Este novo projeto é muito interessante e tem um som único. As melhores palavras para descrevê-lo são: misterioso, cósmico, cativante e com alma dos anos 80 e 90. “Another World” foi lançado a 20 de novembro, pela Avantgarde Music. Estivemos à conversa com Heike Langhans (voz e sintetizadores), Mike Lamb (guitarras, sintetizadores, piano, bateria) e Scotty Lodge (baixo) , que nos contaram mais acerca deste novo lançamento.
M.I. - Pessoal, muito obrigada por esta entrevista. Vocês estão bem, apesar desta pandemia?
Heike: Obrigada pela oportunidade! Tudo bem por aqui. Claro, tento ser muito cautelosa durante a minha visita a casa na África do Sul nestas épocas festivas, mas o verão normalmente traz boas vibrações.
Mike: Tudo bem por aqui também, obrigado por perguntares! Estou de volta à Nova Zelândia por uns tempos, mas aqui, felizmente, é bastante seguro. Espero que também estejas bem!
M.I. - Também estou bem, obrigada por perguntares! Este novo álbum é espetacular e bonito, e foi lançado no dia 20 de novembro. Decidiram chamá-lo “Another World”. É uma metáfora para o mundo, a pandemia e o desejo para um novo começo e a luz no fim do túnel?
Mike: Nós realmente apreciamos isso! O título “Another World” foi retirado de um jogo de vídeo muito nostálgico da nossa infância, um jogo que capta a abordagem artística e a beleza sobrenatural que tanto adoramos. O título também resume o nosso amor pela astronomia e o universo, por isso foi uma maneira perfeita de representar o surrealismo cósmico etéreo daquilo que estávamos à procura, musicalmente. Definitivamente, pode ser lido como uma metáfora para o mundo atual também, mas não queríamos a ir para nada tão exagerado quanto isso.
M.I. - A Avantgarde Music é uma editora, conhecida pelo seu trabalho com bandas Black/Doom Metal. Que bandas conhecem, que fez com quisessem trabalhar com eles?
Mike: A minha outra banda, Sojourner, na qual o Scotty também toca, assinou contrato com a Avantgarde Music para os nossos dois primeiros álbuns, por isso temos uma boa relação com o dono da editora, Roberto. Fazia todo o sentido ir ter com ele para apresentar o projeto, visto que o respeitamos muito e o que ele faz, e embora sejamos muito diferentes da sua onda, acho que ainda nos enquadramos no espírito da editora.
Heike: À parte da banda do Mike, o meu projeto anterior, ISON, autorizou alguns lançamentos para a Avantgarde e tivemos uma experiência de trabalho muito positiva com eles. Não havia razão para considerar outra pessoa, mesmo sabendo que não nos encaixaríamos no perfil. O Rob teve fé em nós e deu-nos contrato depois de ouvir apenas uma demo inacabada.
M.I. - Vocês membros dos Draconian e Sojourner e andaram em tournée juntos. Há quanto tempo andaram a falar em fazer um álbum juntos? Em que tipo de ideias e som estavam interessados?
Heike: Nós temos um amor misterioso por paisagens sobrenaturais sonoras, cósmicas, sinistras e cinematográficas. Tudo que evoque visuais e intensidade em sensação. Também há uma grande apreciação conjunta da alma cativante dos anos 80 e 90, que não é tão evidente na música atualmente. Ambos adoramos Gothic e música eletrónica igualmente tanto como Metal e acho que um aspeto que parece estranhamente semelhante, é a nossa tendência intrínseca de equilibrar “luz e escuridão” no som.
Mike: Desde a nossa tournée conjunta pela Europa no início de 2019, a Heike e eu falamos de fazer algo juntos, porque as nossas personalidades, gostos e abordagem de música, alinham-se de uma forma que eu nunca tinha visto antes, por isso, iria acontecer mais cedo ou mais tarde!
M.I. - Apesar de estarem noutras bandas, vocês criaram esta. Começaram o processo de escrita, quando também estavam a escrever para as outras bandas, ou depois? E a música?
Mike: Tínhamos terminado de escrever os álbuns para os Draconian e Sojourner, quando começamos Light Field Reverie, para que nos pudéssemos focar unicamente nisto como a nossa principal produção. O que ouves no álbum é um enlaçamento fácil da Heike e os meus estilos naturais de escrita, a forma como tratamos as coisas quando não estamos confinados a certos géneros e fazemos a nossa própria coisa. A beleza de Light Field Reverie, para mim, é que podemos abordar a escrita de uma forma natural e descontraída, não há expetativa que temos de ser algo mais além de nós próprios.
Heike: O momento deste álbum foi uma lufada de ar fresco e um período criativo do que nos estava a manter ocupados anos anteriores. Foi uma ótima sensação juntar todas as ideias que desenvolvemos em tempos passados e integrá-las de uma forma estranhamente fácil. Para mim, pessoalmente, parecia que entrei num sonho onde o parceiro musical perfeito existia, e alguma coisa explodiria e provaria ser afinal, um sonho. Só que não era um sonho, e tornou-se mais fácil ao longo do caminho. É raro e sou incrivelmente grata.
M.I. - Como é que criaram os teclados e sintetizadores? Tem uma vibe retro dos anos 80 e também um toque dos Theatre Of Tragedy, quando começaram, o que é excelente.
Heike: Quando o Mike partilhou os seus sintetizadores incríveis comigo, foi como se um portal cósmico se tivesse aberto para cada ideia nostálgica dos anos 80 na minha cabeça, para despertar no som pretendido. Estou verdadeiramente impressionada com a diferença que faz em ter as ferramentas certas e um produtor, que passa tantas horas por dia a aperfeiçoar o seu ofício. Também passamos algum tempo livre juntos a investigar a fundo críticas e análises de sintetizadores conhecidos e máquinas de cordas dos anos 80, que servem como grande motivação para experimentar.
Mike: Ao longo dos anos, tenho acumulado uma extensiva coleção de sintetizadores, equipamento de gravação é onde gasto grande parte do meu dinheiro (risos) mas nunca os usei nos Sojourner ou nos Lysithea, por isso tenho escrito coisas para mim e acumulado as minhas próprias ideias que nunca pus em prática até agora. Por isso, com este projeto, nós tivemos um tempo incrível e perdemo-nos nas possibilidades do que poderíamos fazer com os sintetizadores, como a base principal para o som, e depois utilizar as configurações mais tradicionais de guitarras, baixo e bateria como instrumentos de apoio.
M.I. - Seis músicas estão no álbum. Foram difíceis de escrever? Vocês escreveram material suficiente para colocarem noutro álbum em breve?
Mike: Não, não foi difícil, na verdade. Estamos sempre a alimentar a criatividade uns dos outros, e as músicas saíram sem esforço. Tivemos de manter o álbum com menos de 45 minutos, porque tivemos que encaixá-las num único LP, e acabou por ser só 6 músicas no final, mas temos mais material em andamento agora e não faltará muito para termos algo novo no próximo ano.
Heike: Eu diria que foi o álbum mais fácil de escrever de todos e queríamos reescrever duas canções existentes, já que não tínhamos tido a oportunidade até agora. Isso significa que mantivemos material novo para lançamentos futuros, e começamos a lançar novas ideias e temas mesmo antes deste álbum ter sido masterizado.
M.I. - O Mike Lamb fez um trabalho excelente. Ele fez toda a engenharia, mistura e masterização sozinho, nos Oneiros Studio, em Dunedin, na Nova Zelândia. De que tipo de som estavam à procura?
Mike: Obrigado! Significa muito que tenhas gostado da produção. O meu estúdio é na verdade móvel, por isso gravamos tudo nos Oneiros Studio, enquanto a Heike e eu morávamos em Säffle, na Suécia, mas acabei por ter de terminar a mistura e masterização aqui na Nova Zelândia, já que tive de voltar enquanto espero para receber o meu visto sueco. O som que nós procurávamos era grandioso, vigoroso, som de Metal moderno com atmosfera requintada, tendo o cuidado de reter o elemento humano. Queríamos que o álbum fosse esmagador, mas bonito, cósmico e etéreo. Felizmente conseguimos isso! Estou incrivelmente orgulhoso do que fizemos com este álbum.
Heike: Estou na lua! Não estou a exagerar quando digo que o Mike é o músico e produtor mais dedicado e trabalhador que alguma vez conheci. Faz com que o processo criativo seja incrivelmente divertido e fácil e não imagino um futuro sem ele. Oneiros Studio é onde quer que nos encontremos e temos grande planos para expandir os nossos empreendimentos, mesmo nesta pandemia e com as restrições e burocracias envolvidas. Gostaria de acrescentar que o nosso som está a tornar-se mais aerodinâmico com os próximos lançamentos, já que estamos a escrever de acordo com os conceitos – Algo que sempre nos fascinou, já que permite um som muito visual e mais “junto”.
Heike: Esta pandemia foi uma bênção disfarçada na frente da produção musical, pelo menos. Aproveitamos todas as oportunidades possíveis para planear, escrever e gravar em casa. Teríamos adorado poder trabalhar juntos os três, mas mantivemos o contacto diário e conversamos durante o processo. Esperamos poder passar mais tempo juntos no próximo lançamento!
Mike: Sim, exatamente! A Heike e eu moramos juntos, então era uma questão simples no nosso dia a dia, a fazer música no nosso apartamento e irmos para o estúdio dos Draconian para gravar as vozes da Heike! Nós falamos muitas vezes com o Scotty via Skype ou através das redes sociais, somos um grupo unido de amigos e é uma pena não passarmos mais tempo juntos pessoalmente, mas isso mudará no futuro, uma vez que estejamos todos em posição de recuperar o tempo perdido e esta pandemia acabar.
M.I. - “Ultraviolet” e “The Oldest House” foram escolhidos para serem singles. Será “Ghost Bird”, com o convidado especial, Emilio Crespo, um possível single?
Mike: Não foi oficialmente um single lançado, mas lançamos essa faixa um dia antes do lançamento, como um teaser de última hora!
M.I. - Como têm sido as reações da imprensa e dos fãs, a respeito do álbum? Apesar de viverem em diferentes países, considerariam fazer uma transmissão ao vivo para os fãs?
Heike: Estávamos a fazer figas para este lançamento, que como sabíamos era um som tão diferente e variado do que a base dos nossos ouvintes em geral gosta, mas sabíamos que haveria elementos que trariam aos nossos ouvintes a mesma alegria que trouxerem para nós ao fazer o álbum. Eu tenho gratidão interminável pelas reações agradáveis. É o combustível para seguirmos a todo o vapor com os nossos planos para lançamentos futuros. No momento, estamos espalhados por todo o planeta, em fusos horários muito diferentes e, além disso, a internet e os cortes de energia do meu “país em desenvolvimento” não tornaram fácil planear transmissões ao vivo. Definitivamente vamos considerar isso no futuro, porque somos um grupo divertido!
Mike: A reação tem sido fenomenal; não poderíamos ter pedido por uma melhor receção! Adorávamos ter feito uma transmissão ao vivo, mas como a Heike diz, seria muito complicado, dada a complexidade de todos estarem em locais diferentes atualmente. Falamos sobre fazer um set acústico simplificado nalgum momento por diversão, mas como banda, não podemos realmente organizar nada neste momento fora de uma sessão de vídeo no Hangout. Definitivamente, vamos trabalhar para divulgar algum conteúdo, porque estamos incrivelmente emocionados pela receção do que fizemos!
M.I. - Álbuns favoritos que recomendariam, que todos deveriam ouvir, e que vos influenciaram?
Mike: Para mim, existem três bandas e álbuns principais que posso apontar imediatamente como influências diretas nos Light Field Reverie: “Sundowning”, dos Sleep Token, que é um dos meus álbuns favoritos, “Vol. 3: Slaves of Fear”, dos Health, outro dos meus álbuns favoritos; e “Walking with Strangers”, dos Birthday Massacre… bem, tudo o que eles já fizeram na verdade, são uma das bandas que mais me influenciaram ao longo dos anos e têm um lugar especial no meu coração. Eu poderia fazer uma lista de centena de álbuns e bandas, muito mais do que eu poderia fazer aqui!
Heike: É uma pergunta difícil para mim, porque as minhas fases musicais mudam com o meu humor, situações de vida e até mesmo estações. Neste momento, sou grande fã do álbum “Monsters”, dos Empathy Test (2020). O álbum “Evaporate”, dos Midas Fall (2018) é uma descoberta recente (Obrigada, Mike!) que é lindo na sua simplicidade e que eu gostaria de ter feito para mim. No que diz respeito aos velhos favoritos, nunca vou parar de ouvir nada dos Tool. Sou apenas um daqueles fãs irritantes dos Tool.
M.I. - Obrigada mais uma vez por esta entrevista. Alguma palavra final para Portugal e para os nossos leitores?
Heike: Portugal é um dos lugares mais agradáveis de sempre, com um povo tão caloroso e amigável, por isso esperamos ver-vos em breve e obrigada mais uma vez, pelo apoio e interesse! Fiquem seguros e boas festas!
Mike: Muito obrigado por nos apoiarem e por esta entrevista, esperamos poder sair e tocar estas músicas para vocês ao vivo, assim que esta pandemia esteja finalmente sob controlo! O Festival Milagre Metaleiro foi uma das melhores experiências ao vivo que já tive quando os Sojourner tocaram lá em 2019 e conheci lá algumas das pessoas mais incríveis, realmente mal posso esperar para voltar um dia.
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Entrevista por Raquel Miranda