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Entrevista aos Subterranean Masquerade



Ah, Israel! Onde tudo é místico, até a música. The “Mountain Fever”, o último álbum dos Subterranean Masquerade, lançado no dia 14 de maio, pela Sensory Records é Metal incrível e progressivo. O que ainda é mais impressionante, é que eles criaram um som único, combinando instrumentos extraordinários. Conversamos com Davidavi Dolev (cantor) e Shai Yallin (teclados) sobre como eles se juntaram à banda, as letras, os seus desafios, a importância da música israelita e muito mais.
Se estiveram num dos concertos, especialmente com os Orphaned Land e System House33, sabem que foi um concerto ótimo e eles têm uma surpresa para vocês! Por isso leiam esta entrevista!

M.I. -  Olá, rapazes. Obrigada por aceitarem a entrevista para a Metal Imperium e para os fãs. Portugal saúda-vos e à comunidade israelita.

Davi: Olá, pessoal! Muito obrigado por nos apoiarem! Obrigado!


M.I. -  Primeiro de tudo, gostaria que falassem um pouco sobre a vossa história e a vossa formação musical. Também quero perguntar quando foi que perceberam que queriam ser músicos e como é que a banda se conheceu.

Shai: Eu começo por contar como a banda se conheceu, porque vai ser mais fácil (risos). A banda começou em 1997. O Tomer formou-a. O Tomer Pink era o principal compositor e guitarrista. Eu era inicialmente um fã da banda. Em 2004-2005, comprei o primeiro EP e o primeiro álbum: “Suspended Animation Dreams”! Gostei muito e estava sempre a ouvi-lo. O Tomer desapareceu do mapa e a banda também! Eu etava sempre a ver se havia novidades da banda. E o Facebook apareceu! Vi o Tomer Pink no Facebook, adicionei-o como amigo. Em 2013, ele descobriu que eu era teclista e perguntou-me se queria entrar para a banda. Eu disse: “CLARO QUE SIM!”. E aqui estou eu! O Davi pode contar um pouco sobre a sua história com a banda, que também é muito interessante. Queres que te conte sobre a minha história ou que o Davi conte primeiro como é que se juntou à banda?


M.I. -  Como quiseres, Shai! Como quiseres!

Davi: Eu quero saber como é que te interessaste por música, Shai! Eu não sei isso (risos)!
Shai: Não sabes isso (risos)? Não sabes mesmo a história?
Davi: Não!
Shai: Eu nasci em 1981, ou seja, há 40 anos. Os meus pais eram ambos amantes de música, em adolescentes. Eles ouviam Progressive Rock (Pink Floyd, King Crimson). Mas nunca os puseram para eu ouvir em criança. Só punham música clássica. O meu pai punha uma cassete, uma cassete do Jean-Michel Jarre, que se chama “Oxygène”. É música eletrónica pioneira dos anos 70. Ele colocava no carro e eu perguntava: “Pai! O que é isto? O que é que estamos a ouvir?” e ele disse: “É um sintetizador!”. Eu disse-lhe: “Pai! Quero um sintetizador!”. Ele comprou-me um pequeno brinquedo, teclado de fantasia e disse-me que era um sintetizador: “Comprei-te isto!”. E disse—lhe: “Ok! Quero aprender a tocar o sintetizador!”. Eles deram-me uma fantasia velha, com uma pistola de brincar, depois aprendi durante os anos seguintes como brincar com a pistola de brincar e, depois, tive uma paixoneta por uma rapariga, que era cantora e pianista, e queria impressioná-la. Mudei para uma arma. Não resultou, mas fiquei-me pelo piano! Comecei a aprender piano e também comecei a ouvir Progressive Rock e Metal! O primeiro CD que comprei foi o álbum dos Pet Shop Boys. O que tem a “Go West”! E o segundo álbum que comprei, foi o “Black Album”, dos Metallica! O terceiro álbum que comprei foi algo dos Van Halen. A partir daí, passei pelo Progressive Rock, o novo Progressive Rock, Metal. Na minha adolescência, comprei o meu primeiro sintetizador! Veio do Reino Unido! Foi em 1997 e as pessoas não faziam isso através da Internet, antigamente, porque a Internet era muito, muito recente. Foi algo extremamente real de se fazer para a época. Mas comprei um sintetizador, através da Internet, do Reino Unido, quando tinha 16 anos! Isso levou-me a tocar todo o tipo de música no teclado. Tentava tocar partes de sintetizadores, tal como partes de sintetizadores famosas, partes de órgãos famosos da Hammond! Tentava tocar basicamente coisas! E depois fui arrastado para o exército! Aqui em Israel, temos um longo serviço militar obrigatório! Estive 4 anos no exército! Três anos foram obrigatórios e um ano foi “Vou levar o meu trabalho para casa”. E quando saí do exército, não tocava teclados há quatro anos! A minha namorada acabou comigo, não tinha nada para fazer e pus-me a fazer música. Entrei para uma banda, até 2015. E em 2015, entrei para os Subterranean Masquerade. E aqui estou!
Davi: Vou fazer como o Shai! Vou começar sobre como entrei nos Subterranean Masquerade! No fim de 2017, regressei a Israel. Eu vivi um bom tempo no estrangeiro. Eu estudava e fazia a minha arte, na Escandinávia, em Copenhaga, principalmente! No fim dos meus estudos, cheguei a um ponto, em que senti que era uma boa altura para regressar a casa. Voltei para Israel e recebi um telefonema do Tomer. Tenho mesmo de lhe perguntar, porque não sei como é que ele teve conhecimento sobre mim. Mas quando ele me ligou, foi parecido com o Shai, já que eu conhecia os Subterranean Masquerade! Eu conhecia o álbum “The Great Bazaar”! Era um grande fã, achava que era excelente! Disse: “Sim! Vamos encontrar-nos!”. E encontrámo-nos! Naquela época, deveria ser o substituto apenas para os concertos ao vivo, pois o Kjetil Nordhus era o vocalista intérprete da banda, não podia andar em tournée, pois tinha muito que fazer. Tinha os Green Carnation, Tristania, da Noruega! Viajar da Noruega nem sempre era fácil! Acho que foi a razão pela qual recebi o telefonema! Depois de tocarmos juntos um concerto e de fazermos a tournée europeia juntos, acho que nos tornamos bons amigos, queríamos continuar a trabalhar juntos e tive muita sorte por ter sido aceite no grupo, pelo Tomer, Shai e o resto dos rapazes! Desde aí, estamos juntos. Este é o primeiro álbum que fazemos juntos! Estivemos três anos em tournée e estou muito animado para este álbum, porque não sei como é que os fãs antigos vão aceitar a mudança, mas ao mesmo tempo, conhecemos tantas pessoas em tournée, que conhecem a banda como é agora, que tenho a esperança de que as pessoas gostem.
A minha história com a música, não sei exatamente quando começou. Eu estava sempre a cantar. Cantava todo o tipo de coro vocal quando era criança. Eu realmente queria uma guitarra! O meu sonho inicial era ser guitarrista! Eu tive uma quando tive 12 anos. Ouvia muito Hip Hop, mas quando tive a guitarra, fui para o “Black Album”, dos Metallica. O problema era que eu era péssimo a matemática. Era mesmo mau nisso! Então, os meus pais disseram: “Enquanto não tiveres boas notas, vamos tirar-te a guitarra, porque tens de estudar!”. Ainda sou horrível a matemática, certo (risos)? Sou horrível nisso! Porque não tinha mais a guitarra e queria tocar em bandas. Quando tinha 13 anos, fazia todo o tipo de Thrash Metal e Punk, tocava em porões e em casas de crianças e ninguém queria cantar. Toda a gente queria ser o guitarrista e eu já não tinha a guitarra! Comecei a gritar e fiz isso durante alguns anos, quando estava a improvisar com a minha voz. Quando tinha 19 anos, comecei realmente a cantar, a aprender a cantar! A minha professora, para minha sorte, era uma fã de avantgarde e eu não sabia disso! Achei que fosse aprender a cantar, mas ela gostava de avantgarde, e minha educação começou por tudo o que é estranho. Daquele ponto em diante, foi o começo para mim! A partir daí, comecei a escrever música e a tocar! Por isso é que também saí de Israel, porque estava à procura de um lugar para fazer este tipo de música, pois sentia que não havia o suficiente aqui! E quando regressei a casa, há 3/ 4 anos, conheci os rapazes! 


M.I. -  Até agora, vocês eram considerados um projeto de estúdio de culto, que transformou concertos ao vivo incríveis e combinou diversos géneros musicais e misturou músicas de todo o mundo. Quão diversa é a vossa música no vosso país e como influenciou a vossa música?

Davi: Acho que é uma mistura! Acho que Israel é uma mistura! É um país construído por imigrantes, décadas sobre décadas, e acho que todos nós, se olharmos para as nossas raízes, as raízes da nossa família, os pais nunca são do mesmo lugar! A minha mãe é da Roménia e o meu pai é da Polónia! Eu fui criado em Israel! Há aqui muita cultura do Médio Oriente. Existe esta mistura de imigrantes! Pessoas da Europa virem para cá, a morar no Médio Oriente! Por isso, tudo está misturado! A culinária também é muito misturada! Temos de tudo, de tudo! O Shai é um grande gastrónomo! Ele pode dizer mais! Mas acho que é natural para o Rock Progressivo, de Israel, soar como o que estamos a fazer, porque somos de todo o lado e de lugar nenhum! A música soa assim também! É uma grande mistura! Acho que nos influencia imediatamente, culturalmente de onde viemos! Nunca és uma só coisa! És sempre tudo!
Shai: Acho que a música é um caldeirão de todas as culturas que cada um de nós assimilou, à medida que crescemos enquanto crianças, jovens adultos e os nossos pais assimilaram quando vieram de Israel ou da Europa! E os pais deles, que vieram da Europa ou de onde quer que tenham vindo! Israel vem do Norte de África, alguns vêm da Europa, Ásia, Índia e Etiópia! Reúne tudo numa fusão de géneros musicais, numa culinária e pote! Demorei muito, porque sou snob! Sou um snob musical! A música Pop em Israel é como música árabe falsa. Música Pop com canto árabe falso e odeio isso! E durante muitos, muitos anos, associei tudo o que soasse árabe, com aquele lixo pop que odeio! E nem considerava que música árabe fosse música! Acho que quando entrei para a banda, comecei a ser exposto a música oriental que não era uma merda e isso fez-me regressar à minha infância, em que os meus pais ouviam cantores israelitas, que vinham da Grécia. Existe um famoso guitarrista, cantor, tocador de bouzouki, que veio da Grécia. Tudo fez sentido: “Eu conheço esta música! Eu cresci a ouvir esta música!”. Coloquei de lado, rotulei-a de inferior, mas agora, ao estar numa banda que toca música oriental, obriga-me a voltar a ter contacto com a música que cresci a ouvir. Acho que o mesmo está a acontecer agora com a música dos anos 80, porque cresci a ouvir música dos anos 80. Tornei-me um snob e comecei a detestá-la, mas lançamos um álbum, que é fortemente influenciado pela música retro dos anos 80. E isso confunde-se com a minha formação musical, dos anos 80! O que é interessante para mim!


M.I. -  Nos dois últimos anos, vocês transformaram eventos ao vivo, emocionantes e coloridos e misturaram as tradições do heavy metal com a estética da performance de world music, punk espiritual e puro rock 'n' roll. Como é que planearam os concertos ao vivo, de forma a torná-las inesquecíveis, para que no final do concerto, o público diga: “One More Song!”?

Davi: Primeiro de tudo, obrigado! Acho que nunca iremos saber! Estamos a experimentar com uma setlist! Demorou, até chegarmos a Portugal, estávamos a experimentar coisas diferentes e várias tournées! Acho que estamos à procura de músicas com as quais sentimos que nos podemos envolver fisicamente no palco! Que podemos senti-las, movê-las e senti-las nos nossos corpos, para que as possamos projetar para o público! Acredito que, se formos capazes de nos divertirmos, se o público está a ficar feliz, para escapar da sua rotina diária, então pode funcionar! Mas nunca se sabe! Sempre tentamos algo que não funciona. Felizmente para nós, a última tournée foi incrível! O público aceitou-nos e acho que fizemos algo correto com a setlist e agora precisamos de descobrir o que foi, porque criou uma certa magia!
Shai: Acho que sei o que foi! Em primeiro lugar, temos um set curto, tocamos 45 a 50 minutos! Temos canções suficientes que motivam quaisquer partes aborrecidas! Podemos simplesmente colocar todas estas músicas num set e ter a certeza de que elas fluem com energia. É assim! Começamos o concerto como se estivéssemos numa corrida! Explodimos em palco! Tocamos uma, duas ou três canções, uma após a outra. Paramos! Interagimos com o público só um pouco. A seguir, bombardeamos-te com mais duas ou três canções! Mesmo antes de teres tempo para perceberes o que está a acontecer, a maior parte do concerto já ficou para trás. Temos mais duas músicas e a última, geralmente terminamos com a “Hymn of the Vagabond”. Acho que é a nossa melhor melodia. É uma melodia muto cativante! Trazemos o público para o palco; toda a gente fica feliz e ninguém quer ir para casa. Deixamos-te a querer mais! Acho que é por desejo! Acho que não é por acaso! Tocamos músicas comoventes, que não funcionaram tão bem ao vivo, como esperávamos. Às vezes encurtamos o set e tocamos menos do que nos é permitido, só para que possamos tocar aquelas músicas que têm mais energia, que queremos transmitir ao público!


M.I. -  “Mountain Fever” foi lançado em maio, mais precisamente no dia 14, pela Sensory Records. É um equilíbrio entre a experimentação e a vossa própria visão da expressão da cultura Pop moderna no Médio Oriente. Como é que vocês descreveriam esta visão? E a cultura pop? Como é que combinaram o Pop com o vosso próprio universo?

Davi: Primeiro de tudo, as melodias! Acho que vivemos para as melodias! Acho que vivemos para cantorias! Para que as pessoas possam vir ao concerto e cantar connosco. Usamos muita mais música eletrónica do que o normal neste álbum. O Shai está a expressar-se muito mais com os sintetizadores. A cultura Pop em Israel é uma mistura. O som do Médio Oriente e o tipo de festa, que está a acontecer. Queremos que as pessoas sejam felizes, mesmo que seja no Metal! Mesmo que seja bruto e pesado! Queremos que as pessoas sejam felizes e que se reúnam! Acho que é isso que queremos transmitir com este álbum e mantê-lo colorido, como quando pressionas o play, podes ouvir de onde vimos!
Shai: Sim! Acho que se ouvires as estações de rádio populares, podes ouvir uma música dos Depeche Mode, seguida de uma música dos Metallica, seguida pelos החלונות הגבוהים. É a nossa cultura novamente! É um sentimento cultural de união e acho que diferenciamos essa essência da fusão na composição, como o Davi disse. Acho que é toda a coerção, em torno de composições muito sólidas, com ótimas melodias. Acho que uma coisa que fizemos desta vez e que não tínhamos feito, é que estávamos a escolher muitas, muitas músicas e quais entrariam no álbum e fizemos algumas “mudanças” em algumas das músicas, para remover partes, que não eram interessantes o suficiente. Mesmo depois de começarmos a gravar, tiramos as partes das gravações, porque não eram interessantes suficiente e acho que é por isso que o álbum não é muito longo, nenhuma música é muito longa, na minha opinião. Há uma linha muito clara, que está entre as nossas raízes musicais, a nossa visão musical e trazer as pessoas para o palco, para saltar connosco. Como o Davi disse: É a cultura da festa! É: “Estejam juntos, como uma unidade!”


M.I. -  Com este quarto LP, vocês estão a caminhar para um novo terreno e este é, de facto, o vosso trabalho mais diversificado. Há quanto tempo estiveram a planear este material e trabalharam nas letras?

Davi: O Shai saberá melhor do que eu. Eles começaram em 2017, acho eu, com os primeiros esboços. O álbum ficou pronto em 2019. O processo das letras levou cerca de um mês, para as escrever, para obter a ordem das melodias principais e em seguida, começamos a tocá-las, a corrigir, a adicionar mais camadas, mais harmonias. Mas o álbum ficou pronto bastante rápido! Trabalhamos nele um ano. Foi tudo o que fizemos neste ano. Quando ficou pronto, continuamos em tournée e estávamos a planear lançá-lo no ano passado, em 2020, no começo de 2020... mas como todos nós sabemos o que aconteceu com o Mundo, queríamos adiar, para termos a hipótese de realmente fazermos uma tournée com a música! Por isso é que só está a sair agora. Demorou quase um ano de trabalho árduo, não foi, Shai?
IU Sim! Posso confirmar isso! Recentemente, o Tomer lembrou-me que escreveu a primeira demo, os primeiros esboços para a maior parte do álbum, enquanto estávamos a misturar o “Vagabond”! O “Vagabond” não foi misturado, ficou preso na casa dele. Ele mora no topo da montanha, esconde-se, estava frio e não tinha nada para fazer. E ele escreveu o próximo álbum! Este é o Tomer! Agora, ele está a escrever o próximo álbum! Está sempre a escrever o próximo álbum! Acho que temos dois álbuns à nossa espera, para trabalharmos desta maneira (risos).


M.I. -  Ainda mais impressionante, são as letras noutras línguas, especialmente “Mångata”. O que é que vos levou a adicionar outro idioma no vosso álbum e acham que a sua mensagem quebrará barreiras, como o ódio?

Davi: Fizemos uma música em hebraico. Chama-se “נומאד” (Nomad). É uma oração, para Yom Kippur, na cultura judaica, é o dia do perdão. O dia que olhas para dentro de ti próprio e vês o que fizeste certo, o que fizeste errado. Temos mais músicas sobre esse dia, no nosso catálogo e também em todos os álbuns, dos Subterranean Masquerade, tem uma melodia judaica, que arranjada numa melodia Metal! Um pouco para manter as nossas tradições e mostrar a nossa cultura. Não sei como as pessoas a vão receber. Até agora as pessoas estão muito curiosas sobre esta música, e acho que está muito bem misturada dentro do contexto do álbum. Essa é uma oração que aceitamos e tornamo-la nossa!


M.I. -  Foi um álbum desafiador em todos os aspetos? Qual foi a parte difícil?

Shai: Oh, sim! Acho que tudo foi difícil! A ideia inicial era iniciar a gravação em janeiro de 2019 e terminar no final de março de 2019, para que pudéssemos ir em tournée, após terminar o álbum, para que pudéssemos misturar o álbum durante a tournée. Esse plano foi por água abaixo rapidamente e, no fim de março, não estava quase nada pronto, como se nada estivesse sido feito! Foi muito caro! É a coisa mais cara que já fizemos. Não olhamos a custos! Gravamos a bateria, na Suécia, na Fascination Street. O Tomer, o Davi e o Matan voaram para a Suécia durante a semana, para gravar as baterias. Conseguiríamos mais barato aqui em Israel, mas não teríamos obtido o som da Fascination Street e queríamos esse som! Existem muitos músicos convidados no álbum, e, colaborar com todos os músicos convidados juntos, é uma confusão! Muitas camadas. Adicionas uma camada e depois adicionas outra, mas é outra camada que está em conflito com uma das camadas que já adicionaste. Por isso, precisas de mudar as camadas! O álbum demorou quase um ano para que o material se ajustasse o suficiente, de forma que não fosse preciso removê-lo, por não se adaptar ao contexto. No início era muito parecido a argila mole, que colocas na mão e ela cola, se não fores cuidadoso o suficiente.
Para mim, foi a primeira vez que escrevi arranjos para instrumentos de sopro. Lembro-me que temos uma trompa, em duas músicas, em "Inwards" e "For The Leader, With Strings Music", as faixas número 4 e 9. Gravei, no meu estúdio caseiro, as partes da trompa e o que não levei em conta, é que uma trompa dá muito ar! Tem uma pressão de ar significativa muito grande e esta sala não é muito grande! Toda a sala começou a tremer e os meus vizinhos vieram imploraram-me para parar, porque os filhos deles estavam a tentar dormir e não conseguiam (risos). Sim, foi muito divertido! Foi muito, muito difícil e havia muita gente no álbum e quando há muita gente, que gosta de dar a sua opinião e tens de lidar com o consentimento da comunicação interpessoal, mas no final é a melhor coisa que já fiz! Estou muito feliz!


M.I. -  O que torna este álbum ainda mais interessante, são os instrumentos nele, especialmente os violinos árabes. Que outros instrumentos, das secções de sopro da África e dos Balcãs usaram, que tornaram este som tão majestoso? Além da música, o que vos fascinou da África e dos Balcãs para criar este som? Poderiam dizer-nos que tipo de instrumento é um bouzouki e quão difícil é tocá-lo para criar o seu som magnífico?

Shai: Usamos a secção de sopro. É um saxofone e um trompete, principalmente. Eu não lhe chamaria secção de sopro africano. É apenas a pessoa que toca esses instrumentos que adora música africana. Ele toca toda a sua influência na música africana, mas a secção de sopro é europeia: secção de sopro suíça.  Não há instrumentos africanos, por assim dizer! Usamos sopro: saxofones, trompetes. Usamos a trompa em duas canções, porque a trompa é um instrumento muito majestoso. Simplesmente flui! Dá a sensação de uma orquestra, mesmo que seja só uma trompa que esteja a tocar! Temos violinos. Temos um violinista muito talentoso, chamado Oren Tsor. Ele está a gravar connosco desde o “The Great Bazaar”, desde 2013, 8 anos agora! Sempre o trazemos e sabemos que o Oren vai pegar nas minhas partes soltas e vai criar um ambiente. É um gajo muito espiritual! O Oren também toca viola e eu gosto muito de viola, porque acrescenta algo muito interessante à seção de cordas, que não acrescentas, se só tens um violino e um violoncelo. E temos um violoncelo. Tenho um glockenspiel e gosto de tocar a melodia do violino com o glockenspiel por cima de tudo. Não ouves, mas sentes que reluz. Reluz tudo. E combina com o nosso percussionista, que toca percussões pós-arábicas e tablas indianas. Tens “temperos” indianos a entrar na mistura. Estou a esquecer-me de mais alguma coisa, Davi? Oh, sim! Temos ouds, bouzoukis, instrumentos de cordas do Oriente Médio, como um oud, lout ou um bouzouki. Todos eles têm cores, no topo da mistura. Tudo junto soa como uma orquestra, mas é uma orquestra multinacional. Tem membros que tocam instrumentos, de todo o Médio Oriente, como se todos os instrumentos desta região, tocassem no álbum juntos! Acho que isso é algo que nos dá uma cor que não encontras em muitas outras bandas, porque ninguém faz essa mistura específica, como nós fazemos!
Um bouzouki é um instrumento de cordas, da família do alaúde. Eu não saberia como é difícil tocar, porque não toco bouzouki! Acho que isso o talentoso tocador de bouzouki terá de saber! Temos tocadores muito talentosos. Temos o Matan Shmuel, dos Orphaned Land, como convidado no bouzouki, na última faixa: “Mångata”. Ele toca bouzouki e guitarra solo nessa faixa também e isso é simplesmente bonito! Para mim, o bouzouki adiciona muito brilho ao som e eu realmente adoro isso! É a primeira vez que estou envolvido na gravação das partes do bouzouki! Nos outros álbuns, o Tomer fez tudo sozinho sem me envolver e dessa vez, eu estava muito mais envolvido nos arranjos. Isso atraiu-me! Adoro o bouzouki agora!
Davi: Sobre a parte dos Balcãs, eu sei que o Shai e o Tomer fizeram a maior parte do trabalho, mas eu cresci, como disse, numa família parcialmente romena. O espírito da música ressoou em mim. A música judaica era parte do que estávamos a tentar alcançar, acho eu. Certo espírito de uma certa cultura! Há um tipo de magia cigana e uma coisa cabalística judaica esquisita que está a acontecer. Pelo menos para mim!
Shai: Concordo totalmente contigo!
Davi: E a ideia de que a parte africana são principalmente os ritmos e o espírito do que uma tribo pode vivenciar junta, então não apenas um artista e o público, mas todos juntos. E é isso que estamos a fazer, ao tentar trazer a parte norte africana ao álbum!


M.I. -  Vocês têm algumas surpresas para os fãs: várias contribuições de convidados notáveis. Matan Shmuely (Ophaned Land) na bateria, bouzouki e guitarras principais em "Mångata", tocadas por Idan Amsalem (Ophaned Land), e vozes em “Somewhere I Sadly Belong” por Jackie Hole (The Super Things). Que critérios foram importantes para as suas escolhas?

Davi: Na música: “Somewhere I Sadly Belong”, não é apenas a Jackie Hole, dos The Super Things, mas também o Melechesh Ashmedai, da banda Melechesh, que canta connosco, que grita comigo, na segunda parte da música. Acho que estamos a tentar trazer os artistas que mais nos dizem, que podem trazer algo deles próprios à nossa música e dar-lhe algum sentido musical, especialmente espiritual! Acho o Matan Shmuely um baterista incrível! Não acho que haja muitos bateristas por aí, que tenham o espírito e a audácia como ele toca! Ele é muito forte e se o conheceres pessoalmente, sentirás esse carisma! Também com o Idan! A forma como o Idan toca a guitarra, o bouzouki e de onde vêm esses dois! E podes ouvir isso nos Orphaned Land! Podes ouvir quanta identidade existe lá! A Jackie, estávamos à procura da melhor cantora de R'n'B Gospel, que pudemos encontrar e a Jackie estudou comigo na Dinamarca e eu nunca ouvi alguém como ela! Ela desperta os espíritos quando começa a cantar! E ela nunca dorme!!! Isso faz parte da personalidade dela. Ela consegue divertir-se. Não vou dizer quantos anos tem, porque ela matar-me-ia, mas ela nunca dorme! Queríamos aquele som, de uma pessoa que está sempre acordada. Sempre! Por último, mas não menos importante, Melechesh Ashmedai, dos Melechesh, além do facto de que quando eu ouvia Black Metal na adolescência, imediatamente vou ouvir Melechesh! Além disso, pelas letras e a sua história pessoal, eu queria muito encontrar um cantor convidado. Não era porque era conhecido! Foi porque ele realmente se identificou com a letra e fez sentido que essa pessoa (Ashmedai) a cantasse e foi imediato! Fomos ao estúdio, ele leu a letra, disse: “Sim! Entendo!". Adoramos trabalhar com pessoas, que trazem algo de si mesmas e a sua própria autobiografia para o som!


M.I. -  Enquanto vocês gravavam o LP em Golan Heights, Israel, com o David Castillo, o disco foi enviado para Fascination Street em Örebro, Suécia (Leprous, Katatonia, Opeth) onde foi misturado pelo Jens Bogren e masterizado pelo Tony Lindgren. Vocês adicionaram riffs pesados e arranjos policromáticos. Que mais arranjos fizeram em relação ao som?

Davi: Em primeiro lugar, o David não estava connosco em Golan Heights. O David foi para Estocolmo connosco. Ele é incrível! Ele fez o último CD dos Leprous, está a trabalhar com os Sepultura, Carcass e Opeth! Queríamos muito a identidade dele!
Shai: O que fizemos foi: voamos da Suécia para Israel e depois de volta para a Suécia! Em cada etapa do caminho, tivemos que moldar a próxima camada de acordo com o que foi registado. Nós temos este som de bateria sueco, depois fomos para Israel e o Tomer gravou as suas guitarras, o baixo em Golan Heights. Depois gravamos todo o solo de guitarra em Jerusalém. O Davi gravou com o David Castillo em Jerusalém! Gravei, no meu estúdio caseiro, os meus teclados, o violoncelo, alguns dos instrumentos de sopro, os instrumentos de sopro e a trompa francesa, que explodiram a sala. E depois, foi enviado para Berlim, onde vês o nosso percussionista e os percussionistas dele e depois voltou para Israel novamente. É um álbum sobre imigrantes, que migrou de estúdio em estúdio e em cada estúdio, outra camada foi adicionada ao arranjo! Algumas dessas camadas foram planeadas com antecedência, por exemplo! Quando eu escrevi as partes das cordas que o Tomer gravou em Golan Heights, não estive presente na sessão! Eu tive algumas ideias e as ideias dele foram traduzidas para a música de Tomer e Bogren. No final deu tudo certo!


M.I. -  A capa é tão Subterranean Masquerade. Contem-nos, por favor, a história por trás disso e o significado.

Davi: Trabalhamos com o Costin Chioreanu da Roménia. Ele é um artista e animador incrível! Tudo o que fizemos foi enviar-lhe a música e a letra, dizer-lhe que o nome do álbum não é “Fever” e a única referência que lhe demos foi a história do profeta Elijah e The Chariot Of Fire. Queríamos dar-lhe liberdade! Ele acertou em cheio! Ele ouviu a música e sabia exatamente o que tinha de fazer! Ele devolveu-a e não fizemos comentários, porque estava perfeita!
A única coisa que quero dizer, porque quero dar às pessoas a liberdade de verem o que quiserem, é que a "febre" da qual estamos a falar, é uma febre espiritual. É por isso que queríamos a história de The Chariot Of Fire, como referência! Nós adoramos bandas psicadélicas dos anos 70 e acho que o Costin entendeu isso e fez o que fez! Acho que este é o melhor trabalho gráfico desta banda até agora! Adoro-o!


M.I. -  O primeiro concerto na era Covid será no Festival de Metal de Jerusalém, no dia 3 de junho de 2021. Quão louco será? Contem-nos mais.

Davi: O festival é um festival anual. Em hebraico chama-se “FestiKasach”, que significa “Festival Esmagado” ou “Festival Parte Tudo”! Este é o festival anual de Metal de Jerusalém, não há muitos festivais em Israel. Há um gajo em Jerusalém chamado Yehi Zaken que tem o único bar de Rock'n'roll em toda a Jerusalém! Tem uma comunidade forte de pessoas que vão lá e o Yehi juntou um cartaz muito fixe para celebrar o facto de podermos, aqui em Israel, tocar música de novo, porque a vacina está, graças a Deus, a funcionar! É muito fixe! Quão louco vai ser? Não sabemos! Acho que vou ficar com lágrimas nos olhos, porque finalmente podemos tocar, porque não tocamos há um ano e meio, quase dois anos! Em Israel, não tocamos desde o dia 19 de novembro! Estou muito animado! Vai haver muito húmus! Nós somos os cabeças de cartaz do festival, juntamente com uma banda de Industrial de Death Metal, os gajos que começaram a cena israelita. O nome deles é Lehavoth, que significa “Chamas”! Além disso, vai haver muitas bandas de Jerusalém! 


M.I. -  Ainda mais louco foi "Nomad" ao ser tocado no Counter Corona Festival, no Japão, ter sido gravado e filmado no telhado da Sound Coop Haifa. Os japoneses tendem a gostar deste tipo de coisas. Contem-nos um pouco da experiência, como a gravação, por favor.

Shai: Eu gosto que os japoneses gostem deste tipo de coisas, porque as pessoas pensam que os japoneses gostam de todas as coisas malucas! Acho que alguns japoneses, pelo menos, estão muito cansados de as pessoas os culparem de gostarem de coisas malucas! Tipo “Eu quero ser um japonês chato!”. “Eu quero gostar de coisas chatas!”. “Eu quero cantar ao ouvir Mozart!”. “Quero ouvir música Pop!”. “Não quero ouvir Metal louco e eclético, de Israel!”. Estou a brincar. Acho que o Vidi teve a ideia, e o festival abordou o Vidi para gravar no telhado de Haifa. Ele conhece os gajos da Coop, o local, o telhado. A companhia, é uma cooperativa, e eles ampliam e fazem serviços de telhado para concertos. Eles têm este armazém e convidam as pessoas para tocarem no telhado. Como sempre fazemos, entramos em contacto com o nosso fotógrafo interno, Yalon, que também é o nosso ex-baterista, e pedimos-lhe que dirigisse o vídeo. Nós fomos para o telhado e tocamos duas músicas, não uma! A música “Nomad” era para o Festival Counter Corona e a segunda música vai ser uma surpresa, que vai ser revelada em algum momento no futuro, não é, Vidi?
Davi: Sim! Foi em cima de uma estação de comboios, no porto de Haifa, o concerto todo! Vocês podem ver o vídeo completo, que na verdade temos comboios por baixo de nós! E foi divertido! Foi divertido de se fazer! Esperamos fazer mais coisas assim no futuro! Pelo menos, até voltarmos à Europa!


M.I. -  E sobre a tournée com os Orphaned Land e os System House33... do que é que vocês se lembram?

Davi: O que me lembro é de ter feito a melhor tournée que já fiz até agora! Eu costumava viajar pela Europa, num carro particular, a dormir no carro e no chão, para chegar até as pessoas e tocar para elas. Acho que esta foi a segunda vez que fizemos isso, com uma excursão completa e um lugar verdadeiro para dormir e comer. E, para mim, isso foi maravilhoso! As pessoas eram maravilhosas! Os System House33 são pessoas muito fixes! Os Orphaned Land são os nossos irmãos de estrada, até agora e estamos muito gratos por eles nos terem levado, porque esta não é uma escolha óbvia... levar a mesma banda duas vezes para a estrada! Estamos muito gratos por isso! A comida era ótima, especificamente em Portugal e França! Nós realmente gostamos! Vou dizer-te uma coisa: em vez de eu contar tudo, vamos dizer-te agora, que temos um documentário sobre essa tournée, que está para ser lançado nos próximos meses! Tem 35 minutos de duração e conta toda a história desde apanhar o avião em Tel Aviv, fazer toda a tournée europeia! Vai sair muito em breve e eu acho que aí, vais ver como nos divertimos e vais poder ver se estás no concerto, vais ver muitos rostos familiares! E, vai ser divertido! 


M.I. -  Citem alguns álbuns que estão a ouvir, que acham que são ótimos e que os fãs deveriam ouvir.

Shai: Agora, nos últimos dias, tenho ouvido Vola, o álbum “Witness”. É um álbum muito bom! Tenho ouvido o último álbum dos Gojira: “Fortitude”! Muito bom! Eu estava a ouvir o último álbum dos Motorcycle, chama-se” Kingdom of Oblivion”. É muito interessante, tipo Hard Rock antiquado, escandinavo, Prog, psicadélico! É muito interessante! Tenho ouvido bastante outra “febre”, na verdade! E sim! Acho que os fãs deveriam ouvir e ir comprá-lo, na sexta-feira, assim que sair!
Davi: Esta semana, estive a ouvir um novo álbum de uma banda israelita chamada Prye For Nothing. É Prye com um “e”! Eles têm o quarto álbum deles a sair agora! Chama-se “Kivshan”! Isto é um excelente técnico Melodic Death Metal e o Defiler pode fazer qualquer coisa com a sua voz, quando se trata de gritos. A composição das músicas é ótima e o conceito é ótimo! Então, deem uma olhada nisso! Prye For Nothing! Estou a ouvir muito o novo álbum de uma rapper, também é de Israel! Acho ótimo! Ela deu um concerto no Jimmy Kimmel e vai abrir os concertos da Kelly Clarkson em breve! Ela é muito original para o som israelita! Acho que as pessoas deveriam ouvir! Além disso, sempre direi este álbum, no geral: “California”, do Sr. Bungle, é uma Bíblia e todos deveriam ouvi-la! Sempre! Estes são os três que quero citar, agora mesmo!


M.I. -  Saudações uma vez mais para Israel. Alguma palavra final para os fãs?

Davi: Sejam gentis e vamo-nos encontrar no concerto! Subam ao palco e pulem mais alto do que eu, por favor!
Shai: Apaguem sempre a luz ao saírem da sala (risos)! Sim! Sejam gentis uns com os outros e com o meio ambiente! Sejam gentis com o ar! Só têm um!

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Entrevista por Raquel Miranda