Pagan Folk Metal é sem dúvida um género, que tem muitas canções bonitas, tais como “Driekusman”, onde instrumentos tradicionais desempenham um papel importante. “Eigenheid” foi lançado pela Ván Records.
Joris van Gelre (vocalista) não necessita de apresentação e falou connosco sobre o álbum, os convidados, as suas influências e mais... Até nos deu um conselho: abraçar as nossas raízes pagãs.
E sabiam que “Nodfyr” é a palavra holandesa mais antiga?
M.I. - Olá. Espero que estejam bem. Bem-vindos à Metal Imperium. Primeiro de tudo, falemos do nome “Nodfyr”. É a palavra holandesa mais antiga. De que século e cidade é que ela vem? Vem da era pagã?
Olá, Raquel! Obrigado pelo interesse nos :Nodfyr:! A palavra “nodfyr” é mencionada num documento do século 8, chamado “Indiculus superstitionem et paganiarum”. É uma lista de práticas pagãs entre saxões e outras pessoas, e foi copiado a primeira vez ou em Fulda ou Mainz, depois que foi referido na primeira assembleia legislativa cristã, nas partes orientais dos reinados Franquistas, cerca de 744. “Nodfyr” pode ser considerada uma das primeiras palavras (proto-) holandesas). Sir James Frazer escreveu sobre exemplos posteriores da necessidade do ritual do fogo no seu livro: “The Golden Bough”. É uma leitura interessante:
M.I. - “Eigenheid” é o vosso álbum de estreia, que foi lançado este mês (5 de março), pela Ván Records. Vocês tocam Pagan Folk Metal. Foi difícil encontrar uma editora que se encaixasse nas vossas necessidades, musicalmente falando?
Foi fácil, porque tenho trabalhado com a Ván Records com as minhas outras bandas: Bezwering, Knoest e Wederganger (r.i.p.). Estou muito contente com a qualidade do trabalho deles e, felizmente, o dono Sven gostou do que fizemos com os :NODFYR:. Por isso, a escolha foi fácil para ambas partes, acho eu!
M.I. - As vossas letras focam-se principalmente no paganismo germânico, História e natureza de Gelderland. Para os nossos leitores que se interessam por História, podem, por favor, partilhar alguns detalhes que inspiraram estas canções? Quanto tempo durou o paganismo na Holanda?
As canções no álbum “Eigenheid” são todas sobre diferentes elementos que moldam a nossa identidade, como a nossa ascendência, a nossa história, o nosso folclore, a nossa mitologia e o nosso meio. Todas estas coisas definem quem nós somos e como olhamos para o mundo, e são imensamente inspiradoras para nós. Os primeiros missionários chegaram aqui no início do século VII e, a partir daí, o cristianismo foi tomando conta. Houve muita resistência por parte dos saxões e frísios. Por volta do século XI, o cristianismo tornou-se parte da vida das pessoas comuns, mas os rituais pagãos continuaram a ser praticados. Algumas tradições com raízes pagãs, como fogueiras e soprar uma corneta de inverno, sobrevivem até aos dias de hoje. Topónimos, túmulos e dólmens também lembram a era pagã. É bom ver que, hoje em dia, cada vez mais pessoas estão a interessar-se pelas suas raízes pagãs.
M.I. - Para além das guitarras, baixo e bateria, acrescentaram alguns instrumentos tradicionais pagãos, para criar a atmosfera perfeita? Quais?
Em geral, usamos instrumentos musicais contemporâneos para contar a nossa história mas, na canção “Driekusman”, podem-se ouvir instrumentos mais tradicionais. Usamos sapatos de madeira, como instrumento rítmico! A banda Folkcorn, ícones do Folk, dos Países Baixos, desde 1973, juntaram-se a nós para esta música.
M.I. - Podemos ouvir uma forte influência, desde Bathory e Moonsorrow, e podemos ouvir Black e Doom Metal, o que é bom. Que mais bandas vos influenciaram?
Bathory é claro, a maior influência, mas claro Isengard, Drudkh, Vintersorg, Falkenbach, Uriah Heep, Jethro Tull e inúmeros outros tiveram uma influência direta ou indireta no nosso som. O Big Boss dos Root e o Peter Steele dos Type O Negative foram inspiradores para as vozes, mas tento não copiar e prefiro criar o meu próprio estilo.
M.I. - Vocês têm alguns convidados notáveis que são da vossa cidade natal: Folkcorn (com quase 50 anos de atividade), Ridders van Gelre (personalidades dos média regionais Bas and René, que fazem séries e eventos sobre a História e cultura de Gelderland, o que é bastante extraordinário), e Tineke Rosenboom (professora vocal de Joris van Gelre). Como é que escolheram as canções para eles cantarem?
Para a “Gelre, Gelre”, era óbvio para nós que seria perfeito ter os Ridders no coro. Eu costumo participar nos eventos que eles organizam, decidi convidá-los, e eles concordaram! Para a tradicional canção folk “Driekusman”, que é sobre um amor impossível, sabíamos que não havia melhor grupo do que os Folkorn. Não é a primeira vez que eles unem forças com uma banda de metal, já que trabalharam com os Mondvolland, há uns anos. Pessoas muito amáveis, com uma tremenda paixão pelo folk tradicional, foi uma honra tê-los a bordo. Quando estava a gravar as minhas vozes, tivemos algumas ideias para a Tineke. Ela é tão incrível e cantou tudo na hora, sem qualquer preparação necessária. Na canção “Wording”, ela dá a voz aos Norns e pode ser ouvida no coro das outras canções, também.
M.I. - Foram vocês que fizeram toda a masterização, mistura e gravação do álbum?
Mickeal, também dos Bezwering, esteve encarregue da mistura e gravação, juntamente com o nosso teclista, Jasper. O álbum foi masterizado pelo Greg Chandler, dos Esoteric; já trabalhei com ele em vários lançamentos e estou realmente surpreendido como ele consegue sempre elevar as gravações a outro nível.
M.I. - Dez anos passaram e também lançaram um EP: “In Een Andere Tijd”. Quais são as principais diferenças entre o EP e o álbum?
Continuamos a construir o som que desenvolvemos no EP para criar um álbum, que soa mais sólido. Também perguntamos aos rapazes da formação ao vivo, para se unirem a nós na gravação do “Eigenheid”: Nico na bateria, Ernstjan no baixo e MJWW guitarra. Todos deixaram a sua assinatura nas gravações aqui e ali!
M.I. - Os membros da banda também têm outros projetos. O vocalista Joris van Gelre está nos Bezwering e Knoest; o guitarrista Mark, nos Alvenrad; o teclista Jasper Strik, também nos Alvenrad. O Joris uniu-se aos Heidevolk para um concerto, onde cantou canções dos quatro primeiros álbuns. Será que algum dia veremos ambas bandas como bandas suporte, com os :Nodfyr:, enquanto os rapazes fazem uma “Tournée Eigenheid”? Como é que o stream correu e quanto tempo demoraram os preparativos?
Não temos ideia de como será o mundo quando o Covid estiver controlado e se andar em tournée será possível num futuro próximo outra vez… Acho que com os :NODFYR: vamos tentar concentrar-nos em dar concertos mais pequenos, em ambientes mais íntimos, que se adequem um pouco melhor ao nosso estilo. Mas, claro, se houver um grande festival disposto a contratar-nos, ficaremos mais do que felizes em considerá-lo, (risos)! O concerto com a minha antiga banda, Heidevolk, correu bem. Só tivemos quatro ensaios em dois meses, por isso fizemos um set da velha-guarda. Mesmo que não tivéssemos audiência, diverti-me imenso!
M.I. - O que é o conceito do ”Eigenheid” significa para ti e o que é que esperas que este álbum traga para os :Nodfyr:?
O conceito está no meu coração. É sobre (re-)descobrir as bases da nossa identidade e honrá-las. Foi uma jornada muito introspetiva, que reuniu muitas pessoas fixes e estou realmente muito contente por termos criado um álbum, onde podemos colocar tanto de nós mesmos. Espero que este álbum expresse algum do nosso entusiasmo para os tópicos que cantamos, e mesmo até que inspire outros a empreender numa jornada semelhante, porque pode ser muito compensador!
M.I. - Obrigada pela entrevista e muito sucesso para o álbum. Alguma palavra final e lição do paganismo que gostasses de partilhar com os fãs que gostam da cultura?
Obrigado pela entrevista, Raquel! Esperamos ir algum dia a Portugal! (Risos) deixaste a pergunta mais difícil para o fim. Não sou um pregador pagão, mas deixa-me partilhar uma visão pessoal. Eu descobri, ao longo dos anos, que explorar e honrar as tuas raízes pagãs, pode fornecer uma âncora e um senso de direção na vida. Encontrei harmonia com a minha herança, o meu ambiente, comigo próprio e o meu destino e espero que tu também!
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Entrevista por Raquel Miranda