O projeto Bloodmoon iniciou-se com a apresentação ao vivo de uma “versão” mais alargada dos Converge que apresentava versões de músicas menos tocadas ao vivo do seu repertório que realizou tours a partir de 2016. No entanto, só agora, é que o projeto se apresentou em lançamentos.
A faixa-título lembra A Perfect Circle, lenta, agressiva e absorvente para o ouvinte, um excelente início da colaboração em disco, com os solos de guitarra e as teclas quase no caos. “Viscera of Men” começa rápido e afunda-se num poço doom, a presença da guitarra acústica nestes temas traz uma sonoridade interessante ao álbum, assim como os sintetizadores.
Ora, “Coil” começa sereno com guitarras acústicas com a voz limpa de Jacob Bannon e a melodia de apoio de Chelsea Wolfe, que depois toma a liderança com a entrada da banda, lembrando um tema dos Mastodon, com os sintetizadores em modo orquestral.
“Flower Moon” é mais macabro, com as teclas de Bem Chisholm a lembrarem “Red Right Hand” de Nick Cave and the Bad Seeds, com a voz de Jacob Banonn num registo muito diferente do habitual. “Tongues Playing Dead” soa mais a Converge clássico com o baixo distorcido a comandar o resto da instrumentação (não é possível estabelecer quem o toca, sendo que a ficha técnica lista quatro possíveis baixistas contando com o actual Nate Newton e retornado Stepehn Brodsky).
“Lord of Liars” é a primeira faixa com a voz de Chelsea Wolfe no início, a contrastar com a voz rasgada de Jacob Bannon, os riffs são descoordenados como se fossem retirados de “Frances the Mute” dos The Mars Volta. A calma assenta-se com o início de “Failure Forever”, antes de entrar a voz, as teclas dão um tom de paz ao caos trazido pelas guitarras.
“Scorpion’s Sting” é quase uma balada blues-rock a meio tempo que relembra, mais uma vez, Nick Cave and the Bad Seeds. Aqui, Chelsea Wolfe está no centro com a sua voz, acompanhada pelas várias guitarras e a precisão da bateria de Ben Koller. “Daimon” segue-se com pormenores interessantes como a guitarra acústica na introdução, a voz de Jacob a variar de registo consoante as letras entoadas.
Por sua vez, “Crimson Stone” relembra post rock onde membros dos Converge já se aventuraram com os Wear your Wounds; um tema que vai-se desvendando aos poucos, com o piano a dar enfâse à tensão que cresce antes da entrada da banda lhe pôr o derradeiro ponto de exclamação. A balada soturna “Blood Dawn” encerra o disco num registo rock negro.
Concluindo, em Bloodmoon: I estamos perante um álbum eclético, surpreendente a cada tema, como se cada um fosse tocado por uma versão diferente da banda, com diversas influências. Trata-se de um disco que merece ser ouvido várias vezes para se descobrir as várias coisas que esconde, desde os pormenores a nível da instrumentação às mudanças de dinâmica dentro dos próprios temas.
Torna-se, inclusive, interessante observar a forma como os vocalistas vão dividindo os temas, da mesma forma como os vários instrumentos vão assumindo o protagonismo consoante os temas.
Nota: 9/10
Review por Raúl Avelar