Há músicos que existem para quebrar
barreiras, para transcender os limites estabelecidos (sabe-se lá por quem) dos
géneros e da própria música. Composições distintas da corrente dominante,
criações que não “permitem” a sua inserção em géneros ou rótulos. São esses
músicos que, com a sua tenacidade, abrem portas a todos os outros, que vêem
neles o caminho a seguir. Os Black Sabbath, os Sarcófago, os Venom, todos eles,
de certo modo, deram um passo em frente em direção à inovação e criação,
criando as bases estruturais para este género que nos diz tanto.
Chegados ao ano 2020, e esse linha de
pensamento está bem viva, como se pode ver nesta 1.ª oferta dos suíços
Apokryphon. 1/3 dos Darkspace, Zorgh - aqui Ophis, multi-instrumentista e
ocasionais vozes de apoio - tomou as rédeas da sua “besta criativa”, e pariu
esta entidade imensa. Quem conhece Darkspace sabe o que esperar de toda uma
realidade musical que transcende – em conceito – as barreiras físicas do
planeta Terra. Desta vez a “bolha existencial” é mais terrena, ainda que a
espiritualidade esteja latente em cada um dos temas. “Subterra” é uma viagem
pela mente humana, por sons que nos bloqueiam os sentidos e nos fazem voar,
docemente, por melodias.
“Evangelion of the Serpent” marca o início
da nossa jornada pelos recantos mais negros e pesados da psique humana. Lento,
de compasso bem vincado, demora até nos dar algo de palpável, mas assim que
mostra os seus olhos, conseguimos vislumbrar aquilo que nos espera na próxima
hora.
O Black Metal aqui disposto não é aquele
que tomamos como a “regra”, nem tão pouco é conservador, enraizado nas linhas
clássicas! Não. De modo algum. Mais uma vez: aqueles familiarizados com o ente
Darkspace não estarão à espera de algo terreno, algo mundano. Estes sabem,
obviamente, que algo diferente os espera, e assim que as portas se abrem e
damos real início a esta aventura, tal é-nos dado a conhecer. O Black Metal é,
para mim como ouvinte, uma ambiência transcendental. A procura daquele som que
nos embala, ainda que nos fustigue a Mente e o Ser com dor e perda, a
agressividade que nos fere os sentidos, com melodias. Não é algo acessível ou
fácil de assimilar, inicialmente, poderá inclusive obrigar a mais que uma
audição até se perceber o sentido que o mesmo leva, mas aquando do real
entendimento do trabalho, o desfrutar do mesmo torna-se muito mais simples e
reconfortante.
Uma aventura, uma viagem…
Nota: 8/10
Review por Daniel Pinheiro