Ao sexto álbum de estúdio, finalmente Emma Ruth Rundle colocou em prática o desejo antigo de despir a sua música até ao essencial e fazer um disco cru, simples e profundo. Oito canções cantadas apenas com o acompanhamento do piano e/ou da guitarra conseguem transmitir uma profundidade e uma escuridão tocantes, que refletem a transformação emocional passada pela cantora nos últimos tempos. “Íntimo” e “pesado” seriam dois excelentes adjetivos para descrever este “Engine of Hell”. A simplicidade da composição e da produção musical do álbum criam um ambiente intimista e melancólico que nos faz sentir que Emma está a tocar estas canções no calor da nossa sala de estar. A atmosfera melancólica e despida de grandes produções leva-nos a sentir as condições em que a música foi, de facto, criada e gravada - isolada numa casa de campo, durante o confinamento. Com a exceção de alguns momentos bem notórios, o álbum conta apenas com guitarra, piano e voz, e dispensa (aparentemente) grande trabalho de produção, o que resulta em registos brutalmente honestos de uma expressão artística íntima e profunda da cantora. Dois fatores que contribuem de forma decisiva para este ambiente criado pelo álbum são, por um lado, o timbre do piano, extremamente delicado e escuro e, por outro, a captação da guitarra acústica. É possível ouvir os movimentos da mão de Emma a raspar na guitarra, algo que muitos produtores tentariam evitar, mas que, neste caso, têm uma grande importância no que toca a manter o carácter puro e intimista do momento. Outro aspeto que importa notar no que diz respeito à construção deste ambiente sombrio é o uso que a cantora dá à sua voz, sempre no registo médio e com uma dinâmica altamente contida, sem nunca a esticar muito em nenhum destes parâmetros. Do ponto de vista musical, as composições são bastante simples, com o piano ou guitarra a tocarem quase sempre acordes corridos, sobre os quais a voz canta uma melodia (com exceção de “Body”, onde o piano tem uma melodia que se articula com a voz). No entanto, a capacidade de interpretação e a alma que Emma deposita na sua música torna-a hipnotizante, deixando o ouvinte quase sem fôlego, atento à viagem da “nuvem negra” que é cada música. Uma nota ainda para a participação da violoncelista Jo Quail nos momentos em que se ouve um delicado violoncelo a acompanhar a voz da Emma. Em suma, é sem dúvida um álbum obrigatório para quem já seguia a Emma Ruth Rundle (talvez possamos antecipar já que se tornará um dos trabalhos de referência da cantora) e indispensável para quem a melancolia e a profundidade emocional é um fato importante na música que procura.
Nota: 9/10
Review por Francisco Gomes