Pode parecer difícil de acreditar, mas é verdade. De um momento para o outro os concertos e festivais começaram felizmente a despontar um pouco por todo o país, conferindo aos apreciadores da música chamada underground a possibilidade de escolha sobre o que querem assistir. A Metal Imperium marcou presença no Massacre Metal Fest, nesta que foi a sua sexta edição, e veio de lá muito bem impressionada. Quando se junta uma enorme vontade em fazer as coisas, sem esquecer o profissionalismo com que devem ser feitas, dá-se um gigantesco passo em frente para que tudo corra pelo melhor.
Cartaz fabuloso o desta edição: apenas bandas nacionais, onde se misturavam vários estilos, desde o heavy rock ao death metal, sem esquecer o chamado crossover. Tarde/noite de estreias, mas também com alguns dos chamados pesos pesados da nossa cena musical.
Foi um bom começo de festival, o oferecido pelos Pure Steel Band logo pelas 17h10. Com o seu EP Utopia lançado recentemente, esta banda de rock focou o alinhamento do seu concerto nesse trabalho. Com uma imagem bastante rockeira, esta jovem banda conta, no entanto, com experientes músicos, alguns deles veteranos mesmo. Apesar de ainda não haver muito público presente, foi um bom concerto. Ficaram no ouvido “No Man Dead Down”, assim como os três temas finais, todos eles cantados em português: “Vida Estranha”, (com o baterista a assegurar as vocais) e também “Utopia” e “Cicatriz”.
Alpha Warhead foram os seguintes. Esta jovem banda do Seixal apresentou-se em palco pronta a oferecer uma descarga brutal de thrash metal. Com uma energia fantástica e contagiante, autêntico “Fuel to the Fire”, não é, pois, de estranhar que, apesar de ainda não terem lançado o seu primeiro álbum, a organização do evento se tenha lembrado deles para substituir os Mindtaker, impossibilitados de comparecer por motivo de doença. Responsabilidade acrescida que não incomodou este quarteto que aproveitou esta meia hora de atuação para descarregar temas bem violentos, como: “Backfire” e “Paranoia”, tema onde o baixista e o guitarrista desceram do palco para a interpretar no meio do público. “Bullets of Hate” encerrou a sua atuação.
O heavy metal mais tradicional ficou a cargo dos Rage and Fire que, curiosamente, fizeram aqui a sua estreia em atuações ao vivo. No entanto, não se deixem enganar, esta banda lisboeta conta na sua formação com conhecidos integrantes de outros projetos como: Ravensire, Ironsword e Filli Nigrantium Infernalium, todas elas bandas que dispensam apresentações. Os temas originais da sua demo de 2021 foram tocados, havendo ainda lugar para “Shape Shifter” e “The Last Wolf”, seguramente a incluir no álbum de estreia que parece estar para breve. Duas guitarras ao despique, ritmos fortes com melodia q.b., boa atuação dos Rage and Fire.
Faltava ainda uma presença vocal feminina neste festival e a aposta dificilmente poderia ter sido melhor que em Rute Fevereiro e os seus Enchantya. A sala estava agora bem composta para receber esta banda de metal gótico progressivo. A intro “Turn of the Wheel” muito contribuiu para isso, atraindo o pessoal para o recinto, assim como a simpatia e prestação da banda, irrepreensível do início ao fim da sua atuação, que soube conquistar a atenção desse mesmo público, mantendo-o focado no que estava a acontecer em palco. Temas de Dark Rising e On Light and Wrath, os seus dois álbuns de originais, contribuíram para esta acuação de 35 minutos, com destaque para o forte tema “Downfall to Power”. Realçar também Pedro Antunes e os seus teclados (outra novidade neste festival), que tornam o som dos Enchantya tão preenchido e ainda a presença de Pedro Ribeiro, que aceitou ocupar a vaga de segundo guitarrista para este concerto. Mais novidades para breve, nomeadamente um novo álbum, anunciou a enérgica vocalista. Vamos ficar a aguardar.
Para muitos dos presentes foi a surpresa da noite. A atuação dos Rageful levou até ao palco do Massacre Metal Fest uma descarga de Death metal de excelência que teve o condão de iniciar o chamado circle pit entre a assistência. Os temas do seu álbum de estreia, Ineptitude, resultam muito bem ao vivo e isso ficou perfeitamente demonstrado durante a sua atuação. “Inhuman Greed” deu início a 25 minutos de atuação, que foram manifestamente pouco, mas que ainda assim possibilitaram a inclusão na setlist desta noite de temas como “Femme” e “Unsocial Network” (esta com um convidado muito especial nas vozes, Sérgio Afonso dos Bleeding Display). Este quinteto lisboeta faz jus ao nome e destila mesmo raiva em palco. Foi assim do início ao fim da sua atuação que encerrou com a música “Portugal the Torch”.
O ritmo não se perdeu com o curto intervalo que levou à preparação do palco para receber os Konad. Nem o ritmo, nem tão pouco a brutal descarga sonora que se seguiu. Era já noite, 21h30, mais precisamente, quando esta banda, que até jogava em casa, começou a sua atuação. Ainda o público não tinha recuperado da descarga dos Rageful, quando levou com a pujante sonoridade deste quarteto. Temas curtos e diretos, característicos do estilo crossover, foi o que os Konad tinham para oferecer e a assistência recebeu com euforia. “Mákina de Guerra”, “Alien Punks” e “KGB” foram apenas alguns dos doze temas, sim doze, que a banda conseguiu tocar na sua atuação de quase 40 minutos. Atuação essa, pautada pela agitação que se fez sentir entre o público, sobretudo aquele que se encontrava mais perto do palco.
Os senhores que se seguiram também são filhos da terra e para além disso fazem parte da organização do festival. Falamos dos Speedemon, é claro e o seu speed thrash não deixou que o ritmo se perdesse. Com apenas um EP e um álbum no seu currículo, os temas dos seus trabalhos já são conhecidos do público que se cruzou com a banda num, ou noutro evento. Falamos de músicas rápidas, com refrões que ficam no ouvido. “Atrocity Divine” deu início a uma atuação de 30 minutos. Tempo suficiente para “Thunderball”, “Road to Madness” e até para apresentar um tema novo, intitulado: “World of Fire”. Com Bruno “Brutus” sempre muito simpático e comunicativo a puxar pelo público, este respondeu da melhor forma, mantendo viva a chama que se havia instalado no pavilhão da UDCA e que agora, para além do circle pit, ensaiava stage divings.
Os Sacred Sin dispensam apresentações. Nascidos como banda em 1991, têm-se mantido bastante ativos desde o seu regresso em 2017 depois de um hiato de 8 anos. O seu death/thrash metal é conhecido além-fronteiras e são sempre uma mais-valia em qualquer concerto ou festival. A sua sonoridade é pura “brita”, como costuma dizer o vocalista José Costa e eles gostam de a descarregar sobre a assistência. “In the Veins of Rotting Flesh” deu início a uma autêntica viagem no tempo, levando-nos de Darkside, o seu álbum de estreia de 1993 para “Born Suffer Die”, tema título do seu mais recente EP de 2020. O carrossel não parava na assistência, ganhando cada vez mais adeptos entre o mosh pit, autêntica centrifugação humana que era alimentada pelo som que tomava conta da sala. “Ghoul Plagued Darkness”, “Eye M God”, “The Chapel of Lost Souls” foram apenas alguns dos clássicos tocados esta noite pela guitarra de Tó Pica e companhia. Foram 50 minutos bem preenchidos, que ficaram concluídos com “Seal of Nine”. Mais uma excelente atuação desta enorme banda nacional que nunca desaponta.
Empurrados para a ponta final do festival por força das circunstâncias impostas pela ausência dos Mindtaker, havia já quem pensasse que o ritmo que se fazia sentir entre o público durante as últimas atuações pudesse vir a ser quebrado pelo som stoner dos Basalto. Puro engano. Aos primeiros acordes de “XIV” (para quem desconhece, os Basalto intitulam os seus temas de forma sequencial, em numeração romana), ficou-se logo com a ideia de uma atuação diferente do que até então tinha sido apresentado em palco, porém, com qualidade, muita qualidade. Se houve alguma resistência por parte de alguns dos presentes em aproximarem-se do palco, essa foi prontamente quebrada pelo vocalista, António Batista, que não teve problemas em pedir ao público que o fizesse. “XV”, “XVII” e “XVII” foram os restantes temas tocados nesta noite por este trio de Viseu e que preencheram de forma magnifica a sua meia hora de atuação. Soube a pouco.
Coube aos Attick Demons encerrar esta 6º edição do MMF. A noite já ia avançada, era 01h30 quando um vídeo alusivo ao seu último álbum, Daytime Stories… Nightime Tales começou a correr em pano de fundo. “Contract” e “Make Your Choice”, ambos desse mesmo trabalho, foram os escolhidos para o arranque de uma atuação que se iria estender ao longo de uma hora. Com o novo baterista Pedro Correia na formação, os Attick Demons continuaram o seu espetáculo visitando os seus quatro trabalhos de originais, de onde facilmente se recolhem malhas para encher a sua setlist. Olhando para esta banda de heavy metal é difícil encontrar um elemento menos qualificado. Quer sejam as guitarras de Luís e Ricardo, o baixo de João Clemente ou a voz de Artur, esta banda de heavy metal merecia seguramente um maior reconhecimento internacional. As suas prestações ao vivo são sempre inesquecíveis (esta foi apenas mais uma), e as suas composições fantásticas. “Ghost” é um exemplo disso mesmo, autêntico hino ao heavy metal, tal a sua qualidade, é obrigatória nos seus concertos e nasceu destinada a ser um clássico. Para o desta noite estava reservada uma surpresa. De forma espontânea (ou talvez sugestão do guitarrista Luís Figueira), na ponta final da sua atuação a banda começou a atacar outro clássico, este não era deles, mas sim dos Iron Maiden, intitulado “Wasted Years”. O público estava ao rubro e ainda mais ficou quando a banda resolveu regressar a 2006, através do tema “Atlantis”, música escolhida para encerrar a atuação e concluir o festival, marcava o relógio 02h30.
Texto por António Rodrigues
Fotografias por Igor Ferreira
Agradecimentos: Massacre Metal Fest