SWR Café: Nekromant + Grievance + Boulder + Speedemon
Foram três anos. Demasiado para um festival tão especial. Demasiado para aquele que é o verdadeiro encontro do Underground nacional. Sim, foi um cartaz reduzido, adaptações tiveram de ser feitas. É um tempo ainda de dúvidas e a provas, uma série de desistências de personagens icónicas, retidas em vários surtos de Covid-19.
Foi também um festival de expectativas, de horários mais limitados, bem como de espaços. E tudo foi superado. A audiência superou expectativas. Os espaços, em particular o SWR Café, por vezes revelaram-se exíguos. E o cartaz acabou a revelar-se de uma qualidade sólida, ao nível de outras edições.
O arranque, na hora, fez-se com Speedemon. O quarteto de Vila Franca de Xira, trouxe um speed thrash com tiques de power. Nada de especial, mas a banda certa para abrir hostilidades. Seguiu-se, no palco principal, a primeira bomba do cartaz, mas nenhuma certeza. Só os muito distraídos não conhecerão o poder de Besta em Palco.
Paulo Rui é cada vez mais, a “besta de palco”, e o restante trio, curiosamente com t-shirts muito old school, descarregam energia em modo “non stop”. É das poucas bandas nacionais, no momento, que sabe fazer a festa num palco de grandes dimensões. A alternância de palcos prosseguiu e foi sempre uma constante.
Boulder, trouxeram o seu stoner, com vertente sabbathiana. Embora sempre by the book, o grupo revelou um som mais estruturado e denso, fruto da conversão a quarteto. O baixista Telmo Marrão converteu-se num excelente guitarrista solo, ajudando Nuno Quaresma que junta cordas à voz, e para o baixo, entrou Pedro Magalhães, naquele que era o primeiro concerto.
Do outro lado, era a vez de Skeletal Remains. Os norte-americanos vieram com um som sólido, mas ficou sempre a sensação de faltar algo. Mesmo assim, o stage diving começou com eles, sinal que pelo menos a alguns agradaram.
Grievance apresentaram um black metal cru que parece querer libertar-se para algo mais. Um concerto interessante, em que a personagem de Koraxid domina por completo o cenário. Fica a sensação de ainda existir vontade para a progressão, mas permanecem presos aos códigos do black metal.
O contrário se passa com os polacos Mgla, que deram um concerto esmagador. Anónimos, deixam a música falar por si, esmagam com o seu som e impõe as suas regras. Aqui soaram mais old school, embora cruzando com a melodia de alguns tempos, que seria esperado aos que chegaram a «Age of Excuse», após descobrirem o blackgaze encapuzado.
Fechado o capítulo mais negro dos dois dias, chegou a descompressão com uns surpreendentes Nekromant. O trio sueco trouxe um heavy doom, com tanto de power e epic metal, como com um feeling muito seventies que não desagradaria a Pentagram. Três longa-duração na bagagem e uma daquelas boas surpresas que só o SWR sabe proporcionar.
O encerramento, antes da música gravada e o álcool vararem a noite, veio com o black thrash dos noruegueses Deathhammer. Serviu para libertar a testosterona, dar os últimos mergulhos da noite e moshar como se este fosse o último dia. Só que não foi. O dia 2 ainda reservava muita coisa.
Reportagem por Emanuel Ferreira
Agradecimentos: SWR