Phase Transition e King Baal são dois nomes que talvez ainda não digam nada à maioria do público português, no entanto adivinha-se uma mudança desse paradigma num futuro próximo. Em comum, têm apenas o facto serem do Porto e serem constituídos por três instrumentistas homens e uma vocalista mulher, mas musicalmente não podiam estar mais distantes.
Os Phase Transition assumem-se como uma banda de Metal Progressivo, cuja influência de Dream Theater é evidente, mas diferenciam-se, sobretudo, através da vocalista e violinista Sofia Beco que, para além da sua bonita voz, usa o violino de forma solística, um pouco diferente daquilo a que estamos habituados a ouvir neste contexto.
Os King Baal, por outro lado, enquadram-se no Metal Sinfónico, combinando o canto lírico da Joana Carvalho, com os guturais do guitarrista Narciso Monteiro. O canto lírico é claramente o ponto de destaque da banda, mas certamente que agradará bastante aos fãs de riffs potentes e agressivos. Ouvintes de Septicflesh, Cradle of Filth ou Epica, mantenham-se atentos a este quarteto!
O concerto aconteceu num Hardclub enquadrado no “novo normal”. O público foi reduzido a cerca de 10% da sala e estava distribuído em mesas de 5 pessoas, sendo, obviamente, obrigatório usar máscara. No entanto, apesar deste cenário tão distante daquele que queremos num concerto de Metal ideal, o ambiente foi tão caloroso como se esperava. Ambas as bandas estão no início da sua carreira, pelo que parte do público era constituído por amigos e família que ajudaram a esquecer a frieza das medidas de segurança provocadas pela pandemia.
Pontualmente às 20h15, entraram em palco os King Baal para o seu primeiro concerto de sempre. Com o palco ornamentado com várias velas e símbolos alusivos ao satanismo, entraram em palco os três instrumentistas da banda – Narciso Monteiro (guitarra e vozes guturais), João Amorim (baixo) e Luís Moreira (bateria) – tocando a faixa instrumental que abre o álbum (“Conjurements”): “Pseudomonarchia Daemonum”. Após os 4 minutos do tema, junta-se a vocalista Joana Carvalho, vergando uma capa e uma máscara, e mostra logo o seu vozeirão no potente verso da “The Grand Judgement”. A partir daqui, embarcam na apresentação do referido álbum de estreia, do qual deixaram apenas dois temas de fora (“Solomon’s Arrival” e “Geradiel”) devido à duração prevista para o seu concerto. Foi-lhes reservada meia hora, mas pareceu ainda menos, devido à intensidade e entrega da banda. O clímax do concerto surgiu no tema “Immortality”, quando a banda já estava “quente” e embalada no espetáculo, e onde foi possível sentir esse maior à vontade, naquele que é o tema mais potente do ponto de vista vocal e melódico. O grupo que, talvez por ter sido a sua estreia ao vivo, parece ainda estar a ganhar conforto em palco, deu um espetáculo irrepreensível do ponto de vista musical. Desde o som da guitarra e do baixo, passando pela precisão rítmica da bateria e a incrível voz lírica que coloria toda a agressividade e intensidade instrumental, tudo contribuiu para que tivessem a melhor estreia em palco possível.
Após um curto intervalo, os Phase Transition entraram em palco na qualidade de headliners. Um a um, os quatro membros da banda – Fernando (bateria), Luís Dias (guitarra), Zé Pereira (baixo) e Sofia Beco (voz e violino) – foram entrando em palco de forma triunfante, cobertos de aplausos e alegria. Tal como os King Baal, os Phase Transition também contam ainda com um único trabalho de estúdio, o EP “Relatively Speaking”, pelo que o apresentaram na íntegra ao público portuense. O conforto em palco foi sempre notório, com o Fernando e a Sofia a puxar muito pelo público, mantendo sempre a intensidade no máximo. A cantora teve uma excelente prestação, no entanto o violino nem sempre foi tão audível como se desejava. Há ainda a destacar o guitarrista Luís Dias que se mostrou um pilar importantíssimo na banda, não só por extrair um som incrível do instrumento, mas também pelos solos deliciosos com que embeleza as músicas. Já bem perto do fim, a banda criou um momento muito bonito quando, no tema “Sand and Sea” convidou o público a juntar-se a eles para cantar uma das melodias da canção.
Foi sem dúvida uma noite inesquecível para ambas as bandas que, em registos diferentes, prometem dar muito que falar.
Texto por Francisco Gomes
Fotografias por Emanuel Ferreira
Agradecimentos: King Baal