Quando pensam em Doom Metal, a que bandas e sons associam? Gostam desse género e o que ele representa? Se sim, vão gostar da entrevista que tivemos com Johan Ericson (ex-baterista e agora guitarrista) de uma das bandas mais importantes do género. “Under a Godless Veil” - um dos melhores álbuns de 2020 - foi lançado no dia 30 de outubro, pela Napalm Records. Nós revelamos alguns mistérios e detalhes por trás da capa, vídeos, composição de músicas e muito mais. Desfrutem do álbum tanto quanto nós!
M.I. - Olá. Obrigada pela entrevista e espero que estejas bem. Este álbum espetacular: “Under a Godless Veil”, foi lançado no dia 30 de outubro, pela Napalm Records. Como foi trabalhar com uma editora tão importante?
Obrigado! A Napalm tem sido boa para nós. Temos uma longa relação e por isso, no início, por volta de 2003, eles tentaram guiar-nos numa certa direção, mas acho que passado um tempo pararam, pois se aperceberam que os Draconian fariam o seu próprio caminho. Desde então, a Napalm tem crescido imenso e alargado o seu império.
M.I. - Tiveram alguma ajuda com a masterização e mistura do som ou vocês mesmos o fizeram? Foi na vossa cidade natal (Säffle, Suécia) que a magia aconteceu?
O álbum foi misturado pelo Karl Daniel Lidén mas ele não o masterizou. É assim que a mistura final soa. Nós gravamos as baterias no Studio Gröndal sob a sua supervisão. O resto foi feito no nosso espaço, Dead Dog Farm.
M.I. - O Anders disse, e passo a citar: “Este álbum é de longe o álbum mais diverso que criamos. Inspirado por algumas músicas que nos são próximas; tudo, desde Doom tradicional a peças menores, inspiradas no Rock Gótico e muito mais.”. Que canções e bandas/artistas são importantes para vocês, que ajudaram a escrever as letras e música?
A inspiração vem de muitos lados, mas a essência e emoção vem de artistas como Fields of the Nephilim, Rafael Anton Irisarri, Emma Ruth Rundle, Johann Johannsson e muitos mais. Eu criei uma playlist para isto, bandas e música que inspiraram alguma da música para “Under A Godless Veil”, e que pode ser encontrada através da nossa página do Facebook, se alguém estiver interessado em saber mais.
M.I. - Este é o segundo disco com a cantora Heike Langhans. Como é trabalhar com a voz angelical da Heike e os guturais mortíferos do Jacobsson? Achas que ela era a peça que faltava neste grupo brilhante?
Não há nada de mal com a voz da Lisa, mas quando a Heike a substituiu, pessoalmente senti uma inspiração crescente. Novas inspirações surgiram imediatamente e a voz da Heike tem um impacto profundo e ela entrega tanta emoção. Por isso, tem sido excelente.
M.I. - Cinco anos se passaram entre “Sovran” e este álbum. Porquê todos estes anos? Escreveram material para este álbum, antes ou enquanto estavam a gravar o anterior?
Fizemos algumas tournées depois de “Sovran” e depois tivemos de fazer uma pausa, por causa da situação do visa da Heike, aqui na Suécia. Ela não era capaz de ir para fora da Suécia para dar concertos, por isso comecei a trabalhar em material novo. Foi um processo lento desta vez. Eu e a minha família comprámos uma casa e, às vezes, é difícil conciliar a vida familiar, um trabalho a tempo inteiro e escrever música.
M.I. - O que foi mais difícil: as letras ou a música?
Para mim, a música foi bastante fácil, assim que me sentei a escrever. Escrevi a maior parte das coisas na minha guitarra acústica, em casa. Depois traduzi as ideias principais no estúdio e construí a partir daí. Provavelmente as minhas coisas preferidas em todo o processo de escrever.
No que toca às letras, acho que o Anders escreveu muito para o álbum e, na verdade, teve dificuldade em as partes que forneceriam o núcleo e a essência da história. Existiram alguns ajustes a acontecer até ao final.
M.I. - Com este novo lindo álbum, vocês abraçaram a filosofia Gnóstica mais diretamente. Descobriram novas coisas, a respeito desta filosofia? Poderiam contar-nos mais sobre isso, por favor?
Seria uma boa pergunta para o Anders, já que ele está profundamente envolvido com os textos e ideias do gnosticismo. Para mim, foi uma educação e tive que estudar por mim mesmo para estar a par. Acho que o Anders fez um trabalho notável no tema lírico desta vez.
M.I. - A capa do álbum foi feita pela Natalia Drepina e a foto da capa pela Eleni Liverakou Eriksson. Quem são as personagens e qual a simbologia por detrás disso?
Toda a arte da capa foi feita pela Natalia. Podemos dizer que a figura feminina na arte da capa, representa Sofia. O título refere-se ao mito gnóstico da deusa da Sabedoria Sofia e a sua queda do reino mais elevado do ser. Com esta queda, um véu - ou nuvem - foi estabelecido entre o reino mais elevado, chamado Pleroma, e o que se tornaria no nosso mundo material.
M.I. - ''Lustrous Heart’‘ é o primeiro single. Foi uma escolha difícil escolher este single?
Sim, um pouco. Lembro-me que fizemos uma votação rápida. Achamos que qualquer canção poderia ser um single neste álbum.
M.I. - Vocês traduziram “Sorrow Of Sophia” em várias línguas, incluindo português. Quem teve a ideia? Quem ajudou com a tradução?
Acho que foi a pedido de alguém e junto da nossa gerência, descobrimos alguns fãs, que estavam dispostos a traduzir as canções nessas línguas. Nem toda a gente percebe muito bem inglês ou tem inglês como primeira língua, e isso ajuda-os a aproximarem-se da música de certa forma.
M.I. - ''The Sacrificial Flame'' é o terceiro single. Podemos dizer que é o vosso preferido? Como é que escreveram os riffs, a melodia e a atmosfera doomy?
Sim, é um favorito para algum de nós, sem dúvida. Para mim, esta foi a canção mais fácil de escrever. Na verdade, aconteceu numa manhã de verão na antiga cabana dos meus pais. Acordei bastante cedo uma manhã e com uma chávena de café e a minha guitarra, sentei-me na varanda e escrevi a música em 5 minutos. Músicas como essa terão sempre um fluxo natural.
M.I. - Vocês lançaram outro single: “Sleepwalkers”. Podem revelar mais detalhes do vídeo, por favor?
O vídeo foi dirigido pela mesma artista que fez a capa. Natalia Drepina juntamente com o Anders fizeram o layout para a ideia básica de dois amantes sonâmbulos. Nunca sendo capazes de se ligarem. Eu interpreto essas letras como uma visão sobre o estado do mundo.
M.I. - Vocês fazem parte de um género que é muito apreciado, ao lado dos My Dying Bride, Trees Of Eternity. Qual é a sensação? Alguma vez veremos uma colaboração entre estas bandas?
Eu acho que a apreciação tem crescido na última década por este tipo de música e algumas destas bandas já existem há muito tempo e ganharam o seu respeito de alguma maneira. Porque não uma tournée juntos, ou um projeto de álbum especial?!
M.I. - 70000 Tons Of Metal é um grande festival num cruzeiro e vocês tocaram lá. Gostaram da experiência? Que bandas viram? Se vos tornassem a convidar, diriam que sim?
Sim! Que grande experiência! Grande conceito, férias e tocar juntamente com todas estas excelentes bandas. Eu vi muitas bandas e gostei bastante dos Avatarium, Unleashed e dos meus heróis de infância, Anthrax. Também conheci muitos amigos de outras bandas e é bom conversar e beber uma ou duas cervejas.
M.I. - No próximo ano, vocês serão a atração principal da European Tour no próximo ano, ao lado dos mestres gregos, Nightfall. O que é que sentiram, quando vos convidaram?
Eu e o Anders ouvimos muito os Nightfall enquanto crescíamos, nos anos 90. É bom tê-los a bordo, na nossa tournée europeia, no ano que vem.
M.I. - Quais são as canções que as pessoas mais querem ouvir e, na tua opinião, qual é o álbum preferido delas?
“Arcane Rain Fell” ainda é considerada uma favorita, mas acho que qualquer canção dos últimos três álbuns, funciona bastante bem num concerto ao vivo. Temos uma grande quantidade de novos fãs que nos têm descoberto nos últimos dez anos ou por aí.
M.I. - Portugal tem um festival, que é dedicado ao Doom que é “Under The Doom”. Na edição de 2018, vocês tocaram lá e eram uma das bandas mais esperadas. Gostaram do país e do festival? Voltaremos a ver-vos novamente?
Sim, foi a nossa segunda vez a tocar no festival “Under The Doom”. Excelentes pessoas e um minifestival muito bom. Tenho a certeza de que voltaremos no próximo ano ou assim.
M.I. - Sete álbuns e 26 anos no ramo da música. Realizaram tudo o que querias, musicalmente falando ou vocês são o tipo de banda que persegue constantemente novos objetivos?
Eu acho que chegamos a ponto em que nos sentimos confortáveis. Temos um bom senso e compreensão do que um bom álbum precisa e estamos sempre à procura de ampliar o nosso horizonte musical para cada novo álbum. É um grande motivador, incorporar novas coisas e influências a cada vez.
M.I. - Obrigada pela entrevista e espero ver-vos aqui em Portugal. Algumas palavras finais para os fãs, no geral?
Esperemos que esta pandemia de COVID pare em breve, para que possamos ver-vos em tournée no próximo ano. Cuidem-se.
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Entrevista por Raquel Miranda