Caracterizados pela sua sonoridade Stoner Rock, Miss Lava são uma das bandas mais influentes deste género a nível nacional. Apresentam um percurso extraordinário, passando por grandes festivais da cena underground internacional e recentemente, no dia 15 de janeiro, lançaram a sua quarta longa duração “Doom Machine”.
A Metal Imperium conversou com o guitarrista Rafael Ripper e o vocalista João Filipe sobre o álbum, o estado da cultura em Portugal e algumas curiosidades caricatas ao longo do percurso da banda durante 16 anos.
M.I. - Para os mais distraídos, quem são os Miss Lava?
Rafael: Os Miss Lava são uma banda de heavy rock e stoner de Lisboa, já estamos juntos desde 2005 e começamos na Raging Planet com o EP, depois lançamos o primeiro álbum pela Raging Planet também. Este primeiro álbum teve uma reação excelente, tocamos muito ao vivo, tivemos bons opening slots, por exemplo para o Slash no Coliseu, abrimos para Fu Manchu no Santiago Alquimista. Depois fizemos o nosso segundo álbum e a banda cresceu um pouco mais. Tivemos o opening slot no palco principal do Super Bock Super Rock no dia de Queens of the Stone Age - foi um concerto muito forte para nós. Chegamos ali a um ponto onde tivemos uma mudança no lineup da banda, saiu aquele que era o fundador e produtor da banda que era o Samuel, baixista e entrou o Ricardo. Quando o Ricardo entrou, o primeiro concerto que ele fez foi logo num festival na Alemanha, por isso foi engraçado. Lançamos o nosso terceiro álbum “Sonic Debris” e, nesta altura, já estávamos na Americana Small Stone Records que é considerada uma das editoras referência de Stoner Rock - já existe desde 1995. Com o Sonic Debris começamos a tocar mais ao vivo no exterior, começamos a fazer tournées em Espanha, começamos a ter festivais em Inglaterra, na Alemanha. No ano seguinte lançamos o EP “Dominant Rush”, outra vez pela Ranging Planet, e agora estamos a promover o novo Doom Machine, mais uma vez pela Small Stone Records. Em 15 anos, eu saltei muita coisa, lembro-me que também tivemos uma viagem aos Estados Unidos em que tocamos no Whisky A Go-Go em LA, fizemos um videoclipe no deserto. Enfim, temos muita história para contar e, às vezes, é difícil encaixar tudo assim numa única frase.
M.I. - Falando destes 16 anos de carreira, marcados por uma grande influência no universo stoner e heavy rock vocês têm, de certo modo, servido de modelo para toda uma ascensão da comunidade stoner em Portugal. Como é que reagem a isto? Consideram que o Stoner Rock está bem de saúde no país?
Rafael: Se calhar aqui temos visões diferentes, não sei… Acho que já houve uma fase em que o Stoner Rock estava mais na moda e, se calhar, havia mais bandas do que há agora. De qualquer forma, eu acho que a cena nacional está boa no geral, seja Stoner Rock ou não.
João: Eu acho que há bandas melhores ou tão boas quanto as bandas lá de fora, não é? Mas sim, é como o Rafa diz, o Stoner em Portugal perdeu um bocado a atenção que tinha há 10 anos, por exemplo. Ainda respondendo à tua pergunta, acho que sim, que ainda temos alguma importância nesse papel, porque eu lembro-me de que nós quando aparecemos havia os Dollar Llama a fazer um som assim mais dentro do universo do Stoner Rock, depois começaram a aparecer, não se se foi devido a nós ou não, mais bandas nessa onda.
M.I. - Para começarem o ano 2021 lançaram o álbum “Doom Machine” pelo qual vos dou os parabéns, porque está muito bom, mesmo! Assume-se aqui um amadurecimento e um tom mais dark e mais particular, o que é para vocês esta “doom machine”?
João: Como toda a gente sabe, houve aí uns acontecimentos brutais no seio da banda e no seio familiar e isso mexeu connosco, claro que isso depois reflete-se um pouco na música. Falas desse amadurecimento... é normal que uma banda que lança o quarto álbum não é a mesma coisa que quando lança o primeiro. Há ali um amadurecimento em termos técnicos e mesmo em termos de referências, nós temos de nos reinventar um pouco, mas obviamente quando uma brutalidade dessas nos acontece, isso faz-nos pensar, e o Doom Machine nasce a partir disso, é um pensamento do que andamos aqui a fazer e passámos as emoções todas para o nosso disco. Agora com a pandemia, se calhar, é um pouco mais relevante do que há um ano se as pessoas o fossem ouvir. Neste momento, eu sinto que estamos todos um pouco no mesmo comprimento de onda, onde um disco destes consegue falar mais individualmente a cada um do que se tivesse sido há um ano.
M.I. - Voltando atrás ao que estavas as referir sobre aquilo que aconteceu nas vossas vidas, todas as infelicidades... Sentem que a composição dos temas, e este álbum como um todo, vos ajudou de alguma forma a tornar mais suportável aquilo que estavam e estão a vivenciar?
Rafael: Sim, se calhar a música para quem faz música funciona sempre aqui como um... não sei se é um escape, se é uma tradução daquilo que estás a sentir, não sei o que é, não sei muito bem como verbalizar isso. Agora, o que eu sinto neste álbum nunca tinha sentido... Primeiro nunca tinha passado por aquilo que passei, que nós passámos em conjunto, são emoções à flor da pele só que depois chegam. Imagina, é quase como se tivesses uma ligação direta entre aquilo que é o teu sentimento e o teu instrumento ou música que sai. Cada riff que saía, cada ambiente de música que era criado, tem uma relação direta com o estado emocional no qual nos inseria-mos, digamos assim. Por isso, acho que tudo aquilo que passámos emocionalmente, e que ainda hoje passamos e estamos todos a aprender viver com isso, teve um reflexo direto na música, mesmo nas músicas que já estavam feitas antes do António falecer, como as músicas foram sendo muito trabalhadas, muito alteradas e muito mexidas, etc, acho que isso também acabou por acontecer. Acho que até pode ter tido ali um rastilho, para este pensamento das letras do João e do conceito do Doom Machine, se calhar por o João pensar quão efémero é isto tudo, não é? “O que é que nós estamos aqui a fazer?”. Acho que é por aí...
João: Obviamente que uma banda, quando passa por adversidades, isso transforma-se em sumo, em conteúdo. Por exemplo, os Metallica nos primeiros anos andavam a dormir no chão e os álbuns saíam com energia, com raiva. Agora, quando são milionários e não passam dificuldades nenhumas, vão escrever o quê? É difícil passar aquela emoção tão verdadeira, e o que nós passámos são emoções tão verdadeiras que depois isso reflete-se um bocadinho no disco. Não acho que seja um amadurecimento por aí além, tem mais a ver com a nossa vivência ou com a experiência que passámos.
M.I. - Com as condições vividas atualmente, como é que decorreu a gravação do álbum?
Rafael: O disco já estava gravado antes. O disco foi gravado no Verão de 2019, a parte instrumental foi gravada primeiro, depois a voz, que ainda teve alguns ajustes em agosto, não foi, João?
João: Ya!
Rafael: O que a pandemia fez foi atrasar bastante o lançamento do disco. O disco estava pronto para aí no início do ano, já masterizado, etc... Poderia ter saído durante o ano, mas com a pandemia atrasou tudo, a editora preferiu atrasar para agora e é por isso que o disco sai agora.
M.I. - Se a memória não me falha, é a segunda vez que vocês lançam um álbum pela editora Small Stone Records, certo?
Rafael: É o terceiro. O segundo, que é o Red Supergiant, saiu primeiro pela Raging Planet e depois a Small Stone apanhou aquilo e lançou mundialmente, ou seja, a primeira edição foi a Red Supergiant, depois o Sonic Debris já foi todo escrito e lançado só por eles, tal como este.
João: O disco pela Small Stone foi remisturado, ou seja, a mistura da Raging Planet é diferente da Small Stone.
M.I. - E então como é que se deu esta união entre vocês e a Small Stone Records?
Rafael: No início, nós somos uma banda igual às outras todas. Mandávamos a nossa primeira demo para toda a gente, quando saiu o primeiro EP, mandávamos o EP para as editoras todas, quando saiu o primeiro álbum, igual, e por aí fora... E a verdade é que o primeiro disco teve uma aceitação boa, teve boas críticas também no estrangeiro e nós entrámos no radar deles. Quando fizemos o segundo disco fomos sempre passando as notícias da banda para a editora, etc... Quando saiu o segundo disco, eles começaram a comentar mais ativamente nas redes sociais a dizer que era muito bom, etc... E há um dia em que cai um email a dizer que querem assinar connosco, queriam fazer o lançamento mundial do disco, ou seja, nós aparecemos no radar deles, as coisas foram correndo bem, eles foram ficando satisfeitos, devíamos ir preenchendo a check list deles, imagino eu, e eles enviaram um email para a gente assinar.
M.I. - Como é que tem sido o feedback do público agora com o novo álbum ?
Rafael: Nós já tivemos no passado feedback muito bom, mas acho que a gente nunca teve um feedback assim tão forte e tão unânime, se quiseres. Por um lado, a gente sabe o trabalho que tem, nós investimos muito naquele trabalho, é um disco muito importante para nós e sabemos o valor daquilo que está ali. Mas, sinceramente, é sempre surpreendente e ficas assim com o coração cheio de ler as coisas que as pessoas escrevem, de ver as partilhas que as pessoas fazem, é sempre muito gratificante e só temos a agradecer.
M.I. - Vocês consideram que lançar um álbum numa altura de pandemia e confinamento leva as pessoas a estarem mais atentas ao vosso trabalho, porque acabam por passar mais tempo em casa?
João: Acho que pode passar por aí, sim, e também na altura em que lançámos ainda não se vê assim muitos lançamentos novos relevantes. Apareceram 3 ou 4 bandas, mas assim daquelas bandas mais conhecidas que despertem a atenção tipo uns Tool ou uns Slipknot, aquelas bandas que tiram a atenção de tudo o resto que sai durante um mês ou dois. Então, acho que o facto de ainda não ter havido assim um lançamento muito forte, muito mediático, também faz com que as pessoas tenham mais tempo para as bandas mais pequenas. E sim, o facto de estarem mais tempo em casa ajuda, muita gente agora anda a ouvir discos e a ler letras, que era uma coisa que já não faziam há não sei quantos anos, porque ouvia no carro ou na rua, agora não, estão em casa, têm tempo...
M.I. - Vocês são uma banda que está habituada à vida de estrada, atuam em diversos locais como já referiram no início da entrevista, como banda e como artistas do que é que sentem mais saudades?
João: É precisamente isso, precisamente tocar e conviver com outras bandas! Nós fazemos sempre muitos amigos na estrada e, por exemplo, sempre que vamos ao Algarve, no Bafo de Baco temos lá o Bob... ou seja, somos muito bem recebidos, e nós sentimos falta porque são paragens que fazemos de 2 em 2 anos lá, ou mesmo aqui em Lisboa, há montes de sítios que são paragens obrigatórias que servem para rever amigos, para tocar com bandas que nós adoramos como pessoas e como banda também. Portanto, eu sinto muita falta de conviver com essa gente toda porque, para mim, o que Miss Lava mais me trouxe foi isso, foi estas amizades que ganhámos na estrada.
Rafael: Eu concordo, estava a ouvir o João e estava a pensar: acho que foi para aí o nosso terceiro concerto, num auditório qualquer no Seixal, estavam para aí 3 ou 4 pessoas a ver e depois havia mais 5 pessoas que eram os Dollar Llama e, de repente, ficámos super amigos deles, e hoje em dia quem fez os nossos últimos 3 vídeos foi o Zé, baixista de Dollar Llama, e estamos sempre a falar e a trocar ideias. E realmente acho que isso é o que fica. É o sentimento de amizade, da malta que vais conhecendo nos concertos, a malta das outras bandas. Lembro-me também do Paulinho (baterista dos Besta, WATD, Sinistro), tenho falado imenso com ele agora, desde que ele leu umas das nossas últimas entrevistas e, depois, ouviu o álbum. Sabes, às vezes, são pessoas que não vemos tanto na estrada, se calhar estamos um ano ou mais sem nos falarmos, mas quando vamos para a estrada e estamos juntos outra vez, é quase como se nunca tivéssemos deixado de estar juntos.
Rafael: Sim, eu acho que sim! Eu já toquei numa banda antes de Miss Lava, com malta dos The Quartet of Woah - agora com esta coisa dos concertos por streaming – Miss Lava ainda não fez isso, mas eles já fizeram. Então, no outro dia, já estava a falar com o Rui por mensagem a perguntar como é que fez, quem é que fez, etc... E ele já estava a mandar o contacto da pessoa que tinha feito e a oferecer a sala de ensaios. Realmente tenho muitas saudades de estar com o pessoal e beber uma cerveja.
João: Há montes de gente com quem criámos amizade aí pela estrada e sentimos falta de estar com essas pessoas.
M.I. - Queria que me contassem alguma história caricata de momentos de estrada, na tour, algo que vocês queiram partilhar para vos relembrar os bons tempos que passaram.
João: Conta aí aquela história dos três concertos.
Rafael: Ainda não tínhamos lançado o primeiro álbum, fomos tocar ao Algarve e o promotor era o Rafael Rodrigues (M.E.D.O), numa espécie de mini-tour de fim de semana com outras bandas aqui de cima, e há um dia que ele nos diz assim: “Vocês conseguem tocar 3 datas num só dia?”, e eu “mas como assim?”, “Então, à tarde vocês tocam na Fnac, depois à noite vão fechar a um bar e pelo meio vão tocar a um festival de hardcore em Armação de Pera”, e a gente “Tá bem”, e assim foi, só que todo o dia foi muito ‘fora’... Na Fnac estávamos a montar as coisas, virámo-nos e estamos de frente à secção das crianças, às 4 e tal da tarde, mal começamos a fazer som veio logo pessoal dizer que tínhamos que tocar um bocadinho mais baixo, etc... Às 21:30/22h estávamos a tocar no festival de hardcore e a luz vai abaixo, depois voltou e continuámos. O concerto foi bom, mas sentimos sempre aquela distância do público do hardcore, ainda por cima não tínhamos lançado nenhum álbum, não tínhamos nada... Tipo “Quem são estes gajos que caíram aqui de paraquedas com este estilo de música?”, ainda por cima não havia muitas bandas a tocar aquele estilo na altura. E vamos para o último concerto que é na Guia, fomos ver e era num sítio chamado Teodósio, vimos que era um bar, quando parámos o carro à frente do bar vimos que era um sítio de frangos da Guia, hoje em dia já sei que o Teodósio é o melhor restaurante de frangos na Guia, ou dos mais conhecidos. Era para tocar no bar adjacente ao restaurante e estava uma banda a tocar no chão sem palco, sem nada, ao lado do balcão e estava tudo vazio. Quando essa banda acabou e nós começámos a tocar pensámos “Bem, não interessa se está aqui gente ou não, nós demos tudo o que tínhamos e o que não tínhamos”, ainda por cima tínhamos aquele sentimento de estar completamente despido, estávamos no chão, ao pé do balcão onde só estavam uns tipos a beber a sua aguardente a seguir ao jantar e nem estão ali por causa da música... Mas, de repente, aquilo pegou fogo e foi um grande concerto, nós tínhamos um setlist com 7 ou 8 músicas que era tudo o que a gente tinha e tivemos que tocar o mesmo set 3 vezes. De repente, aparece um tipo que tem uma iguana no bolso do casaco, saca da iguana e põe-na na cabeça do João, há uma foto com o João a cantar no bar com a iguana em cima da cabeça (risos). Há muitas outras histórias mas esse foi um dia muito engraçado, um dia inesquecível! Tenho uma memória tão boa deste concerto como tenho de grandes concertos como o do Slash, no Coliseu, que foi o oposto. Há muitas histórias em 16 anos (risos).
João: Umas mais picantes que outras (risos).
Rafael: Também há as guerras, as discussões.
M.I. - Pois, é um mix (risos).
Rafael: Sabes, no outro dia, estávamos a falar disso e é um bocadinho como ter uma família, não quero dar aqui o sentido cliché da coisa, mas os anos vão passando e tu sabes que voltas sempre a casa... a casa é a banda e isso sabe muito bem.
M.I. - Falando do estado da cultura nacional, este ano tem sido marcado pela falta de apoio do governo, entre concertos cancelados, bares a fechar… Acham que o setor criativo pode estar de certo modo condicionado pela falta de medidas eficazes do governo?
João: Sim, mais do que condicionado acho que pode estar condenado! Acho que há muitas coisas que não vão voltar a ser, como salas que vão fechar, pessoas que vão entrar em falência, promotores que vão entrar em falência. Ou seja, eu acho que vai haver um retrocesso bastante grande em Portugal, daquele tempo em que não vinha cá banda nenhuma, não acontecia nada, não havia concertos. Eu acho que corremos um risco sério de retroceder aí uns 15/20 anos, porque é insustentável ter uma casa de espetáculos em que pagas empregados, pagas luz, pagas tudo e não puderes fazer nada, nem vender uma cerveja, obviamente que isso vai ter consequências. Eles não vão poder estar sempre a fazer ações na internet para o pessoal acabar por ajudar. Isto é transversal a todas as partes da cultura em Portugal, acho que corremos mesmo o risco de perder um património cultural muito grande em Portugal, das salas de teatro, cinema, tudo... Acho que vai ser muito complicado dar a volta quando a pandemia acabar e vamos lá ver quando é que acaba...
M.I. - Até porque já estamos a sentir esta rutura, não é? Mesmo os técnicos de som, produtores técnicos, organizadores de eventos... É toda uma comunidade enorme que está a passar dificuldades e a ajuda não se vê.
João: Sim, e músicos também. Há muitos músicos para quem esta é a única forma de sustento. Felizmente, nós não passamos por isso, cada um tem o seu emprego, mas sim, é como eu digo, podemos estar condenados, podemos nunca recuperar ou demorar bastante tempo a recuperar. Não acredito que daqui a 2 ou 3 anos haja a normalidade de concertos e consigamos ir tocar àquele sítio ou outro, acho que de 20 sítios vão sobreviver 1 ou 2, que são os que são apoiados de outra forma, ou que são tão importantes na comunidade que se calhar vão receber outro tipo de apoio, mas o resto vai desaparecer, não tenho dúvidas!
M.I. - E vendo que, em Portugal, grande parte das bandas que estão a crescer se assumem muitas vezes nas venues pequenas e bares, que agora foram afetados pela pandemia, isto vai trazer grandes consequências ao nível da música underground em Portugal, concordam?
Rafael: Sim, onde é que fica o circuito, não é? Qual é o circuito que vai haver para poderes ir tocar? Não faço ideia de como vai ser, tenho muita pena que não haja medidas efetivamente eficazes para este setor que é um setor que tem caraterísticas muito diferentes da maior parte dos setores, tem muita gente a recibos verdes, tem muitos freelancers, ou seja, torna-se ainda mais difícil. As pessoas sempre estiveram sem rede e agora era preciso mesmo um apoio diferenciado. Se o estado não consegue dar, tem que partir também das empresas do setor privado, das marcas, fazerem algo mais pelo setor.
João: É incompreensível que haja este tipo de decisões e apoiarem certos ramos de empresas e depois outros são completamente esquecidos, acho que isto é incompreensível, é um absurdo.
Rafael: Se calhar, está na hora das marcas pensarem em apoios um bocadinho mais relevantes e pertinentes à cultura, não em fazer ações estapafúrdias, dar brindes e por aí fora... O que muitas vezes acontece, não é?
M.I. - Mesmo até os programas de televisão, em vez de apostarem sempre no mesmo estilo de música, começarem também a diversificar um pouco.
Rafael: Sem dúvida! Podiam dar palco à música nova, mas enfim...
M.I. - É algo que assistimos muito mais na RTP também agora com o Elétrico e tudo mais, mas mesmo assim as bandas que estão a ser representadas nesse tipo de programas são sempre grandes.
Rafael: Claro! Mas a maior parte da imprensa que já tem algum nome em Portugal, ou melhor dizendo, da imprensa de cultura ou de música que não é especializada, para o nosso género eles não querem saber, até devem apagar logo os emails, não faço ideia... Já tivemos apoio no passado quando o Stoner estava na moda, hoje em dia esquece, se é para falarem de alguma banda, ou falam dos Moonspell que estão a lançar agora um disco novo e a Blitz fala dos Moonspell, e de resto não querem saber, não têm interesse nenhum! E é pena, porque esses media também poderiam ser importantes para que efetivamente não se perdesse aqui o estímulo à criação, a novas bandas aparecerem e às novas bandas que aparecem terem um espaço onde mostrar o que fazem, seja ou vivo ou não.
M.I. - Uma vez que as projeções para o futuro são bastante incertas e vão ter que ser colocadas em espera, quais são os vossos objetivos enquanto banda para este ano?
João: O nosso objetivo passa por promover da forma possível este disco. Há umas marcações para o Verão mas, provavelmente, vai ser tudo adiado ou cancelado, mas passa por tentar chegar ao público de outra forma, já que não estamos na estrada, tentar promover ao máximo nas redes sociais, mas sentimo-nos condicionados e, se calhar, quando lançarmos o próximo disco fazemos uma tour de apresentação dos dois discos e não apenas de um, não sei...
Rafael: Eu gostava que estivéssemos cada vez mais presentes nos festivais de Stoner Rock por essa Europa fora, gostava que este disco fosse mais um passo nesse sentido para nós estarmos cada vez mais dentro do circuito europeu de Stoner Rock.
M.I. - Qual é o festival em que mais anseiam tocar, o vosso sonho?
João: Nós já tocamos no Desertfest em Londres, gostava de um dia tocar nos Desertfests todos que há por aí, Estados Unidos, internacionalizarmo-nos um bocadinho mais... Também curtia ir para a América do Sul, também deve ser bastante interessante, mas como o Rafa diz, gostava de andar aí pelos circuitos principais.
Entrevista por Filipa Lobo Gaspar