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Reportagem: The Ocean, PG.Lost, Psychonaut @ RCA Club, Lisboa – 31/05/2022




Espetacular. Podíamos começar por esta palavra, para de forma sucinta, resumirmos o que aconteceu nesta noite. Existem eventos que, por muito que os tentemos explicar, quer seja por palavras ou por imagens, não conseguimos elucidar acerca da energia existente na sala, a vibração que percorria todos os presentes. Este foi um desses eventos. Neste momento, quem esteja a ler estas linhas poderá pensar: “São os The Ocean, não é admiração nenhuma”. Calma. Também as bandas anteriores, cada uma há sua maneira, souberam despertar sensações muito interessantes em quem se encontrava a assistir.

Dificilmente os Psychonaut encontrariam melhor banda para os apadrinhar na sua estreia no nosso país. Este trio belga de post-metal encontrou uma sala muito bem composta para os receber, quando subiu ao palco pelas 20h40 e soube compensar, através de uma espetacular prestação, todos aqueles que quiseram dizer “presente”, à primeira atuação da noite. Com quase uma década de existência, esta banda conta apenas com um álbum de originais entre os EP´s que tem vindo a lançar regularmente. Foi precisamente apenas com temas desse longa duração de 2018, Unfold the God Man, que a banda encheu a setlist do seu concerto. Esta noite prometia um desfilar de grandes executantes pelo palco do RCA e os Psychonaut mostraram estar perfeitamente à altura. Destaque, sem dúvida, para Harm Peters na bateria e para Stefan de Graef, que tocou “All I Saw As a Huge Monkey”, fazendo uso apensa do braço da guitarra durante quase todo o tema. A terminar, Thomas Michiels referiu que este estava a ser o melhor concerto da tournée até à data. Nada que não estejamos habituados a ouvir, mas que sabe sempre bem.

Quando os PG. Lost iniciaram a sua atuação, a sala encontrava-se praticamente esgotada. Muita ansiedade também para assistir ao regresso destes suecos ao nosso país, eles que são atualmente uma das grandes bandas de post-metal, com a curiosidade de os seus temas não serem cantados. Sintetizadores, computadores e até um pequeno kit de bateria eletrónica, tudo serve quando o objetivo é explorar novos sons. Oscillate, o mais recente trabalho da banda, é um exemplo disso mesmo. Foi precisamente por aí que começaram, exatamente com o tema que dá nome ao álbum, logo seguida de “E22”, também desse mesmo registo, que ainda seria visitado uma ou outra vez. “Pascal´s Law” fez-nos recuar 14 anos no tempo, a um dos primeiros álbuns da banda, numa oportunidade para Martin Hjertstedt brilhar na bateria. O ambiente estava tão bom que ficou a ideia de que os PG. Lost tocaram um tema a mais do que originalmente tinham planeado e o público agradeceu.

The Ocean - ou The Ocean Collective se preferirem - eram o motivo principal para a enchente que se registou nesta noite. Com o vocalista Rossetti ainda muito limitado, -a ter de permanecer sentado- fruto das fraturas ainda recentes nos membros inferiores, a banda atuou com os elementos (seis) numa disposição curiosa. Rossetti ficou na sua cadeira, entre a monstruosa bateria que ocupava grande parte do palco e o teclista. Na sua frente, os restantes elementos, duas guitarras e um baixo. “Triassic” deu início à atuação dos alemães e rapidamente se viu que esta banda tinha muito para oferecer esta noite. O público estava ao rubro e ninguém parecia conseguir estar quieto. Com um som muito preenchido, os temas estavam a ser interpretados de forma magistral, muito fiéis aos originais. “Silurian: Age of Sea Scorpions” foi o tema seguinte e formou-se logo a ideia de que os The Ocean se iriam focar nos dois, já aclamados, Phanerozoic.
Com uma fiel legião de seguidores no nosso país, Robin Staps e companhia pareciam eles próprios estar a disfrutar do concerto. O jogo de luzes utilizado criava o efeito pretendido, como que um complemento do que nos era dado a escutar e as vozes dos espetadores juntavam-se amiúde à de Rossetti. Em esforço, este levantou-se após a instrumental “Oligocene” e aproximou-se da frente do palco para cantar “Permian: The Great Dying”. Por esta altura já havia crowdsurfing, o que nos leva a pensar, como seria este concerto se ele estivesse livre de movimentos.
Quando a banda regressou para o exigido encore - e para surpresa de muitos - Paul Seidel já não se encontrava na bateria, mas sim a cantar. Esta estava agora ocupada pelo teclista, que, por sua vez as tinha cedido a Rossetti, numa autêntica “dança das cadeiras” para a interpretação de “Holocene”. Já com todos nos respetivos lugares, os dois últimos temas da noite: “The Carboniferous Rainforest Collapse” e “Jurassic: Cretaceous” com a voz do público a substituir a de Rossetti e com Robin Staps a fazer stage diving.
Grande noite de post-metal, metal progressivo, proporcionada pela Free Music Events, com o público a responder em força a este evento que por tantas vezes tinha sido adiado.


Texto por António Rodrigues
Fotografia por Daniela Jácome Lima
Agradecimentos: Free Music Events