“Thalassic” é novo álbum de Ensiferum e Petri Lindroos reservou algum do seu tempo para responder a algumas perguntas. Água, programas de culinária, o recrutamento do novo membro Pekka Montin, espetáculos ao vivo e, claro, os problemas que esta nova pandemia traz à banda são os tópicos abordados. Eis o que Petri tem a dizer.
M.I. – Olá Petri, obrigado por nos concederes esta entrevista. É uma honra para nós! Como estás a lidar com tudo, dadas as circunstâncias atuais em todo o mundo?
Olá! É muito mau, sabes? Era suposto começarmos a época dos festivais há mais de um mês e agora não temos praticamente nada. Tivemos apenas um espetáculo no dia 10 de julho e é só isso. Não sabemos quando irá acontecer o próximo espetáculo, por isso, é estranho. Tudo o que havia para este ano foi cancelado.
M.I. – Do que vimos em maio, na página de Facebook dos Ensiferum, até criaste alguns vídeos na cozinha. Queres falar um pouco mais sobre isso? Como é que surgiu a ideia? Foi uma forma de manter os fãs entretidos durante a quarentena?
(Risos) Sim, eu publiquei o meu jantar no outro dia e algumas pessoas pediram um programa de culinária e eu disse “Bem, porque não?” Já que não tenho mais nada para fazer...”. Então foi o que fiz, foi muito divertido, e acabei por voltar a fazer mais umas 3 ou 4 vezes. Foi mesmo muito divertido! Algo terapêutico, sabes? Podes falar com as pessoas, mas elas não te podem responder (o que é muito porreiro). Penso que vou continuar com isso.
M.I. – Parece-nos bem! Que outros pratos podemos esperar?
Não faço ideia, porque normalmente não faço grandes preparativos. Não sou chef, portanto, apenas procuro alguma espécie de receita e vejo o que sou capaz de fazer. Depois arranjo os ingredientes e começo a preparação. Por isso, tudo e nada é possível.
M.I. – Portanto, “Thalassic”, é um novo álbum numa banda com mais de 20 anos de idade. Desta vez, contudo, houve a entrada de um novo membro. Em que medida é que isto afetou todo o processo de criação?
Sim, temos um novo elemento chamado Pekka, é o responsável por cantar de forma limpa e teclista. Podemos dizer que foi um presente divino, como um anjo enviado do Paraíso, com uma voz lindíssima e um talento incrível como cantor. O que traz à música é uma abordagem completamente diferente em comparação com o que tínhamos antes, como um vocalista muito forte na voz limpa. Isso abriu muitas portas a nível musical, portanto foi muito bom encontrá-lo. Quando o ouvimos a cantar, basicamente dissemos “Estás contratado”, pelo que foi uma decisão muito fácil.
M.I. – E acabou por ser uma pessoa de nacionalidade finlandesa, também...
Esse é também um grande bónus, claro. Recebemos centenas de candidaturas de todo o mundo e foi uma procura muito demorada por termos de rever todas essas candidaturas. Vimos imensos indivíduos extremamente talentosos nessa lista, mas calhou o facto de o Pekka ser finlandês e poder aparecer muito rápido para a audição e, assim que ouvimos a sua voz, todos concordámos e dissemos “Pois, já não vais para mais lado nenhum, pá, agora és nosso” (risos).
M.I. – Como é que o conheceram? Já tinham alguma ideia de onde o podiam encontrar ou ele acabou por enviar também uma candidatura?
Ele foi um dos candidatos, portanto ficámos a conhecê-lo dessa forma. Além disso, alguns amigos no mesmo panorama já o conheciam e disseram-nos que se tratava de uma pessoa muito talentosa e... agora faz parte da banda.
M.I. – Portanto, quando o Pekka foi contratado, o álbum “Thalassic” já estava a ser escrito e criado?
Não, ele fez parte de tudo isso desde o início, Esteve muito concentrado nas suas partes de voz, uma vez que tem uma grande versatilidade nesse aspeto. Utilizou as suas capacidades vocais muito, muito bem e, dependendo da situação, até perguntava como queríamos que cantasse. Houve muito disso.
M.I. – Pelo que percebemos, este é o primeiro álbum na história dos Ensiferum a ser desenvolvido sob um único tema. O que vos inspirou para este álbum e o que foi que vos fez perseguir este objetivo de criar um álbum sob um único tema?
“Thalassic” significa “relacionado com água” por isso... é um tema muito vasto. Mas a principal ideia a retirar deste álbum é que... vamos acabar por ficar molhados. Portanto, a água é o elemento principal.
A ideia surgiu do nosso baixista, Sami Hinkka. Ele trabalhou nisto durante uns dois anos e realizou uma profunda pesquisa sobre eventos históricos relacionados e mitos com água de todo o mundo. É basicamente a sua criação, na verdade, e gosto muito dela! Tem um tipo de abordagem diferente à música e, principalmente, às letras.
M.I. – “Rum, Women, Victory” parece uma faixa muito divertida e animada. Esta faixa define o tom para o resto do álbum? É este o tom que podemos esperar para as outras faixas também?
Um pouco, sim. Existe muito Metal no álbum, muito da voz do Pekka para se ouvir (o que é ótimo) e existe definitivamente algo de novo para os nossos fãs ouvirem.
M.I. – Com algum Power Metal à mistura também devido à influência do Pekka, certo?
Sim, temos algum material ao estilo do Power Metal. Ele tem esse tipo de voz, porque atuou em bandas de covers de metal de Judas Priest e coisas do género. Portanto, se tivermos de criar músicas de Power Metal, temos a pessoa para isso!
M.I. – Além disso, este é o primeiro álbum com a formação atual, com o Pekka a ser recentemente contratado. Podemos ver que ele teve um impacto instantâneo com a sua voz limpa em “Andromeda”, por exemplo. Conta-nos, o que é que ele traz à banda como um todo e como é que se está a adaptar aos Ensiferum?
Está a adaptar-se muito bem. Foi muito fácil de trabalhar com ele no estúdio. Ele sabe o que está a fazer, portanto não foi uma experiência problemática. É boa pessoa, o que é um bónus. Mas mal posso esperar por sair em digressão, onde podemos passar algum tempo juntos e ficar a conhecê-lo melhor, uma vez que agora tudo se cinge apenas ao trabalho. Nas digressões haverá muito mais tempo para falar e para nos ficarmos a conhecer melhor.
M.I. – Portanto, os Ensiferum não são estranhos a mudanças. Como é que lidam com uma mudança na formação? Isto é algo que afeta negativamente o estado anímico da banda? É algo difícil de superar?
No nosso caso não, porque todas estas saídas e contratações têm acontecido de forma simples. Não houve discussões nem rivalidades ou algo do género. Tivemos tempo para seguir em frente para outros teclistas, que tem entrado e saído há vários anos, mas essa não tem sido uma situação dolorosa. Temos lidado com isso muito bem.
M.I – Sim, porque vemos várias situações de bandas nas quais isto acaba por afetar muitas pessoas, com alguns membros a saírem também e este não parece ser o caso para os Ensiferum.
É verdade. Temos uma relação muito bem e passamos um bom tempo juntos. Portanto, isso é muito importante e a nossa química combina muito bem também. Podemos ficar fechados por várias semanas num autocarro de digressão durante 24 horas, 7 dias por semana. Bem, por vezes não é fácil, deixa-me que te diga, mas no final damo-nos todos muito bem e queremos continuar a atuar em espetáculos ao vivo e é isso que importa.
M.I. – Por falar em espetáculos ao vivo, sabemos que a vossa última vez aqui em Portugal, para o Vagos Metal Fest, foi algo problemática. Isto é, houve um problema com os instrumentos e acabaram por apresentar um espetáculo acústico, que surpreendeu toda a gente de uma forma muito, muito positiva. Existem alguns planos para novos espetáculos acústicos ao vivo novamente?
Essa foi uma experiência muito boa para nós. Recomendo que todas as outras bandas façam o mesmo. Infelizmente, muitas das bandas têm de cancelar o espetáculo, porque não têm os seus instrumentos e outros equipamentos fundamentais de que necessitam e isso é um problema para a banda e para os fãs. Mas uma vez que já tínhamos realizado alguns espetáculos acústicos na Finlândia, tínhamos um set memorizado e conseguimos fazer isso. Mais uma vez quero agradecer à equipa do Festival por nos arranjarem aqueles instrumentos acústicos em casa para que pudéssemos atuar. Foi muito divertido. Além disso, realizámos uma digressão europeia e foi muito divertida também, pelo que iremos voltar a fazer algo do género em algum momento. Não sei quando, mas iremos fazer!
M.I. – Vocês foram apoiados por todos os fãs por terem seguido em frente e realizado o espetáculo e parece que ninguém saiu desapontado. Como é que se recupera de um golpe tão grande para proporcionar uma atuação tão incrível?
Nós temos esta mentalidade de que iremos atuar independentemente da circunstância. Mesmo que haja equipamento em falta ou algo do género, tentamos pedi-lo emprestado de outras bandas para que possamos atuar, porque estamos ali para atuar e é muito mau quando a banda e a sua equipa estão ali e há algumas guitarras em falta, impedindo-a de atuar. É um problema, não gostamos disso e é uma porcaria. Mas fazemos de tudo para atuar e se isso significa que tenhamos de fazer um espetáculo acústico, que seja.
M.I. – A Finlândia é vista como um dos principais países na indústria do Heavy Metal, depois de apresentar tantas bandas bem-sucedidas: Nightwish, Amorphis, Children of Bodom, Apocalyptica, Turisas, Korpiklaani… apenas para falar de algumas. Qual é a sensação que tens ao ser uma parte intrínseca disso com uma carreira com mais de 20 anos?
É uma sensação boa para caraças, devo dizer! Não é uma profissão simples na qual podemos continuar a atuar como se espera de nós ao longo do tempo. Mas continuamos a ter prazer nisto, portanto para já estamos a tentar ultrapassar esta crise do Coronavírus que tem vindo a cancelar os espetáculos. Assim, podemos apenas desfrutar do verão, recarregar baterias e quando voltarmos aos autocarros de digressão, vamos arrasar... com tudo!
Sobre a Finlândia, creio que temos músicos extremamente talentosos que simplesmente têm muito em comum o Heavy Metal e que o praticam excecionalmente bem. Diria até que o Heavy Metal finlandês soa de uma forma ligeiramente diferente em comparação com o Heavy Metal de qualquer outro sítio. A forma através da qual se cria música na Finlândia é muito porreira. Um pouco negra, bastante melancólica também, dependendo da banda, claro. Somos uma espécie de nação das trevas, sabes? Pelo menos na música não somos um povo assim tão alegre. Mas os Ensiferum são uma banda de festa, gostamos de criar música bastante melódica e, bem, de desfrutarmos imenso com isso, que é fundamental. E quando fazes o que gostas e que te faz desfrutar, o som vai ser sempre bem.
M.I. – Depois de tanto tempo na indústria da música, que objetivos ainda esperas atingir com os Ensiferum? O que se segue para a banda?
É uma boa pergunta! Esta questão do Corona arruinou com tudo. Esperamos ter um bom início do próximo ano, logo que seja possível realizar digressões novamente. Há muito a ter em conta relativamente a isso, mas só queremos atuar no máximo de espetáculos que conseguirmos. Esse será o objetivo principal.
M.I. – Há algo que gostarias de dizer aos fãs que anseiam por ver-vos novamente ao vivo?
Sim, da próxima vez que atuarmos aí, esperamos ter o nosso equipamento para podermos apresentar o nosso espetáculo. Ainda assim, não estou a dizer que a experiência anterior tenha sido má. Tenham cuidado, mantenham-se em segurança, desfrutem do verão longe da música sangrenta, relaxem, bebam umas cervejas, façam uns churrascos e coisas do género e ouçam o novo álbum.
M.I. – E continuem a ver o Pete Lindroos a dar tudo na cozinha, certo?
Ah sim, isso também! Quando voltar a isso, aviso-vos.
M.I. – Pete, muito obrigado pelo teu tempo. Muitos parabéns pelo novo álbum “Thalassic”. Continuem o bom trabalho!
Muito obrigado, até à próxima!
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Entrevista por João Guevara