Sempre que vem à baila o debate sobre quem são os criadores do Thrash Metal, muito facilmente vêm à cabeça nomes como os Big Four: Anthrax, Megadeth, Slayer ou Metallica. Contudo, para a imensidão de fãs que surgiu com o lançamento do documentário “Anvil! The Story of Anvil”, em 2008 – bem como para os que já estavam familiarizados “antes de ser moda” –, acrescentar esta banda ao debate é tudo menos uma novidade, nem tão pouco é afirmar que este grupo, na verdade, desbravou caminho para bandas posteriores. Steve “Lips” Kudlow, co-criador do então quarteto formado em Toronto em 1978, também não tem dúvidas em relação a este argumento. Quando questionado numa entrevista recente para o podcast “That Metal Interview” sobre como foram os Anvil capazes de se antecipar na criação da sonoridade-base do Speed Metal e Thrash Metal, a sua resposta é tão simples que soa a uma lapalissada:
“Nós somos mais antigos, que mais hei-de dizer? Eu sou dois ou três anos mais velho que eles. Ponto final. Cheguei lá primeiro [risos]. Alguém tinha de o fazer. E convenhamos, é um tipo de situação diferente.”
Não fazendo menção às décadas de trabalho árduo e contratempos que o documentário sobre as lendas canadianas expõe, Lips menciona a sua parceria com Robb Reiner – amigo de infância, irmão de armas desde a adolescência e baterista dos Anvil desde a primeira hora –, como fundamental para esta génese:
“[Ele] é um baterista mesmo muito espectacular, especial, inventivo e inovador. Portanto, quando eu criei os speed riffs que me faziam lembrar os Deep Purple e ele lhes acrescenta o duplo pedal da bateria, é aí que é inventado o Speed Metal. Nunca ninguém tinha ouvido nada assim, e é uma inovação criada entre um guitarrista e um baterista. Só uma combinação destas seria capaz de a criar – não entre um guitarrista e um vocalista, mas sim entre um guitarrista e um baterista. (…) Porque quanto mais depressa tocas e quantas mais partes lhe acrescentas, menos importante se torna a voz – e foi basicamente nessa direcção que o Speed Metal seguiu. É por isso que praticamente não há melodia no Speed Metal, porque não dá para haver – não há tempo para criar uma melodia nos espaços em que as canções são feitas, portanto vai tudo de mãos dadas. Por isso é que algum do nosso material, como a “666”, quase não tem melodia, mas o estilo é mesmo esse. É o tipo de material que […] os Slayer ouviram e disseram “bom, vamos lá criar uma banda baseada neste som”. A sincopia e as ideias transmitidas em temas como “Jackhammer”, ou até mesmo “March of the Crabs”, deram origem aos Metallica. É mesmo muito interessante”.
O mais recente álbum do grupo constituído por Kudlow, Reiner e pelo baixista Chris Robertson, “Legal at Last”, foi gravado nos estúdios Soundlodge, em Rhauderfehn, Alemanha, tendo sido lançado a 14 de Fevereiro pela AFM Records. Recorde-se que os Anvil tinham a sua estreia ao vivo em Portugal prevista para o passado mês de Abril no Barroselas Metalfest, entretanto adiado para 2022.
Por: Daniel Lucindo - 29 novembro 20