Quando os Paradise Lost lançaram "Medusa", em 2017, ficou no ar a ideia de que um ciclo se tinha finalmente fechado. Ciclo esse que começou com o seminal "Lost Paradise" e que após várias metamorfoses, culminou finalmente em novo mastodonte de peso. Como tal, foi com alguma curiosidade que se anteviu este "Obsidian". Iriam os Paradise Lost começar nova jornada, ou adicionar ainda mais peso num incremento que começou com o álbum homónimo?
Aparentemente, os britânicos optaram pela primeira opção, dando-nos um álbum bastante diverso, ao mesmo tempo que novas influências foram injetadas na música de Greg Mackintosh e companhia. De certa forma "Obsidian" acaba por ser uma espécie de manifesto contracorrente à linearidade de "Medusa", tal como antes "The Plague Within" já o tinha sido em relação a "Tragic Idol". O que não será de todo má ideia, tendo em conta que por norma, os trabalhos mais heterogéneos dos Paradise Lost até costumam ser os melhores.
Em "Obsidian" temos um dos mais variados trabalhos vocais de Nick Holmes, com bons apontamentos de guitarra tanto ao nível de melodias de Greg Makintosh, como de riffs por parte de Aaron Aedy. Na secção rítmica Waltteri Väyrynen mostra-se cada vez mais entrosado e inspirado, bem complementado por Steven Edmondson, a mostrar que o baixo continua a ser bastante importante na música do coletivo.
Tudo argumentos que, aliados à excelente produção, fariam de "Obsidian" hipoteticamente um dos melhores discos da carreira dos Paradise Lost, não fosse apenas dois pequenos grandes pormenores…falta-lhe chama e imprevisibilidade.
Razões que emergem derivadas apenas de uma premissa: expetativas. Olhemos para os singles como por exemplo, "Fall From Grace", a canção mais “Medusiana” do disco, que soa bem mas provavelmente nem nos temas bónus do supracitado álbum teria lugar. "Ghosts", bem como "Hope Dies" Young, ambas boas malhas, trazem as tais novas influências, mas acabam por soar demasiado coladas a origem, leia-se Sisters of Mercy.
O mais dececionante em "Obsidian" é que todos os temas, sem exceção, têm bases suficientes de excelência, que infelizmente nunca se concretizam. Muitas são as vezes em que a banda se estende em longas divagações e/ou repetições pouco empolgantes, sendo "Darker Thoughts" e "The Devil Embraced" os grandes infratores e, sem dúvida, os temas mais frustrantes quando pensamos no potencial de cada um. Fica mesmo a ideia de que a banda quis fazer um novo "The Plague Within", enquanto a cabeça ainda estava em modo "Medusa", com as duas correntes de pensamento a acabarem por chocar uma com a outra.
Salvam-se talvez a enérgica "Serenity" e o sinistra "Ravenghast", com esta última a trazer algo de realmente excitante para a mesa.
A obra-prima que nunca o foi é o que apetece dizer de "Obsidian". Quanto ao legado dos Paradise Lost, esse continuara intacto. Erros de percalço como este, só acontecem a quem sempre arriscou e ousou, sem nunca se conformar com uma sonoridade, por mais discos que esta vendesse. É por isso que aconteça o que acontecer, os Paradise Lost serão sempre geniais. E vendo bem as coisas, como disco de apresentação, "Obsidian" até acaba por ser um apontamento bem interessante.
Nota: 7/10
Review por António Salazar Antunes