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Entrevista aos Silverlane


As raízes desta banda alemã de power metal remontam a 1995, quando três irmãos - Chris, Dorotheé e Simon - formaram um grupo familiar na garagem dos pais.
Com o seu álbum de estreia My Inner Demon, de 2009, foram rapidamente rotulados de “os próximos Stratovarius”.
Em 2010, lançaram Above The Others e fizeram digressões como suporte para Lordi e Doro Pesch. No entanto, tal como Chris refere, “a vida meteu-se no caminho” e apenas agora, 12 anos depois, lançam o seu terceiro longa-duração, Inside Internal Infinity. 
Foi o guitarrista, acompanhado pelo vocalista Tommy, que responderam às nossas questões.


M.I. – Olá! Daqui é o Ivan. Obrigado por nos concederem esta entrevista! E parabéns pelo último álbum! Quando uma banda se ausenta durante tanto tempo, existe quase sempre um misto de ceticismo - por receio que o trabalho não esteja ao mesmo nível que os anteriores – com euforia – pela espera de material novo. Aqui, o medo ficou para trás e o vosso som deitou-me ao chão! Um trabalho pujante, sons rápidos e pesados, vocais expressivos…. Vocês têm aqui verdadeiros hinos!

Tom: Uau, muito obrigado meu novo amigo!
Cris: Obrigado! Acho que fizemos um bom trabalho e também gostámos do resultado!


M.I.- Ok, começando… Para os nossos leitores que não vos conhecem, quem são os Silverlane? Como se juntaram e como caracterizam a banda?

Chris: Silverlane é, principalmente, uma família onde o meu irmão, a minha irmã e bons amigos formaram uma banda quando éramos crianças. A banda evoluiu muito ao longo dos anos. Alguns músicos entraram e saíram da banda como noutras bandas. Agora somos apenas eu e o Daniel (Baixo) na configuração ao vivo, mas o meu irmão Simon (Bateria, Subway to Sally) e a minha irmã ainda estão no ativo. Por isso, ainda temos aquele sentimento de família também com o resto da banda. As boas vibrações são a nossa base para a nossa criatividade em trabalhar em conjunto nesse grupo criativo que é Silverlane.


M.I. – 12 anos desde o último álbum!... O que se passou? Porquê este hiato de mais de uma década?

Chris: Na verdade, a banda continuou a existir nos últimos dez/doze anos, mas todos fomos impactados pelas lutas que a vida, às vezes, traz consigo. Casamentos, construção de casas, crianças... Todas essas coisas impediram-nos de obter uma verdadeira motivação que é necessária para criar um disco como Inside Internal Infinity. O amor pela música está dentro de todos nós, por isso, era apenas uma questão de tempo até que todos sentíssemos que havia algo que faltava nas nossas vidas. E aqui estamos de novo, ansiosos para concertos e continuar com uma banda que realmente significa muito para cada um de nós!


M.I.- A mudança de membros da banda também contribuiu para este silêncio?

Chris: Não, não a mudança em si. Na verdade, o Simon deixou a banda por falta de tempo, já que ele é altamente impactado pelas suas outras bandas e o seu trabalho como produtor. A minha irmã espera o segundo bebé e, por isso, não haverá presença ao vivo ao lado dela num futuro próximo. Mas espero que ela volte.


M.I.- Claro, ninguém sabe o futuro, mas… Neste momento, este é um regresso para ficar? Os Silverlane voltaram, definitivamente?

Tom: A flecha voa! Até que a morte nos separe. O tanque está cheio e a máquina nova e brilhante está em perfeita sintonia. Pronta para seguir!
Chris: Sim, só posso confirmar a declaração de Tom!


M.I.- Todos os elementos estão a 100% na banda ou têm outros projetos?

Tom: A maioria de nós cresceu nos anos 80 e 90. Naquela época era um desastre quando alguém saía da banda ou tinha um projeto paralelo. Toda a gente te dizia: “Como é que te atreves? És louco? Queres sair?” e assim por diante. Silverlane precisa de total atenção e energia de cada membro. Caso contrário, não funcionaria. Faz as tuas coisas, faz o teu trabalho, faz o teu passatempo e a tua família, mas Silverlane é Silverlane.
Eu nunca entendi porque tantos artistas precisam tanto de um solo? A maioria dos projetos a solo é uma merda!


M.I. – Com Inside Internal Infinity, afastaram-se de uma forma mais pura de metal melódico, para dar lugar a elementos mais obscuros (a introdução é tão arrepiante!) e introduzindo sintetizadores. Foi uma coisa natural, a criação de um som mais moderno ou, conscientemente, quiseram-se afastar do som antigo?  

Tom: Bem, todo o ser vivo na Terra se move, cresce ou, pelo menos, deveria crescer. Sim, é verdade que ficamos mais velhos e um pouco mais sérios também. A questão nunca foi: “que tipo de música/género queremos tocar?” Em vez disso era e é: “O que temos a dizer? Que tipo de energia queremos colocar lá fora? O que nos move?” Por isso, qualquer que seja o género que tu nos deres - seja o que for para ti - é! Não importa o que a pessoa ao teu lado te diga.
Na verdade, para nós, “moderno” não é um termo realmente positivo. Intemporal é o que é para nós. O Simon e a banda, todos nós tínhamos a mesma ambição desde o primeiro dia; queríamos gravar e produzir um METAL intemporal e bonito, com palavras e som. O Simon é uma pessoa maravilhosa, um músico e produtor incrivelmente talentoso. NUNCA nos sentimos a "trabalhar" com ele. Cada tom, cada nota tinha que estar exatamente onde está agora. Talvez tenhamos tido apenas três discussões nesses 12 anos… E nas três ele errou (risos)
Chris: Nada a acrescentar


M.I.- Como surgiu a parceria com a lindíssima Patty Gurdy e porque é que pensaram que ela se iria integrar bem no vosso som?

Chris: A ideia para a música veio do Simon e o Tom teve a ideia da voz feminina para o dueto nalgum momento enquanto gravava a música no estúdio. Todos gostámos da ideia e como o Simon estava a viajar com a Patty, ele mostrou-lhe a canção, ela gostou muito e concordou em gravar a música connosco. Sentimos que a voz dela, que conhecíamos de Patty Gurdys Circle, se encaixaria perfeitamente na música aqui.


M.I.- Quando é que começaram a pensar neste álbum? A pandemia impactou o trabalho? Como foi o processo de composição e gravação do álbum?

Tom: Os Beatles duraram 12 anos. Este é o tempo que Silverlane precisa para terminar um novo disco. Tenho a certeza que esse vírus teve um impacto enorme em todos os artistas do mundo.
Este álbum está em posição há 2 anos. Que situação estranha e absurda.
Faz algo contigo...
Foram tantos os obstáculos nesse período, que quase tudo parou por completo. Por outro lado, o tempo é uma coisa maravilhosa de se ter, se quiseres, aprofundar as tuas músicas e foi o que eu fiz: cavei bem fundo.
No começo, foi muito caótico porque a profundidade trouxe tantas ideias à tona que o nosso amigo, irmão e produtor Simon Michael, teve muita dificuldade em selecionar essas montanhas de ideias, alegria, tristeza, desolação, ódio e amor. Mas como podes ouvir, ele fez mais do que apenas um ótimo trabalho. O seu coração e alma foram tecidos entre as notas.


M.I.- Como é que têm conseguido promover o álbum?

Chris: Na verdade, apenas pelas redes sociais, já que todos os nossos concertos foram cancelados, até agora. Mas esperamos que haja alguns para tocar nesta primavera/verão.


M.I.- Quando olho para a capa, só consigo ver o monólito de Space Odyssey, do Arthur C. Clarke. Está relacionado? Podem explicar o significado da capa?

Tom: Uau, porreiro! Não sabia disso, embora eu seja um grande fã de ficção científica e, claro, também vi esse filme. Umas 5 vezes, acho eu. E, magicamente, sempre adormecia nalgum momento. Não temos essa ideia desse filme. Podes enviar-nos fotos? Não consigo assistir de novo
Esses monólitos (acho que há um nome diferente para eles) aparecem de vez em quando em documentários e filmes. Eu também reconheci isso, mas a primeira ideia era ter três prédios altos reais, crescendo até às nuvens para demonstrar progresso, novas ideias, mudança, futuro, poder, ar, espaço... Existem alguns artefactos em redor do mundo que não foram construídos pela nossa geração. A humanidade está em busca de respostas. Nós estamos à procura de respostas. Estou à procura de respostas minha vida toda! Ainda é Filosofia… Por enquanto!


M.I.- No filme Space Odyssey, os monólitos pertencem à primeira espécie inteligente na Galáxia e serviriam para encorajar o desenvolvimento tecnológico da Humanidade. Olhando para o estado do mundo, hoje em dia, acham que a Humanidade precisa de ajuda? Que sozinhos já não vamos lá? É preciso algum tipo de reiniciação?

Cena profunda! Excelente! Bom, acho que depende de como defines o progresso. O que significa "lá"? Qual é a medida? Acho que depende de onde queremos ou precisamos ir. Ser feliz? Viver para sempre? Viver em total equilíbrio com a natureza e as outras 9 mil milhões pessoas que nos rodeiam? Viver noutros planetas de leite e mel e andar com roupas brancas? Sem lutas nem guerras? (Pergunto-me sobre o que todas as bandas de Thrash e Deathmetal escreveriam… Oh não, por favor, chega de harpas, por favor.
Onde precisamos estar?
Por um lado, estamos a falar de Física Quântica, viver em Marte, Matéria Negra e, por outro, tenho que lidar com uma linha de 5 Mbit/s em casa.
Quando estamos a falar de cada alma na terra, com todas essas diferentes visões, religiões, interesses, tradições, atitudes etc, eu diria que sim. Precisamos de ajuda para nos unir-mos TODOS. SENDO UM! Isso é o que todos nós ouvimos, o tempo todo. Porreiro, mas como?
Há um milhão de razões pelas quais isso não funcionará: dinheiro, padrões, poder, pertences, etc. É disso que tratamos na nossa música "Leviathan Rising". Se a humanidade - todos os que vivem neste belo planeta - tivesse UM problema (seja ele qual for) - um problema global. Um problema que todos podem ver, cheirar, tocar, sentir, se não houvesse nenhuma dúvida, só assim trabalharíamos juntos. Certo, sei que parece que derivamos em duas seções. Essa coisa de 'rico' e 'pobre', bem como, o “progresso” e o “eu não dou a mínima”. Mas tenho certeza que quando olhas para o rosto da morte, de repente te importas. Portanto, não é necessariamente uma reiniciação, é uma seleção natural. Mas tenho a certeza de que um belo dia deixaremos o bom e velho macaco para trás.


M.I.- Para as vossas letras, vão buscar inspiração a lendas, mitologia… Desse – enorme - mundo de fantasia, qual é a vossa história preferida?

Tom: A mitologia grega e egiptologia. Não me canso da história antes de Cristo.


M.I. Qual é a vossa relação com as ideologias/mitologias/religião e a ciência? Onde é que as vossas crenças começam e onde terminam? Acham que existe no universo, algo com propriedades divinas? 

Tom: Para mim, além do amor e da música, é a única coisa realmente importante no nosso mundo. Todo o ruído em torno desses temas não é relevante. Para mim o universo é divino!
Chris: Acho que toda a vida é uma espécie de teste onde podes escolher se queres viver no inferno ou no céu. Acredito que a nossa mente cria uma parte importante da nossa realidade. Mas isso acabaria num monólogo muito longo por isso, vamos saltar.


M.I.- Além dos temas mitológicos, que bandas e artistas vos influenciam? De que banda gostariam de ter uma carreira parecida?

Tom: Eu ouço muitos estilos diferentes de música durante o dia. Acho que a parte mais difícil, é descobrir todos os dias em que humor estou. Os algoritmos do Spotify, Deezer, Apple Play tentam o seu melhor para me satisfazer. É simplesmente impossível para mim, definir minhas maiores influências de uma música que escrevi. Realmente, não sei. Eu cresci com Sabbath, Purple, Priest, Rainbow e Metallica. Malditas raízes das quais não podes fugir...


M.I.- Estão com a Drakkar, representante de alguns grandes nomes como Accept ou Nightwish. Já tiveram a oportunidade de pisar o palco com alguns eles? Ou outros grandes nomes do metal (alemão ou não)? 

Chris: Tocámos em vários festivais com outras bandas e fizemos pequenas e grandes digressões com Lordi, Doro Pesch, Kissin' Dynamite e Rage.
 

M.I.- O que andam a ouvir agora? Alguma banda/artista que recomendem?

Tom: Mastodon, Godjira, Machine Head, Black Label Society, Judas Priest, Rainbow, Dream Theater, Tool, Thrice, Nothing but thieves, Beatles, Beethoven, Brahms,Mozart, Beach Boys, Sam Cooke.
Chris: Isso difere ao longo do tempo. Eu gosto muito de Goth/Goth Metal, mas também algumas coisas progressivas. Neste momento, oiço muito Evergrey. Uma banda muito boa!


M.I. - Qual é a coisa menos metal e mais afastada do vosso estilo que ouvem?

Tom: Bem, acho que serão os Beach Boys.
Chris: Bom, eu tenho filhas. Por isso, estou familiarizado com muitos estilos diferentes de música que sou forçado a ouvir sem realmente querer. Mas estou definitivamente aberto a muitos estilos, também do lado eletrónico.


M.I.- Já têm alguma coisa pensada para o próximo álbum? Não vamos ter de esperar outros 12 anos, pois não??!

Tom: (risos) Já estamos a trabalhar no próximo álbum para 2023. Queres saber um segredo? Vai ser pesadooooo. Não contes a ninguém!
Cris: Ah sim! Já estamos ocupados!


M.I. - E digressões? Penso que têm um concerto agendado em março, em Munique. Alguma coisa fora da Alemanha? Têm alguma coisa planeada ou estão na expetativa para ver o que ainda vai acontecer com a pandemia?

Chris: Na verdade, estamos em posição de espera. Temos um concerto online agendado em abril, bem como, alguns concertos no início do verão, na Alemanha. Vamos ver o que acontece a seguir.


M.I.- Quase a terminar… Últimas palavras para os nossos leitores.

Tom: Em primeiro lugar, quero agradecer pelas tuas perguntas interessantes. Posso dizer que, realmente, ouviste com muita atenção as nossas canções. Muito respeitoso - obrigado por isso.
Eu sei que não há tempo suficiente para ouvir todos os álbuns de metal, hoje em dia. E há tanto talento por aí que nunca é ouvido. Mas se és um amante da música, do Metal, musicalidade, vibração e profundidade dá-nos uma hipótese. Ouçam Silverlane, porque caso gostem do nosso material, podem cantar connosco no próximo festival perto de vocês.
E sejam amigáveis uns com os outros. Nunca sabemos que tipo de luta a pessoa ao nosso lado está a passar no momento, nesses dias estranhos. E tentem sorrir mais - funciona!
Chris: Do meu lado, obrigado! Tomem cuidado!

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Entrevista por Ivan Santos