Formados em 2017 na cidade de Minsk na Bielorússia, Egor Shkukto, Roman Komogortsev e Pavel Kozlov mergulharam no gélido synth-pop e new wave dos anos 80, mas voltam à superfície com uma sonoridade autêntica, que se deixa embarcar pela nossa memória, atracando e fazendo-nos reféns das suas criações. Em três anos, Molchat Doma, em russo Молчат Дома apresentaram ao mundo três longas durações, primeiro S Krish Nashih Domov em 2017, Etazhi em 2018 que lhes proporcionou alcance mundial, seguindo-se de Monument, no final do ano de 2020. A Metal Imperium esteve à conversa com Roman Komogortsev sobre o percurso da banda, bem como as suas inspirações e planos futuros.
M.I. - Creio que estão cansados desta pergunta, mas não posso deixar de perguntar como foi a reação dos Molchat Doma quando descobriram que a canção судно (Sudno), do segundo álbum, Этажи (Etazhi), foi um grande hit no Tik Tok? Pessoalmente falando, não há como agradecer a esta rede social por me vos ter introduzido; foi definitivamente uma das melhores descobertas musicais em 2020.
Foi estranho, pois nenhum de nós podia esperar tal reação do público desta composição em particular. Claro que agora já estamos habituados, e tentamos não falar mais sobre esta canção, uma vez que temos canções muito mais poderosas, na nossa opinião.
M.I. - Dirias que o hype em torno desta canção foi o ponto de viragem para alcançar o reconhecimento mundial?
Não, tudo isto é um bónus agradável para nós, já tínhamos um público bastante grande e não graças a esta canção, mas graças à imagem desta composição, ela tornou-se simplesmente maior.
M.I. - O som de Molchat Doma é fácil de identificar: synth-pop, combinado com new wave e pós-punk no seu melhor. Vamos viajar um pouco no tempo; diz-me o que os motivou a criar um grupo com esta sonoridade?
Fomos apanhados por tal som e optámos por fazer este tipo de música, por isso decidimos tentar tocar juntos nesta veia. Nada de sobrenatural.
M.I. - Que álbuns ajudaram a moldar a identidade e estilo de Molchat Doma? Porquê?
Agora nem sequer nos lembramos disso. Definitivamente "Группа Крови" dos Kino. Provavelmente foi nesse momento a referência principal. Também ouvimos muita música da nossa infância - Modern Talking, Depeche Mode, etc. E, claro, tudo foi apoiado pela cena local - Ploho, Звёзды, Утро, Электрофорез, Убийцы
M.I. - No final do ano passado, em novembro, o terceiro álbum "Monument" foi lançado através da Sacred Bones Records. Como compararias este álbum com os lançamentos anteriores?
Foi um passo em frente para nós. Tentámos encontrar um equilíbrio entre o nosso estilo mais desenvolvido e algumas experiências com música pop. Acreditamos que fomos bem-sucedidos, mas será melhor no futuro.
M.I. - Foi um desafio gravar o álbum durante o confinamento? Foi necessário fazer planos diferentes relativamente aos aspetos de gravação e ao lançamento do álbum?
Não houve problemas particulares. Como tal, não tivemos um confinamento. E podíamos encontrar-nos sempre que quiséssemos, mas não o fizemos, porque compreendemos que a situação era terrível (com o vírus) e precisávamos de ficar em casa. Por conseguinte, reunimo-nos apenas para a sessão de gravação do disco. O resto do trabalho foi feito no estúdio de Roman, em casa.
M.I. - Poderias explicar-nos o vosso processo de composição? Trabalham nele juntos, ou está dividido entre o grupo?
Este é um processo bastante pessoal para nós, por isso não falamos sobre ele.
M.I. - Tanto as bandas synth-pop como as pós-punk têm vindo a aumentar na Europa de Leste. Buerak, Siekiera e Ploho têm ganhado exposição em diversos sites e blogs de música em todo o mundo. Dirias que estamos a experienciar uma nova onda destes géneros no Leste?
Do nosso ponto de vista, o auge deste género nas nossas latitudes foi em 2013-14. Agora há um declínio, há poucos artistas realmente bons nestes géneros, mas eles ainda existem, o que é bom. É que um ouvinte estrangeiro acaba de começar a descobrir por si próprio a cena da Europa de Leste, pelo que se pensa que há aqui uma ascensão. De facto, o rap new school reina agora aqui, e é insuportável.
M.I. - Como todos sabemos, é um fenómeno raro quando uma banda que não fala inglês faz sucesso fora do seu próprio país. Molchat Doma entrou em algumas tabelas nos Billboard Charts, incluindo Top Album Sales no nº 97 e World Albums no nº 12. Já pensaram em deixar o russo para trás e começar a cantar em inglês para alcançar um público mais vasto, ou consideram que as pessoas precisam de estar mais familiarizadas com línguas diferentes?
Aqui está uma piada! Nós nem sequer sabíamos disso (risos). Bem, definitivamente não planeamos canções em inglês; não nos sentimos à vontade a cantar canções nessa língua.
M.I. - Qual foi o concerto mais memorável da vossa carreira? Porquê?
Sabes, neste momento difícil, lembramo-nos de cada espetáculo com carinho e saudade, como se estivéssemos numa vida passada.
M.I. - Segundo a minha pesquisa, nunca tocaram em Portugal. Quando esta situação se acalmar, aguardam para atuar no nosso país? Há um punhado de pessoas que gostam da vossa música.
Seria muito bom, uma vez que ainda não chegámos a Portugal. Penso que num futuro próximo tocaremos definitivamente na tua casa!
M.I. - Este ano não está promissor para concertos ao vivo; por isso, quero saber se, para além disso, têm planos para 2021?
Há certamente planos, e em breve saberás mais sobre eles. Mas quem sabe qual será a situação no mundo. Em todo o caso, esperamos que tudo se torne realidade.
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Entrevista por Filipa Lobo Gaspar