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Entrevista aos FireForce

Não é todos os dias que se pode falar com uma banda que diz ter inventado o seu próprio subgénero: Combat Metal! Falámos com Erwin Suetens, o guitarrista e fundador dos belgas FireForce, que nos explicou, exatamente, o que é este tipo de música e onde vai buscar inspiração para tal.

No ano em que celebra uma década de existência, a banda lança o seu 4.º longa-duração, Rage of War, provando que o metal europeu, com influências mais clássicas, está vivo e recomenda-se.

M.I. - Olá! Tudo bem? Obrigado por responderes às nossas questões!

Sem problemas! Eu é que tenho de agradecer!


M.I. – Antes de mais, parabéns pelo novo álbum! Como tem sido a receção?

Até agora, muito boa. A maioria das pessoas pensa que este é o nosso melhor álbum. Estou muito feliz que tenha funcionado porque colocámos muitos esforços nisto.


M.I. - Qual é o tema principal do álbum? O que abordam?

Como sempre, os temas principais são históricos, relacionados com eventos militares ao longo dos tempos, que desempenharam um papel importante na evolução de nossa sociedade. Às vezes, uma pequena ação “sem importância”  de uma pessoa pode ter grandes consequências - e às vezes o resultado de uma batalha, ou mesmo de uma guerra, pode ser alterado.


M.I. - Com todas as restrições sociais do ano passado, como foi o processo de gravação?

Bem, desta vez fizemos as gravações instrumentais na Bélgica, nos estúdios Breeze Inc. do Bob Briessinck. Ele é o nosso engenheiro de som e, felizmente, estava disponível. Ele fez um excelente trabalho na produção dessa parte instrumental. O coaching vocal é algo diferente, e é por isso que fomos para a Alemanha, novamente, para gravar as vozes nos estúdios Prophecy e Music Factory onde gravámos todos os nossos álbuns anteriores. A Lia, que é uma grande amiga minha, sabe treinar um cantor como nenhuma outra. Afinal, era a primeira vez que o Matt gravava vozes para uma banda de metal. Por isso, decidimos que seria a melhor escolha. E como o Matt estava ansioso para aprender e aberto a mudanças, foi um sucesso! A mistura final foi feita pelo Henrik Udd, na Suécia, que é famoso pelos seus trabalhos com “Hammerfall”, “Powerwolf”, “At The Gates” e “Firewind”, entre outros.

No dia em que deixamos o estúdio na Alemanha, em março de 2020, após a gravação das vozes, foi o mesmo dia em que a Bélgica e a França iniciaram os seus primeiros confinamentos. Chegámos a tempo aos nossos países. Entre os dois bloqueios, gravámos os nossos vídeos para o álbum e as músicas extras. Quando isso foi feito, o segundo bloqueio começou. Tivemos sorte naquele momento em que tomámos decisões rapidamente. O maior problema em que nos encontramos agora, é o facto de ser proibido fazer concertos. Por isso, quando essa pandemia acabar, essa é a primeira coisa que queremos fazer.


M.I. - Este álbum marca os 10 anos desde o vosso álbum de estreia (embora tenham o EP de 2009). Como foi esta viagem?

Acidentada. Houve muitas mudanças na formação ao longo dos anos. Algumas pessoas ficaram pouco tempo, outras muito. Mudanças de emprego, saúde, estar na banda apenas por causa do ego, as esposas a pedir mais atenção, etc... Foram todos fatores pelas quais as pessoas saíram. Mas, no final, estou feliz por ainda ter amigos para a vida, por causa desta experiência.
Fizemos muitos concertos, grandes e pequenos, fizemos algumas digressões e sempre fizemos o nosso melhor para dar um show que as pessoas não esquecerão. Fizemos boas aberturas, fomos cabeças de cartaz e realizámos alguns vídeos excelentes.
Mudámos de editora três vezes. Quando os objetivos não são os mesmos, tens de te separar. E encontrar algo melhor.
Então, sim, essa viagem tem sido difícil até agora.


M.I. - Quais são as grandes diferenças entre o primeiro álbum e Rage Of War? Em que aspetos achas que evoluíram mais?

Para ser honesto, eu nem "tentei evoluir". Eu apenas escrevi como sempre fiz. Acho que existe um processo natural de “evolução”, porque toda a gente diz que existe uma diferença, (risos)!
Para o novo álbum, acho que é a combinação de gravar os instrumentos num estúdio diferente, o Matt como novo cantor fantástico e o Serge e o Christophe que também deram o seu melhor. Todos são peças do quebra-cabeças que constitui Fireforce.
As canções de March On foram bastante adaptadas instrumentalmente em estúdio, principalmente, por influência da Lia, a nossa produtora. O mesmo pode ser dito de Deathbringer. O álbum Annihilate The Evil estava mais avançado quando entrámos em estúdio, por isso, menos mudanças foram feitas. E para Rage Of War nenhuma mudança foi feita pela Lia.
A única coisa que permaneceu igual em todos os quatro álbuns, foi o treino vocal da Lia. Com uma grande diferença: os três primeiros álbuns precisaram de quase 14 dias para fazer os vocais e o Matt só precisou de seis. Porque o Matt estava ansioso para aprender e estava aberto a mudanças e fez um ótimo trabalho na adaptação das suas coisas, tornou-se um sucesso!


M.I.- Chamam ao vosso estilo de “Combat Metal”. O que é isso, exatamente?

Combat metal ... É uma combinação de Thrash e Power Metal com temas históricos e relacionados com guerra. No início, não se chamava assim. Só depois de uma revista escrever sobre o nosso álbum March On: “Se algum dia houver um género que se possa chamar de Combat Metal, Fireforce irá abrir esse caminho!”. Aí, tive a ideia de escrever uma canção “Combat Metal ” e, daquele momento em diante, o nosso género foi criado, (risos)!


M.I. - De onde vem esse interesse pelas batalhas e pela guerra em geral?

Bem, eu sou um nerd em história. Em cada esquina, encontro algo histórico de interessante. Quando era criança, o meu falecido pai levava-me sempre a todos os tipos de museus e ele tinha uma biblioteca inteira com centenas de livros sobre história. Podias encontrar-me lá o tempo todo. Se não aprendermos com a história, os mesmos erros serão cometidos continuamente. Acho que histórias de pessoas que mudaram a história sozinhas, são muito interessantes. Às vezes, os seus grandes feitos mudavam o resultado de uma batalha, enquanto outros faziam algo estúpido e eram esquecidos. Histórias como essas, intrigam-me. Depois, há a grosseria e a crueldade de como alguns líderes tratam o seu povo... Muitas pessoas, no mundo inteiro, ainda hoje têm de suportar a tirania.
Agora, onde quer que vá, mesmo com a banda, procuro sempre algo interessante para ver no bairro onde estamos ou nas cidades pelas quais passamos. Pode ser uma fortaleza, alguns bunkers, um museu ou um antigo campo de batalha. Às vezes, sinto-me como o General Patton olhando para antigos campos de batalha, (risos)!
Por exemplo, a música “108-118”, é sobre o Kursk. 108 metros de profundidade, 118 vidas perdidas. Poderia ter sido menos, se os soviéticos tivessem permitido a ajuda de outros países, mas não... Ou “A Price To Pay”, refere-se a um tweet de uma pessoa (Presidente dos Estados Unidos da América) que todos nós conhecemos, em resposta a um ataque químico... Os culpados têm que pagar um preço por isso, e depois “eles” vão dizer "vão pagar um preço por isso"... e assim por diante... Assim nunca mais acaba. Haverá sempre um preço a pagar por alguém...
“Running” é sobre os guerreiros Zulu que podiam correr distâncias muito longas e ainda ter energia suficiente para atacar os seus inimigos. Incrível... Se estás curioso sobre as outras músicas, lê as letras dos álbuns! (risos)!
E não, nem todas as minhas canções são sobre guerra e batalha. No primeiro álbum, March On há uma canção sobre abuso infantil, "The Only Way". Mas, mesmo assim, é sobre medo, crueldade e raiva. Isso também é uma espécie de guerra ...


M.I. - Nas várias músicas, existem vários detalhes históricos que são muito pouco conhecidos. Onde consegues essas referências? Como as descobres?

Escrevo letras sobre as coisas que me “estimulam”. Seja na Idade Média, nas guerras mundiais, nos tempos modernos. Pode ser um pequeno objeto ou uma grande batalha. Se algo chamar a minha atenção, num museu, a ler um livro ou revista, a ver documentários ou filmes, vou pesquisar para estar totalmente informado e escrever as coisas corretas. Às vezes, apenas uma frase é suficiente.
Por exemplo, quando assisti ao filme “The Railway Man” nunca tive a intenção de me sentar, inspirar-me e escrever uma música sobre isso. Mas quando ouvi uma das personagens dizer “Nós somos apenas um exército de fantasmas”,  tive imediatamente a música na minha mente... O gatilho certo no momento certo e BANG!


M.I. - Ao tocar nestes temas e em momentos sensíveis e extremistas, como os que vivemos, não tens medo de, por um lado, ser acusado de promover violência e, por outro lado, relativizar eventos importantes?

Não, porque olho sempre de um ponto de vista neutro. Procuro a história, não uma posição política. E não promovo violência, pelo contrário, descrevo o horror, o sofrimento... Como um aviso...


M.I. - Vocês têm, claramente, influências do NWOBHM e outras bandas como Accept ou Running Wild... Já tiveram a oportunidade de dividir o palco com alguns dos vossos ídolos?

Bem, sim, tocámos no PPM Fest, em Mons, duas vezes, em 2013 e 2014, havia muitas dessas bandas por lá. Também dividimos palcos com várias bandas dos meus ídolos que agora são grandes amigos. Por exemplo, “Tygers Of Pan tang”, “Savage”…


M.I. – Este é também o 1º álbum com o Matt. O que ele trouxe de novo para a banda?

Para começar, o Matt sabe sobre o que está a cantar, pois também se interessa por história. Isso fá-lo cantar as músicas com o “sentimento” de que precisam. Consegues, realmente, ouvir que ele acredita naquilo que está a cantar. Ele tem uma voz calorosa – consegues sentir a “dor”, o “medo”, a “raiva”. Ele é um ótimo músico! E, por isso, preenche a lacuna no que eu acredito que sempre foi o elo mais fraco da banda. Sentimentos…


M.I. - Mudar as vozes é algo que pode ser crítico e trazer um som totalmente diferente para a música. Nem que seja por ser o ponto com o qual os fãs mais se identificam. Como foi o processo de seleção? Foi difícil?

Quando o Søren e o Rooky (Marcus Forstbauer) se juntaram à banda em 2018, foi um salto gigante e foi por isso que gravámos o EP The Iron Brigade. No entanto, quando o Søren mudou de emprego, não conseguiu encontrar tempo para viajar para o estrangeiro para concertos. Eu respeito isso. Ele estava lá quando precisámos dele e é por isso que merece a minha gratidão eterna. O mesmo vale para o Rooky. Depois de uma mudança de emprego, as coisas ficaram muito mais difíceis para ele. Ele também está profissionalmente e contratualmente envolvido noutros projetos, por isso, a falta de tempo também foi um problema. Ele não estava disponível, mas nós os dois conhecíamos o Matt como guitarrista, e foi assim que ele se envolveu. Passado um tempo, percebemos que o Matt também era um ótimo cantor. Tentámos, e o resto é história!


M.I. - O Christophe voltou, após estar ausente no último álbum. Já têm um baterista a tempo inteiro? Este foi outro problema que sempre tiveram.

É um problema que acontece sempre, não só com bateristas, (risos). Mas ele voltou e é um membro permanente, novamente...


M.I. - Este é também o primeiro álbum com a Rock Of Angels. Porque mudaram de editora?

Como disse antes, assim que houver um problema e a cooperação não for mais frutífera, é hora de explorar novas praias e conquistar novas ilhas ...


M.I. - Como é lançar um álbum agora, sabendo que não haverá concertos tão cedo? Consideraram adiar o lançamento? Qual é a estratégia de promoção?

O meu desejo mais profundo é que Rage Of War não afunde com esta loucura da Covid-19... Quando podemos apoiar o álbum ao vivo? Não tenho a menor ideia... Mas queremos mostrar ao mundo que Fireforce está vivo e forte, que todas as peças do quebra-cabeça se encaixaram e que há 4 músicos dedicados no palco - metal para sempre! É por isso que, agora, estamos mais ativos nas redes sociais, para manter as pessoas focadas na banda.


M.I. - Ainda é cedo, mas… Já têm o próximo álbum em mente?

(Risos) sim, já estamos a escrever, embora lentamente, novas canções. Ainda temos tempo…


M.I. - Ainda têm empregos a tempo inteiro? O que fazem além da música?

Todos nós temos empregos regulares a tempo inteiro. É impossível viver apenas da música e não apenas nestes tempos do Corona. Sou supervisor de turno numa grande empresa química, o Serge trabalha numa gráfica, o Christophe é funcionário de uma fábrica de medicamentos e o Matt é um conselheiro de jovens que irão trabalhar no setor automóvel.


M.I. - Quase a terminar… Últimas palavras para os nossos leitores?

Obrigado pelo convite e obrigado pelo apoio aos Fireforce.
Quando tiverem um sonho, nunca deixem ninguém vos tentar tirar esse sonho! Fiquem seguros, sejam metal!

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Entrevista por Ivan Santos