2020 tem sido um ano bastante estranho com concertos, festivais e tournées canceladas. Mas algumas bandas mantiveram a criatividade a fluir e reservaram o “tempo livre” para lançar novas músicas. Os Soilwork são uma dessas bandas. Em 2019 lançaram “Verkligheten” e, no dia 4 de dezembro, o seu novo EP “A Whisp of the Atlantic” viu a luz do dia. Para nos contar todos os detalhes sobre os Soilwork e até mesmo sobre os The Night Flight Orchestra, o David Andersson esteve à conversa com a Metal Imperium.
M.I. - Em primeiro lugar, muito obrigado pelo teu tempo. Parabéns pelo novo EP! Vamos começar cronologicamente... No ano passado, o Dirk Verbeuren deixou os Soilwork para se juntar aos Megadeth. Quero dizer, vocês são músicos profissionais e provavelmente estão acostumados a isso, mas Megadeth é Megadeth... o que sentiste pelo teu amigo: felicidade ou ciúmes?
Estou feliz por ele e desejo-lhe tudo de bom! Pessoalmente, se os Megadeth me tivessem pedido para me juntar a eles, diria que não. Sabes, eu adoro escrever canções e adoro estar no comando. Para mim, fazer música é química e, embora eu também trabalhe como médico, sempre que faço música, perco dinheiro... estou nisto apenas pelo amor à música. Portanto, se os Megadeth, os Metallica ou outra banda qualquer, me pedissem para me juntar a eles, diria não porque estou muito feliz com o que tenho.
M.I. - O Bastian substituiu o Dirk. Quão complicadas são as mudanças na formação de uma banda? Como vos afeta como grupo?
É sempre complicado, mas, ao mesmo tempo, é tudo uma questão de comunicação e o Bastian e eu estamos a conhecer-nos cada vez melhor e nós...
M.I. - ...têm química!
(Risos) Algumas vezes, sim! No começo foi mais difícil porque somos extremamente diferentes como pessoas, mas agora conhecemo-nos muito bem e estou muito feliz por ele estar na banda. Sabes, nós estamos no estúdio agora com os The Night Flight Orchestra a trabalhar no nosso próximo álbum e também é sobre a química, ser amigos e divertirmo-nos juntos... é incrível poder fazer isso!
M.I. - Como vão as coisas com o novo EP “A whisp of the Atlantic”? Saiu há apenas alguns dias, mas a receção parece estar a ser muito boa.
Não sei! Não leio os comentários nem vejo as estatísticas, contudo espero que esteja a correr bem, mas não faço ideia.
M.I. – A editora não vos dá nenhum tipo de feedback sobre isso?
Não, quero dizer, podemos verificar isso por nós próprios, mas eu nem olho para essas coisas.
M.I. - Inicialmente, os singles deveriam ser apenas para manter a vossa presença... quando e como surgiu a ideia de juntá-los num EP?
Eu escrevi as três primeiras músicas conhecidas como “a trindade febril” e deveríamos tocar em muitos festivais neste verão mas, obviamente, tudo foi cancelado, e pensei “Mais vale entrarmos em estúdio”. Há muito tempo que tinha a ideia de escrever uma música épica, progressiva e pretensiosa para os Soilwork só porque não é o que normalmente se esperaria de uma banda como os Soilwork, e senti que tínhamos a oportunidade de fazer algo novo, diferente e interessante. Entretanto a nossa editora quis lançá-lo num formato físico e é sempre bom ter um produto físico. Então aqui estamos... foi tudo espontâneo e natural. Queríamos apenas escrever algumas músicas e acabamos com algo bastante ambicioso.
M.I. - As faixas do EP são “sobras” do álbum anterior?
Não, todas as músicas foram escritas e gravadas após o último álbum.
M.I. - As deusas da morte da Babilónia, Ereshkigal, Inanna e Manungal, foram a inspiração para o EP. O poder feminino! Por que te sentes atraído por heroínas e deusas femininas?
(Risos) Bem, eu odeio a versão masculina do Donald Trump e, para os nossos vídeos, é chato assistir a homens de meia-idade a tocar guitarras, tentando parecer fixes! (risos) Eu tenho duas filhas, com 10 e 12 anos, e espero que possamos evoluir como raça humana e que elas possam tornar-se no que quiserem ser!
M.I. - Como é que estas deusas se relacionam com o título e a arte?
Bem, acho que toda a história: começando com “Feverish”, com necessidades muito carnais; depois evoluis para “Desperado” quando ficas desesperado e “Death Diviner” é quando percebes que erraste e tens que te arrepender. Também tens “The Nothingness and The Devil” onde emasculas os teus deuses e tentas encontrar outro significado e “A Whisp of the Atlantic” é sobre alienação e tentar adaptar-te a um mundo mudado.
M.I. - A trindade de canções “Desperado”, “Feverish” e “Death Diviner” são clássicos da “nova era” Soilwork, com grandes riffs cativantes e enormes linhas vocais. Estão na veia do último álbum, mas são um pouco mais sombrios. A banda parece renovar-se em termos de som de vez em quando! Vocês desejam evitar repetir o mesmo som continuamente?
Sim, com tudo o que fazemos com os Soilwork e os The Night Flight Orchestra, estamos sempre a tentar evoluir, desenvolver e surpreender-nos a nós e aos nossos ouvintes. Espero que as pessoas gostem do facto de fazermos este tipo de esforço para evoluir.
M.I. - A faixa-título tem mais de 16 minutos, o que não é típico para Soilwork. Como acabaram por ter uma faixa tão longa?
Comecei a escrevê-la, querendo que fosse algo épico, ambicioso e pretensioso.
M.I. – A água é o elemento de onde todos viemos e tem sido um tema importante para a banda ao longo dos anos... é por isso que optaram por usar o Oceano Atlântico no título?
Na verdade, o título veio-me à ideia quando estava a adormecer uma noite.
M.I. - É quando tens grandes ideias?!
Sim! Gosto muito de palavras. Às vezes, simplesmente acerto e este é um dos meus títulos de música favoritos, juntamente com “The Last of the Independent Romantics” do último álbum dos The Night Flight Orchestra. Às vezes, eles simplesmente aparecem... só tens o título da música e tens que escrever a música.
M.I. - Ah, então escreves a música para o título que tens em mente?
Sim.
M.I. - Para este EP, escreveste as letras, as melodias e as estruturas… A banda entendeu a tua visão?
O EP soa-te bem?!
M.I. - Sim!
Então, acho que eles entenderam a minha visão!
M.I. - Ok, mas eles concordaram com as tuas ideias e tudo o mais?
Quer dizer, obviamente que eles acrescentaram as suas próprias habilidades, mas interpretaram muito bem o que eu tinha em mente.
M.I. - Dirias que as tuas letras são como o espelho da tua mente e alma? Refletem os teus sentimentos e emoções?
Sim, eu gosto mesmo de escrever letras e acho que é sempre um pouco automático... Acho que elas são um reflexo de mim, de certa forma.
M.I. - Como compositor, estás constantemente a procurar palavras e frases interessantes... o que te inspira? Onde encontras inspiração normalmente?
Eu acho que tudo o que experimentei é filtrado para o meu subconsciente e, sabes, também leio muitos livros, ouço música... quando escrevo letras, é tudo muito espontâneo e acho que toda a minha experiência de vida é filtrada no que inventei.
M.I. - Posso presumir que as músicas que escreves são como filhas para ti? Nutres sentimentos especiais por elas?
Sendo um compositor, eu exponho-me, exponho as minhas emoções e fico um pouco vulnerável, como falamos antes. É por isso que não leio os comentários nas redes sociais porque não preciso, não preciso do ódio, quero ser livre para criar o que quiser e espero que as pessoas gostem.
M.I. – Sim, a maioria de nós gosta! Mas, diz-me, há alguma música com um lugar especial no teu coração?
Gosto muito de “Stålfågel” do último álbum dos Soilwork e também de “The Last of the Independent Romantics” do último álbum dos The Night Flight Orchestra.
M.I. - Ok, mas essas músicas por algum motivo especial?
Não, só estou feliz com a maneira como ficaram.
M.I. - Dirias que os Soilwork gostam de experimentar e ampliar os seus horizontes como músicos e compositores?
Bem, acho que com tudo o que fazemos, sempre tentamos ir um pouco mais longe e só queremos surpreender-nos de alguma forma.
M.I. - E vocês conseguem sempre surpreender-se ou, às vezes, ficam um pouco dececionados?
Ocasionalmente conseguimos surpreender-nos e às vezes não, mas está bem assim, porque é sempre bom tocar um pouco de metal e sentirmo-nos como humanos de verdade.
M.I. - Fizeram uma longa tournée para promover o álbum "The Ride Majestic" de 2015, mas a pandemia atrapalhou os vossos planos para promover "Verkligheten" do ano passado... quanto é que isso vos incomodou? Quanto impacto teve nos vossos planos?
Não podemos fazer nada sobre isto, e acho que vamos continuar a gravar coisas para manter a nossa presença. Pessoalmente, acho que vai demorar um pouco até que a pandemia esteja sob controlo, portanto não estamos a planear nada, vamos apenas continuar a fazer grandes coisas e, eventualmente, seremos capazes de tocar ao vivo de novo. Mas vai demorar um pouco e, enquanto isso, tentaremos ser produtivos.
Não faço ideia! Entraremos em estúdio novamente em janeiro com os Soilwork, e teremos um monte de coisas novas para tocar se quisermos, mas acho que só vamos decidir isso quando for a hora.
M.I. - Algum plano de tournée para 2021 ou estais à espera para ver como o vírus e toda a situação se desenvolverá?
Bem, temos tournées marcadas para o próximo ano, mas do modo como as coisas estão agora, não acho que vá acontecer. Temos toneladas de coisas que poderemos fazer se a pandemia passar!
M.I. - Como médico, achas que a vacina será a resposta para o vírus ou achas que vamos enfrentar mais um ano de bloqueios e coisas assim?
Toda a logística para vacinar as pessoas levará provavelmente sete, oito meses e ninguém sabe se serão precisas doses repetidas... ainda não temos nenhuma resposta e acho que apenas deveremos esperar o melhor .
M.I. - Também és membro dos The Night Flight Orchestra e a banda lançou “Aeromantic” este ano e já estás a falar sobre um novo álbum. Sei que já têm 25 faixas prontas!
Sim, sim!
M.I. - Portanto, quando for possível andar em tournée novamente, serás um músico muito ocupado (além de ser pai e médico), provavelmente farás tournées para divulgar os álbuns e o EP... como concilias as coisas?
Bem, é um pouco difícil, mas até agora consegui lidar com isso. É difícil, mas, ao mesmo tempo, sou abençoado por poder fazer o que faço e ser membro de duas grandes bandas de rock and roll, embora sejam muito diferentes!
M.I. - Quão diferentes são as duas bandas? Que tipo de emoções diferentes despertam em ti?
Não sei! Mas, no final de contas, cada música que escrevo... são todas canções de amor apenas vestidas de forma diferente.
M.I. - Ok, mas preferes tocar ao vivo com que banda?
Não consigo escolher! Ambas são incríveis e, à medida que envelheço, acho que simplesmente não preciso de fingir nada. Adoro tocar música e toda a experiência dos concertos é incrível! Eu só quero tocar e ser eu mesmo!
M.I. - Então achas que uma tournée conjunta com estas duas bandas seria possível?
Não, não, acho que não! Pessoalmente, não me importaria, mas seria muito estranho. Nós tocamos em alguns festivais juntos e somos todos amigos e está tudo bem, mas fazer uma tournée juntos seria um pouco estranho.
M.I. - Mas, hoje em dia, os fãs de metal têm mente mais aberta do que há algumas décadas, porque nessa altura queríamos apenas bandas de black metal ou apenas bandas de death metal num cartaz, e agora é normal que incluam bandas de géneros diferentes!
Sim, mas se fico um pouco exausto quando faço um concerto, então fazer dois seguidos seria um pouco demais! Definitivamente, gosto do facto de que os fãs de metal têm a mente aberta e, quando ainda estávamos em tournée, conversei com outras pessoas e os fãs parecem gostar de boa música e parecem apreciar o facto de que estamos a tentar entretê-los.
M.I. - O que vem a seguir para os Soilwork? Outro álbum ou EP se a tournée não começar em breve?
Sim, estamos a terminar o novo álbum dos The Night Flight Orchestra e, em janeiro, entraremos em estúdio com os Soilwork. Por isso, teremos um novo álbum dos The Night Flight Orchestra antes do verão e um novo álbum dos Soilwork após o verão.
M.I. - Depois de tantos anos na cena, como te manténs motivado para continuar?
Adoro música, adoro escrever canções e tocar guitarra e, sabes, depois de começar é difícil de parar.
M.I. – Qual o álbum que te fez perceber que querias ser músico?
“Deep Purple in Rock”.
M.I. - E quantos anos tinhas quando decidiste que querias ser médico também?
Eu decidi tornar-me músico quando tinha nove anos e comecei a faculdade de medicina aos 23, por isso teria cerca de 20 e tal. Tocava em bandas e era professor de guitarra, mas odiava e fizemos alguns discos que não estavam a vender bem... portanto, eu tinha que fazer outra coisa... e comecei a estudar medicina aos 23 anos.
M.I. - Existe alguma música de metal ou não que consideres perfeita? Que gostarias de ter sido tu a escrever?
O meu álbum favorito de todos os tempos é “Sabbath Bloody Sabbath” dos Black Sabbath e a faixa-título é a faixa que eu gostaria de ter escrito!
M.I. - Há mais alguma coisa que gostarias de dizer aos leitores da Metal Imperium?
Estou muito feliz por as pessoas gostarem do que fazemos e, por favor, continuem a apoiar-nos e ouvir a nossa música! Eu também sou fã de música, e ainda estou um pouco surpreendido com o facto de as pessoas ouvirem a minha música! Muito obrigado! Adeus!
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Entrevista por Sónia Fonseca