Após terem apresentado em Forever uma variedade de sonoridades que iam além do hardcore, os Code Orange levaram essa aproximação de expandir os limites entre géneros de música pesada com Underneath. Falar de fusão é uma opção, pois é mesmo isso que se torna evidente desde o single de apresentação, e que encerra o disco, “Underneath” com sintetizadores a liderarem a instrumentação, a acompanhar de forma sublime a voz de Reeba Meyers, um dos três vocalistas do grupo; só aqui ouvimos metal industrial, hardcore, metalcore, sendo evidente a sensibilidade pop do grupo para usar sonoridades cativantes sem sacrificar o seu som no geral (mais uma vez presente em “The Easy Way”).
Esta sonoridade mais ampla é iniciada no álbum com a introdução “[deeper than before]”, a lembrar Tool na passagem instrumental do tema “10 000 days” onde Lustmord contribui com sons de tempestade. Segue-se o segundo single de apresentação “Swallow the rabbit whole”, mais agressivo, mas eclético na sua instrumentação, com o piano a acompanhar o primeiro verso antes de entrarem as guitarras e a voz de “Shade” Baldrose a tornarem o tema mais violento, até que acaba quase abruptamente.
A diferença nas dinâmicas dentro de cada tema é algo que se tem evidenciado desde o início da carreira dos Code Orange (primeiro como Code Orange Kids), mas que se vai expandindo em termos de instrumentação, sendo que este é o primeiro álbum em que um dos guitarristas se dedica quase exclusivamente aos sintetizadores e teclados (“Last Ones Left”, por exemplo). A própria forma como vão utilizando as vozes variou, passando a ter mais temas com duetos (“In Fear”), em vez de uma voz principal e as demais em coros.
“You and you alone” é o um dos temas mais directos do álbum com a partilha de vozes mais uma vez em destaque. Os sintetizadores voltam a ser o principal instrumento em “Who I am” com a voz de Reeba Meyers acompanhada por um solo de guitarra bem conseguido. Por outras palavras, cada tema difere um do outro seja pelo uso da instrumentação (guitarras acústicas o inicio de “Sulfur Surrounding, por exemplo), seja pela forma como as vozes de cada um são utilizadas.
No seu todo, “Underneath” é um resumo de tudo o que os Code Orange fizeram até agora, e consegue dar um passo em frente na forma inovadora como abordam o hardcore e o levam mais adiante, um disco de cada vez. Por fim, é de destacar que a fluidez entre os temas deste álbum é muito bem conseguida, como de se cada um fosse um capítulo de um livro.
Nota: 9/10
Review por Raúl Avelar
