Os Beyond the Black são uma banda em ascensão que já conquistaram um bom posicionamento no mundo do metal. Surgiram em 2014 e automaticamente se tornaram populares na Alemanha e um pouco por toda a Europa. Separam-se em 2016 e regressaram pouco tempo depois com novos membros. São conhecidos pelo seu estilo power metal / metal sinfónico e trazem-nos este ano um álbum novo intitulado “Hørizøns”. A Metal Imperium esteve à conversa com a vocalista, Jennifer Haben.
M.I. - O que melhor descreve a vossa banda e o vosso som?
Agora, eu descrever-nos-ia mais como metal melódico do que metal sinfónico, porque mudámos um pouco o som para este álbum, portanto é menos sinfónico, um pouco mais eletrónico, um pouco mais moderno e eu diria que é uma voz de rock com guitarras e bateria de metal.
M.I. - O que inspirou o título do álbum “Hørizøns”?
Eu acho que primeiro que tudo, quando pensámos no novo álbum, queríamos que algo mudasse porque sentíamos que iria encaixar melhor com o que somos agora.
Nós sabíamos que íamos mudar um pouco o som, por isso, quando estávamos a começar a escrever músicas para este álbum, a preocupação foi com o que somos agora e eu penso que o principal foi encontrar uma palavra para esta nossa mudança.
Esta é então a razão porque intitulámos o álbum “Hørizøns”, existem novos horizontes para nós, vamos mostrar novas facetas e esta foi a razão principal para termos escolhido essa palavra.
M.I. - Podes falar-nos um pouco sobre o álbum? Sobre o que são as canções?
A coisa principal de que falamos neste álbum é mudança! Com isso quero dizer que nós estamos a mudar pessoalmente e que entendemos cada vez mais que ninguém nos pode dizer o que fazer e o que não fazer. Portanto, estamos a quebrar estas correntes na nossa cabeça de que temos que representar algo que talvez alguém quer que nós sejamos.
Eu acho que isso era uma coisa de que nos queríamos livrar e é sobre isso que falámos muito neste álbum, libertarmo-nos das correntes que sentimos e também sobre percebermos que ninguém pode dizer-nos o que fazer, porque, no fim, todos morremos e todos temos que decidir o que fazer com as nossas vidas porque não é a pessoa que nos diz o que fazer que vai morrer por nós… Esta é a razão porque temos que decidir, cada dia, por nós próprios o que queremos e não queremos fazer, mais ninguém pode fazer isso.
M.I.- Então este álbum é como que uma mensagem?
Sim! E claro que também sobre o que sentimos por nós próprios nas nossas vidas. Sobre o que passámos os últimos dois ou três anos juntos. Porque podíamos sentir que na nossa banda também, primeiro que tudo, queríamos fazer as coisas certas por causa da história dos Beyond the Black, claro, fizemos as coisas de maneira errada, ou sentimos que o fizemos, mas no final, percebemos “ok, nós somos bons, tentámos fazer as coisas bem, agora vamos ver o que conseguimos fazer para melhorar as coisas para nós”, percebes? Esta é a principal coisa por trás da composição deste álbum, esta mudança que sentimos dentro de nós.
M.I. - Quando começaram a trabalhar neste álbum novo?
Começámos a trabalhar no verão passado. Tivemos cerca de seis meses em que apenas escrevemos músicas, apenas a ter ideias de que som queríamos ter e a experimentar coisas. Isto foi super importante. Tivemos mais tempo para escrever canções. Antes, fizemos tudo isto em seis meses para o álbum anterior “Heart of the Hurricane”, mas desta vez tivemos seis meses apenas para compor e experimentar coisas e depois fomos ter com a nossa editora e dissemos “ok, estas são as músicas que poríamos no álbum, vocês gostam ou não?” e eles adoraram, por isso, tivemos muita sorte. Foi também um sinal de que isto poderia ser bom e gravámos até meados de março. No final de março tínhamos tudo pronto.
M.I. - Quais foram os maiores desafios na composição do álbum?
Para mim, eu acho que o maior desafio foi escrever a primeira canção, porque estávamos numa situação completamente diferente e porque também tentámos, pela primeira vez, algo que nunca tínhamos feito, enquanto banda. Normalmente fazemos assim: eu escreveria com o Chris ou com o Stefan em grupos de dois ou três. Mas agora decidimos fazer sessões com toda a banda também.
Temos de ter tempo para experimentar estas coisas que não sabemos se vão ou não funcionar. Também temos um ditado em alemão “demasiados cozinheiros fazem uma má refeição”, por isso, tínhamos medo de fazer algo assim. Mas, como disse antes, tivemos tempo suficiente para fazer estas coisas e ver o que acontecia e foi bom termos tido isso para a primeira canção que acabámos, porque dissemos “ok, vamos mudar a música, mas não é só estalar os dedos e as coisas acontecem”. Tivemos que encontrar um novo som e foi bom termos toda a banda reunida para compor a música que nos iria libertar do som que tínhamos antes, para olhar para as coisas de uma nova perspetiva do que poderíamos soar. E isso resultou na “Misery”. E é definitivamente super diferente do que fizemos antes.
Mas resultou! É uma boa canção e as pessoas repararam, estiverem abertos o suficiente para a ouvir e perceber que antes da canção sair não conseguiriam saber como iria ser. É isso que eu realmente adoro, quando estou a ouvir uma música que não conheço, é imaginar como ela soaria e acho que conseguimos isso com esta. Para nós foi um ótimo progresso, foi bastante experimental e foi um tempo bastante interessante.
M.I. - Consideram-no o vosso melhor trabalho até agora?
Sim! Eu diria que sim, porque… Não tenho a certeza se é mais emocional para mim, mas este é o álbum de que estou mais orgulhosa, porque fizemos muito, trabalhámos tanto, pusemos tanta emoção nele que eu diria que as pessoas têm que sentir muito mais de nós neste álbum.
É possível notar isso. Quando pensamos sobre o nosso segundo álbum “Lost in Forever”, temos lá muito boas canções, mas tivemos cerca de três meses para compor e gravar tudo e penso que se consegue ouvir algo como isso quando não tens o tempo para progredir realmente, para ir até ao detalhe, para mudar algo no dia anterior a terminarmos o álbum. Apesar de também ter acontecido desta vez...(risos)
Às vezes temos que decidir assim para ter o álbum perfeito. Fizemos estas coisas, apesar de termos estado nervosos a fazê-las, mas sabíamos que, no final, iríamos ficar orgulhosos.
Essa é a razão porque estou bastante orgulhosa deste álbum.
M.I. - Porque escolheram a canção “Misery” para primeiro single? Foi por ser a primeira canção que escreveram?
Não necessariamente. Acho que foi pelo que disse anteriormente, sobre o que significou para nós, que libertou a nossa mente. E o que eu estava a pensar sobre escolher o primeiro single era “vai relacionar-se com os nossos fãs também?” e acho que essa foi a razão porque a escolhemos.
Nós corremos um risco com isto, porque sabemos que há muitas pessoas de fora que dizem “ok, é demasiado pop o que vocês fazem”, por isso pegámos nessa música com o refrão mais pop, para mostrar a todos que não queremos saber, que fazemos o que gostamos e esperamos que os nossos fãs estejam abertos o suficiente para perceber ou que se libertem depois de ouvir esta música e verem que os Beyond the Black terão sempre diferentes estilos no seu som. E isto é algo importante para mim porque eu não quero estar numa “jaula” e não tentar fazer coisas. Realmente adoro fazer coisas variadas e mostrar em cada single uma faceta de mim.
M.I. - Como foi fazer o dueto com a Elize Ryd? Como a escolheram? Consideraram-na por causa da tour em conjunto que estão a planear?
Nós não nos conhecíamos antes de termos a ideia de andarmos em tour juntos e só tivemos a oportunidade de nos conhecermos no ano passado quando fizemos parte de um espetáculo com eles na Finlândia, portanto, não a conhecia pessoalmente antes.
Mas essa era uma questão importante para nós, de nos conhecermos uma à outra para perceber “ok, gostamos uma da outra? Será divertido andarmos em tour juntas?” e decidimos que “sim, seria divertido” e isso foi bom depois de eu ter visto o quão divertida ela é. Eu disse “ok, vamos fazer algo juntas”. É sempre importante para mim ter pessoas no álbum que conheci pelo menos uma vez ou que eu ache que é bom trabalhar com eles. E eu acho que a Elize é uma pessoa super engraçada e ela dorme muito mais que eu. E eu achava que era uma pessoa dorminhoca.
Mas eu adoro tudo nela e, claro, gosto realmente da sua voz. Fiquei bastante impressionada que ela conseguisse atuar tão bem ao vivo. Foi realmente fantástico e fez com que a quisesse no álbum ainda mais. Foi divertido trabalhar com ela!
M.I. - Como tem sido o feedback ao álbum?
Eu diria positivo e negativo, mas nada que eu não estivesse à espera porque, como disse antes, “Misery” era aquela música que tinham que estar preparados para a ouvir. Por isso, tinha a certeza de que haveria muita gente que não a perceberia à primeira, mas sabia que haveria algumas pessoas que não gostariam dela no início e que agora a adoram!
Eu sei que existem muitas canções com que se podem relacionar e os nossos fãs que nos conheciam e não gostaram muito do som antes, podem relacionar-se com muitas canções no álbum, na realidade, portanto, acho que esta é uma maneira de mostrar aos fãs outro lado nosso e mostrar-lhes que temos facetas diferentes. Não sei se isso soa um pouco negativo, mas digo isto de um modo positivo. Mas acho que vão gostar deste álbum, e por isso é que estou bastante entusiasmada por finalmente lançar o álbum inteiro porque estamos a mostrar tantas facetas diferentes e sei que cada uma das pessoas que gosta de Beyond the Black vai encontrar pelo menos uma canção que adora.
M.I. - Quem criou o conceito da capa do álbum?
Tivemos, é claro, alguém que fazia toda a parte gráfica. Portanto o que fizemos foi dizer-lhe o que queríamos mostrar em “Hørizøns”. Quando olham para a capa podem ver que eu estou na esquerda a olhar para a direita, que significa o passado, no meio é o presente e à direita sou eu a olhar para o futuro.
É também sobre enfrentar todas estas coisas que estamos a falar neste álbum e mostrar estes horizontes diferentes em cores, foi isso que lhe dissemos para fazer. Decidimos isto com toda a banda, é claro, não faz sentido estar a atirar as culpas para um dos rapazes (risos). Todos concordamos com isso.
M.I. - O que tens ouvido ultimamente?
Nos últimos meses? Muito da Disney! (risos)
Para mim foi bastante importante manter-me positiva e acho que, no geral, era importante para toda a gente manterem-se positivos em tempos onde não tens a possibilidade de te encontrares com pessoas, ou alguém com quem falar quando estás triste. Portanto, mantenham a vossa mente positiva. Sempre que ouço músicas da Disney, fico com o coração iluminado e adoro isso, portanto tenho ouvido muito da Disney.
(risos) Tenho muitas vozes femininas que foram inspirações para mim quando era mais nova. Mas alguém que me apercebi que foi uma grande inspiração foi a Whitney Houston. Todas as mulheres poderosas. Não ouvia heavy metal quando era muito mais nova, por isso, eram muitas mulheres do pop, hoje em dia é Paramore, Hayley Williams, acho que a Floor Jansen tem uma voz extraordinária e uma pessoa que me apercebi há pouco que verdadeiramente me inspirava pelo modo como canta é o Freddie Mercury, claro. Não o percebi antes porque apenas me questionaste sobre vocalistas femininas, mas ele é definitivamente um dos que mais me inspira pois cantava apenas uma nota e tinha a habilidade de por muita emoção e significado nela, por isso eu acredito que ele era muito especial.
M.I. - Achas que é importante lançar videoclipes para promover os vossos álbuns? Gostam de o fazer?
Eu acho que, hoje em dia, não é tão importante ter videoclipes para cada tema, mas acho que pequenos vídeos são bastante importantes de ter para as redes sociais. Este é o local principal onde se promovem os trabalhos. Mas também, é claro, temos muitos spots para a televisão na Alemanha por isso temos que ter boas imagens. Fizemos um para o nosso primeiro single mas depois chegou o Covid, por isso tivemos, para o segundo e terceiro, apenas vídeos com as letras. Nós queríamos fazer alguns vídeos curtos para este também, mas decidimos não nos encontrarmos durante este tempo e agora fizemos um novamente para o lançamento do nosso single principal, para termos algumas coisas para publicar e para os spots na televisão. Temos que ter isso quando temos estes spots para que as pessoas consigam ver bem todos os membros.
M.I. - Consideram o trabalho e exposição nas redes sociais muito importante?
Sim, é claro! A geração mais nova está imenso nas redes sociais. Tenho que ser honesta e dizer que tenho mesmo problemas em publicar coisas… estava a pensar sobre porque seria assim e acho que estava muito assustada em publicar algo demasiado pessoal, porque as pessoas podiam vir a minha casa. (risos)
Quando era mais nova apareci em spots publicitários pela primeira vez quando tinha onze anos e havia alguns rapazes que me andavam a perseguir e isso é algo que está mesmo na minha cabeça quando estou a publicar algo. Por isso, acho que essa foi uma das coisas que me fez ter dificuldades em publicar algo sobre mim, mas acho que comecei porque sei que é super importante para a banda e para alguém que se quer promover sem pagar muito dinheiro para um spot na televisão ou algo parecido. É apenas… nem todas as pessoas precisam mais disso, de ter grandes spots na televisão, sabem?
Portanto também é a razão porque decidimos criar a nossa própria ferramenta de promoção.
M.I. - O que fazem quando estão em tour?
Festejamos imenso! (risos)
Da última vez que estivemos em tour fizemos desporto todos os dias. Era algo que nunca tínhamos feito antes, antes fazíamos cerca de três dias e todos se começavam a baldar.
Mas tentamos sempre mantermo-nos saudáveis, fazer desporto, porque é super importante não ficar doente. Mesmo que aconteça, tentamos.
M.I. - Qual foi o vosso melhor momento em palco?
Humm... pergunta difícil.
Tenho que dizer, no geral, para mim, os melhores momentos são quando consigo ouvir através dos auscultadores que toda a gente está a cantar tão alto que o meu coração fica “ah...meu Deus!”. É a coisa mais bonita, quando as pessoas cantam em alta voz as tuas músicas contigo. Este, no geral, é o momento de que gosto mais.
M.I. - Com quem gostarias de partilhar o palco e porquê?
Humm, claro que tenho que dizer os Metallica ou alguém super famoso! (risos)
O que realmente adoro é ultrapassar-me, por isso seria espetacular para mim fazer um espetáculo com os Paramore, com todas as pessoas que me inspiraram. Já não é possível fazê-lo com o Freddy Mercury, mas talvez com o Phil Collins seria algo bastante interessante, para ser honesta. Mas os Metallica, é claro, seria incrível também!
M.I. - O Covid influenciou a vossa vida profissional?
É claro, quer dizer, estou sentada meses em casa, mas acho que mudámos apenas o modo como trabalhamos.
Eu tive quase mais trabalho que habitualmente. Estive em casa a fazer algo para as redes sociais ou a ter que pensar num plano B para a tour que é algo que, normalmente, não tens quando terminas algo. Pensámos sobre vídeos em direto a partir de casa e todas essas coisas que normalmente não fazemos e requer um pouco mais de tempo quando o fazes pela primeira vez.
Pessoalmente, normalmente, vou de sítio para sítio e tenho algum tipo de caos na minha cabeça e não tenho tempo para realmente separar todas as coisas em que estou a pensar e chegar fundo nos detalhes se não for disciplinada, percebem o que quero dizer? Então, isto é algo que me chegou muito facilmente desta vez, entrar em pensamentos bastante profundos e pensar em coisas maiores do que apenas música também. Porque, normalmente, a música é a única coisa na minha vida e na da minha família e há muitas coisas a acontecer por estes dias que parecem mais importantes para mim que a música, de momento. Não sei, pode-se dizer que a música está sempre em primeiro lugar e na minha família também, mas eu sei que há pensamentos a que geralmente não dou tanto espaço.
M.I. - Têm alguns planos para os próximos meses?
Sim. Lançámos duas espécies de concertos, um espetáculo “cinema-automóvel” de lançamento. Não sei se ouviram falar disso, é como ir a um cinema de carro e há um concerto no palco, há uma tela gigante onde podem ver-nos a todos também. As pessoas vão a esses concertos no carro deles e ouvem nos rádios dos carros, o que está a acontecer em palco.
M.I. - Parece divertido!
Sim! Mesmo divertido! Acho que é algo super diferente de um concerto normal, é quando podes decidir por ti próprio no teu carro, que som ter. Se tens bom som no teu carro, esta pode ser a melhor coisa de sempre pois normalmente quando estás num concerto num recinto, pode acontecer que o som num determinado ponto é muito pior do que noutro ponto e aqui tu decides quão alto está e todas essas coisas! Pode ser muito bom!
M.I. - Últimas palavras para os vossos fãs em Portugal?
Oh sim! Claro!
Primeiro que tudo quero agradecer imenso pelo interesse em ler esta entrevista e pelo interesse na nossa música, pela nossa banda em geral e obrigada à Metal Imperium também pelo interesse. Sim, estou ansiosa para, se tudo correr bem, muito em breve andar em tour outra vez e ver-vos a todos lá!
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Entrevista por Tatiana Andersen