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Entrevista a Arjen Lucassen (Ayreon)



O compositor, cantor, músico e produtor musical holandês Arjen Anthony Lucassen é o homem por trás de Ayreon. Um cavalheiro! “Transitus” foi lançado no dia 25 de setembro, pela Music Theories Recordings e a Metal Imperium teve o prazer de conversar com ele. Ele falou sobre os convidados, os músicos, os seus projetos e os 25 anos de carreira.Esperemos ver um filme sobre este álbum incrível. Dedos cruzados!

M.I. - Olá. Bom dia e quanta honra falar contigo. Como estás?

Obrigado. Está tudo bem, muito obrigado. E contigo?


M.I. - Estou bem e lisonjeada por falar contigo.

Sinto-me honrado, muito obrigado.


M.I. - “Transitus” foi lançado a 25 de setembro, via Music Theories Recordings. Porque é que decidiste por este título?

Bem, é uma longa história. Comecei a trabalhar neste álbum, há cerca de três anos e não era para ser um álbum de Ayreon. Eu estava a trabalhar num filme, sabes? Sou um grande fã de filmes e o meu maior sonho era, um dia, fazer o meu próprio filme. Quer dizer, como um filme musical, como Jesus Cristo Superstar e Tommy, esse tipo. Normalmente, como deves saber, faço sempre coisas de ficção científica. Mas filmes de ficção científica custam muito dinheiro, no mínimo, 15 milhões de euros ou dólares. Então, pensei: “Não vou fazer ficção científica, mas uma história de fantasmas!”. Foi basicamente assim que comecei. Seria uma história de fantasmas, romântica, passada no século 19 e, basicamente, é sobre um caso de amor proibido, entre o filho de um homem rico, chamado Daniel, e uma escrava negra, chamada Abby. Foi aí que comecei. E então, fui mudando a história, surgiram novos enredos e, num determinado ponto, criei um reino entre o Céu e o Inferno, onde o Anjo da Morte decide se vais para o Céu ou para o Inferno. Estava a pensar num nome e geralmente este reino é chamado de “Limbo” ou “Purgatório”. Mas esses são nomes oficiais. Eu queria inventar o meu próprio nome. Depois de muita pesquisa online, descobri “Transitus”, que basicamente significa a jornada após a morte, para onde vais depois da morte.


M.I. - A história não está diretamente ligada ao universo de Ayreon, embora haja algumas alusões ao mesmo. Quais são?

De facto! Não era para ser Ayreon. Portanto, não há links diretos para uma história de Ayreon. Mas, enquanto eu estava a trabalhar nele, simplesmente aconteceu. De repente, recebo todas essas referências à velha história de Ayreon. E claro, há referências óbvias, como “These Human Equation”, que é, claro, o título de um álbum de Ayreon. Eu não planeio estas coisas (risos). Simplesmente aconteceu. Estava a pensar sobre este anjo da morte. Ela está em Transitus e está a olhar para a Terra e vê a Humanidade, e ela acha que são estranhos, sabes (risos). Eles são muito estranhos, mas muito interessantes. Basicamente, ela estava a falar sobre “These Human Equation”. O que nos torna humanos. Sim! Existem muitos pequenos links para uma história de Ayreon. Além disso, se leres a banda desenhada, verás alguns links para a história também. Não foram planeados, mas estão lá.


M.I. - Este álbum incrível não começou como o teu próximo álbum e estavas à procura de uma nova abordagem. Porque é que achaste isso e o que te fez mudar de ideia?

Boa pergunta! Estava a trabalhar nisto há dois anos e ainda era suposto ser um filme, mas o Corona apareceu. Neste período, é muito difícil conseguir recursos para um filme, porque um filme custa milhares de euros. Neste tempo do Corona, em primeiro lugar, é muito difícil conseguir esses recursos. Em segundo lugar, é muito difícil filmar atualmente, porque existem todas estas restrições e não podermos estar juntos agora. Por isso, filmar também é difícil. Portanto pensei: “Ok! A música está pronta, mas o filme não pode ser feito! Então, o que vou fazer agora?”. Não tive vontade de esperar muito tempo, até que o Corona acabasse, para finalmente fazer algo com isso. Fui à editora e toquei-lhes a música e contei-lhes a história. E eles disseram: “Bem, nós realmente achamos que deverias lançar isso como um álbum Ayreon, porque tem todas as marcas registadas de um álbum Ayreon! Tem muitos cantores, muitos estilos musicais diferentes, tem um conceito, uma história!”. Então, primeiro tive de pensar sobre isso, porque não o fiz como um álbum Ayreon. Mas, num momento, pensei que seria uma boa solução lançá-lo. Depois disso, mudei algumas coisinhas na música. Mas, em vez de o ter  por anos e não fazer nada com ele, decidimos lançá-lo como um álbum Ayreon.


M.I. - Tom Baker (Doctor Who) é o narrador e resulta em menos momentos memoráveis e menos diversidade estilística. Como o contactaste e ele foi a tua primeira escolha?

Tenho sempre muitas opções, quando procuro um cantor. Por exemplo, quando procuro um cantor, as pessoas sempre pensam que se eu pedir para cantar, eles vão cantar (risos). Eu gostaria que fosse verdade. Não é o caso. Sempre tento cinco cantores. Espero que um desses cantores faça isso. E foi o mesmo com a voz. Acho que tinha entre cinco e dez opções de atores, que queria para este papel. Mas sabes, é muito difícil conseguir esses atores. É um mundo totalmente diferente. Realmente tens de negociar muito com agências e gestores, e leva meses para finalmente conseguires entrar em acordo. Ele foi definitivamente uma das minhas primeiras escolhas. Ele estava no meu top 5, porque sou um grande fã de Doctor Who e cresci a assistir a todos os episódios dele e comprei-os todos em DVD. Vi-os centenas de vezes e, claro, ele esteve no Doctor Who durante oito anos. Esses foram os meus anos de formação. Isso foi nos anos 70 e eu tinha quinze anos ou algo assim. Poder trabalhar com ele é como um sonho que se tornou realidade. Ele é o meu herói e é tão bom conhecer os teus heróis e descobrir que eles também são ótimas pessoas. Entrei em contacto com ele através de uma agência de voz, no Google. Encontrei no Google uma agência de voz e eles têm muitos atores. É muita negociação e, depois, acordamos um preço e, em seguida, eles entraram em contacto com o Tom Baker. E ele também tem de gostar. Ele ouviu e adorou. E ainda bem, porque ele era o único que poderia ter feito isto.


M.I. - Foi difícil escrever as ideias para o álbum (letras, melodias e instrumentos)? Eu sei que foi um desafio para ti e saíste da tua zona de conforto, musical e criativamente.

Normalmente, trabalho de uma maneira diferente. Começo com ideias musicais, só um pouco de guitarra, uma pequena melodia num sintetizador ou no que for. E então, estou pronto com a música e deixo a música inspirar-me para inventar a história. Geralmente é assim que trabalho. Mas desta vez, foi o contrário. Como disse antes, desta vez comecei com a história. Sim! Isto é muito diferente. Foi um desafio para mim trabalhar desta forma. Normalmente apenas escolho cantores, porque gosto deles, gosto da voz deles. Mas desta vez precisava de cantores, que tivessem muito carisma, que soubessem representar, porque ia ser um filme. Definitivamente queria que o filme tivesse os mesmos cantores do álbum. Com todos os cantores, pensei: “Eles sabem atuar? Parecem bons? Parecem carismáticos? Encaixam bem na peça?”. Houve alguns desafios neste álbum.


M.I. - Podemos ouvir alguns instrumentos clássicos, como violino, flauta e um órgão. Quais foram os mais difíceis de gravar?

Basicamente, uso sempre este tipo de instrumentos nos Ayreon. Estou muito acostumado a gravar violinos e flautas e coisas assim. Mas, neste álbum, usei muitos instrumentos novos. Eu tinha o hurdy gurdy, trompetes, trombone, tocadores de trompa e coisas assim. Todos eram profissionais. Nada foi difícil de gravar. Se trabalhas com um profissional, é um luxo, porque eles fazem exatamente o que queres e até acrescentam algo deles mesmos. Para responder à tua pergunta, nada foi difícil. A única coisa que foi difícil, foram as partes que eu mesmo toco, basicamente, porque comprei um piano de brincar e tinha de tocá-lo. Eu não era muito bom nisso (risos). Tive de ficar aqui e tocar. Também comprei um xilofone e nunca fiz isso antes. Foram desafios para mim aprender a tocar esses instrumentos.


M.I. - Este é o sucessor de “The Source” de 2017. Quando começaste a escrever para este álbum? Enquanto estavas a gravar o álbum anterior ou depois?

Basicamente comecei a trabalhar nele, assim que terminei com “The Source”. Foi em 2017, ou seja, trabalhei neste álbum durante 3 anos. Mas eu não trabalhei nisto 3 anos inteiros, porque, neste intervalo, demos concertos com Ayreon. Fizemos os concertos “Universe” de Ayreon e também os concertos “Into the Electric Castle”. E isso levou muito tempo. Passámos muito tempo a gravar, ensaiar, em reuniões e também fizemos lançamentos ao vivo, de CDs e DVDs. Isso levou muito tempo. Nestes 3 anos, muita coisa aconteceu. Trabalhei muito em coisas diferentes.


M.I. - O álbum anterior envolveu o Forever / Planet Y e “Transitus” é o início de uma nova direção. É centrado "numa história de fantasmas gótica (um conto de amor amaldiçoado), ambientado (parcialmente) no século 19, com elementos de terror e sobrenatural." Porque é que decidiste por essa época específica? O que te fascina nela?

Eu queria uma era sem telemóveis (risos). Se pensares em filmes de terror gótico, eles geralmente passam-se no século 19, na era vitoriana. Tem algo de romântico e misterioso. Eu adoro muitas histórias que se passam nessa época, tipo “Jack, o estripador” e coisas assim. De alguma forma, para mim, é mais uma era romântica. E também, esta história é sobre um relacionamento proibido entre o filho de um homem rico e uma escrava. E, neste caso, uma escrava negra. Claro, no século 19, isso era um tabu. Essa é outra razão para criar a história no século 19.


M.I. - “Fatum Horrificum” é o prólogo do álbum e apresenta as personagens e o que está para acontecer. Porque é que decidiste dividi-lo em 6 partes e não as colocar juntas?

Elas estão juntas. Eu coloquei-as juntas, basicamente. Realmente escrevi a música com o filme em mente. Com cada pequena parte da música que escrevi, sabia o que aconteceria no filme. "Fatum Horrificum", como disseste, é como a introdução. Em cada uma das pequenas peças, algo acontece. Numa peça, eles estão deitados na cama juntos, a fazer amor. Na outra peça, as cortinas estão a pegar fogo e a cama também. Na outra parte, ele vai para Transitus. É um álbum muito cinematográfico, basicamente. Eu realmente espero que o filme aconteça, sabes? É muito importante para a história.


M.I. - Transitus é o nome do submundo entre o Céu e o Inferno. Que ideias tiveste ao criá-lo?

É realmente engraçado, porque todas as partes do Transitus não faziam parte da história, originalmente. É que eu realmente queria que a Simone Simons desempenhasse um papel no filme e no álbum e tive de pensar numa parte para ela. De repente, pensei que ela seria muito fixe como anjo da morte. Eu não queria que a história fosse muito séria. Eu queria um elemento cómico na história. Pensei: “Muita gente não conhece esse lado da Simone. Eles veem-na como uma cantora muito séria, quando canta nos Epica!”. Mas quando ela vem ao meu estúdio, está sempre a brincar e tem aquele pequeno brilho nos seus olhos. Ela é muito engraçada, uma doce senhora. Neste álbum, eu queria destacar esse lado dela. E criei um papel para ela como o Anjo da Morte e foi basicamente assim que todo esse lado da história surgiu. Não foi planeado dessa forma. Muitas vezes é a forma como eu trabalho. Quando arranjo um cantor, geralmente mudo a história, por causa do cantor. É muito estranho a maneira como eu trabalho.


M.I. - Daniel e Abby são as personagens principais. Conta-nos mais sobre elas, por favor. O que representam?

Daniel é filho de um homem muito rico e o papel do pai é desempenhado por Dee Snider, que deves conhecer dos Twisted Sister. Ele é uma pessoa muito introvertida. A sua mãe morreu e ele sente-se muito responsável pelo facto da mãe ter morrido e também, ele tem um pai muito opressor e um irmão, chamado Henry, que é sempre melhor do que ele em tudo. Isso é realmente frustrante para ele. Essa é a personagem Daniel. Abby é a filha de Abraham. A sua mãe morreu e o pai juntou-se com Lavinia. Havia dois lados muito diferentes do espectro. Duas pessoas muito diferentes. Mas não importava que eles fossem diferentes, porque estavam apaixonados e não viam a diferença entre eles. Estavam simplesmente apaixonados e não se importavam com o que os outros diziam.


M.I. - O Anjo Da Morte e as suas amigas: The Furies têm um papel importante. Porquê esses nomes?

O anjo da morte é óbvio. É um nome comum para este anjo. Ela é quem decide, se vais para o céu ou para o inferno. Ela está a ficar cansada disso, porque é sempre a mesma coisa. As pessoas chegam a Transitus e dizem sempre: “Eu sou inocente! Eu sou inocente! Eu deveria ir para o céu, porque sempre fui uma boa pessoa!” (risos). Ela está a ficar cansada disso. As suas companheiras são as Furies e eu realmente tive de pensar sobre esse nome. Acho que tinha uns dez nomes diferentes. Em algum momento, eu pensei que Furies era realmente fixe. Elas também estão entre o Céu e o Inferno. Elas têm um lado delas que é doce e angelical, e o outro lado é meio maroto, como um diabinho.


M.I. - Tommy Karevik (Kamelot), Joe Satriani, Cammie Gilbert (Oceans of Slumber), Marty Friedman, Dee Snider, Johanne James (Threshold), Juan van Emmerloot, Simone Simons (Epica), Marcela Bovio (MaYan) e Michael Mills (Toehinder) são alguns dos convidados, incluindo cantores e músicos. Foi difícil escolhê-los e contactá-los?

Alguns são difíceis, outros são fáceis. Se conhecem a minha música, é sempre fácil. Se gostarem da minha música (risos), é sempre fácil conseguir cantores. Um bom exemplo é a Cammie. Eu ouvi a voz dela e fiquei muito impressionado e queria trabalhar com ela. Entrei em contacto com ela e tive medo que não me conhecesse. Mas, felizmente, ela conhecia-me e conhece a minha música e ela e o namorado, Dobber, que é o baterista dos Oceans Of Slumber, são grandes fãs da minha música. Nesse caso, foi fácil. Uma mensagem no Facebook: “Gostarias de fazer parte disto? Claro! Vamos do Texas para gravar contigo!”. No caso dela, foi fácil. No caso de Dee Snider, por exemplo, foi muito mais difícil, porque primeiro é preciso passar pelo empresário. Negociar com o empresário durante meses e meses e esse tipo está tão ocupado, sabes, que tens de encontrar uma data, algum lugar em que ele possa gravar. Sim! Alguns são fáceis, outros são difíceis!


M.I. - No vídeo de “This Human Equation”, há várias pistas para a intrincada mitologia de Ayreon. Quais são?

Bem, é claro que é o título! “This Human Equation”, porque, como eu disse antes, é um álbum de Ayreon. Ele fala sobre o Universo sobre a migração, que é claramente um elo de ligação ao álbum “The Universal Migrator”, dos Ayreon. Acho que são os únicos dois elos com a história de Ayreon.


M.I. - “Hopelessly Slipping Away” e “Get Out! Agora!" são músicas muito diferentes. Achas que, se não tivesses feito estes vídeos, as pessoas pensariam que o álbum teria o mesmo som, da primeira à última música?

Foi muito difícil escolher um single, porque nenhuma das músicas deste álbum é a mesma. Cada música é completamente diferente e se tivéssemos lançado apenas “Get Out! Now!”, as pessoas pensariam que este era um álbum Hard Rock dos anos 80 (risos). Se apenas lançássemos “Hopelessly Slipping Away”, as pessoas pensariam que é um álbum bem suave, sabes? Eu fui muito claro com a editora, e disse que queria lançar estes dois singles, ao mesmo tempo, para que as pessoas vissem que a música deste álbum, é muito eclética, sabes? Muito diferente.


M.I. - “Talk Of The Town” é, de facto, a música mais “Ayreon” do álbum. Podemos dizer que é a tua favorita?

Não, acho que não. Eu escolhi-a como single, porque é uma música tipo Ayreon. Acho que é a faixa mais representativa do álbum, porque tem muitos estilos diferentes. Começa com uma espécie de orquestra de câmara do século 19, flauta, violino, trompa, etc. E vai para uma música mais pesada no final. Tem muitos estilos diferentes. É por isso que a escolhi. Mas acho que não poderia escolher uma música favorita deste álbum. É muito difícil, porque elas são todas muito diferentes.


M.I. - A música mais incrível deste álbum é na verdade “Daniel’s Descent into Transitus Medley” e fizeste um minifilme para ela. Porquê para essa música? Vais fazer outro vídeo, com as outras personagens?

Este pequeno minifilme, fiz há mais de um ano. Foi feito há muito tempo. Não era para ser um vídeo. Era para ser como uma audição para o filme. Seria algo que eu poderia mostrar ao fazer o filme. Foi um vídeo muito caro. Trabalhamos nele durante meio ano, custou muito dinheiro. Basicamente, mostra como o filme poderia ser. Não faria parte do filme, porque temos de refazer, mas queria mostrar como seria o filme.


M.I. - Quem é o responsável pela capa do álbum?

Normalmente trabalho com o Gepetto, que é um verdadeiro pintor. Ele fez a maior parte dos álbuns de Ayreon, como "Into the Electric Castle". Mas achei que ele não se encaixaria nesta história, porque é uma história gótica do século 19. Achei que o estilo extravagante de ficção científica dele não se encaixaria neste álbum. Eu tive algumas pessoas, que fizeram um logótipo fixe de Transitus. Senti que o logótipo era muito importante para este álbum. Nos álbuns anteriores, era mais sobre a pintura, mas neste álbum, é mais sobre o logótipo. O tipo é David Letelier, e também fez os vídeos de “Get Out! Now!" e “Talk Of The Town”. Foi ele que também fez a capa do álbum.


M.I. - Um Rock / Progressive Metal muito teatral com um gosto “operático” e musical. Gostas de musicais? De quais gostas e quais te inspiraram?

Tudo começou com “Jesus Christ Superstar”. Com o álbum, basicamente. Acho que tinha 10 anos. Foi em 1970. É o original, com Ian Gillian como Jesus. No início, não gostei, porque a minha mãe gostou (risos). Não é para gostar do que a tua mãe gosta. Depois ouvi-o sozinho algumas vezes, com fones, a ler as letras. E fiquei totalmente viciado. É um álbum tão forte, com melodias e letras fortes. Alguns anos depois, consegui ver o filme, que também foi ótimo. Foi filmado em belos locais. Sim! Definitivamente, “Jesus Christ Superstar” é a maior influência. Outras influências seriam “Tommy”, dos The Who. Novamente, primeiro o álbum, no final dos anos 60. Mais tarde, o filme. O filme foi uma bagunça. Mas ainda assim, a música era tão fixe, que eu não me importei. E, é claro, havia álbuns, como “War Of The Worlds”, que era meio musical também. Estas foram as minhas maiores inspirações.


M.I. - Vamos falar sobre os CDs e DVDs bónus. Foram difíceis de fazer? Como os planeaste?

Oh, sim! Bem, os CDs bónus não foram difíceis. A versão instrumental é fácil. Apenas desligo as vozes. Isso é simples! Também adicionei um CD, com as guias vocais. Achei isso muito fixe. Eu tenho sempre cantores no meu estúdio, que cantam as melodias, e depois mandamos essas versões para os cantores que vão cantar. Mas geralmente não acontece com essas guias vocais. Elas permanecem sempre em segredo. Mas desta vez achei os guias vocais estavam tão bons, que seria fixe colocá-los num CD. O DVD foi muito difícil de fazer, as cenas bastidores foram meses de trabalho. Em primeiro lugar, tens de filmar tudo e aqui no estúdio, temos todos os músicos. E então, tens de fazer uma história muito boa para todos os bastidores e tens de editá-las juntas. Foram alguns meses de trabalho. A minha namorada, Lori, fez os bastidores e fez um ótimo trabalho. Acho muito interessante!


M.I. - Felix Veja ilustrou a banda desenhada de 28 páginas. Foi algo que sempre quiseste e quão bem conheces o trabalho de Felix? O que te fez escolhê-lo? Pode ser vendido separadamente?

Eu sou um grande fã de banda desenhada, desde que era criança! Todas as crianças estavam a brincar lá fora, e eu estava sentado em casa, a ler a minha banda desenhada(risos). Ser capaz de fazer a minha própria banda desenhada foi definitivamente um sonho que se tornou realidade! Quanto ao ilustrador, realmente procurei no mundo todo por um bom ilustrador. Levei muitos, muitos meses e vi centenas de ilustradores. Mas sou difícil de agradar, sabes? Eu sei exatamente o que quero e não deu certo, até que entrei em contacto com uma editora no Chile e ela deu-me links para dez ilustradores, e vi o trabalho do Felix e fiquei tipo: “Oh, meu Deus! Isso é tão bom!". Encomendei duas das suas bandas desenhadas online e achei lindo, as cores eram lindas e era mágico. Entrei em contacto com ele, felizmente ele gosta da minha música, isso é muito importante. Se ele dissesse: “Eu odeio a tua música!”, não o poderia ter feito (risos). É ótimo quando tu te inspiras. É ótimo, quando eu envio uma música para ele e ele se inspira. É fixe quando ele me manda banda desenhada. Trabalhamos juntos durante um ano. Foi realmente bom! Sim! A história em banda desenhada pode ser comprada separadamente!


M.I. - Desde “The Final Experiment” a “Transitus, passaram-se 25 anos. Achas que conseguiste tudo o que mais desejavas, profissionalmente falando? O que vem a seguir para ti?

Espero não ter realizado tudo, porque então estaria acabado. Prefiro morrer (risos), do que parar de fazer música. Não, definitivamente não acho que realizei tudo o que quero realizar. Mas devo dizer que estou muito orgulhoso do que fiz nestes 25 anos, porque quando comecei com o primeiro álbum de Ayreon, não esperava que as pessoas gostassem. Foi apenas um álbum chamado “The Final Experiment”, porque pensei que seria a minha experiência final. Não pensei que as pessoas gostariam. Não achei que faria outro e definitivamente não achei que, 25 anos depois, ainda estaria a fazer os álbuns de Ayreon e teria tanto sucesso. Estou extremamente orgulhoso disso. Qual é o próximo passo? Bem, definitivamente não é um álbum de Ayreon, porque já fiz alguns álbuns de Ayreon. Agora quero fazer algo diferente. Cada álbum que faço é sempre uma reação ao álbum anterior. “Transitus” não é muito pesado, é mais musical do que uma ópera Rock. Depois disto, gostaria de um álbum um pouco mais pesado. Eu tenho um projeto chamado “Star One”, que é basicamente o lado Metal de Ayreon. Acho que gostaria de fazer outro álbum “Star One”. Esse seria o meu terceiro álbum “Star One”. Portanto, esse é o plano. Mas sou conhecido por não seguir o plano e mudar de ideia o tempo todo (risos). Não sei o que vai acontecer. Pelo menos, é  nisso que estou a pensar.


M.I. - Se alguém quisesse transformar este álbum num musical, o que acharias disso? Gostarias da ideia e irias ajudá-los?

Claro que isso seria ótimo! Seria um sonho tornado realidade, na verdade! Não sei se poderia ajudar, porque não sei nada sobre teatro. A sério, não sei nada sobre isso (risos). Sim, eu tentaria ajudá-los, pelo menos dar-lhes ideias, mas ficaria muito aberto para que as pessoas mudassem as coisas, mudassem a história ou mesmo partes da música, porque provavelmente isso seria necessário, se fizeres um musical a partir deste álbum. Adoraria ajudar e não seria o maníaco controlador que habitualmente sou. Dar-lhes-ia, definitivamente, muito espaço para interpretar o álbum à maneira deles.


M.I. - Muito obrigada por esta honra. O que gostarias de partilhar com os teus fãs portugueses e público?

Este é um álbum difícil. Como eu disse, os meus álbuns anteriores foram óperas de Rock, este é mais como um musical de Rock. Realmente espero que as pessoas gostem e eu posso entender-te, sabes, porque as pessoas ficariam assim: ”Uau! Isto é muito diferente!”, mas eu daria uma hipótese, ouviria algumas vezes. Mas eu sei que eles o vão fazer, sabes? Porque os meus fãs de Ayreon são extremamente leais e também têm a mente aberta e eu gosto muito disso. Eles não pensam: “Isto devia ser pesado! Devia ser assim!”. Eles querem gostar, ouvem o álbum e ouvem as coisas boas nele. Tudo o que quero dizer é que estou muito orgulhoso dos fãs que tenho. Acho que talvez todos os artistas dizem isto, mas acho que os meus são os melhores fãs do mundo!

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Entrevista por Raquel Miranda