petrozza.
Sabendo de antemão que o que importa é a música, não deixa também de ser verdade que existe uma grande diferença, em termos visuais, entre um concerto dado à noite, ou em plena luz do dia.
Os Megadeth começaram o seu concerto pelas 21h00 e assim já puderam fazer uso do jogo de luzes e sistema vídeo no palco. Primeira visita ao nosso país após a saída do baixista Dave Ellefson, substituído por James LoMenzo, que é também um bom vocalista, segundo Dave Mustaine. Para muitos dos presentes este era o melhor dia do festival. Era sem dúvida aquele com a presença de bandas com sonoridades mais pesadas e não custou muito aos Megadeth dar continuidade ao clima de festa com que os Kreator deixaram o público, quando saíram do palco. Após um pequeno intro, o concerto não podia ter começado de melhor forma: “Hangar 18” e “Dread and the Fugitive Mind” colocaram em alvoroço todos os presentes. Esta formação dos Megadeth parece do agrado de Dave Mustaine e talvez por isso o vejamos mais comunicativo, contente por estar em palco a tocar. A qualidade dos músicos é imensa: Dirk Verbeuren é um excelente baterista e Kiko Loureiro percorre o palco com uma segurança, só não solando em alguns temas que Dave Mustaine entende não prescindir dessa função. “A Tout Le Monde” foi o momento mágico da noite, com muitas gargantas a ajudar e “Peace Sells” a trazer ao palco Vic Rattlehead, a carismática mascote da banda. Revelando que recentemente, numa entrevista, lhe perguntaram se as letras dos seus temas continuavam a ser relevantes, os Megadeth começaram a interpretar “Holly Wars… The Punishment Due”, música que encerrou a excelente atuação destes thrashers norte americanos. Dave Mustaine ainda permaneceu um pouco em palco, aproveitando para agradecer e se despedir, e também para lembrar que o novo álbum, "The Sick… The Dying… and the Dead", sai no princípio de setembro.
Cabia aos Gojira terminarem este primeiro dia do festival, eles que até se encontravam a substituir os Avenged Sevenfold, impossibilitados de poderem estar presentes. Presença regular em Portugal, estes franceses que até têm uma ligação forte ao nosso país através dos irmãos Duplantier são sempre muito bem recebidos aquando dos seus concertos. Tocar logo de seguida aos Megadeth não pareceu assustá-los e após um countdown de 170 segundos que surgiu no ecrã a banda começou com “Born For One Thing”, do seu mais recente álbum. As visitas a esse álbum, Fortitude, iriam ocorrer durante toda a atuação, sempre intercaladas por temas que se tornaram obrigatórios nos seus concertos, tais como: “Flying whales”, “Love/Embrace” (esta do primeiro álbum) ou “L´enfant Sauvage”. O metal progressivo dos Gojira não deixou ninguém indiferente e o público que marcou presença em força no estádio nacional não arredou pé quando a banda deixou o palco após ter tocado, de forma arrepiante, “The Gift of Guilt”. O encore era exigido e ele aconteceu com dois temas mais:” New Found” e “Amazonia”.
Texto por António Rodrigues
Fotografia por Diana Fernandes
Agradecimentos: Prime Artists & LiveCom