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Entrevista a Louise Lemón


Louise Lemón estabeleceu-se como a Rainha do Death Gospel com o seu último álbum, “A Broken Heart Is An Open Heart”, que é um álbum pop com sugestões da era do psico-rock e do soul dos anos 60 e 70, produzido e misturado por Randall Dunn (Chelsea Wolfe / Sunn O))) / Marissa Nadler) em Copenhaga e Nova Iorque. Louise Lemón é frequentemente comparada a artistas como Chelsea Wolfe, Emma Ruth Rundle e A.A. Williams. Agora está de volta com o seu novo EP "Devil", lançado digitalmente a 27 de março. A Metal Imperium teve uma boa conversa com a Rainha do Death Gospel!

M.I. - Como tens passado? O que tens feito nesta quarentena? Quanto é que o vírus te afetou até agora, a nível pessoal e profissional?

Bem, estou bem e tenho tempo para escrever, por isso tenho andado a escrever para o próximo álbum e tenho trabalhado com o meu teclista, a enviar ficheiros e a fazer arranjos musicais e tal.


M.I. - Fala-nos um pouco sobre a Louise Lemón! Quem és? Qual a tua experiência como vocalista? Já tocaste numa banda? Quantos anos tinhas quando percebeste que querias ser compositora?

Sou uma artista a solo e sempre fiz música. Toco música desde pequena e sempre escrevi a minha própria música. Desde muito jovem que tenho um grande interesse por música e que comecei a tocar guitarra. Tenho tocado música toda a minha vida e acho que tem sido ótimo, porque tenho uma imaginação muito vívida e uma vida emocional completa por dentro, e a música é um escape e uma forma de criar o meu próprio universo.


M.I. - Então, é como uma terapia para expressar os teus sentimentos!

Sim, claro, de certa forma é uma terapia, mas também para tornar a vida mais interessante, mais intensa. Quando toco com os músicos com quem trabalho, crio algo que não estava lá e faço-o apenas a partir de mim mesma... é uma experiência psicadélica muito fixe.


M.I. – Tens treino vocal? Como cuidas da tua voz?

Treinei muito quando era mais jovem e tinha pessoas que me ajudavam a encontrar a minha voz e o meu corpo. Acho que isso é muito importante!


M.I. - Como treinas a voz e o corpo para conseguir cantar assim?

Obrigada! Faço yoga. O yoga foi uma revelação para mim, porque tem muito a ver com a respiração e também se fica a conhecer muito bem o corpo, portanto cuido-me dessa maneira. Também tento comer alimentos nutritivos e ser saudável. Agora não faço nada específico para a voz. Quando era mais jovem, explorava mais a voz porque, sabes, precisas de encontrar a tua própria voz! Mas agora tenho uma perspectiva holística de todo o meu corpo e de todo o meu bem-estar.


M.I. - "Devil" foi lançado a 27 de março... há mais de um mês... como têm sido as reações até agora?

Tivemos reações muito boas, boa imprensa e acho que as pessoas parecem gostar dele.


M.I. - És conhecida como a Rainha do Death Gospel. Este título colocou pressão extra em ti para o novo EP?

Não, tenho muita certeza no meu caminho musical. Acho que preciso de explorar e tentar concentrar-me em seguir o meu próprio caminho, e faço isso e apenas viajo na minha jornada musical, para não sentir nenhuma pressão especial.


M.I. - “A Broken Heart Is An Open Heart” é um álbum pop sombrio, inspirado nas décadas de psico-rock e soul dos anos 60 e 70. Acontece o mesmo com “Devil”?

Sim, acho que sim! O meu último álbum foi muito produzido, foi gravado em Copenhaga, eu misturei-o com o Randall em Nova York, portanto foi uma produção muito grande e estou muito orgulhosa dele! Mas, durante a gravação, houve algumas partes em que eu pensei “Quero explorar isto!”. Quando começas a ser criativo, é assim que fazes, e para o EP, e é por isso que é um EP, queria que fosse um espaço criativo onde eu pudesse explorar um pouco mais. Este foi produzido pelo meu teclista, que trabalha muito comigo, e fizemo-lo juntos e gravamos na nossa sala de ensaios, por isso é muito realista e muito brusco, no sentido de que parece uma gravação ao vivo... portanto, foram processos muito diferentes.


M.I. - Este álbum é sobre desgosto? Numa publicação no Facebook, escreveste: “Eu conheci um homem que me disse que havia um diabo em mim. Acontece que o diabo era ele.” Todas as tuas letras são biográficas? Abres o teu coração e alma?

Bem, este EP realmente tem uma música de amor que é a primeira música de amor que escrevi. Acho que todos passamos por altos e baixos, e "Devil" é interessante porque a escrevi enquanto estava numa relação. Quando a escrevi, inicialmente, olhei para dentro de mim para ver se era aí que estava o problema, mas nem sempre é esse o caso!


M.I. - Como escreves? O que te inspira? As letras vêm-te à cabeça? Como é que isso acontece? As tuas músicas mostram uma dualidade: escuridão e luz... como consegues fazê-lo tão bem?

Bem, às vezes tenho pequenas ideias que gravo logo no meu telefone e, quando as tenho, escrevo-as até ter uma coleção delas, mas, normalmente, escrevo ao piano e a maioria das letras é biográfica. Geralmente é sobre coisas que estão a acontecer na minha vida. Para mim, é importante poder dar as situações por concluídas e ser capaz de as enfrentar, escrevendo sobre elas e explicando-as. Tenho pensamentos e sentimentos em relação a algo e, quando escrevo sobre isso, fico mais forte. Também faço músicas que as pessoas gostam de ouvir, e sinto-me mais forte nesse processo e não é assustador. Escuridão e luz têm tudo a ver com isso! Se escrevo sobre algo que é triste ou difícil, preciso de olhar de uma perspetiva externa e enfrentar o que realmente aconteceu... fico mais fortalecida, porque sinto a vulnerabilidade e força em simultâneo.


M.I. – Imagino que deves estar a trabalhar em novas músicas, porque lanças material novo todos os anos desde “Purge” em 2018. Quais são as principais diferenças entre o material que está prestes a ser lançado este ano e o primeiro álbum?

Acho que são muito, muito diferentes. O meu primeiro álbum era muito sombrio e tinha muitos canais de ruído. O meu segundo álbum, “A broken heart”, era muito limpo e produzido de uma maneira mais inspirada pela música soul e este tenta captar o sentimento e o som de quando toco ao vivo.


M.I. - Como consegues juntar ideias tão rapidamente? É que lanças material novo todos os meses de março... por quê esse mês em particular?

Levei muito tempo para ter material para o meu primeiro álbum. Ele foi misturado e, assim que juntamos tudo, já tínhamos um álbum pronto a ser lançado… acho que logo após este processo, estou sempre pronta para lançar novas músicas.


M.I. - Quando começaste a trabalhar neste EP?

Não sei! Quero dizer, trabalho o tempo todo, e não consigo dizer. Não é como se eu tivesse começado a trabalhar num determinado momento exato, tem sido um processo contínuo. Bem, talvez quatro meses.


M.I. - Por enquanto, será apenas um lançamento em vinil. És fã e colecionadora de vinil?

Sim, para mim, essa é realmente a melhor maneira de ouvir música e coleciono!


M.I. - Quem é responsável pela arte do álbum? És retratada como uma deusa!

Eu e a fotógrafa. Trabalho com ela há muito tempo e é uma pessoa adorável. Temos uma colaboração muito boa e é isso que tenho tentado fazer com todos com quem colaborei. Tenho colaboradores de longa data e evoluímos em conjunto. 


M.I. - No final de maio, deverias iniciar a "Devil Tour" na Alemanha. Quais são os planos agora?

Estamos a pensar em remarcar claro, e lançarei as novas datas assim que as tiver. Agora é um momento muito incerto, então teremos que esperar e ver o que vai acontecer.

M.I. - No início de 2020, fizeste a tua primeira apresentação na TV e rádio em Barcelona e Madrid... como foi?

Foi muito bom! Já tinha tocado em Madrid uma vez num festival, mas estes foram os meus primeiros concertos como cabeça de cartaz, e foi uma experiência agradável. Viajo muito para Espanha, e foi muito especial tocar lá.


M.I. - Andaste em tournée com os Sólstafir. Como surge uma tournée como esta? Quero dizer, uma banda de metal e uma cantora de Death Gospel?

Quando começaram, eles eram muito pesados, mas o material que fazem agora realmente tem semelhanças com o meu material. Eles fazem muitas partes instrumentais mais lentas e estão a explorar novos caminhos musicalmente, por isso encaixamos muito bem e também temos uma ótima resposta do público.


M.I. - Nessa tournée, tocaste em Portugal. Do que te lembras?

Foi um bom concerto! Lembro-me de chegar e sair do autocarro e ver o Porto, que é uma cidade tão linda! Já lá tinha estado e é uma cidade incrível. Acho que é a minha memória mais forte. Lembro-me de tocar num local muito bonito e o concerto também foi muito bom.


M.I. - És frequentemente comparada à Chelsea Wolfe, Emma Ruth Rundle e A.A. Williams... concordas com estas comparações? Como te sentes quando os média comparam o teu som com outros artistas?

Eu tento entender o que eles estão a comparar... será a obscuridade da letra e a profundidade da música? Mas, musicalmente, acho que o que fazemos é muito diferente. Talvez seja por nós sermos mulheres que eles nos comparam. Acho que fazemos algo sombrio, mas musicalmente estamos muito distantes.


M.I. - Por que achas que apelas a ouvintes acostumados a sonoridades mais pesadas?

Acho que há muitos elementos sombrios e pesados na minha música. Quero dizer, não é metal, mas é mais como uma mistura de rock alternativo dos anos 70 com rock psicadélico, e acho que essas influências são algo que se ouve em todas as músicas. Mesmo que não sejam pesadas no sentido de metal, são pesadas noutro aspeto musical. Acho que as pessoas que ouvem música pesada e captam isso, também gostam da atmosfera principal, porque é obscura.


M.I. - Qual é o teu género musical favorito?

Ouço muito rock folk dos anos setenta.


M.I. - O que está na tua playlist atualmente?

Neste momento, ando a ouvir muito um artista sueco que faz música incrível, que tem uma integridade muito grande para com ele mesmo e para com o que faz, que é algo que eu realmente admiro. 


M.I. - Acreditas que o teu álbum foi um escape para algumas pessoas nestes tempos de quarentena?

Bem, espero que sim! Quero dizer, para mim, tem sido super importante ter música durante este tempo, tanto como um escape, como uma saída emocional! É por isso que faço música... para mim e para os outros terem uma saída para os seus sentimentos!


M.I. – Achas que a arte é suficientemente valorizada? Ou as pessoas só abrirão os olhos agora que recorrem a ela para não ficarem loucas?

Sim, acho que no geral percebes o que é mais importante: quão importante é a tua família e bons amigos. Sinto falta de concertos e coisas desse tipo… mas agora percebes também o quanto gostas de arte, em filmes e música, em casa! Bem, o meu plano é escrever e aproveitar este tempo como tempo introspetivo e, para isso, procuro a minha alma, tento crescer como pessoa...


M.I. – Tens a sorte de te dedicar apenas à música, certo? Onde encontraste os músicos que te acompanham? Quem são eles?

Bem, toco com eles desde sempre e realmente damo-nos muito bem e todos têm permissão para crescer e fazer coisas musicalmente ao longo do caminho. Realmente crescemos juntos!


M.I. - Mais alguma coisa que gostarias de dizer? Boa sorte para ti e espero ver-te aqui em breve!

Não, só quero dizer obrigada por estas perguntas! Vemo-nos no Porto em breve!

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Entrevista por Sónia Fonseca