Os madrilenos Lords of Black formaram-se em 2014 e, desde então, têm vindo a ganhar cada vez mais reconhecimento fora de Espanha. O 5.º álbum da banda, Alchemy of Souls Part II, é a segunda parte de um trabalho que os coloca, definitivamente, no Olimpo do heavy metal europeu. Trata-se de um registo pesado, negro, poderoso mas, também, melódico e progressista, fazendo, algumas vezes, lembrar o Master of Puppets (influência óbvia da banda).
O facto do seu vocalista também pertencer aos Rainbow (sim, a banda de Richie Blackmore, ex-Deep Purple), coloca os Lords of Black ainda mais sob a luz dos holofotes.
Tony Hernando, fundador, compositor e guitarrista, teve a gentileza de responder às nossas questões.
M.I. - Olá! Como estás? Obrigado por responderes às nossas questões! E parabéns pelo novo álbum. Bateria e baixo sólidos, guitarras esmagadoras, vocais incríveis... Este álbum está a preparar-se para se tornar num clássico!
Obrigado! Estamos muito satisfeitos com a forma como o álbum está a ser recebido, mas sempre tivemos receções incríveis a todos os nossos álbuns!
M.I.- Uma breve introdução… Como se juntaram e como surgiu o vosso interesse pelo heavy metal?
A história curta seria de uma criança com um amor e paixão imparáveis pela música e pela guitarra, em particular, que começou com a música clássica e, mais tarde, com o rock, fusão, etc... Mas acho que a música orientada para a guitarra, especialmente o rock e o metal, está lá no fundo do meu coração.
M.I.- Esta obra é uma clara sucessora da anterior, mas mais pesada e escura. Teve a ver com os eventos mais recentes no mundo, principalmente, a pandemia?
Podes apostar! Obviamente, os tempos em que vivemos são dramáticos não só em termos de questões de saúde mas, também, por causa das políticas de medo, controlo, censura, etc. São tempos loucos, com certeza, e eu apenas tentei falar, nessas letras, sobre os meus pensamentos, crenças, questões não resolvidas, medos, etc...
M.I.- Apesar do tom mais sombrio, acreditas que ainda há salvação para a humanidade. Achas, realmente, que vamos superar todas as grandes questões de hoje - intolerância, xenofobia e racismo (muitas vezes dos grandes responsáveis pelas decisões políticas e sociais), alterações climáticas, conflitos de guerra locais (que podem se estender mais globalmente), etc?
Não importa o quão sombrio possamos ser nas nossas músicas e letras, vamos sempre colocar uma mensagem clara de fé e verdadeira convicção na luz e no bem, derrotando as trevas e o mal. Às vezes, podemos soar sombrios, mas não da maneira deprimente que outras bandas fazem. Não gosto disso. A mensagem tem que ser clara como cristal sobre o que é a luz, o que é a escuridão e o mal e nós escolhemos o lado da luz. Eu, realmente, espero que haja superação e que a liberdade e a justiça reinem, mas nós fomos longe demais desta vez, permitindo ser governados e enganados por tantos enganadores... E a maioria das questões que mencionas são criadas, com intenção, por políticos. Todos nós podemos estar uns contra os outros e distraídos enquanto as políticas totalitárias são aplicadas. Este álbum é uma espécie de mensagem de alerta e tudo o que fazemos no nosso dia a dia, determinará o resultado.
M.I.- Ainda nessa nota… Viver num mundo digital, onde as redes sociais reinam, notícias falsas, conteúdos sem substância, vaidade e egos proliferam, onde a maioria dos jovens dão mais importância aos vídeos do TikTok e aos “influenciadores” do YouTube… Caberá a outros atores - músicos, por exemplo - chamar a atenção e aumentar a consciencialização sobre as questões que realmente valem a pena discutir?...
Claro! Acho que nós, os artistas, temos a responsabilidade de dar não só arte para fins de entretenimento, mas com um bom valor, algo para dar esperança, para provocar o pensamento, o entusiasmo, para celebrar a humanidade... Mas é tão triste ver como algo com tanto potencial, como a internet e as redes sociais, acabam por servir propósitos tão niilistas e vazios que, em conjunto com a tecnologia crescente, são o caminho para a desumanização. E quem sabe o que vem a seguir, mas parece-se muito com qualquer um daqueles futuros distópicos ... Como nos romances "1984" ou "Admirável Mundo Novo".
M.I.- De volta ao Alchemy of Souls Part II (e ... Part I)... As canções foram todas escritas ao mesmo tempo e a pensar num “álbum duplo”? As partes “..I” e “… II” não são álbuns conceituais. Mas eles têm um tema comum por detrás deles. O que querem dizer com esses dois álbuns?
Sempre começamos do zero em cada álbum. A primeira parte discute a dualidade e a luta eterna entre o bem e o mal, a luz e as trevas de uma forma mais pessoal, numa luta mais individual em busca de respostas na vida. Nesta segunda parte, esse tópico é ampliado para um contexto global devido aos tempos em que vivemos. Agora, neste álbum, o campo de batalha entre o bem e o mal está na escala das civilizações mundiais, sabes?
M.I.- Pegando algo muito comum no mundo do cinema… “As sequências raramente são tão boas quanto os primeiros”. Mas acho que este álbum está um passo acima do último.
Como escolheram as músicas? Vocês, deliberadamente, separam algumas delas para que pudessem melhorá-las e lançá-las mais tarde porque pensavam que “faltava ali alguma coisa”?
Obrigado! Isso é o que eu penso, mas sei que existem pessoas que irão preferir este ao anterior e vice-versa... E tudo bem! Para nós, o objetivo é fazer álbuns diferentes e, ao mesmo tempo, soar como nós, oferecer lados diferentes, detalhes diferentes e acho que essa parte vai além do que está presente na primeira parte e ambos se complementam muito bem... Um exemplo pessoal: quando eu era criança preferia o Keeper of the Seven Keys Part I, dos Helloween, enquanto os meus amigos preferiam o …Part II ... Nunca concordámos, mas isso é porreiro e natural!
Em relação a como escolhemos as músicas... Basicamente, as músicas ganham vida e tu percebes o que parece melhor ou o que é correto... Embora sempre tentemos colocar o máximo de coisas variadas que podemos, para tentarmos cobrir muitos estilos e temas. Com Lords Of Black, podes encontrar desde uma música “Thrashy” como a No Hero Is Homeless até uma balada apenas com piano e voz.
M.I.- Ainda têm canções inacabadas? Podemos esperar um Alchemy of Souls Part III? Uma trilogia seria incrível.
Bom, lamento dizer que não haverá uma terceira parte... Achei que seria uma saga de dois álbuns...
M.I.- Há uma clara influência dos grandes álbuns de metal clássico dos anos 80 (Metallica, Iron Maiden…). Mas existe alguma influência tirada de bandas mais novas? Quais são as bandas de hoje que mais ouves e de onde acabas tirando algumas ideias?
Diria que somos uma banda de metal moderno na nossa abordagem de som, instrumentação e produção, mas se prestares atenção, verás que o nosso coração pertence a bandas clássicas como os Queen, Thin Lizzy, Dio... Todas aquelas bandas clássicas... Claro Metallica... Diria que o início de Metallica foi ótimo para mim e o Master Of Puppets é, provavelmente, o álbum de metal definitivo de todos os tempos. Por isso, as nossas influências são muito amplas e abertas e nós adoramos continuar, de alguma forma, com a chama de todas essas bandas clássicas. Por isso, também gostamos de adicionar algumas canções bónus de Queen, Dio, Rainbow ... Ou, neste caso, Uriah Heep.
Sobre as novas bandas, não sei... Não gosto muito de nenhuma delas, mas adoro Avatar, Volbeat ...
M.I.- Quem não vos conhece, nunca dirá que são uma banda espanhola, tal é o domínio da escrita em inglês, a proximidade com o som “típico” do heavy metal anglo-saxónico e a voz fenomenal do Ronnie que poderia muito bem ser um contemporâneo de Bruce Dickinson, Dio, Rob Halford e muitas outras lendas. Como conseguem isso?
Desde o início, quando o Ronnie e eu começámos esta banda, apenas sabíamos que faríamos o nosso melhor para tentar chegar ao palco internacional e deixar a música falar. E acho que estamos a conquistar reconhecimento e respeito, uma vez que todos os nossos álbuns são altamente considerados. Por isso, estamos muito orgulhosos e felizes e sempre tentaremos nos superar.
M.I.- Quando podemos esperar o próximo álbum?
Bom, deixa este sincronizar um pouco! (risos). Não sei quando sairá, mas sei que será o nosso melhor!
M.I.- A participação do Ronnie nos Rainbow, inevitavelmente, trouxe mais reconhecimento aos Lords Of Black. A pressão para fazer mais e melhor também aumentou por causa disso?
Nem por isso. Fazemos o que fazemos, em primeiro lugar, para agradar a nós mesmos e agora com nossa crescente base de fãs, para agradá-los e dar-lhes o nosso melhor também. Claro que o Ronnie ao juntar-se com o Ritchie Blackmore, para sua última reencarnação de Rainbow, foi algo grande para o Ronnie e para nós, mas estou feliz em saber que as pessoas gostam das duas coisas: o facto de que Ronnie estar com os Rainbow e facto de haver essa nova banda porreira chamada Lords Of Black.
M.I.- Os vários membros da banda estão envolvidos noutros projetos?
Bom, todos nós estamos ocupados e ativos em projetos aqui e ali, mas diria que gostaríamos de levar isto adiante como uma banda. Obviamente, as coisas são bem diferentes e difíceis agora para os músicos, por isso, envolvemo-nos em várias coisas para poder ganhar a vida.
M.I.- Vocês já abriram para grandes nomes - Gotthard, Helloween, Judas Priest, Ozzy… Tiveram a oportunidade de conviver com eles? Como é conhecer os nossos ídolos? Alguma história engraçada que tenha acontecido com eles?
Normalmente, sim. Sempre existem momentos para conversar um pouco e trocar experiências! Todas essas bandas são ótimas como profissionais e como pessoas e todos nos trataram incrivelmente bem. Lembro-me de ter tido algumas conversas profundas com alguns deles e foi muito fixe.
M.I.- Têm alguma digressão planeada? Vão passar por Portugal?
Vamos ver como corre 2022 e começar a preparar algum concerto. Agora a situação ainda não está bem. Ainda há muitos cancelamentos e mudanças de cronograma e queremos fazer as coisas certas de acordo com a realidade.
M.I. Quase a terminar… Últimas palavras para nossos leitores?
Espero que todos estejam bem e saudáveis e que ouçam Alchemy of Souls e se divirtam!
M.I.- Obrigado por responderes às nossas perguntas. Continuem a evoluindo a vossa música e a lançar álbuns espetaculares como o anterior. Espero vê-los, brevemente, num palco e em Portugal!
Adoraríamos tocar em Portugal! Tudo de bom!
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Entrevista por Ivan Santos