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Entrevista aos Vëlla


Estivemos recentemente à conversa com Oz, guitarrista dos VËLLA, para sentirmos o pulso a esta prometedora banda nacional. Mudanças, aspirações, planos para o caminho a seguir e um baixista/produtor que não é um número 10, mas sim um central “sarrafeiro”. Foram estes alguns dos assuntos abordados.

M.I. - De que forma aproveitaram o tempo em que vigoravam as restrições pandémicas?

Foram tempos difíceis para toda a indústria musical e, sobretudo, para uma banda como a nossa que tinha acabado de lançar o seu primeiro registo. Investimos muito tempo nessa gravação e também muito dinheiro. O Caesar costuma dizer, e com razão, que se fossemos uma pequena empresa tínhamos falido antes de vender o primeiro produto. Infelizmente, dois dias antes da apresentação do álbum, e daquele que seria o nosso primeiro concerto, o governo português decidiu colocar toda a sociedade em lockdown. Sentimo-nos frustrados, mas entendemos que foi numa altura em o conhecimento sobre o vírus ainda era escasso. Felizmente não mandámos a toalha ao chão, e nesse período de confinamento aproveitámos para escrever vários esboços de músicas, sendo que algumas delas agora fazem parte do "ENTITY VOL. I". Além disso fizemos vários vídeos para a promoção do nosso primeiro álbum “COMA”. Não podíamos pura e simplesmente desistir, tivemos de mudar o mindset de como as coisas habitualmente se fazem, e optámos por tentar colocar o nome da banda nos media e nas redes sociais de forma consistente para que as pessoas tomassem conhecimento da nossa existência e da nossa música.


M.I. - Como se sentem agora, sabendo que existem todas as condições para que o devido lançamento de "Entity" aconteça, algo que vos foi negado no anterior trabalho?

Agora parece que está tudo a voltar a uma espécie de normalidade. O que sentimos é que podemos seguir um caminho promocional mais consentâneo com o valor da obra. Podemos voltar a marcar concertos, que é a nossa maneira preferida de promover a nossa música, e, além disso, podemos olhar para as coisas a curto e médio prazo como fazíamos antes do confinamento. Temos a felicidade de este trabalho estar a ter outro tipo de promoção devido a termos assinado com a Art Gates Records e isso deixa-nos mais seguros em relação à exposição que o trabalho merece. O nosso maior objetivo é levar a banda a pisar palcos maiores e a tocar para audiências maiores, e com a Art Gates Records estamos a trabalhar nesse sentido.


M.I. - O que distingue este trabalho do anterior ("Coma")?

No "COMA" ainda estávamos à procura da nossa identidade. Estávamos um bocado à descoberta. Por exemplo, o Pedro Lopes (vocalista) nunca tinha gravado algo de forma tão profissional e também se estava a descobrir, a descobrir o que podia fazer e como o fazer para que as coisas soassem bem e como queríamos.
O "ENTITY VOL. I" reflete um bocado o nosso amadurecimento e evolução como banda e como músicos que tocam juntos. Sentimos que a nossa música precisava de mais hooks, que ficasse mais facilmente na memória de quem a ouve, e sem estar absolutamente obcecados com isso acho esse objetivo foi alcançado. No fundo conseguimos um registo mais coeso e mais maduro. Mas apesar de tudo VËLLA é uma banda que não tem medo de arriscar. Nós não queremos confinar a nossa música a uma fórmula que limite a nossa criatividade. Para nós a não existem regras que delimitem o que podemos e queremos fazer. Se porventura quisermos um acordeão numa música, faremos tudo para que ele soe a VËLLA.


M.I. -  Qual a razão que levou à divisão de "Entity" em duas partes? Acham que quem vos segue terá a sensibilidade necessária para perceber essa opção?

VËLLA ainda é uma banda muito recente. Nascemos na segunda metade de 2019 e ainda estamos a tentar criar uma base de seguidores. Criar essa base é algo que só com muito trabalho é alcançado.
O Mário Lopes, nosso guitarrista lead, é que teve a ideia de “partir” do álbum em dois lançamentos. Isto tudo baseado na velocidade vertiginosa com que a sociedade atual reage aos inúmeros estímulos que nos rodeiam. Repara que hoje em dia maior das pessoas consome música pelos seus smartphones e através das plataformas de streaming. E é nos nossos smartphones que permanentemente recebemos uma infinita abundância de informações que nos leva a clicar aqui e ali, a ouvir isto e aquilo, tudo a uma velocidade alucinante. Num momento estamos a ver um vídeo, no minuto a seguir estamos a ouvir uma música, e no minuto a seguir estamos a ler um post. Sendo uma banda que ainda está no seu início, e que começa agora a trilhar o seu caminho, não faz muito sentido lançarmos um disco de 9 ou 10 músicas e depois de um ou dois meses esse disco cair no esquecimento, precisamente porque nos dias que correm a maneira das pessoas ouvirem música é muito diferente. Tens ainda o facto de haver sempre música nova a ser lançada por outras bandas, vídeos novos, stories, reels, posts com uma nova trend qualquer, tudo isto acontece diariamente e a uma velocidade sem precedentes, e tudo junto acaba por afetar bastante a exposição e impacto do lançamento de um disco. Assim dividindo o álbum em duas partes conseguimos ter dois períodos de promoção diferentes, canalizando, em duas fases distintas, a atenção das pessoas, media e promotores para o nosso trabalho. Assim fazemos com que a obra tenha atenção e cobertura promocional por uma margem de tempo muito maior.


M.I. - Esta nova editora, foi também um passo em frente?


Antes de tomarmos a decisão de mudar de editora, nós começámos a olhar para o mercado português e reparámos que é um mercado muito pequenino, ainda por cima para uma banda recente como a nossa. Em Portugal quase não existe um circuito para tocares ao vivo. As salas, infelizmente, são poucas e os festivais onde a nossa sonoridade se encaixa também não são muitos. Além disso nós já conhecemos praticamente maior parte dos promotores e do staff dos media nacionais, que infelizmente também não são muitos. Por isso entendemos que o mais acertado para uma banda como a nossa e com os nossos objetivos é olhar para a península ibérica como um único mercado, até porque daqui a Sevilha ou Madrid são apenas 5 ou 6 horas de carro. Após termos decidido que devíamos seguir esse rumo começámos a encetar contactos para indagar quem podia ser o parceiro ideal que nos ajudasse a entrar no mercado espanhol. Desde o primeiro contacto a Art Gates Records, através do Ivan Magdalena e restante staff, foi sempre impecável na sua abordagem e perceberam perfeitamente aquilo que queremos, como queremos fazer as coisas e onde queremos chegar. Felizmente falamos a mesma linguagem e temos os mesmos objetivos. A Art Gates Records tem uma estrutura altamente profissionalizada e atenta ao detalhe e, se tudo correr como ambas as partes esperam, sabemos que a banda vai chegar onde ambiciona. Por isso, sim, é sem dúvida um passo em frente nesse sentido, pois a editora tem um conhecimento profundo do mercado espanhol, um conhecimento profundo de como promover o nosso trabalho e estão sempre em contacto connosco para vermos novas oportunidades para que os VËLLA cresçam, cheguem a mais pessoas, e pisem palcos maiores. Além disso eles criam um ambiente de superfamília, que nos fez sentir parte da casa desde o dia em que assinámos contrato.
Contudo seria deselegante da nossa parte não enaltecer o papel que a Raising Legends Records, através do André Matos, teve no nosso arranque. Ainda hoje ele nos ajuda com algum booking a nível nacional sempre que lhe é possível. Ao André Matos o nosso eterno obrigado por tudo o que fez, e ainda faz, pelos VËLLA.


M.I. - Ter o Caesar Craveiro na banda é como uma equipa de futebol ter um bom número 10. Esta analogia está correta?


(risos) Se visses o Caesar a jogar à bola dizias que ele era mais do tipo centralão que só dá porrada… (risos)
Mas percebo o que queres dizer porque o Caesar além de músico foi quem produziu, misturou e masterizou os nossos dois primeiros trabalhos. Mas para nós só fazia sentido ser assim, porque além de aproveitarmos um recurso que é dele e as suas skills, essa possibilidade fez com que também nos pudéssemos concentrar mais na composição e nos arranjos finais dos próprios temas, possibilitando fazer mais experiências na altura de gravar, como tanto gostamos. Repara que todos nós temos os nossos daily jobs, e nem sempre é fácil conciliar a vida de músico, com a vida de trabalhador e ainda ter família a quem devemos dar a nossa atenção. Por isso fez todo o sentido ser o Caesar a produzir, misturar e masterizar. Além disso confiamos no seu trabalho a 100% pois sabemos das suas excelentes qualidades como produtor. Apesar de o colocarmos numa posição difícil que é produzir a própria banda e aturar os seus pares, ele conseguiu fazer tudo com imensa mestria e alcançou um resultado final com uma qualidade brutal.


M.I. - É habitual nos vossos registos a participação de convidados, desta vez foi o Lucas Bishop (Downfall of Mankind). Na segunda parte de "Entity" também podemos contar com alguma participação especial, ou vocês pretendem guardar segredo quanto a isso?

O Lucas é grande nosso amigo e os Downfall of Mankind ensaiam, assim como nós, no estúdio do Caesar. Ele viu a nossa banda nascer e crescer, assim como nós assistimos in loco à criação e brutal evolução dos Downfall of Mankind (quem não conhece devia conhecer). Por isso foi absolutamente natural ele fazer um feat. num tema nosso. Queremos agradecer ao Lucas pela disponibilidade e talento para emprestar a sua voz brutal ao nosso tema "Of Rebirth". Estamos mega contentes com o resultado final.
Talvez o VOL. II venha a ter convidados, talvez não. As nossas músicas só ficam “fechadas” no dia em que são gravadas, por isso nunca se sabe o que pode acontecer.


M.I. - Em que fase se encontra essa segunda parte e qual a data de lançamento?

Nós já temos a composição adiantada e devemos gravar tudo no final deste verão para depois enviarmos os masters à Art Gates Records. A data de lançamento será perto do final do ano, mas ainda é difícil dizer-te um dia específico pois isso ainda não foi acertado.


M.I. -  A reação a este último lançamento está a corresponder às vossas expectativas?

Em termos de números está acima do que esperávamos, até porque nós não gostamos de ter as expectativas muito elevadas. Mas o melhor de tudo tem sido o feedback das pessoas. Maior parte dos comentários que temos recebido são acerca de como a banda evoluiu, e de que como o nosso som está mais maduro. Felizmente muita gente enaltece que este EP representa um salto de qualidade em relação ao passado. É gratificante ler e ouvir isso, sabendo que as pessoas sentem e entendem a nossa música. Mas a promoção ainda está no início e esperamos que ao longo do verão a nossa música e trabalho consigam alcançar mais gente e ter ainda um maior feedback.


M.I. - Existe alguma mensagem que queiram deixar aos nossos leitores?

Queremos agradecer a todos aqueles que seguem o nosso trabalho desde o início, sem eles nada disto seria possível, e aos que não seguem convidamos para ouvirem a nossa música em qualquer plataforma de streaming. Aproveito também a ocasião para pedir que nos sigam nas redes sociais e fiquem a par das nossas datas ao vivo. Apareçam numa delas e bebam uma cerveja connosco para celebrarmos a música e a vida.
Aproveito ainda para te agradecer a ti e à Metal Imperium por todo o apoio que sempre nos deram desde o nosso começo. É gente como vocês que também ajuda as bandas nacionais a terem uma maior exposição e a chegar aos ouvidos de muita gente. Por isso o nosso obrigado.

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Entrevista por António Rodrigues