Mark Menghi (Metal Allegiance) e Bobby “Blitz” Ellsworth (Overkill) conversaram com a Metal Imperium. A história, as bandas, os obstáculos e muito mais, foram um pretexto para esta entrevista. Obrigada, cavalheiros!!!
M.I. - Olá, rapazes. Espero que estejam bem, sãos e salvos. Estamos a atravessar tempos malucos. O que têm feito?
Bobby: Estou em New Jersey, Nova Iorque. As coisas estão bem, obviamente algumas mudanças, mas continuo a trabalhar. Continuo a escrever música, andar de mota. E tu, em Portugal?
M.I. - Estou bem. As coisas estão a melhorar, mas quando os centros comerciais reabrirem, haverá um aumento dos casos. Bem, veremos como corre. Que tal tu, Mark?
Mark: Estou bem. Estou em Nova Iorque. Estou no meio do foco da epidemia. Há muita loucura, a acontecer, com este Covid. Estou saudável. A minha família também está saudável. Portanto, isso é uma grande coisa.
M.I. - Senhores, contem-nos a história do nascimento desta banda, por favor.
Mark: Claro! Basicamente, a ideia surgiu no verão passado, enquanto escutava Lynyrd Skynyrd, no meu quintal e o meu filho mais novo sugeriu que tocássemos esta música que tocou na rádio “Saturday Night Special”. Comecei a pensar: “Como tocaria esta música, se fosse capaz disso?” Comecei a ouvir estas partes da guitarra, partes da bateria, melodias, etc. Peguei no telefone e liguei para o Ellsworth. Liguei-lhe e disse: “Hey, pá! O que é que achas de tocar uma música e fazer canções como esta?” e foi quando ele veio com a ideia: “Sim! Quero fazê-las! Uma banda Americana!”. E o resto é história.
M.I. - O nome da banda BPMD possui as iniciais de todos os membros da banda… como é que decidiram a ordem das letras? Por importância?
Bobby: (risos). Por idade (risos). Raquel, nós queríamos fazer a apresentação do álbum, como os anos 70. Que bandas usam iniciais? Emerson, Lake & Palmer (ELP), por exemplo. Então, queríamos a apresentação, na arte gráfica, alguma coisa que se relacionasse com os anos 70. Por isso é que o nome foi escolhido. Era simples. Demonstra compromisso enquanto banda, mas também demonstra, digamos, compromisso enquanto indivíduos. Então, na minha opinião, foi uma boa escolha.
M.I. - Vocês são músicos talentosos. Qual é a sensação de trabalhar uns com os outros?
Mark: Foi divertido. Quer dizer, divertimo-nos muito. Isto existe, porque são 4 tipos a divertirem-se. Sem expectativas. Prestamos tributo a músicos que nos inspiraram e o Bobby não o podia ter dito melhor. Esta é a razão por que fazemos o que estamos a fazer. É por diversão e para lhes pagar tributo.
M.I. - Isto é um revisitar da vossa juventude e é espantoso. Porque é que escolheram estas bandas e não outras? Que tipo de som, letras e significado estavam à procura?
Bobby: Quando criamos isto, foram regras gerais que discutimos. Dissemos: “Para este álbum, tem de ser americano! Tem de ser dos anos 70! Cada um tem de escolher duas músicas! Quando a banda se juntar, toda a gente tem duas escolhas e a banda juntou-se logo depois! Acho que em dois dias, temos uma banda!”. Então, toda a gente teve duas escolhas. E uma das regras era: “Quaisquer que sejam as escolhas feitas, nós temos que as tocar!”. Foi uma espécie de jogo, que jogámos aqui dentro. Deu-nos a oportunidade de não ser a ideia de uma ou duas pessoas, mas de todos nós. Isto fez com que todos estivessem igualmente empolgados. Digamos, por exemplo, no caso do Phil Demmel, ele sempre quis fazer uma cover da “Tattoo Vampire” e isto deu-lhe a oportunidade para o fazer. Por isso, o resto teve de alinhar. Podíamos ter escolhido os Kiss, a banda icónica dos anos 70, escolhemos músicas mais profundas das bandas, que tiveram um grande impacto no cenário musical americano dos anos 70. Em muitos casos, tornaram-se a ponte para o que o Heavy Metal se tornou nos anos 80.
M.I. - Como é que decorreram as gravações? Foi difícil fazer este álbum? Que obstáculos tiveram de ultrapassar? Eu sei que não gravaram mais do que duas músicas por dia.
Mark: Não! Foi realmente fácil! Juntamo-nos todos na casa do Mike. Ele estava na Pensilvânia, aqui na costa este, nos Estados Unidos. Juntamo-nos os quatro e arranjamos as músicas, divertimo-nos, ouvimos música juntos. O Mike carregou no botão de gravar enquanto estávamos a curtir. Então, tem aquela sensação viva de energia. Foi fácil. Gravamos as dez músicas num dia. Foi assim muito fácil para nós.
O Mike gravou as dez músicas num só dia. Eu gravei uma ou duas canções por dia, pois queria prestar igual atenção a cada música e queria ver e desafiar-me a mim próprio, se as podia fazer numa única vez. Se não as conseguisse gravar numa única vez, apagava e começaria de novo. Não havia copiar/colar. Essa tecnologia não existia. Era tudo gravado em cassete e se quisesses fazer de novo, teria de ser por uma boa razão. E foi por isso que o fiz.
M.I. - Qual foi a canção mais desafiante de gravar? O que aprenderam com ela?
Bobby: Para mim foi, provavelmente, uma das escolhas do Phil: “D.O.A”., dos Van Halen. A maior parte das canções, eu estava bastante ciente delas. Eu tinha um tipo de apresentação e entrega, que foi influenciada pelo Steven Tyler, influenciada pelos Cactus, tipo Rock ‘N Roll ganancioso. Mas quando “D.O.A.” apareceu, só havia um David Lee Roth para mim. Isso foi algo que tornou a faixa mais desafiadora para mim, porque coloquei-me na posição de me desafiar a mim mesmo, na forma de me adaptar, de como seria a minha apresentação.
M.I. - “O objetivo deste álbum era não as alterar e transformá-las em músicas thrash, como uma música vintage de thrash onde há velocidade e agressão.”. Que desafios tiverem de enfrentar?
Bobby: Eu acho que a ideia de que falamos anteriormente, era que a apresentação era a chave. Cada um de nós tem uma personalidade de apresentação que usamos para nós mesmos, ao longo dos anos. Tivemos de fazer isso ser a química, para fazer o álbum certo. Mas a chave era usar a apresentação, mas manter a integridade da canção. Portanto, o objetivo para obter thrash fenomenal iria perder a integridade original das músicas que escolhemos. E acho que naturalmente se transformou, digamos, num álbum de Rock ‘N Roll mais agressivo. E este tipo de resultado, deu um toque natural, em relação ao que estávamos a tentar obter. A ideia para a apresentação era re-imaginar o disco e tentar manter a integridade das músicas, como se estivessem na forma original.
M.I. - “American Made” será lançado no dia 12 de junho, através de uma das principais editoras, Napalm Records. Eles deram-vos o controlo total deste álbum?
Mark: Assinamos o contrato depois do álbum estar pronto. Enquanto estivemos a gravar, misturar e masterizar, não tínhamos uma editora, e, necessariamente, nem estávamos à procura, naquele momento. Decidimos financiar o disco e, assim que o álbum estivesse pronto, começaríamos a procurar. Sim! Musicalmente, tivemos controlo total. Até fizemos a arte gráfica, mesmo antes de ter uma editora.
M.I. - Mark Lewis é um bom amigo, que trabalhou contigo nos Metal Allegiance. De que maneira contribuiu para esta obra-prima?
Mark: Eu gosto do Mark, porque ele não tolera merdas. Se ele não gostar do meu tom de baixo, dir-mo-á. Se não gostar da forma como toco, dir-mo-á, e eu gosto disso. Quando trabalhei com ele nos Metal Allegiance, houve momentos em que ele me fez voltar atrás e regravar. “Consegues fazer isto melhor! Podes tentar isto! Experimenta este tom! Experimente este amplificador!”. Ele desafiou-me. Eu sabia que, quando chegasse a hora de misturar e masterizar este álbum, ele seria o escolhido, porque tentaria levar o álbum mais além. Ele fez isso, especialmente quando se tratava de algumas partes da gravação, entre nós os quatro. Ele dizia: “Não sinto isso! Vamos tentar isto!”. E ele possui aquele toque moderno, na sua mistura, de fazer com que as músicas vintage soem como hoje. Nós modernizamo-las e a produção do Mark foi perfeita.
M.I. - Vocês são quatro músicos talentosos, que decidiram prestar tributo a algumas das bandas mais icónicas. Sentiram a pressão, durante a gravação do álbum? Como?
Bobby: Eu não senti realmente a pressão. Como disse anteriormente, eu cresci nesta área. Por isso, a década de 1970, foi a que me apresentou à música e à música mais pesada. Para mim, é algo que está no sangue. Foi aqui que me senti atraído por tons de guitarra mais pesados, blues e jams de rap, para o que se tornou, nalguns casos, o Heavy Metal original. Então, para mim, foi uma transição fácil.
M.I. - “D.O.A.” dos Van Halen foi um grande desafio, não foi? Quais foram os obstáculos?
Mark: Para mim, nunca tinha aprendido uma canção dos Van Halen antes. Esse foi o desafio n.º 1. O desafio n.º 2 foi prestar tributo a Michael Anthony, na parte do baixo, para manter a integridade. Mas coloquei o meu estilo nisso. Levei alguns segundos para entender como o faria. De facto, eles gravaram, e eu desfiz, desfizemos metade da minha gravação e voltei a gravá-la novamente, só porque queria realmente fazer da forma correta.
Bobby: “D.O.A.”, como já tinha falado anteriormente, não tinha uma apresentação do David Lee Roth. Eu tenho uma apresentação como os Grand Funk Railroad, Cactus. Estas são as apresentações mais naturais para mim, no que diz respeito à expressão e estilo de cantar. Quando tive de aprender coisas do David Lee Roth, isso significava que teria de me aprofundar e desafiar-me, torná-la realista, não imaginar apenas a música e fazer do meu jeito, mas dizer: “Ok! Estes gajos tocaram música ótima para esta faixa, ‘D.O.A.’! Tenho de fazer do meu jeito, mas tenho de manter lá a integridade do David Lee Roth!”. Por isso, esse foi o maior desafio para mim.
M.I. - Vamos falar das faixas. "Toys In The Attic" é uma música dos Aerosmith, difícil de tocar, principalmente porque têm dois guitarristas. Contem-nos a aventura com esta música, por favor.
Bobby: Eu acho que ele realmente imaginou o facto de que havia duas guitarras e isso levou-o, de alguma forma, à faixa original. Para o resto de nós, não houve problema, porque estava mais à velocidade do que normalmente gravaríamos nos nossos temas originais. Para mim, foi uma música fácil de gravar, mas acho que, para o Phil, esse foi provavelmente o maior desafio para ele.
M.I. - Em todas as músicas, há uma atmosfera dos Ramones. Quem teve a ideia e porquê adicionar este tipo de som?
Mark: Eu acho que a atmosfera dos Ramones veio do Mike, por causa do up-tempo. Todas as músicas que gravamos e tocamos têm uma atmosfera otimista, especialmente "Tattoo Vampire". Possui mais alma do que provavelmente outra música.
M.I. - O álbum é incrível e mistura América e Rock na perfeição. De onde tiraram a inspiração e quem ajudou a desenvolvê-la?
Bobby: A inspiração foi muito simples: “Vamos divertir-nos com isto!”. Parece que resultou, que nos estamos a divertir e prontos para lançar este álbum. O tempo é escuro no geral, no que concerne à situação. Mas acho que o que fizemos foi lembrar de onde viemos. Para saber para onde vais, tens de saber de onde vieste. E enquanto eu, originalmente, escolhi a música como carreira ou modo de vida, como nós os quatro escolhemos, esta foi mais uma das nossas escolhas. Mas a razão pela qual a escolhemos, foi porque era fixe. Não havia muito que pensar. Esta ideia foi-me presenteada, foi simples. Ou estava na minha cabeça: “Sim ou não!”. Obviamente, SIM! E acho que foi assim para os outros também. O Mike Portnoy regressou à música; o Mark Menghi curte os anos 70; o Phil tem uma mente aberta para tocar muitas coisas diferentes e em muitos estilos. Então, a química já tinha nascido. Para mim, foi muito simples: “Divertir-me, fazer corretamente e lembrar-me de onde vim!”.
M.I. - Fizeram mais temas que excluíram? Se sim, quais?
Mark: Há muitos (risos). Há muitas bandas de quem gostaríamos de fazer covers: Europe, bandas dos anos 60, bandas dos anos 80. Nós definimos as regras, apenas porque era apenas um desafio divertido ou algo para nos desafiar. Sim! Há muitos temas diferentes, claro, que poderíamos tocar no futuro.
M.I. - “Toys In The Attic” é o primeiro single, dirigido por Victor Borachuk, da JupiterReturn, e pelos diretores de arte e motion design, Natália Tanus e Leonardo Gill. Qual o critério que usaram para escolher a equipa que vos poderia ajudar com os efeitos, som, equipamento e muito mais?
Mark: O Victor é um velho amigo meu. Ele é ótimo com a câmara, sabe como captar vídeo e, originalmente, deveríamos gravar um vídeo ao vivo, só com os quatro juntos. O Covid atacou as bandas e não podemos fazê-los. Então começamos a trocar ideias: “O que podemos fazer como vídeo?”. Ele é que teve a ideia para o vídeo. Eu disse: “Isso é fixe.”. Fizemos algumas edições e alterações, apenas para ver o que teria mais estilo ou não. O Victor foi totalmente o responsável pelo que disseste.
M.I. - Planeiam lançar outro single? Qual canção?
Mark: “Evil” saiu ontem. Este é o segundo single com vídeo e, de seguida, um terceiro single será lançado um dia ou dois antes do álbum ser lançado.
M.I. - Muitas bandas fazem covers de músicas na esperança de torná-las melhor… qual é a tua opinião sobre as covers? Achas que os novos temas originais melhoraram?
Bobby: Eu acho que isso depende do indivíduo. Quando entras no trabalho da outra pessoa, que é o que estamos a fazer, não criamos isto. Tudo o que fizemos foi recriar a apresentação. Não se trata necessariamente de torná-las melhor, porque elas já são boas. Nós fizemo-lo porque é divertido ouvi-las e imaginá-las tocadas por diferentes músicos. Isso é simples para mim. Escolhes estas canções, porque as adoras e queres prestar-lhes tributo. Não as escolhes para as tornar melhor. Escolhe-as para as celebrar.
M.I. - Gostariam de fazer uma tournée ou um concerto, com os membros originais, como convidados?
Mark: (Risos). Embora os Metal Allegiance já existam, acho que tocaremos juntos, quando todos estiverem prontos. Se o Billy Gibbons se quiser juntar a nós no palco, faz favor. Somos apenas nós os quatro e é o que é.
M.I. - Qual é a diferença entre esta banda e as bandas onde vocês costumam tocar?
Mark: A diferença é que não tenho de lidar com 38 membros de outras bandas, e isso é bem fixe. Os Metal Allegiance têm muitas pessoas. E essa é uma grande diferença.
Bobby: Para mim, principalmente toda a minha vida, estive nos Overkill. Talvez tenha saído algumas vezes, iniciei os Metal Allegiance e não me importo de ser uma das partes móveis. Passei, - Oh Deus! - , vinte e cinco anos nos Overkill, sendo a voz do que é agora. Neste caso, a democracia diz respeito a quatro tipos, que todos nós escolhemos, e acho que foi divertido para mim poder sentar-me e divertir-me e não pensar nisto como um negócio, mas como algo mais, para que eu possa passar um bom tempo.
M.I. - Nestes tempos malucos, a comunidade musical está mais unida do que nunca. E a prova disso é um concerto solidário para angariar fundos para a Old Bridge Militia Foundation, uma fundação de caridade 501 C3 sem fins lucrativos, no dia 30 de maio, e uma angariação de fundos para a vossa equipa. Será transmitida ao vivo, para os fãs?
Bobby: Esse concerto foi cancelado pelo estado de New Jersey. Não há possibilidade de fazer esse concerto. Obviamente, queríamos fazer a primeira apresentação ao vivo dos BPMD, para fazer algo que fosse mais do que apenas nós mesmos, e para ajudar os amigos, retribuir e fazer parte disso. Portanto, as obras de caridade são necessárias, e esperamos poder remarcar assim que as portas se abram para concertos ao vivo novamente.
M.I. - Quais são os vossos planos? Pessoais, e para a banda?
Bobby: Agora, acho que é um momento interessante, obviamente não apenas para mim, mas para todo o mundo. Também para a indústria musical. É o momento de repensar, re-imaginar, reinventar. E o que estou a fazer agora em casa é promover o projeto BPMD, procurar formas de colocá-lo na estrada, escrever material dos Overkill, andar de mota (risos), trabalhar em carros e ter aulas de culinária com o Sr. Mark Menghi (risos).
Mark: Eu pesco, estou com os meus filhos, toco baixo. Planos para a banda: só o tempo o dirá, depois do Covid ir embora. É difícil dizer quais são os planos.
M.I. - Muito obrigada por fazerem desta entrevista um sonho. Alguma palavra final que gostariam de partilhar connosco?
Bobby: Obrigado, Raquel. Foi maravilhoso e acho que foi uma ótima entrevista. Espero que gostem dos BPMD. Fiquem seguros e: OLÁ, PORTUGAL!
Mark: Obrigado pelo apoio.
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Entrevista por Raquel Miranda