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Zeal & Ardor - "Zeal & Ardor" Review

Após terem ganho boa reputação com os dois primeiros álbuns e o EP de 2020, ao terceiro e homónimo LP, os Zeal & Ardor tem estado sob a atenção de praticamente todas as magazines, blogs e playlists especializados em música pesada. A Metal Imperium entrevistou o mentor deste projeto, Manuel Gagneux, e se, por mero acaso, o álbum passou despercebido a algum dos nossos leitores, segue-se mais um aperitivo.

Tipicamente avant-garde, com múltiplos estilos no espólio de conquistas do black-metal, também os de raiz afro-americana, como o gospel, blues e soul são usurpados nas composições de Zeal & Ardor. E a que soa tal mistura? Imergir neste álbum é como mergulhar nuns pântanos do Mississípi com águas escaldantes e de cheiro a enxofre. Em terra, avistamos igrejas de madeira a arder e um óleo negro alastrando-se pelo solo, corrompendo-o. No ar que envolve esse temível cenário existe uma certa sedução pop, backgaze e eletrónica que nos atraem para o seu brilho fulminante. As combinações improváveis de ambientes, o jogo permanente de dinâmicas e movimentos soam a receita para o desastre? Zeal & Ardor provam-nos que a mistura pode ser sucedida, e bem! Isto porque, apesar das muitas variações, Gagneux soube dosear as diferentes partes do seu catálogo de amostras. 

Com um total de 44 minutos divididos por 14 músicas, por vezes ficamos a desejar que as faixas fossem um pouco mais longas, ou alguns elementos mais explorados, mas a sua curta duração beneficiou o foco e a assertividade das composições. Além disso, ter faixas tão curtas e com uma estrutura mais próxima do convencional acaba por ser revigorante nestas lides do post / avant-garde black-metal. Um outro aspecto que mais traz coesão ao álbum é temática das letras. Homogénea, faz de fio condutor entre as diversas incursões estilísticas e valida os momentos mais pesados –  momentos esses que, de outra forma, poderiam fazer-se sentir forçados.

As qualidades da música que encontramos em Zeal & Ardor não se esgotam por aqui e a prestação dos músicos é também notável. A voz envolve-nos numa ampla gama de tipos de registo e extensões, seja de natureza mais limpa ou mais gutural. Um dos ex-libris é a excelente articulação das segundas vozes que podemos apreciar em “Death to the Holy” ou “Church Burns”, por exemplo, mas há de tudo um pouco, inclusive uma entrada à western em “Golden Liar” – sim, com direito ao assobio e tudo! Ou seja, a voz é abordada como elemento principal das músicas, quer como instrumento, quer pelas letras. Sob a mesma diretriz, a masterização a qualidade sonora em geral são impecáveis. Tanto as guitarras como a bateria têm todo o espaço para o merecido protagonismo, e o baixo vai dando a sua graça aqui e acolá, que nem diabrete.

Se algo existirá a apontar, diria ser a penúltima faixa “J-M-B”. É a mais curta de todas e animada, mas soa algo descontextualizada quando encaixada após o sentimento de catarse trazido por “Hold Your Head Low” e antes de “A-H-I-L”, outro instrumental que finaliza o álbum. Fosse essa música suprimida e teríamos um total de faixas a fazer o simbólico «13» - produção passa também por estes pequenos detalhes. Honestamente, por entre tamanha diversidade, haver apenas um único e pequeno ponto menos favorável a assinalar é encarado mais como uma vantagem. Este será um dos aclamados álbuns do ano, em que a maioria da faixas poderia ser um single, não só “Run” ou “Götterdämmerung”. Totalmente viciante, Zeal & Ardor estará a rodar por muito tempo.


Nota: 9/10

Review por Luna