Gregor Mackintosh e Nick Holmes são dois nomes imediatamente reconhecíveis para os fãs da cena Doom / Gothic Metal. Estes músicos são as mentes criativas dos Paradise Lost, uma das melhores bandas que já saiu de Yorkshire. A Metal Imperium teve o prazer de conversar com Gregor Mackintosh sobre o 16º álbum “Obsidian” e ele abriu-nos o seu coração e a sua alma… descubram todos os detalhes interessantes aqui…
M.I. - Olá! Como estás? E como lidas com o distanciamento social?
Não me incomoda, porque já sou meio anti-social, e não gosto de estar rodeado de muita gente. Os meus dias não são muito diferentes quando estou em casa, mas, a nível profissional, é muito estranho, porque passei a maior parte da minha vida a tocar ao vivo, a viajar e, durante os últimos dois meses, não fiz nada.
M.I. - Então, estás a recuperar energia!
Eu adoraria dizer isso, mas, quando não estou a fazer nada, sinto-me um pouco desmotivado, é estranho.
M.I. - A arte geralmente não é valorizada… pelo menos aqui em Portugal, é subfinanciada nas escolas… no entanto, nestes dias de quarentena, é a arte que nos mantem sãos, seja na forma de livros, música, pinturas... achas que será mais valorizada a partir de agora?
Acho que é possível! Tenho pensado sobre isso ultimamente, todo o mundo tem! Todos precisamos de luz, calor, um teto sobre a cabeça e comida durante situações como esta, mas a única coisa que nos separa dos animais é a arte, sabes? É o que alimenta o nosso cérebro! Acho que a arte está a ser subestimada e subfinanciada em muitos países e, numa época como esta, percebes que é isso que estabiliza a tua sanidade. Na maioria das vezes, podes simplesmente ouvir música, ler um livro, ou algo assim e isso pode tornar-te mais estável. Acho que é possível que eles façam isso! Quero dizer, tudo isto está a dar às pessoas muito tempo para pensar e refletir, e a única coisa que podemos fazer é apreciar arte. Sim, acho que é possível.
M.I. - É por isso que não aproveitaram a oportunidade de adiar o lançamento do álbum, certo? Considerando a situação do Covid-19, a Nuclear Blast ofereceu-vos a oportunidade de adiá-lo, mas vocês querem que as pessoas ouçam o novo álbum enquanto estão de quarentena!
É exatamente por isso! A Nuclear Blast perguntou a algumas bandas que estavam prestes a lançar álbuns se queriam adiar até ao final do ano e acho que apenas algumas bandas decidiram adiar porque a maioria das pessoas têm a mesma mentalidade, sabes? É mais importante quando as pessoas não têm o que fazer, quando estão trancadas, não têm como despertar sentimentos, e é bom ter coisas para fazer, coisas para ouvir e coisas para ler. Quero dizer, toda esta situação provavelmente afetará as vendas globais na indústria da música, mas isso é algo que não se pode evitar. Além disso, quando cerca de 70% das pessoas adquirem música online, seja em streaming ou comprando em lojas online, acho que é importante divulgá-la! Ninguém sabe quando isto vai acabar, ninguém sabe quando é que os concertos e festivais vão acontecer novamente... realmente não vejo sentido em adiar o novo álbum.
M.I. - Na quarta-feira, 15 de abril, foi anunciado que todos os concertos e festivais até 31 de agosto seriam cancelados... como é que esta decisão afetou os Paradise Lost? Iam tocar em muitos festivais neste verão?
O primeiro que tivemos que cancelar foi há cerca de um mês. Foi no dia em que o bloqueio aconteceu aqui no Reino Unido, devíamos ir para o México para tocar num festival e tivemos que cancelar. A primeira coisa que pensamos foi "Oh, estaremos de volta à estrada em três semanas", mas o que estamos a ouvir dos promotores agora é "Quando é que isso vai acontecer?". Teremos sorte se houver algum concerto este ano. Quero dizer, está a afetar-nos a todos, alguns promotores provavelmente vão rebentar em alguns lugares. É apenas algo que requer muita paciência das bandas, fãs, promotores, de toda a gente, até que a cena ao vivo volte a funcionar, seja quando for.
M.I. - Sim, mas acredito que não precisas de trabalhar para pagar as contas, pois os Paradise Lost são provavelmente a única carreira que tens…
Certo, isso é verdade! Os concertos ao vivo são uma parte muito grande da indústria da música hoje em dia, maior do que nunca, porque quando começamos a maior parte da receita vinha das vendas de discos. Hoje em dia, como há o streaming, os concertos ao vivo e as vendas de merchandise são uma grande parte da receita. Bem, não estamos numa situação terrível, como talvez algumas bandas estejam, mas a indústria da música vai ter que mudar, terá que se adaptar por causa desta crise que estamos a passar.
M.I. – Portanto, o álbum será lançado conforme programado para alegrar os dias dos fãs, mas a melancolia pode contribuir para algumas ideias obscuras e negativas... achas que esta é a melhor banda sonora para a quarentena?
Nós não sabemos! As pessoas perguntam-me: "Como gostas de música deprimente quando estás deprimido?". Depende do que gostas, do que te põe no humor certo. Se eu tivesse que ouvir música de dança o dia todo, isso iria deprimir-me! Há 30 anos que escrevemos sobre coisas assim, que refletem sobre a nossa vida e arrependimento, por isso é algo de que estamos habituados a falar. É interessante que agora está isto a acontecer, e não posso dizer que será a melhor coisa para refletir esta crise... eu dantes pensava: "Uau, aposto que um apocalipse zombie seria realmente emocionante!". Agora, 28 dias depois deste vírus, e já percebi que é super chato!
M.I. - De acordo com alguns sites, Obsidian é o talismã daqueles que se atrevem a ver... o passado, o futuro, ou os próprios demónios internos e as verdades mais sombrias, para aqueles preparados para olhar profundamente para o interior, o subconsciente, para revelar a sua própria sombra... falhas, fraquezas, medos, tudo. És supersticioso?
Na verdade, não, estou muito enraizado no hoje. Não penso muito à frente, tento não olhar muito para trás, porque é esmagador para a tua a vida se tentas prever o futuro ou confiar demais na retrospectiva. Por isso, não, eu não sou supersticioso, mas isso não significa que não possa me interessar por aquilo em que as pessoas acreditam, pelo que as pessoas se arrependem, pelo que as pessoas anseiam de anos passados . É disso que trata a maioria das letras deste álbum, é sobre o que a banda costuma falar... este tipo de reflexão interior e também refletimos isso na capa. A capa do álbum é toda baseada nesse tipo de folclore pagão pré-cristão, nesses ícones, o seu simbolismo, os parafusos do caixão, a White Rose de York, coisas assim. Então, está tudo enraizado nessa superstição, mas como pessoas não somos supersticiosos, é apenas algo que nos interessa.
M.I. – És responsável pela maioria das melodias... como ainda consegues ser criativo ao fim de 30 anos e ainda manter um som que é instantaneamente reconhecível como Paradise Lost? O que te inspira?
Bem, não é algo que possa planear, é apenas algo que acontece. Depende se me sinto inspirado ou não, suponho. Pessoalmente, penso na música como uma maneira de estar, nunca falo sobre música em termos de musicalidade. Costumo falar sobre isso em termos de como me faz sentir, e não importa se é música metal, música clássica, música pop, o que quer que seja... depende apenas de como me sinto. Acho que a música dos Paradise Lost tem sempre um certo sentimento, esse som reflexivo melancólico e agridoce, e essa é a minha interpretação. Em termos de inspiração, pode vir de todos os tipos de lugares... pode ser um filme, uma situação, podem ser muitas coisas. Em termos de composição, sempre foi uma grande aprendizagem para mim, é algo em que estou realmente interessado e na qual tenho muito orgulho. Sinto-me constantemente inspirado por novos artistas, novos e antigos. Também sou obcecado pelo Bandcamp, muitas vezes encontro novos artistas interessantes que não têm contrato com editoras. Acho isso mais interessante do que o mainstream, porque muitos dos atos já estabelecidos tocam sempre da mesma maneira e, acho que, às vezes, no Bandcamp, se encontram coisas realmente interessantes que nem imaginávamos. Sim, para mim, é uma constante aprendizagem. Não me classifico como diferente, vivo e respiro todos os dias. Sonho acordado com melodias e músicas e coisas assim e apenas faço a música, às vezes as pessoas gostam, às vezes as pessoas não gostam, mas acho que o som dos Paradise Lost vem do nosso estilo de tocar também. Todos nós temos as nossas próprias peculiaridades e pequenas coisas que fazemos com os nossos instrumentos, o nosso estilo de tocar. Não sei por que toco assim e não posso nem poderia mudar, mesmo que quisesse, sabes? Apenas sai daquele jeito.
M.I. - Quando vais ao Bandcamp e ouves música, limitas-te ou ouves todos os tipos de estilos e géneros musicais?
Quando estou no Bandcamp, geralmente é algo mais pesado, porque acho difícil encontrar algo que não seja pesado. O Bandcamp é interessante, sabes? Há algumas coisas eletrónicas por lá que são muito interessantes, mas, sim, na maioria dos casos, as bandas parecem estar voltadas para o lado mais extremo. Em geral, ouço todos os tipos de música, quer sejam musicais, música clássica, música eletrónica, exatamente o que me apetecer. As únicas orientações que tenho são que não gosto de música alegre, gosto de músicas tristes... pode ser Simon e Garfunkel, pode ser Dvorak, pode ser Gary Newman, não importa, podem ser muitas coisas diferentes.
M.I. - As faixas do novo álbum têm títulos muito sombrios, "Darker thoughts", "Ending days", "Hope dies young"... é tudo sobre pensamentos suicidas e tristeza? Dirias que és um tipo depressivo?
Sim, sou. Quando era criança, fui diagnosticado com depressão maníaca, chamada de bipolar nos dias de hoje. Tomei medicação a maior parte da minha vida e ainda a faço, mas não é algo que me afete muito se não pensar sobre isso, porque se eu tomar o remédio, estou bem. Basicamente, isto acontece a pessoas que pensam muito. Acho que analiso demasiado as situações, exagero e pequenas coisas tornam-se enormes e isso é algo que acontece na minha família... a minha mãe era exatamente igual, o meu irmão mais velho tem problemas maiores do que eu, o meu tio foi institucionalizado, é apenas algo que corre na família, mas não é algo em que eu me concentro, porque se eu realmente começasse a pensar muito nisso, não estaria a criar música, porque isso iria deitar-me muito abaixo. Quando estou realmente deprimido, a última coisa que quero é ser criativo, e o meu escape é a música e coisas assim. Com ela, consigo exprimir estes sentimentos e captar as coisas. Os álbuns são como um momento da vida e do que gosto naquela época, acho que é por isso que tenho estes sentimentos. Em muitos temas, acho que há um vislumbre de esperança. Se vires o vídeo de "Fall from Grace", esse brilho está aí, é sobre esses crescendos da vida. A vida é leve e sombria e precisas de lidar com o mal... mas é sempre desse ponto de vista de “O que é que eu poderia ter feito melhor? Poderia ter sido diferente?”... a retrospectiva é uma emoção inútil, pois é apenas questionar “e se”... e não temos respostas.
M.I. - A faixa “Fall from Grace” foi a primeira música escrita para este álbum e, de acordo com vocês, é a que mais se aproxima do estilo do álbum anterior “Medusa”.
Então, o que podemos esperar das outras músicas? O teaser da faixa "Darker thoughts" não revela muito!!
A editora disse-nos para escolher três músicas do álbum que queríamos que as pessoas ouvissem primeiro, e escolhemos: "Darker Thoughts", "Fall From Grace" e "Ghosts". Não tínhamos uma ordem pela qual queríamos lançá-los, foi a editora que decidiu lançar “Fall From Grace” primeiro e acho que é porque queriam algo que funcionasse como um passo em frente, mas na mesma onda do álbum anterior, entendes o que quero dizer? Se eu e o Nick tivéssemos decidido, provavelmente teríamos escolhido “Darker Thoughts” para as pessoas ouvirem primeiro. Entendo a apreensão da editora porque essa é uma música muito diferente, é a primeira música do álbum, a faixa de abertura e acho que vai polarizar as pessoas um pouco. Acho que algumas pessoas vão adorar e outras podem nem chegar a meio do tema e vão desligá-lo, porque é algo muito diferente para nós. Há algumas músicas no álbum, na verdade, "Darker Thoughts" e "Ending days", que são músicas muito diferentes para nós. Ouvindo-os agora, não sei dizer de onde vieram musicalmente. Muitas músicas do álbum, como a faixa “Ghosts”, são muito influenciadas pela música pós-punk gótica do começo dos anos 80, mas as duas músicas que mencionei, não tenho ideia como surgiram musicalmente. Somos apenas eu e o Nick a experimentar e brincar e essas músicas apareceram. Será um álbum muito eclético, muito variado, bastante refinado, maduro de certa forma, se puder dizer isso. Então, sim, é um álbum muito diferente de “Medusa”… de facto, algumas pessoas disseram que é uma espécie de antologia dos Paradise Lost, em que aparece um pouco de cada ano em algum momento, mas não foi intencional, apenas ficou assim.
M.I. - Sim, ok, então a faixa que mencionaste "Darker thoughts" será mais ou menos como "One Second" quando a lançaram, certo?!
Inicialmente, sim, é uma música de duas metades. É uma música estranha, mas sim, quando chegar, vai atrair algumas pessoas e irão perguntar o que diabos está a acontecer e talvez elas adorem e as atraia. Mas essa é a ideia para o continuarmos a fazer! Eu, especialmente, a única razão pela qual continuo a fazer isto é porque gosto... tenho que fazer coisas que acho interessantes, caso contrário seria como trabalhar numa linha de produção e isso não seria agradável para mim. Eu questiono as bandas que permanecem iguais durante 30 anos, questiono os seus motivos e, se elas gostam tanto deste tipo de música, não mudam, não precisam de variação? Não sei, talvez apenas sejam pessoas diferentes.
M.I. - Qual a importância de um vídeo na promoção de uma música? Achas que as pessoas lhes prestam atenção?
Geralmente, 50/50, eu diria. Pessoalmente, assisto a vídeos de bandas, atraem-me se tiverem um vídeo interessante baseado em histórias, não importa muito o visual, desde que tenha uma cinematografia decente e uma boa metáfora nos vídeos. Acostumas-te a ser bom em fazer vídeos e não precisas de muita coisa, desde que tenhas uma história decente e uma metáfora e, essa situação é muito importante, pois realmente faz-te gostar de uma música, mesmo que não a aprecies. Aconteceu comigo com uma banda chamada australiana chamada Portal. Eles tinham uma música chamada "Curtain", de grindcore ultra-extremo. Essa música em particular não significava muito para mim, era mais ou menos, e vi o vídeo e fiquei a adorar a música. Acho que isso pode acontecer, mas é difícil porque os orçamentos para metal, música extrema, qualquer que seja, música gótica, não são enormes, e precisas de encontrar um tipo que seja bom diretor de fotografia... e nós encontramos. O tipo que dirigiu o vídeo, usamo-lo duas ou três vezes com os Paradise Lost até agora, e eu também o usei no meu projeto chamado Strigoi. É um tipo porreiro, que pensa fora da caixa e cria ótimos vídeos metafóricos. Só precisas de uma boa cinematografia e duma pequena história e imagens fortes. Ele chama-se Ash Pears e foi por acaso que o encontramos há alguns anos atrás e temo-lo usado desde então.
M.I. - Este será o 16º álbum da banda... são como 16 capítulos de um livro que representa a tua vida! Qual é o capítulo de que mais gostas?
É como perguntar qual é o meu filho favorito! (risos)
M.I. - Eu sei que é o mais recente, certo?
Sim! Essa é a única coisa que me mantém aqui. Se não achasse que as coisas mais recentes são as mais fortes, se por um minuto pensasse que um álbum que fizemos há 20 anos era melhor do que o que acabamos de fazer, não sei o que estaríamos aqui a fazer. Eu gosto mais de músicas, não aprecio álbuns e é o mesmo quando ouço outras bandas. É o mesmo com a nossa banda. Gosto de algumas músicas deste disco… mas sou um tipo que adora mix tapes. Não consigo ouvir o mesmo tipo de música por mais tempo do que o meu tempo de atenção, ou seja, 20 minutos. Depois deste tempo, tenho que mudar e ouvir outra coisa. Do nosso catálogo, não consigo escolher um álbum mas existem músicas de destaque para mim. Acho que "One second" é uma ótima música e seria difícil recriar algo assim, pois é uma música que aparece uma vez na carreira. Não é algo que possas planear. Isso é difícil, depende do humor em que também estás.
M.I. - Qual é a tua faixa favorita de Paradise Lost?
Uma música chamada "Shine"... não sei se alguém a conhece. É uma música bastante obscura. Acho que saiu há cinco álbuns atrás, mas é uma música interessante. Também gosto da música “Sweetness”, que é uma música que fizemos, mas não saiu em nenhum álbum, saiu num EP em 1994. Eu gosto de músicas obscuras porque não se ouvem muito, e não fico entediado com elas. Poderia dizer "As I Die", mas já a ouvi demasiadas vezes, sabes?
M.I. - "As I die" é realmente maravilhosa! Existe uma música que te tenhas arrependido de ter feito? Alguma faixa que escreveste e gostarias de mudar por algum motivo?
Na verdade, não! Porque não acredito em arrependimentos, não faz sentido, porque tudo o que fiz até este momento, é o que me permitiu estar aqui agora a conversar contigo. Mudas uma coisinha e podes ter um resultado diferente, para melhor ou para pior, e por isso não acredito em arrependimento. Claro, em retrospectiva, há músicas e coisas que ouço agora e, por causa da experiência, penso que poderia ter feito melhor. Há uma música chamada "Falling Forever" em "Gothic" que é bem aceite pelo pessoal, mas eu penso: "Em que diabos é que eu estava a pensar quando a criei?"... mas isso é apenas em retrospetiva.
M.I. - A banda tocará o novo álbum na íntegra no dia 17 de setembro no The Warehouse em Leeds... têm muito tempo para se prepararem. Por que o decidiram fazer? É uma festa de lançamento que acontecerá muito tempo após o lançamento, certo?
Sei tanto quanto tu! (Risos) Todos os dias assistimos às notícias e ao governo a dizer que as coisas vão voltar ao normal, mas não sabemos quando, ninguém sabe, essa é a verdade! Ainda estamos a planear essa festa de lançamento e será fantástico se acontecer. Deveria acontecer em maio, obviamente agora passou para setembro. Realisticamente, é quando acho que iremos poder fazer concertos no nosso próprio país novamente. O plano ainda é fazer esse concerto e vamos tratá-lo como se fosse acontecer e, se algo mudar, informaremos as pessoas com bastante antecedência. Mas é uma daquelas situações, com toda esta coisa do Covid-19, para a qual ninguém tem respostas diretas... ninguém sabe quando isto vai acabar, quando as pessoas se poderão juntar novamente. Mesmo quando as pessoas se puderem juntar, não será permitida muita gente, como em concertos e festivais. E ainda temos a indústria da aviação, as pessoas vão andar aí a voar de um lado para o outro, e isso vai funcionar? Não sei, será precisa muita paciência.
M.I. - Como conseguem ensaiar nesta situação?
Ontem, eu toquei todas as músicas novamente. Toco-as a todas uma vez a cada dois dias. Não ensaiamos online, porque ter atrás de mim o baterista ou algo assim, é muito barulho! Estamos a ensaiar sozinhos por enquanto e, quando nos pudermos reunir novamente, fá-lo-emos.
M.I. - Quanto mais álbuns lançam, mais difícil fica a escolha da setlist para os concertos ao vivo! Quem trata disso? Que faixas têm de incluir inevitavelmente?
É o Nick que trata delas e depois envia para nós e, de seguida, fazemos comentários, se achamos que uma música não combina com o conjunto ou se achamos que outra música seria melhor, dizemos-lhe e ele altera. Geralmente, para festivais, seria mais ou menos um set com as "melhores", com uma ou duas músicas de cada álbum, se possível. Se estivermos a promover um álbum, obviamente tocamos mais um pouco desse álbum. Ou se queremos fazer algo um pouco diferente, tocamos músicas menos esperadas... e fazemos isso às vezes!
M.I. - Vi a banda ao vivo pela primeira vez em Londres em 1995 e foi uma loucura! Acho que “As I die”, “Pity the Sadness” e “Ember's fire” devem ser sempre tocadas ao vivo, porque são incríveis! Vocês são uma das minhas bandas favoritas ...
Ah, obrigado! Geralmente nós tocamo-las, mas ou tocamos "Pity the Sadness" ou "As I die", porque são as duas do mesmo álbum.
M.I. - Os mestres e pioneiros do Doom, Paradise Lost, Katatonia e My Dying Bride, lançarão material novo material este ano… seria incrível fazerem uma tournée em conjunto num futuro próximo… já pensaram nisso?
Seria ótimo fazê-lo, sim! Nós discutimos coisas assim, mas isso depende do tempo e do que cada banda está a fazer. Os Katatonia e os Paradise Lost são gerenciados pelo mesmo manager e os My Dying Bride são bons amigos, por isso é algo que estaríamos interessados em fazer!
M.I. - A música dos Paradise Lost influencia a cena do metal há mais de 30 anos... alguma vez imaginaste que serias um ícone e modelo para músicos de todo o mundo?
Não, ainda não sei o quanto disso é verdade! De vez em quando há algumas pessoas que me dizem isso e sinto-me lisonjeado, mas todas as bandas começam por algum lado. Os Him e os Katatonia disseram que éramos uma grande influência quando começaram, mas depois eles foram e criaram o seu próprio som, e foi assim que nós começamos também, sabes? O nosso material inicial imitava as pessoas de quem gostávamos e depois fomos e fizemos as nossas próprias coisas. Eu não sou nada bom com elogios.
M.I. - Como lidas com os fãs? Quando eles se aproximam de ti, sentes-te envergonhado? Odeias isso ou aprecias quando eles vão ter contigo?
Eu não sei, não são apenas os fãs, são as pessoas em geral. Antes de começar, normalmente bebo algumas bebidas alcoólicas para me tornar mais acessível. Isso aplica-se a toda a gente, às pessoas na rua, a qualquer um... a minha esposa sabe disso e nunca me apresenta a pessoas novas, porque eu sinto-me intimidado por eles. Sou quase amigável, mas não me sinto confortável com muita gente. Mas isso sou só eu!
M.I. - Este ano fazes 50 anos. Como lidas com esse número? A idade preocupa-te ou achas que é apenas um número?
Não me preocupo com isso, porque é uma inevitabilidade, e a morte também. Não faz sentido preocupar-me com isso, mas também não acho que seja apenas um número, porque noto que o meu corpo e a minha mente são diferentes do que eram quando tinha 20 anos. Não é ótimo envelhecer... algumas coisas são melhores, outras não. É apenas uma das inevitabilidades da vida, não me importo.
M.I. - Conseguiste alcançar tudo o que querias, pessoalmente e como músico?
Bem, nunca tive intenção de conseguir nada. Na verdade, nunca comecei com qualquer tipo de ambição ou plano em mente. Consegui muitas coisas das quais tenho muito orgulho. Houve boas surpresas porque nunca pretendi alcançá-las e acho que é assim que encaro a vida. Eu não penso muito à frente, não me preocupo muito com isso... é o que os conselheiros dizem: "Apenas vive o momento". Isso é plano suficiente e é tudo o que eu faço.
M.I. - Agora que temos todo o tempo do mundo, tens criado muito? Algum material novo para os Strigoi ou outros projetos?
Eu quero porque tenho muito tempo, mas, é como eu disse, é tão difícil sentir-me motivado. É estranho que agora que tenho todo o tempo do mundo, não tenho motivação. Normalmente, quando estou muito ocupado, também trabalho imenso no estúdio, mas ainda não fiz nada, literalmente não fiz nada nestas três, quatro semanas, além de algumas entrevistas. É uma loucura, e preciso entrar no modo inspirador e começar a escrever algo, porque sei que o Chris, o outro tipo dos Strigoi, quer que eu trabalhe em algumas coisas... talvez no próximo mês.
M.I. - Espero que os Paradise Lost voltem a tocar em Portugal novamente em breve e desejo-vos tudo de bom com o novo álbum.
OK! Sim! Obrigado!
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Entrevista por Sónia Fonseca